Broken Strings escrita por liligi


Capítulo 16
Capítulo 16




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Capítulo 16 – A faca nas costas

Sentindo seus olhos doerem, Roy desviou o olhar de um dos tantos papéis que havia lido naquele dia para a janela de sua espaçosa sala. Já estava escuro lá fora, e, como de costume, àquela hora todos seus subordinados já haviam sido dispensados, enquanto ele adiantava algumas coisas.

Ainda detestava todo aquele trabalho burocrático — que havia aumentado consideravelmente após sua promoção —, mas ele não queria ir pra casa e encarar Rachel. Vê-la estava se tornando cada vez mais difícil, sentia-se culpado por estar lhe traindo e a afastando, mas não se arrependia por nenhum dos dois, sabia que ela não merecia o que estava fazendo a ela, mas ele não a amava.

Largou a caneta que tinha em mãos e recostou-se em sua poltrona. Ainda era cedo demais para ir pra casa, mas também não tinha mais paciência para ler nada daquilo.

Suspirou, decidiu-se por ir embora, não havia mais o que fazer ali naquela noite. Colocou o papel que lia novamente sobre a pilha, pegou seu sobretudo, as chaves do carro e saiu.

Ao entrar no carro, baixou os vidros, deixando o ar frio da noite adentrar. Não tinha um destino certo ainda, apenas iria rodar pelas ruas da grande Capital, limpar todos os problemas que tinha em mente, esquecer-se de tudo que havia ali, deixar espaço apenas para Riza e Jamie.

Na cidade Central, as estradas eram, em qualquer canto que fosse, ladeada de grandes prédios e casas e àquela hora, com as luzes acesas, o lugar se tornava outro completamente diferente. Roy sempre fora apaixonado por aquela cidade, e aquelas ruas largas que nunca estavam completamente vazias haviam sido seu refúgio por tantas vezes, agora, ele não conseguia mais se sentir em casa.

Após alguns minutos dirigindo, ele já não sabia para onde ia, e tampouco se importava, por mais ridículo que pudesse parecer, naquele momento ele se sentia livre da prisão que vivia: um casamento sem amor, uma vida de fachadas, e, embora tivesse alcançado seu sonho, ultimamente ele parecia cada vez mais insignificante, só mais uma vitória amarga no meio de tanta coisa em sua vida que também amargara.

Em algum ponto de uma rua desconhecida, ele avistou um telefone público. Sem realmente se dar conta do que estava fazendo, ele estacionou o carro e foi até. Logo estava apertando os números que já sabia de cor há alguns meses.

Sentiu a ansiedade crescer em seu peito enquanto ouvia o barulho que vinha doa aparelho do qual que ele apertava contra a orelha. E se ela não estivesse em casa? De repente, vários "se" começaram a surgir em sua mente. Amaldiçoou-se por estar agindo como um pré-adolescente apaixonado pela primeira vez.

- Alô?

Ao ouvir a voz dela, todo o ar que tinha em seus pulmões se esvaíram e ele pensou novamente em como parecia um garotinho falando com seu primeiro amor. Logo, até mesmo esse pensamento desapareceu e por um instante, ele esqueceu que precisava.

- Alô? – A voz de Riza insistia já com uma leve entonação de impaciência, o que fez com que o moreno recuperasse sua voz.

- Riza. – Foi só o que ele disse e o telefone imediatamente ficou mudo. Quando alguns segundos se passaram e não houve resposta alguma da loira, Roy se preocupou. – Riza? Há algo errado?

- Não. Eu apenas estou... surpresa. – Ela disse.

Ele sorriu. Ele esperava essa reação dela. Eles raramente se falavam por telefone, geralmente se correspondiam através de cartas — que ele tinha muito cuidado em guarda-las onde ninguém as encontrariam —, portanto ele imaginou que ela ficaria muito surpresa com seu ato impensado.

- De onde você esta ligando? – Ela quis saber.

- Não se preocupe, não estou no Exército. É um telefone público. – Ele disse e quase a imaginou suspirando de alívio.

- Por que ligou?

Ele sorriu. Claro que ela ficaria desconfiada.

- Eu apenas queria ouvir sua voz. – Aquela era, provavelmente a coisa mais brega que havia dito em sua vida pelo único motivo de que era absolutamente verdade.

Riza suspirou.

- Não me diga que andou bebendo.

Ele riu.

- Não, não andei. – Ele a imaginou agora, com o telefone na mão e estreitando os olhos, desconfiada. – Só liguei para avisar que amanhã estarei indo para a Cidade do Leste.

Silêncio novamente. Roy agora não conseguia imaginá-la. Estaria ela séria ou sorrindo? Preocupada, talvez?

