A Beautiful Winter Day escrita por Summertime Sadness


Capítulo 11
Quando a verdade não é o suficiente


Notas iniciais do capítulo

Finalmente, voltei!
Sério, sinto muito pela demora. Faculdade e milhares de outros coisas da vida real sempre me atrapalham, e os dias sem inspiração não ajudam em nada. E claro, a falta de privacidade para escrever é um problema, mas sempre tento dar um jeito! Resolvi participar de um concurso de contos este mês, então ficará apertado. Semana que vem vou ter um tempo pra me dedicar só a escrita, então espero atualizar.
Ficou um pouquinho maior que o previsto, mas espero que gostem.
[E claro, mais um obrigada à Jeniffer pela linda Recomendação ♥]

Boa leitura :)



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Não deveria ser estranho dormir ali, mas era. E claro, não é como se Sherlock percebesse isso, ou tentasse entender o quão ruim era encenar os dias de anos atrás, como se eles ainda pudessem ser vividos. O antigo quarto de Watson estava ocupado por outras pessoas, o flat teoricamente trancado pra qualquer um e o dono uma memória antiga que ninguém parecia se forçar a lembrar. Sabia que se dormisse ali e alguém o pegasse, destruiria a imagem de superação que havia construído ao seu redor. Seria novamente considerado como o triste sobrevivente que restara, uma marca acinzentada dos tempos de glória. Não era verdade, lógico. Não estava mal ou triste, apesar de que as pessoas certamente acharem isso.

Fechou as cortinas, sem que o barulho do temporal fosse embora junto com a visão.

— Não se preocupe, vou manter a porta trancada – disse Sherlock, sentado no chão, sem tirar a atenção dos jornais a sua frente. Todos antigos, mas aparentemente interessantes mesmo assim.

— Tranquilizador... – murmurou pra si.

— John, você esqueceu o guarda-chuva com Mycroft e isso não facilitaria seu percurso no meio desse tempo; isso é claro juntando o fato que a noite já se aprofunda.Saiba que se você for atropelado nessa escuridão, seu corpo só será encontrado de manhã. E não pense que ficaria divertido com você sendo um fantasma também. Posso não gostar do seu eu-fantasma tanto quanto você gosta do meu – não desviou em nenhum momento os olhos das manchetes – o que você acha de um homem encontrado morto por esfaqueamento ao lado de uma poça de mercúrio líquido?

John não sabia exatamente se ele falava sério sobre fantasmas ou mercúrio.

— Eu não vou ser atropelado – falou como se fosse obvio.

— Ponha isso em mente e se sinta em paz, se é o que quer.

— Primeiro me arrasta de casa e agora não quer que eu volte. Quando foi que ficou tão dependente!?

Pela primeira vez Holmes desviou o olhar dos jornais e o encarou, com certo desprezo.

— Não sou dependente, já que quem quis vir aqui foi você. Pode ir embora quando quiser.

Watson vislumbrou a porta do quarto de Sherlock entreaberta, e imaginou que seria menos pior se o vissem no sofá e não lá dento. Seria melhor comunicar isso, antes que fosse arrastado para o quarto. Não queria ficar trancado lá como antes. Sherlock elevou o olhar e o fitou calmamente, dizendo:

— Eu não vou te atacar durante a noite.

John não sabia se ele estava brincando ou não. De qualquer forma, não ficou mais tranquilo. Coçou a nuca, andando para trás. Acabou sentando no sofá, espiando as horas no celular.

— Se alguém entrar aqui... – ameaçou John.

— Ninguém vai entrar aqui. Não fique com medo de ter seu estado emocional julgado por alguém, já disse que manterei a porta fechada.

— Seus poderes nem estavam funcionando horas atrás, então como... – John se permitiu parar ao ver a expressão no mínimo insatisfeita de Holmes.

— Eu não tenho poderes – começou – minha mente não está mais limitada a uma estrutura física cerebral, o que me permite utilizar funções psíquicas que seriam teoricamente impossíveis para cérebros orgânicos que seguem leis delimitadas pela matéria.

John assentiu, mesmo com todas as leis naturais quebradas no discurso. Não que realmente prestara atenção.

— Okay. Enquanto continua assistindo documentários paranormais, eu vou descansar um pouco.

