Valentino‏ escrita por TM


Capítulo 15
Sposo




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As palavras que eu acabara de ouvir parecia que iam me sufocar a qualquer momento, numa tentativa de tentar contra-argumentar, abri a boca para falar, mas para a minha infelicidade, não saía som algum. Todos esses anos em que meu pai passara contando histórias de princesas que podiam escolher seus futuros maridos - assim como foi com minha mãe e como está sendo com Cecília Sforza -, e me iludia, dizendo-me que um dia eu seria alguma dessas princesas. As palavras de Nicolau Machiavelli não tinham mais nenhum valor para mim, tudo que saía de sua boca daqui pra frente, poderia ter minhas dúvidas, e duvidar-lhe da verdade absoluta.

Estava decidida a acabar com tudo o mais rápido possível. Na sala ao lado, Pedro Luís Anjou esperava para conhecer sua noiva e futura mãe de seus filhos. Respirei fundo, e disse:

– Leve-me até ele. - Os músculos de minha boca estavam tensos. Meus olhos estavam lagrimejando, mas não queria que isso se tornasse notório. Seria uma vergonha e tanto. Cesare me encarou, meio desconfiado com o que acabara de ouvir, mas logo mostrou aceitação quanto á minha decisão.

Agora ia cumprir meu papel numa peça de teatro chamada vida, na qual o destino era o diretor e ator principal. Eu olhei para meu pescoço e lá estava o terço que minha mãe usava, eu o apertei e sussurrei comigo mesma, que seja feita a vontade de Deus. Amém.

– Dannata, não se esqueça de que o tempo está ao nosso favor. Não quer esperar mais um pouco para conhecê-lo? Creio que a vossa senhoria ainda não tenha absorvido todas as informações. - Cesare me olhava de modo compreensivo, quase que familiar. Talvez estivesse com ciúmes de Anjou e estava tentando me atrasar. Ele tinha razão, era muita informação, mas eu sou forte, eu consigo! Senti que lágrimas estavam prestes a escorrer, e desta vez, não iria fazer nada para impedi-las.

– Não acha que eu esperei tempo suficiente para conhecê-lo, Cesare? - Eu tomei coragem e o olhei nos olhos, não me importava que as lágrimas rolavam em meu rosto, tinha chegado a hora que eu tinha de mostrar que eu tinha sentimentos, que eu apenas não era uma filha que Nicolau tinha vendido e aceitado de bom grado. Percebi que Machiavelli estava cabisbaixa, com as mãos em suas têmporas. "O casamento se trata de política", certa vez ele me dissera isso. Voltei a fitar Cesare. - Eu espero por este momento desde meus dez anos! Não quero esperar por mais cinco minutos. Eu sei que no fundo, Deus já preparou várias coisas boas para mim.

– Você acha que Deus tem algo a ver com isso? - A voz áspera e grossa de meu pai atravessou a sala. - Se Deus fosse tão bom quanto alguns clérigos dizem, não teria perdido sua mãe no dia em que nasceste! Ele me fez escolher entre você ou ela, uma vida pela outra.

– E você está arrependido por esse feito? - Minha voz tinha endurecido e as lágrimas tinham cessado.

– SIM! - Ele respondeu rápido demais. Me senti como uma pobre camponesa que tinha perdido sua família, honra, integridade e dignidade. - Quer dizer, não! Você foi uma das poucas coisas boas que me aconteceram. Sou eternamente grato por isso. Se tivesse de escolher novamente, você sabe que eu lhe escolheria. Você é o meu maior e mais precioso tesouro! - Nicolau Machiavelli tentava se redimir, porém, todo esse esforço foi para os ralos que iam direto pro esgoto. Inútil.

– Você escolheu errado, e te consciência disso. - Cesare estava esperando uma ordem para que me levasse até Pedro Luís. Coloquei minhas mãos na frente de minha barriga e dei um riso fraco. - Por favor, Cesare, me conduza até Anjou.

Ele fez exatamente o que pediste, e os gritos de Nicolau Machiavelli foram abafados pelo som de meu sapato de madeira com seu "tic-toc" freneticamente, com eficiência e respeito, Cesare me guiou com rapidez até a sala em que meu noivo estava; Assim como Virgílio guiou Dante, pensei.

Antes de entrar, peguei-me admirando a porta da sala, que neste momento, estava fechada com o mais absoluto sigilo. Era da mais escura madeira, e nela tinha um brasão dos Borgia gravado em ouro puro. Parecia que o touro me encarava, e com isso, decidi que era hora de abraçar meu destino.

– Abra, por favor. - Forcei um sorriso e dei um pequeno passo adiante, Cesare abriu a porta apenas com um leve empurrão, e ela cedeu mais rápido do que se possa imaginar.

Entrei na porta esperando literalmente um príncipe, mas vi que estava enganada á respeito disso. Vi um homem de aparência cansada que estava no centro da sala cheia de sofás vermelhos e obras-de-arte mal vistas - e condenadas - pela igreja. Seus olhos eram de um cinza que jamais tivera visto tamanha beleza em apenas um olhar, e seus cabelos eram de um claro intenso. Eu não tinha percebido até então, mas ele estava acompanhado de outro cavaleiro, desta vez, o que vi me surpreendeu. Seus cabelos eram ralos e era magro o bastante para que seu rosto perdesse as maçãs e desse-lhe uma expressão chupada, quase que morta.

– Olá, senhora Giorgia! Eu sou Bartolomeo Benedetto, primeiro cavaleiro do senhor Anjou. - O homem dos olhos cinzas anunciou. - E este ao meu lado, é Pedro Luís Anjou, filho de Dionigi d'Anjou e sua senhoria amada e falecida, Fiammetta Ruggiero, irmão de Tommasa e Tullio Anjou, duque e o primeiro á ser escolhido para suceder seu pai. Gostaria que lhes desse um tempo á sós?

– Por favor. - A voz de Pedro Luís era fraca, como á de um doente.

Bartolomeo nos deixou á sós, e eu não conseguia parar de encara-lo, ele era horrendo, um animal.

– Você sempre foi linda. - Ele disse-me. - Linda demais para ser uma bastarda de Machiavelli e sua cortesã.

– Quem você pensa que é? - O olhei, incrédula.

– Eu sou seu noivo. O cara com quem irá foder. O pai dos nossos filhos.

 

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