Cap 2

Marley pov

Eu larguei a carta sobre o piano correndo o Maximo que meus pés conseguiam, eu devia ter percebido, nós devíamos ter percebido

" Era mais uma manhã comum no McKinley High, ou eu pelo menos achava que era até ver os cartazes por toda a escola, uns tinha fotos de Kitty com a palavra sapatão pichada na frente e outros tinha a loira beijando uma garota morena desconhecida, ao longe nós vimos a confusão Kitty era insultada por lideres de torcida, ela não usava seu uniforme" na época eu não sabia mas eu deveria ter impedido aquilo de continuar naquele mesmo momento " depois de alguns meses nós pensamos que tudo passaria mas não, Bree fazia uma campanha diária de ódio contra Kitty que a cada dia que passava parecia pior, sua voz era dificilmente escutada e se prestasse atenção perceberia no fundo de seus olhos a dor e o medo, Kitty estava se matando aos poucos, mas ninguém parecia notar. Eu queria ajudar mas o que eu poderia fazer isso até o dia em que Jake simplesmente atacou a loirinha assustada, nós estávamos ensaiando quando ela tropeçou nos derrubando, eu estava por cima dela, nossos olhos presos uns nos outros, seus olhos verdes nos meus quando meu namorado gritou com ela, que em um pulo se levantou, eu assisti horrorizada a forma como Jake gritou com ela, e mais ainda a forma como Kitty parecia assustada, ela acabou por sair correndo pouco antes de Mister Shue e Sue entrarem na sala depois de escutarem os gritos de Jake

– O que foi que aconteceu aqui? - o homem perguntou assustado, Jake irritado se virou para o homem

– Foi aquela maldita sapatão que você deixou aqui sozinha com a minha namorada - ele ia sair quando foi segurado pela diretora que o olhou seriamente

– O que foi que você fez com a menina? - ela perguntou e eu vi Jake rir

– Nada que ela não merecesse - ele saiu

Depois daquilo eu passei a procurar Kitty tentando a pedir desculpas e dizer que Jake não seria problema, mas ela sempre fugia e eu acabei por deixá-la achando que era isso que ela queria" eu deveria ter insistido mais talvez se eu tivesse feito ela estaria viva "Eu assisti de longe ela se tornar um fantasma pelos corredores, seus olhos carregando olheiras terríveis, ela perdia uma quantidade alarmante de peso e qualquer um que parasse para ver teria notado que a meses a voz de Kitty não era escutada, mister Shue e a diretora Sylvester pareciam ter finalmente posto suas diferenças de lado quando a loira mais velha admitiu que deixar Bree fazer o que fez com Kitty foi muito além do Bullying normal que adolescentes sofrem na escola, mas tudo foi tarde de mais." Naquela manhã eu cheguei atrasada e decidi esperar o segundo tempo no auditório foi quando eu achei a carta, eu lembro que nem sequer acabei de ler antes de sair correndo pelo colégio, eu corri até a sala da senhora Pillsbury avisando sobre o ocorrido e pedindo que ela fosse atrás do mister Shue e da diretora Sylvester. Eu me lembro de ter procurado em todos os lugares até acabar no vestiário onde todo aquele inferno começou, eu me lembro de arrombar a porta e de encontrar o corpo frágil da loirinha caído, e havia sangue, tanto sangue. Eu a peguei em meus braços enquanto as lideres entravam no vestiário após o fim do treino, eu me lembro dos gritos e da treinadora tentando acalmar as meninas a sua volta. Me lembro de Bree cair de joelhos ao meu lado, a dor, culpa e arrependimento estampados em seus olhos que estavam fixos nas únicas palavras que ficariam marcadas para sempre em Kitty "Aberração". Quando Will e os outros chegaram já era tarde demais para fazer qualquer coisa Kitty estava morta nada ia mudar aquilo.

Eu não fui ao enterro dela, eu não pude lidar com aquilo. Soube que Bree também não foi, e que o Glee cantou para ela, o coral ficou em luto por algumas semanas e Sue deu palestras sobre tolerância e Bullying mas foi só isso em dois meses todos se esqueceram dela, Kitty Wilde não passava de mais uma adolescente morta porque não foi forte o suficiente para suportar o ensino médio, não passava de mais uma placa empoeirada na parede do auditório, mais um nome que ninguém jamais saberia o significado. Nós nos formamos, seguimos nossos sonhos, vencemos mas ela nunca teria a chance de fazer isso. Tudo porque "ela não foi forte o suficiente".

– Eu queria que você estivesse aqui - eu disse, a lapide de mármore branco desgastado pelo tempo, afinal 10 anos se passaram e todos realizamos nossos sonhos de certa forma, mas eu nunca deixei de vir visitá-la eu sentia que eu devia isso a ela, e não só eu

– Eu queria nunca ter feito o que eu fiz - falou a mulher negra, eu segurei sua mão nossas alianças em contraste a minha pele muito branca e a dela negra

– Eu sei - eu beijei-lhe a testa com carinho, as cicatrizes em seus pulsos provando o quanto se arrependia do que fizera na adolescência, eu a deixei ali. Sozinha com seus demônios pois sabia que era disso que ela precisava, assim como eu por muito tempo desejei ter tido coragem de ter estado ao lado de Kitty quando haviam pôsteres de nós duas nos beijando colados por todo o colégio, quando eu a deixei sozinha, quando eu nunca deveria tê-la deixado sozinha

Fim