Capítulo O2

– Você acha mesmo que nós vamos acreditar nessa história patética? – Nathaniel perguntou com os braços cruzados e uma cara de quem não acreditava em nadinha daquilo. O loiro não parecia nem um pouco amigável, era como se estivesse em seus piores dias. Talvez tivesse acordado com o pé esquerdo.

Já Lysandre... Ah, o albino olhava para aquela situação com um ponto de interrogação sobre sua cabeça. Estava perdido. Não tão perdido assim, mas... Confuso. Castiel havia acabado de falar que aquele garoto de cabelos negros era o seu cachorro? Ou será que tinha entendido errado? Seu dedo indicador e o polegar estavam em seu queixo, deixando claro que o garoto de olhos de cores diferenciadas estava absorto em pensamentos. Só indagações, nada de conclusões.

– Ah, cala a boca, Nathaniel! – Castiel ralhou com extrema arrogância. Os três, ou melhor, os quatro garotos estavam na sala do grêmio estudantil após uma breve discussão entre Castiel e Nathaniel. Afinal o ruivo havia trazido um garoto de fora da escola, algo que era extremamente proibido nas normas da Sweet Amoris.

Já Dragon encarava Nathaniel com o cenho franzido e uma cara de poucos amigos. Não estava gostando daquele loiro. Por que ele brigava tanto com o seu dono? Por que toda essa neura? Ele não tinha o direito de falar assim com o seu dono.

– Para de brigar com ele! – Dragon resmungou, agarrando ainda mais o braço de Castiel. Ficava o tempo todo agarrado ao seu dono, o segurando como se ele fosse o seu porto seguro, de um jeito bastante possessivo até. E só de fazer isso parecia deixar o loiro ainda mais irritado, quase soltando fogo pelas narinas.

Nathaniel estava muito, muito fulo de raiva. Aquele cachorrinho ridículo não tinha noção da pouca vergonha que estava fazendo ali. Tsc... Que raiva! Que raiva, que raiva, que raivaaaa!!! O loiro precisava, definitivamente, de suas luvas de boxe e um saco de pancadas para descontar toda a raiva que estava sentindo naquele momento.

Aquele Dragon estava enchendo sua paciência! Ele o irritava muito mais que as piadinhas e brigas que sempre teve com Castiel. Que droga!

– Eu não posso deixar o seu cachorrinho andando por aí como se fosse um aluno, Castiel. Não vai dar, sinto muito. – Disse secamente.

– Mas você pode me arrumar um passe. Que droga, qual o problema em me fazer uma droga de favor?!

– Você acha mesmo que eu vou fazer isso? Poupe-me, Castiel! – Revirou os olhos dourados.

– Porra, você já viu as orelhas dele! – Castiel resmungou. Havia explicado tudo, desde a parte que havia chegado a casa após deixar seus pais no aeroporto e ido dormir, até a parte em que acordou com ele na sua cama virado “gente”. – O que mais você quer para provar isso, cacete?!

– Por mais que essa ideia maluca seja verdade, eu não posso permitir que um “cachorro humano” ande pela Sweet Amoris. Não perdi meu juízo ainda. – Dizia com total escárnio.

– Bem... – Lysandre resolveu se enquadrar na conversa antes que aquela discussão fosse para outros níveis. – Já que é perigoso e inadequado ele ficar aqui, por que não saímos mais cedo e vamos até sua casa, tentar achar alguma solução?

Os dois pararam a discussão por um momento. E Dragon permanecia agarrado ao braço de seu dono, como se mostrasse claramente para todos eles que ele era seu dono e pronto.

– Hurp... É, pode ser. – Nath deu de ombros e cruzou os braços com a cara emburrada.

– Então vamos logo. Eu preciso achar uma solução para... Para isso!

●ᴥ●

– Então, quando você acordou, Dragon estava assim? – Lysandre perguntou, fazendo Castiel repetir a história pela décima vez naquele dia. Mas, desta vez, já estavam os quatro na casa do ruivo.

– Eu já disse que sim, Lysandre. – Castiel revirou os olhos com a lentidão do amigo.

– Caaass. – Dragon chamou por seu dono enquanto o via explicar repetidas vezes o que aconteceu para seu amigo, e via também aquele loiro azedo pesquisar qualquer coisa em seu celular sobre “como cães viram gente”. Puff... – Eu estou com calor... – O “cachorro” resmungou, tentando tirar a blusa. Usar roupas era deveras desconfortável.

– Vai tomar banho, ué. – Castiel disse secamente, enquanto esperava alguma solução que viesse do loiro. Mas ele não lhe dizia solução alguma, só ficava em silêncio pesquisando qualquer merda naquele maldito celular.

– Eu não sei tomar banho sozinho. Vai ter que me banhar, como sempre fez... ~

A forma que o cachorro falava parecia outra coisa. Lysandre tossiu, sentindo-se desconfortável. Já Nathaniel... Ah, o loiro nem queria estar ali. Só estava na casa de Castiel porque o ruivo falou “bla bla bla, eu te ajudei á conseguir um novo apartamento perto da escola depois que você saiu de casa e barato; você está me devendo uma, e bla bla bla”. Porque, se fosse depender de si, não estava se importando nem um pouco com Castiel. É claro que não estava. É claro...