- Eu te espero então... – Ela disse num sussurro, fazendo com o que o coração do alquimista disparasse.

- Eu te amo – Ele disse, seu tom de voz se igualando ao dela. Ficou nervoso com o curto silêncio que se seguiu do outro lado da linha.

- Também. – Foi tudo o que ela disse antes de desligar o telefone.

Riza desligou o telefone antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa. Somente Roy conseguia mexer com ela a ponto de perder controle sob seus sentimentos. Ela duvidava que aquilo mudaria algum dia.

- Quem era? – Patrick perguntou. Ele havia passado a tarde brincando com Jamie.

Riza respirou fundo, tentando controlar as batidas de seu coração.

- Era engano. – Ela respondeu, se afastando da mesinha onde o telefone ficava.

- Ah. – Ele disse. Ouviu Jamie chamá-lo, lançou um último olhar à loira antes de ir.

Ela estava mentindo, ele sabia. Em quatro anos havia aprendido tanto sobre ela, e sabia exatamente quando ela estava mentindo. A maioria só conseguia enxergar o que ela deixava transparecer através de sua máscara de seriedade, mas Patrick havia se esforçado para ir além daquilo.

E ele aprendeu. Cada mania dela, cada gesto que poderia parecer tão insignificantes aos olhos alheios, mas que ele descobriu que faziam toda a diferença naquela mulher, e foi no meio desse processo que ele percebeu que estava se apaixonando. Se apaixonando pela a única mulher que não o deixaria transpor a barreira que ela havia erguido ao seu redor.

Haviam sido poucas vezes que ele a viu completamente vulnerável, sem barreira alguma, e o motivo todas às vezes era Roy Mustang.

Aquilo o enfurecia. Ele a amava, mas ela amava aquele cretino que a transformara em sua amante. A outra. E ela parecia não perceber isso, e o pior, ela aceitava essa situação.

Patrick odiava Roy Mustang desde o momento em que ele descobriu que ele era o pai de Jamie, e, apesar de Riza nunca ter-lhe contado toda a história de como os dois se envolveram, o que ele soube foi o suficiente para fazer essa aversão aflorar.

E então, os anos passaram e ele sempre esteve ao lado de Riza, esperando que ela o notasse, para que, um belo dia, o alquimista reaparecesse na vida dela e virasse tudo de cabeça pra baixo.

- Olha, tio Patrick! – Jamie puxou-lhe pela mão até seu quarto, onde os dois haviam espalhado metade de seus brinquedos pelo chão.

O menino puxou o padrinho até um canto em que, com algumas cartas, ele havia feito um pequeno castelo e sorriu orgulhoso.

- Viu o que eu fiz, tio? - Jamie perguntou, com a voz animada.

O tenente sorriu e bagunçou o cabelo da criança, sentindo-se quase tão orgulhoso quanto o próprio. Afinal, ele vira aquele menino nascer, e agora o via brincando, correndo e se tornando cada vez mais inteligente.

- Você é mesmo demais, hein campeão. – Ele disse. Às vezes ele sentia que poderia ser o pai de Jamie, mas ultimamente, suas esperanças de que pudesse ocupar essa posição na vida do menino diminuíam a cada dia. E aquilo o rasgava por dentro.

Roy estava há quarenta minutos sentado na beirada de sua cama esperando Rachel sair do banheiro para que pudesse se arrumar para o trabalho. Naquela manhã ela havia decidido que iria tirar aquele dia para fazer compras, pois estava cansada de passar o dia naquele casarão solitário.

Ele não se opôs. Não se importava que a mulher iria gastar mais dinheiro do que devia, só queria que ela ficasse um pouco menos insatisfeita com a vida que levava. Nos últimos meses ele só a ouvia reclamar de tudo e de todos e ele sabia muito bem que o motivo do constante mal humor de sua espora era sua falta de carinho e atenção, mas ele não conseguia evitar. Sentia uma repulsa crescente de até mesmo ter que dormir ao lado dela todos os dias, quando era outra mulher que tinha seu coração em mãos.

Alguns minutos depois ela saiu do banheiro já vestida e maquiada. Ela estava radiante naquela manhã Roy não pôde deixar de notar e sorriu. Ela usava um vestido branco que delineava as curvas de seu corpo esbelto, um sapato com o salto tão alto que ele se perguntava como ela sequer conseguia sair do lugar, e um batom rosa claro em seus lábios cheios.

A morena parou diante do marino e virou-se, e jogou seus longos cabelos castanhos sobre os ombros, permitindo que Roy visse a pele nua de suas costas.

- Pode me ajudar? – Ela perguntou, referindo-se ao zíper de seu vestido.