Deitou-se, sem nem se dar ao trabalho de tirar os sapatos e a jaqueta. Só notou o quão cansado estava quando fechou os olhos. O mergulho no escuro foi atemporal, reconfortante. Não teve sonhos muito concretos, só flashes de luzes e florestas. Deu uma acordada no meio da noite, com uma coberta macia por cima dele. O flat vazio estava quase cego, as superfícies escuras se misturavam junto de sua sonolência. Deitou-se novamente caindo automaticamente no sono. Dessa vez teve o tipo de sonhos que remontam o cotidiano, com pequenos – e grosseiros – erros. Era Harry pegando o lugar de Mr.s Hudson e sendo sua senhoria, era a Scotland Yard trabalhando no seu hospital, Greg e Sally de máscaras hospitalares enquanto tomavam uísque de fogo.

E uma longa estrada coberta por neve. Uma chuva de flocos caindo em seu casaco marrom, enquanto caminhava ao lado de Holmes. Ainda podia vê-los dançando pelo ar, quando foi tragado para a realidade, tão de súbito que sentiu um pó dentro de um aspirador.

Alguém o chamava.

— Sherlock – ainda estava meio zonzo, as mãos no rosto sonolento.

Não gostava de ser acordado. Não teve tempo de se acostumar à luz matinal, nem de preparar uma reclamação, uma das muitas que já havia feito no passado, quando Sherlock o despertava com tiros na parede. Porém, uma mudez súbita o tomou.

Porque era Mary. Sua esposa estava ajoelhada, o olhando hesitante e um pouco confusa. E pouco decepcionada. Ela se levantou, nunca deixando seus olhos. John abriu a boca, mas nada saiu. Havia prometido a ela que agiria como um homem comum, daqueles que não procuram cômodos desabitados de entes-queridos, a procura de algo irreal para amenizar a dor, ou talvez se afundar de vez nela. John nunca quis passar essa imagem para ela, mas era difícil quando ele estava envolto da coberta que pertencia a Sherlock.

— Mary.

Levantou-se, automaticamente percorrendo com os olhos o ambiente atrás dela, a procura do amigo, sem achá-lo em lugar nenhum. A coberta caiu aos seus pés, numa queda sutil.

— Não achei você em lugar nenhum hoje de manhã – ela começou numa voz assustadoramente apática – havia deixado minha amiga no hospital há algumas horas e voltei pra casa, sem te achar lá – o olhar dela percorreu o cômodo e seus objetos, como se esperasse que sombras a agarrassem – ninguém sabia onde você estava. Liguei para Mrs. Hudson... E aqui estou.

Claro que John sabia que Hudson dera com a língua nos dentes sobre ele ter chamado por Sherlock dia anterior. Certamente não conseguiu convencê-la do contrário. E agora Mary estava lá, com olhos estranhos como se não soubesse exatamente como agir. Talvez temesse que não conguisse resgatar o marido de seu fardo holmeniano que quase o afundou anos trás.

— Desde daquele reflexo que você viu, você mudou. Não posso te culpar, você estava tão mal, e eu pensei que com o tempo sua dor seria amenizada, como aconteceu antes. Mas... – ela balançou a cabeça – eu não entendo o que está acontecendo. Ás me parece que quem morreu foi você e não ele...

O coração de John trincou com isso. Não era verdade.

— Mary, sei o que está pensando. Vejo nos seus olhos que me vê como um homem destroçado, mas eu não estou assim. Estou bem, é só que... -tentou procurar palavras para explicar a razão dele estar justo naquele flat – só preciso ficar sozinho.

— Ficar sozinho por mais quanto tempo? E aqui!? – seus olhos brilharam um pouco ao olhar o redor – quando eu disse pra você parar de vir aqui pensei que faria você se recuperar.

— Eu estou recuperado! – protestou – Mary, me desculpe se não consigo ficar feliz o tempo todo.

— Mas sabe que felicidade você não vai encontrar vindo aqui. Escute.

Watson não queria escutar, não precisava de uma reprise. Porém havia uma tristeza na voz dela que o conteve.

— Você precisa voltar a viver, só isso. Eu sei que é difícil , entendo, mas... Não pode continuar enterrando a si próprio desse jeito.

