Depois de voltarmos à praia aquele clima permanecia durante um bom tempo, demorei a me acalmar sozinha e meus olhos estavam um pouco mais inchados do que o normal, mas ninguém parecia ousar perguntar algo sobre isso, até mesmo Rosa que se aproximou tentando falar algo Lysandre a impediu, eu agradecia mentalmente por isso, eu apenas queria acabar logo com aquele dia conturbado, não estava sendo nada bom. Assim que cheguei em casa me tratei de me enterrar em meu quarto trancando a porta, que não demorou muito para o cansaço mental tomar parte de mim. Quando acordei já era de manhã, o barulho do despertador era atordoante, não me levantei apenas me dei ao luxo de desligar o despertador e continuar de baixo das cobertas, não me sentia bem.

Voltei a dormir novamente, mas meu sono era interrompido com batidas na porta de forma frenética como se fosse meu despertador, meus olhos se centraram na porta de meu quarto, durou algum tempo até que eu me levantasse e abrisse a porta e desse de cara com Kentin, ele me olhou parecendo irritado.

– Nós temos escola, se bem se lembra.

– Kentin. – O chamava e assim balançava com a cabeça – Eu não estou bem, só isso, eu preciso ficar de descanso, não estou disposta para ir à escola hoje.

– Você esta com febre? – Quando via a mão dele se aproximar para me tocar, eu instantaneamente acabei afastando a mão dele com um tapa, e olhei para baixo.

– Eu vou voltar a dormir, vá para escola você.

Eu fechei a porta na hora e tranquei a porta e me coloquei de baixo da coberta novamente, não ouvi mais a batida assim não demorou a que eu voltasse a dormir, não me sentia tão disposta assim, apesar de sentir frio mesmo que meu corpo estivesse quente, não queria ir ao médico, apenas ficar ali. Foi quando eu acordei novamente, alguém estava batendo na porta de casa, a campainha tocava várias vezes. Eu me levantei e fui até a porta de casa com certa dificuldade, a visão ficava um pouco distorcida, e sentia que fosse cair a qualquer momento, assim que abri a porta o semblante distorcido me fazia fazer um pouco de força para focar na imagem em minha frente.

– Kamui...?

Não ouvia nenhuma resposta, apenas senti meu corpo sendo pego e levado para dentro, não sentia que minhas forças me ajudavam aquele momento, nem mesmo para protestar algo, sentia ser colocado em algo macio, parecia ser minha cama, depois daquilo minha visão voltou a se tornar branca novamente, e havia apagado. Aquele dia estava sendo praticamente cortes, não me sentia nem um pouco bem com aquilo, mas estava me sentindo um pouco melhor, pelo menos fisicamente. Quando abri os olhos vi o semblante de duas pessoas em minha frente, acabei me assustando um pouco e me levantando para trás.

– Calma, calma. – Era Kamui, ele ria um pouco sorrindo – Você não foi à escola, ficamos preocupados, Kentin não disse nada também, e ficamos ainda mais preocupados.

– Você estava ardendo em febre. – Castiel explicava – Kamui me ligou e explicou a situação e eu vim.

– Eu agradeço. – Dizia abaixando o olhar – Mas esta tudo bem agora, não precisa ficar assim, eu estou bem, só preciso descansar.

– Haha, o que foi? Algo lhe mordeu? Não parece nem você assim. – Kamui dizia com o mesmo sorriso de sempre, ele se afastava um pouco sorrindo – Farei algo para beber, precisa de algo para hidratar esse corpo seu, tome os remédios do seu lado, se sentira melhor.

Kamui saiu do quarto deixando apenas eu e Castiel ali juntos, eu tomei meus remédios e voltei a me deitar, e o olhei um pouco e abaixei o olhar, como se tivesse vergonha de algo, mas não, não era aquilo que sentia e sim arrependimento por ter feito o que fiz a ele.

– Você não atendeu minhas ligações de manhã. – Castiel dizia enquanto me observava – Imaginei que estivesse assim depois... de ontem. Momo, eu quero estar com você, mas não daquele jeito como ontem, não quero ver você tão incerta e agindo impulsivamente, o que houve?

Eu o olhei um pouco, e assim senti minhas defesas praticamente falharem, tudo doía, meu corpo inteiro, e novamente minhas lágrimas voltavam a cair sem minha permissão.