- Claro. – Ele disse, pondo-se de pé, e prontamente puxando o zíper até que ele estivesse completamente fechado.

- Obrigada. – Ela disse e o agradeceu um beijo nos lábios.

Roy sentiu-se desconfortável com aquilo.

- Estarei de volta às seis, você acha que vai trabalhar até tarde hoje? – Rachel indagou.

- Eu não sei, provavelmente.

- Você trabalha demais, amor. – Ela disse enquanto colocava um par de brincos que havia lhe dado de presente em seu aniversário no ano anterior. Um dos poucos presentes que recebera do marido.

Roy não queria ter aquela conversa de novo porque, no final, ambos acabavam estressados um com o outro.

- Eu vou tomar banho, já estou suficientemente atrasado. – Foi o que disse antes de pegar uma toalha e ir em direção ao banheiro de sua suíte.

- Bem, eu já vou indo. – Ele a ouviu dizer e a última coisa que ouviu foi a porta do quarto sendo fechada descuidadamente.

Não demorou muito no banho, sabia que não haveria problema se chegasse atrasado, mas ele não queria. Após sair do banheiro, arrumou-se rapidamente. Mas quando abriu o guardarroupa, não foi apenas a sua jaqueta azul royal que ele retirou.

O alquimista colocou a mala de couro marrom aberta sobre a cama e voltou-se novamente para o guardarroupas e tirou algumas peças de roupas limpas e colocou-as cuidadosamente dentro da mala. Havia avisado no dia anterior que estaria tirando algum tempo de férias e que deveria viajar em breve pois tinha alguns assuntos pessoais para resolver, e resolveu aproveitar aquele dia em que Rachel ficaria o dia fora de casa — Assim não teria que dar suas habituais desculpas e o ouvir as reclamações de sua mulher sobre o assunto.

Iria, contudo, no Quartel colocar algumas coisas em ordem e avisar que estaria partindo naquele mesmo dia, e à noite ligaria para sua esposa.

Em pouco tempo sua mala já estava pronta e ele saiu. Colocou-a no banco traseiro de seu carro antes de ir para o trabalho. Dirigiu tranquilamente — um sentimento quase constante nos últimos meses — enquanto relembrava mentalmente das tarefas que estavam na lista de espera para as próximas duas e semanas, e se orgulhou ao ver que havia resolvido a maioria.

Roy viu o prédio do quartel do exército se erguer a sua frente. Era, de longe, a construção mais imponente que existia na Cidade Central, e à medida que se aproximava, menor era a quantidade de civis a vista — Ele acreditava que o lugar os intimidava.

Passou pelos pesados portões e deixou o carro em sua vaga, dali foi direto para sua sala.

- Bom dia, general. – Fury cumprimentou quando o moreno adentrou a sala.

- Bom dia, pessoal. – Roy disse, dirigindo-se a todos presentes. – Venham aqui.

Os homens automaticamente levantaram-se e se aproximaram do alquimista, curiosos.

- Eu só queria avisar que estarei fora da cidade por alguns dias, mas não se preocupe. Os casos mais urgentes eu já resolvi, então creio que não terão muito trabalho. – Ele disse.

- E você está indo ainda hoje? – Havoc indagou, e o alquimista apenas fez o um gesto com a cabeça confirmando.

- E se houver uma emergência? – Fury quis saber.

- Vocês podem ligar para o hotel que eu sempre fico na Cidade do Leste.

- Você está indo para a Cidade do Leste? – Havoc ecoou um pouco surpreso.

- Quem está indo para a Cidade do Leste? – Armstrong perguntou enquanto adentrava a sala. Ele parou e bateu continência, e só então percebeu que estava havendo alguma espécie de reunião. – Estou interrompendo?

- Não, já acabamos aqui. – Mustang respondeu antes de ir para sua sala. Só precisava fazer algumas ligações antes de ir para a estação.

- O que está acontecendo? – O militar perguntou quando seu superior havia desaparecido por detrás da porta de sua sala.

- O general vai fazer uma viagem relâmpago à Cidade do Leste. – Havoc respondeu-lhe com um sorrisinho irônico.

- Mesmo?

- Interessante, não é mesmo?

Roy estava sentado em sua mesa, acabara de ligar para o hotel na Cidade do Leste para fazer a reserva de seu quarto, e agora ligava para sua casa. Após alguns toques, a empregada atendeu.

- Judith, Rachel está em casa? – Ele indagou.

- Não, senhor Mustang, a senhora ainda não chegou. – A empregada respondeu.

