Três vidas inteiras escrita por Blue Butterfly


Capítulo 2
Dois




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Jane não soube o que a pegou desprevenida e a assustou mais: o fato de Maura ter se engasgado com as palavras, e o que elas significavam, ou o fato de a loira estar chorando incontrolavelmente. A detetive não entendia o porquê. Ela mesma passara por essa experiência e, é claro que ela havia ficado abalada, mas nada comparado ao jeito que Maura estava agora. Por hábito, ela levou a mão nas costas da loira e a guiou ao sofá para que se sentasse. Engraçado como as duas haviam passado pela mesma situação. Primeiro ela, terminando com Casey e descobrindo que estava grávida. E depois perdendo o bebê... E agora Maura, rompendo o único relacionamento que havia dado certo depois de anos, para se descobrir grávida do homem que parecia estar disposto a encontrar soluções para ficar ao seu lado. A detetive conhecia os medos e as aflições de sair de um relacionamento carregando uma criança em seu ventre. Uma criança que não tinha absolutamente nenhuma culpa de tudo ter acabado, mas que existia, e era um lembrete da outra metade de uma relação que não deveria ter deixado restos com o passar dos anos.

Ela imaginou o quanto aquilo machucava Maura. Ela sabia que a loira gostava de Jack, e que o término da relação a havia entristecido, e que nas primeiras semanas ela sentia falta dele. O desinteresse em atividades que eram marcas registradas de Maura tinha preocupado Jane; era a denuncia de quão grave a situação tinha sido. Então, a detetive a levara àquele spa. Maura de alguma forma tinha encontrado algumas revelações e até contado algumas à Jane, e ela estava ficando bem, se recuperando. Há três dias atrás, a morena chegou a pensar que finalmente, tanto ela quanto Maura, estavam de volta à paz de espírito que há muito tinham perdido. A noite de jantar na casa da loira tinha sido leve, cheia de piadas e provocações, e em nenhum momento elas se referiram à Frost, à perda do bebê de Jane ou até mesmo ao Jack. Eram apenas as duas, compartilhando o simples e agradável momento da vida, um do estilo que elas sempre estimavam.

Apenas para terminarem ali. Novamente em lágrimas. Mais uma vez de coração apertado.

'Maura.' Jane disse com a voz calma e baixa, subindo e descendo as mãos nos braços da médica. 'Você precisa respirar, e se acalmar. Não é o fim do mundo.'

A loira chacoalhou a cabeça que ainda estava baixa, e levou a mão na boca para conter um soluço. Se Jane decidisse abraçá-la agora, ela iria desabar.

'Nós vamos cuidar disso. Ok? Eu prometo.' A morena apertou seu ombro em conforto.

Nós. A palavra ecoou sem misericórdia na cabeça da médica. Porque com Jane era sempre assim: nós. Aonde quer que ela fosse, ela levava Maura. O que quer que ela decidisse para uma viagem, um final de semana, incluía Maura. Desde os planos mais simples, como os do almoço, até os planos a longo prazo e mais complexos, como a viagem à França, Itália e Londres, contavam com Maura. Alguns deles só aconteceriam diante a presença da loira. Se sentindo ainda mais culpada por não ter considerado Jane nesse novo cenário, Maura se curvou ainda mais. Ela não deveria ter mandado aquela mensagem. Ela deveria ter passado por isso sozinha. Se ela tivesse sido forte o suficiente, Jane jamais teria sabido. Ela não queria o bebê. Ela não tinha condições emocionais. O trabalho era demandante. Em que, por Deus, ela estava pensando quando decidiu contar a Jane, sendo que sua próxima decisão envolvendo a gravidez inesperada seria interrompê-la?

'Eu sinto muito.' Ela murmurou entre lágrimas, para a surpresa de Jane.

A morena esperava ouvir 'o que vou fazer agora?' ou algo parecido com isso, mas jamais uma manifestação de desculpas. Um tanto quanto confusa, Jane inclinou a cabeça para o lado. 'Do que você está falando, Maura?'

'Isso é de alguma forma tão injusto.' Ela murmurou de volta, limpando os olhos e sem encarar Jane.