Mas aquele maldito cachorro era extremamente irritante! Parecia que tudo o que ele falava era regado á segundas intenções!

– Nossa, eu me pergunto o que você tanto fazia com esse cachorro, Castiel. – Nathaniel disse secamente, dando um riso de escárnio e raiva.

– Eu não fiz porra nenhuma! Dragon, para de falar assim, porra!

– Meu dono sempre cuidou muito bem de mim. – E mais uma vez, a voz ligeiramente inocente o deixava parecendo cheio de libido. Era quase inocentemente que ele falava aquilo. Quase.

E, até mesmo Lysandre, que era um lesado, conseguiu notar o efeito que aquelas provocações causavam no loiro.

– Vai logo dar banho no seu cachorro, Castiel! E, quer saber, acho desnecessário eu estar ajudando essa maluquice toda! Se vire você e o seu “cãozinho”! – Esbravejou contra o ruivo, guardando o celular no bolso e saindo dali, mas logo Castiel foi atrás dele e sequer o deixou sair do quarto, segurando-lhe o pulso.

– Você ta me devendo essa, representante! Nem pense em sair!

– Eu não tenho que ficar aqui ouvindo essas coisas... Essas coisas nojentas de zoofilia! Me solta!

E, mais uma vez, uma nova briga... Céus! Lysandre era o único que parecia sempre ficar de fora de toda a confusão que acontecia entre aqueles dois. Até mesmo Dragon se aproximou e apenas agarrou o braço de Castiel, enquanto o loiro esbravejava de uma maneira ainda mais irritada.

Castiel o irritava. Dragon o irritava. Aquela situação o irritava.

Tsc...!

– Por que Castiel não ajuda apenas um pouco no banho de Dragon, e depois volta para vermos como reverter isso? – Lysandre mais uma vez tentou apaziguar a situação.

– É, vem me dar banho, Caaaas! – O ex- cachorro era totalmente manhoso.

Nathaniel revirou os olhos e apenas voltou á olhar para o celular. Não fazia questão de ver aquela ceninha ridícula. Não era obrigado.

E, enquanto isto, Castiel teve que ir ajudar Dragon. Ele realmente não sabia nada de banhos.

Ao entrarem no banheiro do quarto de Cas, Dragon parecia bastante animado.

– Vamos logo, tira a roupa! – Castiel pediu ligeiramente grosso. Não conseguia ser totalmente grosseiro com seu cachorro.

– Mas eu não sei tirar isso... – Resmungou.

– Sabe sim! – Nem ia cair na daquele peste!

Dragon, ao ver que ele não ia ceder, bufou e tirou a roupa, ficando completamente nu. O cachorro havia se tornado um garoto muito bonito, seu corpo parecia de alguém bem malhado. Não extremamente cheio de músculos, mas definido na medida certa. Entretanto, Castiel nem parecia ligar tanto para aquilo.

O ruivo apenas levantou as mangas da jaqueta e levou o moreno até debaixo do chuveiro, dando-lhe um banho com água bastante fria, fazendo o cachorro gemer baixinho em descontentamento e se encolher todo. Fazia de tudo para não olhar para a nudez dele. Afinal, nudez de macho não lhe agradava nem um pouco! Se ao menos Dragon fosse uma garota bem bonita...

Ah, mas foda-se. Apenas passou um pouco de xampu em seus cabelos, e depois lhe deu o sabonete para ele segurar.

– Pronto, agora é só passar isso no corpo, depois ficar mais alguns minutos debaixo d’água e fechar o chuveiro ao sair daí! – Disse, parecendo emburrado. E quando Castiel não parecia emburrado?

– Você já foi mais legal comigo...! – Dragon fez beicinho, mas voltou á fazer o que o seu dono mandou, passando o sabonete enquanto o via sair do banheiro.

Cas tirou a jaqueta, que havia molhado um pouco, e se deitou na cama, olhando para o amigo e o loiro azedo. – E então? Alguma pista?

– Nada. – Lys falou tristemente.

– Acho que vamos ter que levá-lo nessas casas de “mãe-alguma-coisa”. Essas mulheres que pagam de feiticeira. É a única coisa que consigo pensar.

Castiel ficou um tempo calado, processando aquilo. Deveria xingar o idiota, dizer que aquilo era ridículo e que não precisava de nenhuma macumbeira. Entretanto... O que mais poderiam fazer? Aquela parecia ser a única solução. Que droga, detestava admitir, mas ele até que tinha a razão.

– Hm... Se for a única coisa que temos á fazer... – Logicamente não ia admitir que fosse a única chance de fazer as coisas voltarem ao normal. Mas acabou cedendo.