– Eu não aguento mais...eu não aguento, eu não quero sentir mais isso, eu não quero sentir essa dor a todo momento. – Ele me olhou assustado a me ver chorando, e acabei o sentindo me abraçar com certa força, aquilo me fez chorar ainda mais, eu o segurei mais forte – Eu quero não sentir mais isso pelo Kentin, então...por favor...tire isso de mim.

– Que droga, Momo. – Ele sussurrava baixo enquanto se afastava e limpava minhas lágrimas, sua expressão parecia aflita – Eu não quero fazer isso com você assim, mas, Momo, olhe para mim, só para mim agora, certo? – Eu afirmava com a cabeça entre os soluços e ele me olhava e abria um sorriso – Se concentre em melhorar agora, certo? Não gosto de lhe ver assim, independente do que aconteça vou estar ao seu lado, certo? Relaxe.

Eu aos poucos me acalmava, apesar de acabar voltando a chorar Castiel não saia de meu lado, ele ficou ali, passando a mão sobre minha cabeça me acalmando, até que finalmente sentia aquele peso sair de cima de mim, Kamui voltou com uma xícara com chá sorrindo me dando para tomar.

– Se sente melhor? – Eu afirmava com a cabeça com um sorriso – Fico feliz, você parecia realmente para baixo, sabia?

– A..ah... eu estou melhor. – Dizia de modo um pouco aflito – Era só a febre acho...

– Bem, fico feliz que esteja melhor. – Castiel dizia enquanto se levantava – Eu tenho algumas coisas para fazer, mas, eu volto um pouco mais tarde certo? Relaxe enquanto isso e não se esforce Moranguinho. – Ele se aproximava e dava um peteleco sobre minha testa rindo – Acalme seu coração, ninguém vai lhe deixar sozinha.

Ele bagunçou um pouco meu cabelo e saiu do quarto, eu o acompanhei com os olhos até desaparecer de minha vista, assim voltei meu olhar para Kamui que tirava o caderno da bolsa e me olhava sorrindo.

– Relaxe ai, quero lhe desenhar. – Ele falava e já começava a rabiscar e eu apenas aproveitava meu chá – Eu ouvi sua conversa com Íris na praia. – Eu quase cuspi o chá quando ele disse aquilo, e ele me olhou rindo durante alguns minutos enquanto continuava a desenhar – Posso lhe dar um concelho sincero?

– S...sim...

– Eu não acho que devia ficar sofrendo assim tanto pelo Kentin. Eu sei que gosta dele, mas, sinceramente não acho que isso vai dar certo, sei que isso pode estar parecendo duro, mas alguém mesmo sabendo de seus sentimentos a deixa em branco assim, não acho que mereça o que sinta. – Ele parou de desenhar e assim voltou a me olhar com um olhar sério – Mesmo que vocês não sejam irmãos de sangue, Momo, vocês praticamente foram criados para isso, já pensou como seria a situação aqui dentro da sua casa caso isso acontecesse?

– Não... – Respondia um pouco para baixo, de certa forma, sabia que ele estava certo.

– Me deixe contar uma historia para você, antes de ser adotado pela família do Castiel, eu havia me apaixonado por uma garota, nós juramos amor eterno um ao outro, éramos realmente felizes, mas então, bem, a família dela não aceitou muito bem isso. – Ele riu de modo baixo enquanto voltou a desenhar novamente – Eu voltei ao orfanato ao mesmo momento quando os pais dela descobriram nosso relacionamento, diziam que aquilo era inapropriado, independente de sermos irmãos de sangue ou não, que eles não haviam me adotado para aquilo e bem, aqui estou.

– Porque esta me contando isso...?

– Porque acredito, que você prefere estar com ele como irmão do que ficar longe dele, certo? Então, isso é só um concelho.

Meu coração se apertou ao imaginar em voltar para aquele orfanato, ficar longe dele, não ter mais família, assim segurei minha coberta com mais força, e assim Kamui voltou a me olhar me estendendo o desenho que havia feito.

– Seu rosto combina mais com um sorriso. – Eu olhei o desenho e me assustei um pouco, ele havia me desenhado chorando, dês de quando ele havia desenhado aquilo? – Eu vi você chorando na praia, eu sei que pode parecer duro isso Momo, mas eu não quero ver você chorando novamente.