'Maura, eu sei como é. Mas acredite, não é tão ruim como parece no começo.' Jane deslizou uma mão pelo braço da outra até alcançar a mão e a apertou.

'É exatamente isso! Você sabe. Eu não queria ter jogado essa bomba em cima de você. Não depois do que você passou.' Ela limpou os olhos mais uma vez, visivelmente chateada.

'Maura, isso não tem nada a ver comigo.' Ela levou uma mão no rosto da mulher e ergueu o seu queixo, obrigando-a a encarar. 'Isso é sobre você, e não sobre mim.' O olhar de Maura sob o dela durou apenas um instante. A loira se desvencilhou do seu toque ao balançar a cabeça.

'É injusto porque você queria o bebê. E eu não quero. Eu não quero, Jane.' Ela disse com vigor, novas lágrimas caindo de seus olhos.

Parecia que Maura tinha tomada a decisão antes mesmo de se familiarizar com a idéia. Jane não estava surpresa, entretanto ela escondeu a desaprovação que sentia. Não era direito dela de dizer a Maura para manter o bebê. Não era seu corpo, sua vida. Ainda assim, ela achou a decisão um tanto quanto prematura. Há quanto tempo a médica tinha descoberto? Julgando pelo modo de sua reação, não poderia ser mais do que uma hora, e Maura já estava tomando decisões drásticas assim? Decisões que não poderiam ser desfeitas?

'Ei...' Jane disse se sentando mais perto dela. 'O que quer que você decida eu vou estar do seu lado. Ok? Você tem todo o direito de querer ficar com ele ou não. Mas, Maura... Você acabou de saber. Se dê um tempo antes de tomar uma decisão. Você precisa pensar.'

'Jane, eu não posso ter um bebê agora. Olha para minha vida! Não há tempo, espaço para isso.' Ela apertou as mãos de Jane, quase implorando para que a morena compreendesse sua situação.

'Maura, uma vez você me disse que cuidaria do meu bebê se acontecesse algo comigo. Como você faria tempo para ele, e não para esse?' Jane argumentou.

'Mas aquele era o seu bebê, Jane.' E o comprometimento na voz da loira era tão grande que por um momento Jane quase acreditou que seu bebê ainda estava ali. Aquilo era o quanto Maura se importava com ela. O quanto ela estava disposta a se sacrificar por ela. Jane engoliu o nó na garganta e suspirou.

'Eu não quero interferir nas suas decisões, Maur. Mas por favor, não aja por impulso.' Ela apertou as mãos nos braços da loira antes de se levantar. 'Vamos.'

A loira se sentiu confusa. 'Vamos aonde?' Ela franziu as sobrancelhas e ergueu os olhos para Jane.

'Para casa, Maura. Eu vou te levar.'

'Não. Não, Jane. Você está trabalhando em um caso, e, eu não quero tomar mais seu tempo.'

A morena se virou para Maura, cansada e sobrecarregada com o dia. 'Eu preciso descansar um pouco. E você precisa de companhia... E de descanso também.'

'Jane...' Ela hesitou.

'Maura, junte suas coisas e me espere lá em cima na cafeteria, ok? Eu preciso avisar Korsak e pegar minhas chaves.'

A médica sabia que não ia adiantar teimar. Quando Jane decidia alguma coisa, nada a fazia mudar de idéia. Se Maura insistisse, era muito provável que ela saísse carregada dali. 'Ok.' Ela finalmente respondeu com um último suspiro.

Satisfeita, Jane acenou com a cabeça e deixou o escritório. Quando ela entrou no elevador, soltou a respiração. O ar saiu tremido por seus lábios. Maura estava grávida. Maura estava esperando um bebê de Jack. De repente ela se descobriu amedrontada. E se Maura decidisse ter o bebê e contar para o homem? Nada mais justo, claro. Mas havia a possibilidade de Maura reatar o namoro por conta disso? E se, por causa da criança, os dois resolvessem morar juntos e... e se Maura decidisse se mudar com ele? Jane sabia o quanto a loira gostava do homem, e uma criança tinha peso numa relação assim, rodeada por essas circunstâncias, sentimentos.