John suspirou, um pouco irritado, não suportando a vitimização imposta a ele. Não precisava de Mary lhe dizendo isso, até por que sempre repetia pra si mesmo. Não era questão de ficar bem ou não, era questão de continuar mesmo com os jarros de terra sendo jogados em você a todo o momento. Se ela soubesse as coisas ficariam melhores – não, se ela acreditasse. Já havia pensado várias vezes na possibilidade, sem nunca considerá-la de fato. Bem, não era como se espalhar seu segredo fosse melhorar alguma coisa, apesar de saber que ficaria aliviado se ela soubesse.

— Mary – disse – é melhor irmos pra casa.

Agachou meio sem jeito para pegar a coberta caída aos pés e a dobrou, sob o intenso olhar da esposa. Esta se aproximou ainda mais, parecendo um médico curioso com sintomas esquisitos.

— John – iniciou – vim aqui te procurar e descubro que dormiu aqui. E quando acorda chama por ele – os olhos dela estavam muito abertos, e balançava levemente a cabeça, como que não conseguindo completar o pensamento.

— Não é nada... É só que... Sonhei com ele, só isso – deu de ombros.

— Mrs. Hudson também disse que você chamou por ele. Isso também não foi nada?

Watson pegou seu celular da mesinha e a fitou.

— O que está querendo dizer!?

— Que depois de você ter visto a imagem de Sherlock no vidro, você ficou extremamente apegado a ele, muito mais do que me lembro. Como se você fosse atraído por qualquer coisa que incite a memória dele.

— Eu não...-

— Como ficar com o cachecol dele ou dormir aqui... Não sei o que está tentando fazer, mas isso não vai ajudar em nada. Quer dizer... Choraria todos os dias de soubesse que isso o faria voltar, mas sei que não vai – ela pôs uma mão em seu ombro – por essa e por outras temos que colocar um sorriso no rosto, limpar a poeira da roupa e caminhar em frente, sem olhar para trás.

Mary aparentava falar aquilo mais pra si mesma do que para o marido. John ainda achava estranho a tristeza dela parecer tão embargada, sempre prestes a estourar em milhares de facetas afiadas. Bem, os dois haviam sido amigos. Porém não esperava que ela olhasse cada canto do flat como se cada um deles lhe partisse um pouco mais o coração. Supôs que ela queria ir embora, mas não queria se dar ao luxo de parecer afetada.

— É melhor irmos pra casa, lá conversamos – repetiu depois do silêncio que se instalou.

Ela assentiu, não sem dureza. O assunto não havia terminado. John sabia que deveria agir a partir dali como se o amigo não existisse, para o assunto acabar morrendo de vez e ele ter um pouco de paz. Holmes entenderia. Ou não. Certamente continuaria aparecendo em todos os lugares, mas pelo menos nunca em sua casa, onde seria complicado conversarem com Mary aos arredores.

Atravessaram a sala, mas John parou no meio dela, parando também Mary pelo braço.

— John, o que foi?

Watson não olhou para ela, só continuou fitando Holmes a sua frente, mais precisamente encostado na porta com braços cruzados. John queria bater nele – vou manter a porta trancada, John! – mas tinha de se manter quieto. Por enquanto. O amigo fez seu rosto expressar seu descontentamento.

— O que Mary está fazendo aqui!?

Watson apertou os lábios, o fitando irritado.

— John, mas o que foi!? – Mary o fitava, curiosa.

— Casa – John desviou os olhos de Holmes – Ahn, vamos pra casa.

— É – Mary concordou – Exatamente o que estávamos fazendo até você entrar em transe.

— Espere – John se virou para Mary – como conseguiu a chave?

— Fiz uma cópia sem que você soubesse.

— John, o que ela está fazendo aqui!?

Watson deu seu melhor olhar de estou-fingindo-que-você-não-está-aqui-seu-pateta, e pegou Mary pelo cotovelo, não demonstrando seu nervosismo. Continuou o caminho para a porta, porém parou novamente, para a confusão da esposa. Sherlock estava bem na frente da porta, braços ainda cruzados e um olhar nada amistoso. O casal deveria passar por ele, e John não queria ter essa sensação. Devia ser desconfortável, no mínimo.

— Por que não manteve a porta trancada? – perguntou subitamente, já arrependido por não ter se controlado.

— Não era como se eu fosse ficar oito horas aqui dentro assistindo seu sono.

— Por que eu trancaria a porta? – questionou Mary.

