"Três semanas depois daquele maldito sequestro, Kate foi autorizada a voltar para o trabalho. Ela nunca mais seria a mesma, nem em seu trabalho nem em sua vida pessoal. Havia construído um muro novamente, só que esse seria impossível de se derrubar.

Não conversava mais com Esposito, Ryan, Lanie e, muito menos, Castle sobre sua vida. Não queria ouvir a pena exalando das vozes ao seu redor.

Katherine Beckett voltara a ser aquela pessoa casada com o trabalho, mas ainda pior. Nada a fazia sorrir.

– Detetive Beckett, poderia assinar esse relatório? - Um oficial pôs a mão no ombro dela para chamar a atenção. Não fora a melhor ideia dele naquele dia.

Kate, por reflexo, - Talvez- pegou o pulso do rapaz e o torceu levando o rapaz ao chão, gemendo de dor. Ao perceber o que tinha feito, ela tentou se desculpar, mas a confusão já estava formada.

– Beckett, na minha sala, agora! - Gates se aproximou dela, puxando-a pela mão, para tirá-la da multidão de policiais ao seu redor.

Kate não sabia como reagir. Definitivamente, havia perdido todo o seu controle. Mas ela não suportava toque algum. Todos precisavam entender o seu lado.

– Capitã, eu não consigo. Não sei como eu passei pelo exame psicológico, mas eu não consigo. Esse trabalho é basicamente contato entre pessoas e eu não estou pronta para isso.

Victoria ouviu cada palavra de sua melhor detetive e esticou a mão direita. Kate entendeu e concordou.

Abriu o coldre, tirou a arma e entregou à capitã. O distintivo, pendurado em sua cintura, estava pesado, como se não lhe pertencesse. Ela o pôs sobre a mesa.

– É o melhor para você.

– Eu sei.

Gates assinou um papel e o entregou para Kate.

– Foi um prazer trabalhar com você, Katherine.

Elas apertaram as mãos e Kate saiu. A partir daquele momento ela não era mais uma policial compromissada com a cidade e sim uma cidadã qualquer.

***

Castle adentrou o andar da 12th divisão de homicídios, com a esperança de encontrá-la. Mas tudo foi lançado aos ventos quando ele ouviu, de Ryan, que ela havia pedido demissão. Ele não pensou duas vezes em ir até o apartamento dela. Deixando Kevin e Javi na delegacia, Rick foi até a casa dela.

Bateu na porta, tocou a campainha e nada.

– Talvez, se eu derrubar a porta... Não, eu não quero mais isso na minha ficha. - Ele parou o chute no meio do caminho.

Tocou a campainha e bateu na porta e, mais uma vez, nenhuma resposta.

Agora ele precisava descobrir onde ela havia ido. Precisava conversar com Kate.

Saiu da frente da porta dela e foi para a rua. Pegou o carro e minutos depois, mesmo sem perceber, estava no parque. Ele observou os balanços e a viu ali.

***

– Vai chover, sabia? - Ele sentou no segundo balanço e ela pareceu surpresa quando o viu ali.

– Não me importo. - Seu tom de voz era frio.

– Você não era assim.

– Minha vida mudou, nunca mais serei a mesma. A Katherine Beckett que você conheceu não existe mais, ela morreu no dia em que foi abusada. Ponha isso na sua cabeça, desista. - Ela gritou, mas ele se manteve firme, olhando em seus olhos verdes.

– Ela não morreu, só está com medo, assustada. E recusar ajuda é a prova de que você ainda é você. Eu nunca irei desistir de você, entenda isso.

Como ele poderia conhecê-la tão bem?

– Cas... - Ela não sabia o que falar, e por isso deixou que as lágrimas que caiam por seu rosto falassem por ela.

– Eu estou aqui e não vou deixar nada acontecer com você. - Rick segurou as mãos dela. Kate não recuou por causa do toque, muito pelo contrário, ela pediu que ele a abraçasse, e ele fez.

– Eu te amo, Kate. Por favor, deixe-me te ajudar. Não me afaste novamente.

Katherine assentiu e pode sentir o sorriso dele contra seu cabelo.

De repente a dor tomou o corpo de Kate... Estava na hora de acordar daquele pesadelo."