POV EMILY

(…) Que bom que você se sente à vontade em nos contar algo Alison.

Me ajeitei na cadeira e olhei diretamente pra Alison. Sua expressão era um misto de espanto, pelo ato corajoso em levantar a mão... e vergonha, pois todos estavam a olhando e esperando que ela falasse algo. Tive que segurar o riso quando ela apertou os olhos antes de começar a falar, pois foi a coisa mais fofa do mundo.

Alison: Eu... Eu... ahm... bem...aconteceu algo comigo que fez eu me afastar das pessoas... literalmente. – suspirou. Sua voz era tão baixa, tão frágil que meu coração estava se apertando.

Wayne: Você está indo bem... continue.

Alison: Desde então eu tenho afastado as pessoas, deixei de falar com meus amigos... – revirou os olhos. - Tá, eu não tinha muitos... mas hoje em dia o máximo que eu faço é conversar por mensagens, apenas pra mostrar que eu estou viva, mas não mantenho as conversas por muito tempo. - Não troco mais que duas frases com meus pais há tempos... minha irmãzinha, que nunca teve culpa de nada, anda muito triste em casa, não pra menos... ela se sente só pois sua irmã mais velha que deveria estar sempre ao seu lado vive hoje trancada no quarto... alheia à tudo.

Algumas pessoas na sala assentiram com a cabeça, provavelmente identificando-se com o que ela estava dizendo. Outras estavam visivelmente emocionadas, como Spencer, a garota que chegou no mesmo dia que Alison.

Alison: Eu sei que com isso eu estou machucando minha família, meus amigos... mas eu juro que eu não faço por mal... eu só... não consigo. – abaixou a cabeça e pude perceber que ela estava chorando.

Meus olhos começaram a arder e provavelmente eu já estava chorando também. Minha maior vontade era correr até ela e abraçá-la o mais forte que eu pudesse, mas eu não sei se dessa vez ela iria aceitar o meu toque... não na frente de tantas pessoas.

Limpei discretamente as lágrimas que caíam pelo meu rosto, mas sem tirar os olhos de Alison, que ainda estava de cabeça baixa. Eu estava esperando... esperando um sinal dela pra poder agir.

Wayne: Nós sabemos Alison, nada disso é culpa sua. E pode ter certeza que eles sabem disso... eles te amam. – meu pai como sempre falando as coisas certas nos momentos certos.

Alison levantou a cabeça e passou as costas das mãos pelo rosto, a fim de secá-lo. Tomou uma respiração longa e assentiu pro meu pai. Eu estava implorando silenciosamente pra que ela me olhasse, pra me dar a certeza de que ela não precisava de mim naquele momento, mas ela não olhava de jeito nenhum, e eu sabia que era de propósito.

Wayne: Você quer continuar? – perguntou ternamente.

Alison: Sim. – respondeu decidida, ainda que com a voz um pouco embargada. - Bem, a parte boa que aconteceu esses últimos dias é que eu acho que algo... ou melhor, alguém está derrubando minhas defesas... algo que nem meus pais, amigos e psicólogos conseguiram. – falou olhando pras mãos. Essa pessoa parece se preocupar muito comigo, e a cada dia que passa eu sinto que posso confiar nela, que ela pode me ajudar a melhorar... que ela pode me ajudar a superar meus medos, meus traumas. – mordeu o lábio, ainda olhando pras mãos.

Eu sabia que era à mim que ela estava se referindo. Meu coração se encheu de felicidade por saber que ela estava me deixando entrar, mas ao mesmo tempo senti que estava sendo depositada uma enorme responsabilidade em cima de mim. A partir de agora eu sabia que não podia falhar.

Wayne: Alison, isso é maravilhoso! – abriu um largo sorriso. - Cada um reage à um trauma de maneira distinta... e a sua ‘recuperação’ – fez aspas – também é diferente para cada um. Claro que para superar isso completamente há uma série de fatores que ajudam, mas sempre, sempre há algo específico que te dá o ‘empurrão’ – fez aspas de novo. - Geralmente é uma ajuda psicológica, mas também pode ser um livro, uma música... e as vezes é uma pessoa. Meu conselho é: Deixe-a entrar. Faça isso aos poucos, sem pressa... faça isso quando se sentir segura, se sentir pronta pra dar cada passo. Ela vai saber esperar, eu tenho certeza.

POV ALISON

Não sei de onde consegui tirar coragem pra falar tudo isso, mas o fato é que eu consegui. E a sensação de alívio é maravilhosa. As palavras de Wayne confirmaram o que meu subconsciente alertava, Emily estava me ajudando, e poderia ajudar ainda mais... mas eu tenho que deixar ela fazer isso. Estava tentando evitar encará-la desde que eu comecei a falar, pois tinha certeza de que desabaria quando a olhasse.

…

Continuei olhando para baixo enquanto outra pessoa estava com a palavra. Contando como havia sido a semana. Confesso que não estava prestando atenção em nenhuma das pessoas que falaram depois de mim, só havia uma coisa na minha cabeça... o que a Emily estaria pensando depois de ouvir o que eu falei? Será que eu a assustei, a pressionei demais? O motivo de eu não olhá-la agora era esse... de ver nela uma expressão assustada, ou pior... indiferente.

…

O sinal sonoro avisou que a sessão havia terminado, rapidamente as pessoas saíram da sala e eu continuei sentada na minha cadeira, esperando... Deus lá sabe o que.

Procurei Emily com o olhar, mas não a encontrei. Então é isso... ela já foi. Essa é a minha resposta.

Tirei o celular do bolso e fui ligar para o meu pai, quando menos espero, alguém retira o aparelho das minhas mãos e se agacha na minha frente.

Emily: Não precisa ligar pro seu pai, hoje você vai comigo.