Holmes deu um olhar de desagrado para ela. Depois, o olhar mergulhou para algo mais profundo do que uma mera irritação cotidiana. Quando ele baixou a cabeça, John se perguntou por que ele sempre parecia um pouco ferido quando o nome de Mary vinha à tona. Porque era isso que seu amigo estava, ferido. John não conseguia imaginar o que ele – ou Mary – haviam feito de errado. Só sabia que não gostava de vê-lo daquela forma, agindo como se fosse muito obvio o problema.

— O que aconteceu com você? – John perguntou, ignorando a pronunciada confusão da esposa.

Sherlock não respondeu, mas tratou de devolver ao rosto sua seriedade inexpressiva, abandonado quaisquer resquícios de tristeza que John pudesse trazer a tona. Com a cabeça erguida, deu dois passos teatrais para a direita, dando passagem pra saída.

— Era só pedir licença, John – disse, cortêz – pode ir agora.

— Não, eu não vou até dizer o que há errado. O que sempre esteve errado desde que você apareceu pra mim.

— Mas o que diabos está acontecendo com você!? – exclamou Mary, um pouco exasperada.

Ela se pôs em frente ao marido, de modo que pudesse olhar em seus olhos. John via Holmes por cima do ombro dela, sem perder os tons sombrios que o amigo escondia em sua palidez sem emoção. Seu olhar caiu para o dela, fitando-a intensamente. Mary estremeceu inconscientemente.

— O que você fez pra ele? – Watson perguntou com a voz meio quieta, cuidadosa.

Mary arregalou seus cinzentos olhos, e balançou a cabeça.

— Pra quem?

— Sherlock. Diz que não aconteceu nada, mas... Acho que fez alguma coisa com ele.

Ela abriu levemente os lábios, as sobrancelhas unindo-se preocupadas, sem dizer nada.

— Por que está vindo de novo com essa história? – Holmes alfinetou – não houve nada. Se quiser continuar com briguinhas domésticas sem razão, sugiro que volte a castelo dos Watson, e me deixe à parte dessa bobagem.

Enquanto Holmes falava, Mary dizia:

— Por que você está insistindo nisso!? Eu não entendo...-

— Sherlock te olhou com a mesma tristeza que você olhou para o flat dele.

— O quê? – sussurrou.

— Eu posso enxergar Sherlock, desde a morte dele, na verdade.

Holmes fechou os olhos, decepcionado por John ter aberto o jogo.

É claro que havia sido totalmente não planejado, dizer essas coisas depois de meses de silêncio. Havia sido fácil dizê-las, contudo, como se sempre tivessem estado lá, só esperando para contar a ela.

— O que você disse!? – a voz dela continuava baixa. Temerosa.

— Sherlock está comigo desde que teoricamente ele se foi. Ele fica por aqui – John sinalizou para o cômodo atrás de si – como costumava fazer. É por isso que venho aqui, Mary. Pra... Vê-lo.

Ela balançou a cabeça de novo, como que com pena.

— Não devia ter contado a ela – disse Sherlock, desapontado.

— John...Isso é impossível.

— É impossível, mas não significa que não esteja acontecendo.

Mary colocou suas mãos nos ombros dele, seus olhos o penetrando até a alma.

— É por isso que você se afastou?

A voz dela era amena, o que o tranquilizou. Watson assentiu, mesmo não gostando de admitir a razão de seu retiro.

— Tem o visitado o tempo todo? Quer dizer, você ainda está arrasado pela morte dele.

John suspirou, evitando ao máximo a visão de Holmes. Não gostava de ficar emocionalmente desmembrado ante ele, mesmo que o amigo provavelmente já soubesse seus sentimentos mais íntimos.

— Não é a mesma coisa – murmurou.

Mary baixou a cabeça, ele acariciou seus pulsos. Ela não o olhou quando disse:

— Ficará fazendo isso por quanto tempo?

— Ficar fazendo o quê?

— Vivendo por ele.

John se afastou dando passos para trás. Já sabia onde a conversa seguiria. Holmes observava tudo calado, olhando ambos.

— Eu não posso abandoná-lo – disse baixo, desejando que o amigo não estivesse ouvindo.

— John... – ela hesitou – não pode continuar assim... Você precisa de ajuda.

Os ombros de Watson caíram em desagrado. Bem, havia parecido ser tão fácil convencê-la, mas era natural que ela e Mycroft – e o resto das pessoas – acabassem chegando à conclusão da sanidade dele. Ainda assim, sentia um gosto amargo por nem mesmo ela dar algum crédito.