– Claro que é. – Nathaniel disse como se fosse óbvio que tudo o que falava era quase sempre correto. – Agora vamos procurar alguns endereços e telefones. Amanhã mesmo levamos o seu cachorro para algumas consultas. – Falou enquanto já buscava na internet algumas dessas senhoras de feitiçaria, tarô, búzios e afins.

Dragon saiu do banho pelado pouco tempo depois, o que piorou outra vez a situação. Mas Lysandre, ao ver que Nathaniel já ia começar outra falácia sem fim de reclamações, levantou-se, indo até o guarda roupas de Castiel e pegando a primeira bermuda que apareceu na sua frente. – Pode deixar que eu o ajudo á se vestir. Continuem pesquisando endereços e telefones.

Nath revirou os olhos e voltou-se para a tela de seu celular. E Castiel ficou aliviado por não ter que brigar com Dragon (por estar pelado assim na frente de todos) e Nathaniel (que era um boboca certinho), voltando-se para seu PC.

●ᴥ●

Após aproximadamente vinte minutos de pura pesquisa na internet e lista telefônica, Lysandre notou que já estava escurecendo. Dragon estava deitado na cama de Castiel, parecia ter cochilado ao ficar entediado (já que tentou de todo jeito chamar a atenção do dono, mas Cas resmungava o tempo todo estar ocupado). Nathaniel e Castiel anotavam alguns números de telefone encontrados na internet, e Lysandre anotava os da lista telefônica. Entretanto parou o que fazia ao notar o tempo que passou.

– Eu preciso ir. Meu irmão vai precisar de ajuda na loja hoje á noite...

– Hm, ok então. – Cas resmungou, voltando-se para o amigo. – Valeu cara.

– Até logo, Lysandre.

– Por favor... Não se matem. – O albino pediu em meio á um suspiro pesado.

– Não se preocupe, eu logo vou embora também. Castiel pode muito bem ligar sozinho para esses números. Eu vou apenas terminar de anotar mais esses aqui que encontrei pelo facebook.

– Bom... Então, até logo.

Lysandre despediu-se educadamente e saiu. Não passou nem mesmo cinco minutos e Nathaniel já anunciou que ia embora também. Até porque não fazia sentido ficar ali, apenas com Castiel e aquele cachorro boboca.

Apesar de não querer, Cas o acompanhou até a porta, para depois poder trancar a mesma. Mas, antes que chegassem até a porta da sala, Castiel acabou por perguntar (quase que automaticamente):

– Você bem que podia me ajudar ligando também, representante! Eu já te ajudei uma vez, bem que poderia retribuir. Até porque, são números demais, e outra pessoa ligando ia agilizar as coisas! – Resmungou.

Nath revirou os olhos, olhando para ele novamente.

– Eu já te ajudei várias vezes, Castiel. Agora, se me der licença, eu quero ir embora. Estou cansado, e sem contar que você agora vai poder ter privacidade com o seu cachorrinho. Vai poder dar banho á vontade nele. – O loiro estava realmente mais azedo que o normal.

–- Porra, você realmente não vai quebrar esse galho?! – Sabia que estava pedindo demais, mas porra, era muito lugar para ligar. Ele bem que podia ajudar, droga!

O ruivo sequer notou que havia segurado o braço do representante para impedi-lo de ir embora. Só notou quando os olhos dourados pousaram na sua mão, que estava no antebraço dele. E depois, os mesmos olhos de ouro voltaram-se para si.

– Eu já te ajudei em uma dessas suas apresentaçõezinhas de rock! Estou te ajudando agora. E você ainda quer cobrar de mim? Ah, faça-me o favor, Castiel! Você não fez nada além de um pequeno favor para mim. Sem contar que não sou eu que fui cego á ponto de brigar com outra pessoa por causa de uma garota sem escrúpulos!

– Ah, você tinha que falar dessa...! – Como sempre, ele jogava aquele assunto á tona quando queria o atingir. E o pior: Ele conseguia! Cas soltou o braço dele, não se importando da manga da blusa azul escura ter ficado amassada. Quer saber, se ele queria ir embora, que fosse!

– Que seja! – Nath revirou os olhos e abriu a porta, saindo dali. Mas, mais uma vez, teve seu antebraço segurado. – O que é agora, Castiel?!

– Você bem que podia esquecer essa coisa toda! Você só sabe falar disso, que droga!

– E você bem que poderia me pedir desculpas! – O loiro respondeu no mesmo tom. Mas logo puxou o braço e revirou os olhos pela milésima vez naquele dia. – Quer saber, tanto faz. Boa sorte com seu Dragãozinho! – E saiu dali.

– Foda-se! – O ruivo gritou para o loiro, irritado.

Em seguida fechou a porta com bastante força, causando um baque estrondoso na casa e nem ligando para isto. Encostou a testa na porta de madeira e suspirou. Aquele idiota só sabia reclamar. Nem para prestar um favor direito ele servia. Que saco!

E, enquanto isso, ele sequer notou que estava sendo observado, á um tempo, por um Dragon bastante curioso escondido atrás de uma parede, observando com atenção àquela briga daqueles dois.

Continua...