Luna

Entrar, sentar, sorrir. Entrar, sentar, sorrir. Entrar, sentar, sorrir.

Fico repetindo este mantra até as coisas ficarem normais, aceitáveis. Entro, sento e sorrio. Como a boa menina que eu sou. Que eu preciso ser. Que o mundo quer que eu seja.

Meu nome é Luna Avelar de Lima. Tenho um pai e uma mãe, e sim, eles ainda estão juntos. Desafiando a normalidade atual de pais divorciados. Eles me amam, e querem meu bem e isso só faz o pânico aumentar. Quero hiperventilar, e gritar ,e correr, e entrar e sentar e sorrir. Porque preciso ser boa o suficiente.

Continuo sorrindo, e aí vem ela, e a saudade quebra meu estômago e revira minha capacidade de sentir. Nos abraçamos forte, e compartilhamos a necessidade. Todos têm sua melhor amiga.

– Oi Lia! - Digo ainda no abraço

Ela me solta, sorri alguns segundos, que parecem séculos e me cumprimenta.

– Luna...que saudade.

Minha melhor amiga joga a mochila por cima da carteira, deixando logo bem claro que irá sentar atrás de mim PELO RESTO DO ANO. E estou totalmente satisfeita com isso. Amizade é isso, se comunicar sem palavras e ter sempre alguém com quem contar. É clichê, mas é verdade, e essa verdade é reconfortante.

Ela vira pra trás em tom de conspiração, e eu só consigo rir. A garota consegue arrancar de mim sorrisos sinceros tão facilmente, que ás vezes me assusto.

– Luna, meu amor, nos livramos dela. Vou começar a amar geografia - e começa a cantarolar geografia.

Vamos amar geografia. Porque nos livramos da antiga professora, arrogante e ignorante. E agora geografia chega a parecer até um pouco atraente. Talvez eu comece a amar mesmo geografia.

– É, o mundo recompensa as tempestades - e num instante já estou divagando, mas Lia me puxa rápido pra vida real me dando um cutucão - Ei caramba, isso dói.

Faço um beicinho mais fajuto que o bojo que a garota do outro da sala usa e se acha.

– Desculpa amiga - Ela não para de olhar para porta e no mesmo instante quero descobrir o que tanto lhe interessa - É que...

O professor entra e bloqueia meu campo de visão.

– Todos sentados por favor! Sem moleza, estamos oficialmente voltando às aulas.

Ele começa a fazer a chamada. E aquela sensação na boca do estômago volta, e eu não sei dizer o que é, nem o motivo.

Ele caminha, entra, senta e sorri.

– Cael– O professor chama da sua mesa.

– Presente - Sua boca se fecha, e de repente eu não consigo ouvir mais nada, e a sensação que eu empurrei pro fundo ganha um motivo. E ele se chama Cael e tem lindos olhos azuis. Um azul tão lindo, que eu quero nadar até me afogar.

Eu não faço ideia da porra que está acontecendo.