Em um dia chuvoso Isa e seu pai se vestiram de preto em respeito ao aniversario da mulher mais doce que eles já conheceram. Seu pai chorava ao lado da sepultura de seu antigo amor de universidade, casaram jovens demais e ela se foi jovem de mais.

Quando ainda estava com sua mãe, Isa disse que estava com fome. Seu pai estava trabalhando e só estava as duas em casa. Sua mãe foi para a cozinha e deixou Isa vendo um programa infantil enrolada no sofá como sempre fazia todas as noites. A mãe de Isa não tinha altura de adulto, era mulher com corpo de adolescente, apesar de ter 26 anos tinha apenas uma altura repugnante (para ela) de 1,58. Tentou alcançar a prateleira aonde ficava as panelas mas foi em vão. Xingou silenciosamente a pessoa que havia feito uma prateleira tão grande assim. Buscou uma cadeira e se atrepou em cima dela, quando tentou pegar a frigideira a “montanha de panelas” se desiquilibrou e a panela de pressão caiu justo em cima da cabeça da mulher.

Isa foi correndo para lá, espantada com o barulho e viu sua mãe massagear sua cabeça e fazendo varias caretas de dor.

—Mamãe, tá tudo bem?-a pequenina perguntou.

—Sim, estou.-Mostrou a frigideira.-Olhe, já pequei a frigideira.-Sorriu contra a dor que sentia.

Isa nada disse, achou que realmente estava tudo bem e voltou para o programa infantil. Alguns minutos depois ela voltou com o pão com ovo e deu para a criança. Vendo a filha comer com prazer se sentiu contente e se deitou no sofá perto da menina.

—Mamãe, quer um pedaço ?- A menor ofereceu.

—Não Isabela, a mamãe está com muito sono agora. Talvez na próxima ok?-Disse a mulher fechando os olhos.

Quando o programa acabou Isa desligou a televisão e viu que sua mãe estava dormindo, mas ela estava branca demais e fria. A pequena julgou que era por causa do frio, então pegou seu cobertor pôs sobre o corpo gelado da mãe. Em seguida entrou de baixo da coberta também e dormiu ao lado do corpo da mãe.

Sua mãe nunca mais abriu os olhos, continuou assim dormindo tão serenamente. Branca e pequena, parecia uma boneca dormindo. Continuou dormindo assim, para sempre.

Apôs isso, seu pai ficou louco e não parava de chorar. Foi ai que veio sua atual madrasta. Sempre amou o pai de Isa, desde do colegial sua paixão nunca tinha acabado por ele. Estava disposta a ajuda-lo, a tirar aquele pobre homem daquela depressão profunda. Não era uma mulher má, era boa.Tão boa que seu pai parou de chorar constantemente e se casou de novo na esperança de esquecer sua antigo amor.

Mas, seu pai nunca conseguia esquecer de sua mãe. Por isso resolveu mergulhar no trabalho, para o manter entretido.

Mas sua tristeza sempre vinha ao aniversario dela e de sua morte. Ele chorava tanto, parecia um menino que havia ralado o joelho e não parava de chorar até sua mãe o resgatar dali e por um curativo.

—Papai, não chore.-Isa pediu.

Isa agora com 12 anos, com o corpo se transformando em moça aos poucos já tinha entendimento das coisas. Não gostava de ver seu pai aos prantos, principalmente se for por isso. Sua mãe com certeza não gostaria de ver ele se acabando em choro por causa dela.

Jogou fora as flores mortas e pôs lindas margaritas, as preferidas de sua mãe, num jarro roxo perto da sepultura. As memorias que tinha de sua mãe eram poucas pois só viveu até seus 5 anos com ela depois disso ela virou estrela para Isa. Isa não gostava de imaginar as pessoas virando pô ou sendo comidas pelo os germes depois de mortos, gostava de imaginar que vivariam mais das muitas estrelas que ajudavam a iluminar a terra quando de noite.

Passava pelas as outras sepulturas junto com seu pai, ela gostava de imaginar a história de cada uma daquelas pessoas sem alma. Histórias que provavelmente já foram apagadas da memória daqueles que os conhecem, daqueles que já foram tudo na vida de alguém que acabara virando estrela.

***

Voltando para casa, encontrou Benjamin já com seus 9 anos e seu cabelo castanho meio loiro caindo sobre sua cara que agora parecia muito concentrado em seu jogo de vídeo-game. Benjamin e Isa estavam parando de ter laços fortes de como tinha no passado, os dois pareciam tão distantes mas para Isa ele ainda era seu irmão, mesmo que fosse só pela a metade. Subiu para o seu quarto, tirou o sapato com um pequeno salto e foi admirar seu amigo.

—Demorei muito, Nick?-Sorriu sem mostrar os dentes para seu amigo que nadava alegremente.

Nick, esse era o nome de seu peixe dourado que Nicolas deu. Ela se lembra o quanto encheu o saco da madrasta e do pai para que ela conseguisse um aguário grande. Mas o máximo que consegui foi médio já que Nick vivia sozinho. Ele agora já estava bem grandinho e parecia feliz. Sempre que seus amigos a deixavam Isa sempre ia ao encontro de Nick, desabafava com o peixe sem medo que ele contasse a ninguém. Também lembrava de Nicolas, o mistérioso Nicolas. Que fim ele deu afinal? Isa sempre se perguntava.

—Nicolas, estou cumprindo a promessa.