Valentino‏ escrita por TM


Capítulo 17
Principato




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Ave Maria, cheia de graça...", assim como em meus lábios, a oração ecoava em minha mente, em silêncio, suplicava á santa por sua misericórdia eterna, para que assim me fizesse totalmente pura. Cansada de ouvir apenas silêncio, parei-me e perguntei-me por quantas vezes tinha repetido tal oração. Talvez umas seis? Ou até mais do que foste pedido? Não me lembro, e também não gastei energias para tal feito. Fui andando para a residência dos Borgia, quando deparei-me com la bella Farnese.

Assim como eu, ela estava maravilhada com a Basílica de São Pedro. Qualquer um ficaria admirado com tal obra, era o mais próximo do divino que tínhamos.

– Giulia? - Arrisquei-me dizer. Ela virou seu rosto, fazendo com que suas mechas ruivas dançassem no ar, e me lançou um olhar carinhoso acompanhado com um sorriso. - O que fazes por aqui?

– Eu estava admirando as belas obras de arte que se escondem no Vaticano e que todos insistem em ignorar... É realmente uma pena! - Giulia Farnese deu alguns passos lentos em minha direção, e quando estávamos frente-a-frente, ela puxou uma mecha de meu cabelo e começou a enrolar com a ponta de seu dedo. - Fiquei sabendo sobre Pedro Luís Anjou... Sinto muito. Mas, assim como toda moça descente, você tem que pensar no futuro dos seus descendentes, para que não se envergonhem de sua atitude.

– Ele é uma besta! - Bufei. - Pedro Luís coloca seus interesses políticos antes de mim; para ele, eu sou mais uma vadia que ele irá levar para a sua cama. Não sou nada além de um nome e um rostinho bonito.

– Você é muito mais do que isso, Dannata. E se um dia enxergarem o que nós, mulheres, podemos ser, eles passarão a ser nossos escravos, e sabem disso. - Ela ergueu minha cabeça e me fez encarar seus gelados olhos azuis. - Não pense que todo casamento é infeliz, minha querida. A grande maioria tem adultério envolvido no meio, assassinato, e até mesmo incesto. Mas não se esqueça que se não fosse Deus, você não estaria aqui hoje. E se Ele quiser que você seja feliz, bote toda a sua fé nisso.

– Fico agradecida pelas palavras de grande sabedoria, Giulia. Você me ajudou muito. - Eu disse com um meio sorriso. - Afinal, escondes algo de mim, não escondes? Dá pra ver em teus olhos. Por favor, diga-me e mata essa curiosidade que me atormenta.

– Eu não queria falar, ia te impedir de ir pra lá, mas você não tem jeito mesmo, hein Dannata? - Giulia ficou vermelha. - Bem, Cesare me pediu para que lhe convidasse para ir se juntar á ele e seu pai numa breve reunião.

– Não acredito nisso, depois de tudo o que fizeram comigo ainda tem coragem de vir pedir-me tal coisa? Isso é um absurdo!

– Sim, eu sei. - Giulia olhou para os lados, demonstrando insegurança. - Mas não se preocupe, você não é obrigada a ir nesta reunião, pelo o que eu soube, seu pai vai trocar palavras com Cesare sobre um principiado, creio eu. Não é necessária sua presença, disseram-me, mas seria bom se fosse.

– Eu vou, tenho que falar seriamente com Machiavelli. Ele é estúpido! - Segui Giulia até a sala que estava minutos antes. Ela se despediu rapidamente de mim e deixou que me virasse. Entrei na sala e os olhos viraram até minha imagem com um ar surpreso, quase que imaginável.

– Pensaram que eu não iria vir pra festinha? - Ataquei.

– Sim, pensamos. - Cesare disse com um papel em mãos.

– Vamos resolver as coisas do seu casamento, por isso solicitamos a sua presença.

– Então por que está aqui? Você não tem nada a ver com isso!

– Deixe-nos á sós. - Pediu Cesare á Nicolau Machiavelli. - Por favor.

Nicolau Machiavelli obedeceu, com pesar em seu rosto e com as mãos fechadas de raiva. Depois que fechou-se a porta, Cesare apenas disse com um ar sombrio:

– Como assim eu não tenho nada a ver com isso, Dannata? Eu tenho tudo a ver! - Ele encarava o chão, e me perguntava o por quê de não olhar diretamente em minha face. - Antes daquele Anjou saber que estava viva, nós estávamos vivendo um sonho. Você era tudo o que eu queria, tudo que um dia eu sonhara. Mas ali ele chegou e com tamanha facilidade, destruiu meu sonho, me deixando com a dura realidade da vida.

– Está vendo? É assim que me senti quando soube que iria casar! Eu te amava Cesare! Ou pelo menos achava que isso era amor. - Minha voz saía trêmula, e meus olhos encheram-se de lágrimas. - Tudo que você está sentindo é mútuo, mas em minhas condições, soa mil vezes pior. Você apenas teve de se casar com Charlotte, quanto eu, terei que dar vários filhos a Pedro Luís e dizer todo dia á ele que o amo, mesmo que seja mentira. Por que se eu não fizer isso, eu morro.

– Mas - A voz de Cesare conseguira sair mais trêmula que a minha. - você não pode morrer! Eu não conseguiria viver se você morresse!

– Você diz isso uma hora, mas na outra me humilha, chamando-me de bastarda. Não dá pra confiar se suas palavras são sinceras. - Fui até a porta e a abri, dando de cara com meu pai.

– Pode entrar, já acabamos a conversa. Ainda com a cabeça baixa, Cesare não viu Nicolau Machiavelli empinar seu nariz para sua própria filha, e logo após disso, parar.

– Vamos falar do principiado de Cesare.

– Achei que estávamos aqui pra discutir coisas do meu casamento!

– Não. - Nicolau arqueou uma sobrancelha. - Assim como todo príncipe tem uma princesa, Cesare Borgia tem você, Giorgia. E para ser um príncipe perfeito, ele precisa de você e de poder. Futuramente, darei mais poder a ele do que se possa imaginar, mas enquanto á vocês, isso tenho que resolver imediatamente.

– O que está querendo dizer? - Cesare levantou a cabeça, desprovido de emoções mais do que nunca.

– Estou propondo para que os dois se tornem amantes para criar o verdadeiro sangue real, uma nova dinastia. De acordo ou não?


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