— Eu não preciso de ajuda.

— John...-

— Estou perfeitamente são! – insistiu – não importa o que você ou Mrs. Hudson acham, eu estou são!

Mary mordeu o lábio. Watson apontou acusadoramente para Holmes.

— Você devia ter ficado aqui, protegendo a porta!

— Sherlock não está aqui, nunca esteve – ela pôs uma mão no braço dele.

John sacudiu a cabeça.

— Não devia ter contado pra você. Quer saber? Pelo menos Mycroft me ouviu.

Mary franziu o cenho.

— Comentou com Mycroft sobre isso?

— Sherlock queria falar com ele.

— Você está perdendo a cabeça.

— Não sou louco!

— Todos esperamos que esteja certo disso – comentou Holmes.

Mary o encarou profundamente.

— Precisa voltar à realidade, pro seu próprio bem.

— Eu estou bem – insistiu com um toque de raiva.

— Entrou tanto nesse sonho que não quer mais voltar à vida real.

Ela se virou e como um soldado foi firme em direção à porta. Saiu deixando-a aberta, seus passos ecoando na escada. Sherlock voltou à atenção a ele, sua expressão mais ou menos engraçada.

— Acho que devia mesmo ter ficado pra vigiar a porta.

— ...só pode estar de brincadeira – grunhiu, passando por ele.

Descia a escada já a encontrando na soleira da porta que dava para a rua. Já estava aberta, sua mão descansava na maçaneta quando parou para ouvi-lo.

— Mary.

— Nunca tive problemas com ele – ela começou, fazendo-o parar nos últimos degraus – muito menos com a ligação entre vocês. Te conheci quando ela já estava quebrada, e tentei consertar você. Mas agora que se quebrou novamente, eu não acho que posso fazer isso de novo – suspirou – eu não acho que você quer ser consertado.

Watson encostou uma mão na parede, fitando-a.

— Mary, eu vou melhorar. Você pode não acreditar no que eu te contei, mas agora que sabe as coisas vão ficar melhores, não vou mais fingir nada – amenizou, acrescentando - Mas não posso deixá-lo.

Entreolharam-se de modo intenso. Os únicos sons vindos da rua pré-movimentada de uma manhã londrina. Watson ficou infeliz pelo começo desse dia.

— Você não pode viver uma vida real enquanto brinca com ilusões.

Sua resposta não fora seca ou com raiva. Foi penalizada, doce, como se ela não quisesse quebrar o coração dele com essas palavras. Ela continuou.

— Podemos procurar ajuda juntos, John.

— Não.

Ela suspirou.

— Então vamos para casa. Lá nós resolvemos isso.

John naturalmente olhou para trás, como se sentisse que Sherlock estava lá, no alto da escada. Holmes olhava a cena com seus olhos de oceano. Não era como se fosse algum tipo de encruzilhada, onde escolheria entre eles dois, entre as duas vidas que passara a viver depois que o amigo perdera a dele. Não era.

Mas por que ambos agiam como se fosse?

— Vá com ela.

John não esperava ouvir aquilo dele.

— Mas...-

— Você sabe que não há um “mas”. Ela é sua esposa e se preocupa com você, ainda mais depois de tudo que disse – pausou - E eu não quero causar problemas.

Abriu a boca para falar, mas Mary o chamou. Virou-se para ela e depois para Sherlock novamente.

— Eu vou voltar – prometeu.

— Não.

— O quê!?

— Fique longe por um tempo. E eu ficarei também.

— Mas Sherl...-

— Está tudo bem – assegurou – não vou problematizar a vida que ainda têm.

John sentiu uma pontada no peito ao ouvir aquilo.

— John? – Mary chamou.

Sherlock deu uma última olhada nela, machucado. Se foi pela escada, parando na porta aberta de seu querido e vazio apartamento.

— Seguiremos caminhos separados por enquanto – falou, sem se dar ao trabalho de conferir se John o escutava.

Entrou no flat e não voltou.

Quando entrou no carro com Mary, sabia que era a coisa certa a se fazer. Devia isso a ela. E mesmo com a lembrança de Sherlock lhe dizendo que tudo estava bem, não conseguia nem por um segundo, não se sentir um traidor.


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Notas finais do capítulo

Lembrem-se, a opinião de vocês é muito importante!



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