- Tudo bem. – Ele disse sentindo um alívio. – Quando ela chegar em casa, diga-lhe que tive que fazer uma viagem de emergência. Ligarei quando estiver no hotel.

- Oh, está bem.

- Obrigado, Judith. – Ele disse e desligou o telefone, estava na hora de ir.

Roy estava sentado na estação Central havia quase quarenta minutos, lendo um jornal. Sua mala ao seu lado no banco. Pegara roupas suficientes para passar mais de um mês lá, já que não sabia realmente quanto tempo ficaria. Lá, ele não tinha noção de tempo.

Em poucos minutos, ouviu o som das rodas metálicas contra o trilho. Fechou seu jornal e pegou sua bagagem. Estava na hora.

Sorriu. Ele mal podia esperar.

O céu já estava mudando de cor. O azul turquesa ia sendo substituído por tons laranja e róseos e o sol sumia na linha do horizonte. Rachel observava aquele espetáculo através da janela do carro. Ao seu lado havia inúmeras sacolas de compras, das várias lojas que visitara aquele dia.

Estava cansada, mas satisfeita. Ao menos teve um dia sem discussões com Roy ou sem ter que lidar com seus empregados incompetentes, sem ter que ouvir nada relacionado ao exército. Um dia para se relaxar e esquecer.

Mas já estava ficando tarde e pretendia fazer uma surpresa a Roy.

Ao chegar aos portões do Quartel Central, seu carro foi parado, mas ao perceberem que ela era a esposa do General Mustang, logo sua entrada foi liberada.

Desceu do carro fazendo uma careta. Sempre odiara aquele lugar, era por culpa dele que teve um pai ausente na maior parte da sua vida, e agora, o mesmo tomava seu marido.

Inalou o ar e o soltou com força e adentrou o Quartel dos militares. Estava a meio caminho da sala de Roy quando um homem extremamente musculoso vestindo a mesma farda azul Royal que Roy vestia a parou.

- Senhora Binoche! – O homem exclamou e abriu um sorriso para a morena. Ela tinha a leve impressão de que já o vira outras vezes, mas não se recordava de seu nome ou sua patente. – Lembra-se de mim? Sou o major Armstrong, estive em sua casa no último natal.

"Ah, claro." – Rachel pensou consigo mesma. No natal do ano anterior Roy fizera questão de convidar todos seus subordinados.

- Major, boa tarde. – Ela cumprimentou educadamente. – Será que poderia me dizer onde meu marido se encontra? Quero falar com ele.

Ela viu o loiro erguer uma sobrancelha.

- Não creio que ele ainda tenha chegado lá, Senhora.

- Chegado aonde? – Rachel indagou, confusa.

- Na Cidade do Leste, é claro. – Armstrong disse em tom de obviedade.

- Ele teve uma missão de última hora, então.

- Claro que não. – Armstrong disse tão confuso quanto à esposa de seu superior. – Ele viajou para lá como civil, ele pediu algum tempo de folga. Mas por que a senhorita não foi com ele?

A respiração de Rachel saia irregular. Sua mente trabalhava depressa e a raiva começava a explodir em seu peito.

- Não diga que não tinha sido avisada? – Alex falou percebendo a besteira que havia acabado de fazer.

- Sim, eu havia – Mentiu. – Eu apenas havia esquecido. Ele havia mesmo me dito que iria visitar um velho amigo.

- Oh, que alivio. Achei que havia falado mais do que devia.

- Não, não se preocupe. Não falou nada demais. – Ela sorriu e o militar retribuiu. – Bem, já que meu marido não está aqui, irei embora. Muito bom revê-lo, major.

- Igualmente.

Despediu-se rapidamente e deu a volta. Naquele momento se sentia traída, enganada, e, principalmente, irada. Ela não sabia o que Mustang estava aprontando, mas iria descobrir. Ele não a faria de boba.

Olá! :D

Primeiramente, queria desejar um feliz 2012 aos meus leitores lindos e (extremamente) pacientes. Tá um pouco atrasado, mas sabe como dizem né? Antes tarde do que nunca hehe

Mais um capítulo demorado e que não saiu como eu desejava — tive que reescrevê-lo três vezes e ainda assim não está do jeito que eu gostaria ;[

Maaaaas, saiu. Espero logo poder postar o dezessete, mas não vou prometer nada. To tentando aprender a administrar meu tempo melhor, juro.

Enfim, gostaria de agradecer as fofuras que ainda leem a fanfic e que ainda se prestam a comentar. Sempre que vejo notificação de review me animo a escrever ahsuashshaushausha

E finalmente, gostaria de desejar a todos um carnaval divertido e responsável haha

Muito bem, vejo vocês na próxima atualização.

Beijos,

Liligi.


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