POV EMILY

(…) Esta forma de terapia engloba diferentes técnicas específicas que utilizam o frio, como na forma líquida , sólida e gasosa.. como, por exemplo, nitrogênio líquido, capaz de retirar o calor corporal induzindo o mesmo a um estado de hipotermia, favorecendo assim, uma diminuição da taxa metabólica local, gerando nas células uma queda da necessidade de oxigênio…

Meu professor falava sobre crioterapia, um assunto que sempre me pareceu interessante, mas eu mal estava aguentava manter os olhos abertos, imagina prestar atenção. Olhei para o relógio e eram quase quatro da tarde. Falta pouco para o fim da aula, e consequentemente para o começo do meu descanso, já que hoje é sexta-feira.

A semana inteira não tive tempo de fazer nada a não ser estudar e projetar algumas coisas para o grupo de apoio. Também ajudo com grande parte do trabalho burocrático, pois meu pai é bastante ocupado. Além de coordenar o grupo ele é dono de uma revendedora de carros, ou seja, trabalho burocrático ele tem de sobra, e eu sei o quanto ele não gosta dessa parte, então eu assumi esse serviço, pelo menos lá no grupo de apoio.

Somos apenas nós dois engajados nisso, já que minha outra Irmã, Carolyn, estuda num colégio interno e nos visita apenas uma vez por mês. Chris, que é um ano mais novo que eu, nunca mostrou interesse nos projetos. Quando há algum evento grande, onde nós precisamos de toda a ajuda possível ele acaba contribuindo, mas não é algo que ele sinta prazer em fazer. Claro que isso não faz dele uma má pessoa. Pelo menos ele ajuda nosso pai na loja.

Professor: Bem, por hoje é só. Estão dispensados! E não esqueçam, semana que vem teremos aula prática no laboratório.

Assenti e deixei rapidamente o prédio da universidade, querendo chegar logo em casa e poder deitar na minha cama. Geralmente minha semana é um pouco mais tranquila, mas admito que esses dias estou trabalhando além da conta, e por vontade própria. Prefiro me afundar no trabalho a ficar lembrando que essa é a semana de aniversário do momento mais difícil da minha vida.

…

Wayne: Emily, você tá aí?

Emily: Tô sim, pode entrar.

Wayne: Você estava dormido? Desculpe amor.

Emily: Não, tudo bem... já descansei o suficiente. Ainda preciso ligar praquele cara da empresa de refrigeração, e marcar um horário pra ele passar lá no prédio.

Wayne: Não se preocupe com isso, eu já resolvi. Marquei com ele amanhã ao meio-dia.

Emily: Ah, ótimo. Então eu vou adiantando a pauta de amanhã porque...

Wayne: Emily, olha pra mim – sentou na cama

Emily: hmm – fiz o que ele me pediu

Wayne: Você tem que dar um tempo, filha. Sabia que você tem 18 anos? E sabe o que as garotas de 18 anos fazem? – fiz uma cara de ‘’sei lá’’

Wayne: Elas se divertem. Principalmente numa sexta à noite. Eu sei o que está acontecendo... eu sei que essa semana é bem difícil, que domingo é o aniversário de cinco anos. – limpou a garganta. - Mas você precisa arranjar outras distrações além do trabalho. Você é jovem... e linda, merece se distrair e aproveitar as coisas boas que a vida te oferece.

Emily: Eu faço isso. Só que não com tanta frequência. Você sabe que eu não sou muito fã de festas e essas coisas.

Wayne: Eu sei que não. Você nunca me deu trabalho algum... não bebe, não fuma... sempre avisa pra onde vai e com quem vai, mesmo sem eu estar ali pressionando. E você sabe o quanto eu me orgulho de você, por ser uma garota tão centrada, responsável e que sabe o que quer. Mas você também precisa de um pouco de diversão, espairecer é muito bom. Principalmente esses dias. – acariciou meu rosto.

Emily: ok pai, você venceu. Vou maneirar no trabalho.

Wayne: Era isso que eu queria ouvir. – sorriu satisfeito. – pretende sair ainda hoje?

Emily: Não, hoje não. Mas eu prometo que nesse final de semana eu não irei ficar trancada em casa com a cara nos livros.

Wayne: Então temos um trato. – apertamos as mãos.

POV ALISON

~Sábado~

O barulho da notificação de mensagem interrompe meu sono. Olho no visor do celular e confirmo minha suspeita. Emily. Desde segunda-feira ela envia mensagens pra mim, de bom dia e de boa noite... sempre acompanhadas por uma frase ou citação de apoio. Nunca respondi nenhuma delas. Não por não gostar delas ou por desdém, pelo contrário. Essas mensagens me fazem bem, me fazem crer que alguém se preocupa comigo. Meus pais não valem, pois são ‘’obrigados’’ a isso. Mas a Emily... por que? Pra essa pergunta eu não tenho resposta.

Falando em não ter resposta, acho que isso se aplica as mensagens da Emily também. Eu simplesmente não sei o que responder... e enviar um mísero ‘obrigado’ deve ser ainda pior que não responder. Tentei parar de pensar nisso. Não ia funcionar por muito tempo, já que em alguns minutos encontrarei com ela no grupo de apoio.

Levantei, fui direto pro armário a fim de separar uma roupa: camiseta branca com a estampa da bandeira do reino unido, calça jeans branca e meu converse, claro. Depois fui para o banheiro cuidar da minha higiene pessoal.

Desci pra tomar café e pude avistar apenas meu pai na cozinha. Daí lembrei-me de que hoje era o dia que minha mãe iria levar Aria para sua primeira aula de natação. Comemos em silêncio, como sempre... e ele me levou até o prédio do G.A. Agradeci, e saí do carro ouvindo um ‘’quando acabar me ligue’’ dele enquanto me dirigia a entrada.

Entrei na sala e para a minha surpresa Emily já estava lá, juntamente com seu pai. Apesar da sua expressão cansada, ela irradiava beleza. Vestia uma camiseta branca de botões, dobrada na altura do cotovelo, short jeans meio rasgado e botas de combate. Seus cabelos estavam soltos e ela usava pouca maquiagem. Quando me viu ela abriu um pequeno sorriso e fez um ‘’hey’’ mas sem soltar nenhum som. Retribuí com um aceno leve de cabeça, e logo fui procurar um lugar pra me sentar.

…

Wayne: Bom dia moças e rapazes. – todos devolveram a saudação. – Bem, como não temos nenhum novato hoje, irei pular algumas etapas do nosso ‘ritual’ – fez aspas com as mãos. - Algum de vocês sente-se à vontade em falar algo? Algum de vocês gostaria de comentar uma vitória, ou algo que vocês considerem relevante que aconteceu com vocês essa semana... Sendo bom ou ruim?

Meu coração parou, meu corpo congelou quando me dei conta de que havia levantado a mão, de livre e espontânea vontade.

Wayne: Que bom que você se sente à vontade em nos contar algo Alison. – abriu um sorriso.

Todos os olhares se direcionaram para mim. Por que eu levantei a mão mesmo?