Ele se aproximou de mim e senti os lábios dele tocarem sobre os meus, meu coração quase pulou para fora quando eu senti aquilo, eu instantaneamente me afastei tapando minha boca, o que ele estava fazendo? Ele me olhou rindo e pegou o caderno guardando.

– Mas isso é sua vida certo? Tanto eu quanto Castiel não somos a pessoa que seu coração deseja certo? Mas, Momo, pense bem antes de fazer qualquer coisa, eu estou acostumado com a rejeição, meu coração sofreu tanto isso que praticamente eu me tornei quase nulo de sentimentos. Mas Castiel já sofreu muito para uma pessoa antigamente, eu peço que por favor se não for corresponde-lo, se afaste.

Ele saiu do quarto me deixando ali sozinha, quando dei por mim com toda aquela informação, eu fiquei confusa, porque ele havia me dito aquilo? Porque ele havia me beijado? Não, não de maneira alguma, quando dei pelos meus sentidos eu estava correndo atrás de Kamui, ele estava terminando de descer as escadas.

– Kamui! – Ele me olhou assustado e assim desci as escadas com certa pressa, mas no final das escadas a força de minhas pernas acabou falhando e quando eu vi fui ao chão praticamente junto a ele – Eu não acredito! – Ele me olhou assustado e eu apenas continuei a falar – Você não falaria isso se não sentisse algo, não seja tão sangue frio ou tente agir forte assim... até parece eu... – Quando eu vi minhas lágrimas começaram a cair novamente sobre o rosto dele – Eu sei disso, que não daria certo, eu e Kentin, mas eu ainda gosto dele então isso dói...

– Sua bondade me incomoda. – Ele dizia rindo e limpando minhas lágrimas – Você me deixa mole assim, me olhando assim, me mostrando uma expressão tão frágil, eu não sou tão gentil quanto Castiel, eu aconselho a se afastar de mim assim.

– Você... eu não acho que seja isso, você é realmente gentil, você se preocupou e veio até aqui, cuidou de mim, e tentou me ajudar mas... porque eu toda vez que eu lhe vejo agora o sinto tão solitário? Não acho que você seja nulo de sentimentos, você apenas os esconde por trás desse sorriso e risos para que as pessoas não notem sua dor.

– Ah... – Ele riu, começou a rir alto e assim quando dei por mim apenas vi as lágrimas dele surgirem sobre o rosto dele, várias delas, parecia que aquele muro que tanto ele havia montado havia caído em mil pedaços – Por quê você? Por quê foi você quem viu isso? Por quê foi você que me olhou assim? Por quê reparou nisso? Por quê? Por quê? - Ele continuou a chorar, rindo, eu instantaneamente me aproximei e toquei sobre o rosto dele de modo calmo e ele me olhou, surpreso – Pare com isso, não me olhe assim...

– Não... eu apenas acho que, quando é você sendo você, eu fico mais feliz, quando nos conhecemos, eu vi apenas você, você interagiu como agiria normalmente, mas assim que se relacionou com outras pessoas você começou a exibir mais esse sorriso falso. Eu não te desenho porque seu sorriso não é como daquele que olhou meu desenho.

Ele continuou a me olhar surpreso e assim se levantou comigo, e limpou o rosto de lágrimas e me olhou diretamente nos olhos, e tocou gentilmente sobre meus cabelos, ele parecia com uma expressão pensativa.

– Você foi à única que reparou. – Ele dizia e assim se afastava – Se não fosse o Castiel, eu já a teria roubado dele, você é uma peça única dentre tantas obras de arte, mas deixo avisado que se ele falhar em conquista-la, eu não vou medir esforços para lhe ter. – Ele sorriu e se curvou levemente – Mas não vou passar a perna dele, porque afinal, amor não se escolhe, se for para eu ser escolhido, tenho certeza que seus sentimentos vão lhe dizer, mas de qualquer forma, agradeço.

Ele saiu de casa de forma rápida depois de dizer aquilo, eu olhei a porta durante alguns minutos, e logo depois olhei para baixo.

– Minha decisão...? – Eu colocava a mão em meu coração e respirava fundo – Eu já sei com quem eu quero estar agora, e é lá que vou agora.