Jane esfregou as mãos nos olhos. Como ela mesma dissera a Maura, agora não era momento para isso. Elas iriam descobrindo como lidar com a situação aos poucos, com o passar do tempo. Num estalo, Jane se deu conta de que 'com o passar do tempo', o feto iria crescendo dentro da mulher, e se ela fosse encerrar a gravidez, ela teria que pensar sobre isso com urgência. Prevendo pelo menos um mês de angustia e choro - porque ela não via como elas poderiam passar por essa situação sem derramar uma lágrima - ela se encostou na parede do elevador e sentiu os próprios olhos umedecerem. Era a perspectiva de Maura passar pelo que ela passou; de perder Maura para Jack, para outra cidade - um cenário que ela havia criado na sua cabeça e que nem sabia se podia ser possível ou não. Era o estado de choque em que se encontrava, de novo, por causa de um bebê não planejado. Engraçado essa vida. Meses atrás era Maura quem estava chorando com a possibilidade da detetive se mudar para o Afeganistão. Agora os papéis haviam se invertido; ela era aquela que estava se sentindo desolada, tremendo diante da incerteza do futuro.

...

Como combinado, Maura estava esperando por ela na cafeteria. Elas se encontraram com um olhar, e no momento em que Jane tocou suas costas, Maura começou a acompanhá-la na caminhada para fora do prédio. A noite estava fria e a neve caía preguiçosamente do céu. Quando entrou no carro Jane ligou imediatamente o ar quente, e ela dirigiu cuidadosamente pelas ruas silenciosas e vazias de Boston. Maura estava excepcionalmente quieta. Os olhos observavam as imagens que passavam pela janela, mas ela não estava prestando atenção realmente no caminho. Ela encostou a testa no vidro frio da janela e suspirou. Um fluxo formado de mil e um pensamentos corria em sua mente, e se ao menos ela conseguisse pescar algum... Mas eles eram muitos, iam e vinham até a borda, e sumiam se misturando com tantos outros. Era difícil pensar claramente e por mais que ela estivesse procurando por respostas, ela sabia que não as encontrariam agora.

'Você comeu?' A voz de Jane chamou sua atenção, mas ela apenas balançou a cabeça em não. 'Que tal se a gente passar num restaurante e fazer um pedido?' Ela lançou um olhar preocupado para Maura.

'Não.' Ela murmurou.

'Qual é, Maur. Você sabe que tem que comer.' Jane apertou as mãos no volante. Ela não queria que a frase soasse errado, como se desse a entender que ela tinha que comer por causa do bebê.

'Talvez um sanduíche, em casa.' A loira ofereceu.

'Ótimo.' A morena suspirou e parou no sinal vermelho. Ela aproveitou a deixa para dar uma boa estudada em Maura. Parecendo extremamente cansada, ela ainda mantinha a cabeça no vidro, as mãos entre as pernas. Jane hesitou, e depois apertou levemente o joelho da loira. 'Eu sempre achei que você quisesse um bebê, Maur.' Ela disse cuidadosa, com a voz carinhosa. Ela se lembrava de dois ou três anos antes, quando Maura começara a procurar coisas de bebês na internet quando salvaram um recém-nascido. E Jane via uma luz se acender toda vez que Tommy aparecia com TJ na casa da médica. Ela não entendia a razão de Maura ter simplesmente decidido abortar.

'É, eu queria.' Ela se endireitou no banco, mas não encarou Jane.

Quando o sinal mudou de cor, a morena pisou no acelerador e respirou fundo. 'O que mudou então, Maura?'

'Você não entende, Jane.' Ela dobrou os braços na frente do peito em proteção e Jane soube que ela estava recuando, que ela estava a ponto de chorar de novo.

Jane iria pressioná-la assim mesmo. Não era justo que Maura a deixasse de fora. O que mais preocupava Jane era que a mulher tomasse uma decisão sem discutir aquilo que estava sentindo, sem ter estudado todas as opções com ela, e que depois se arrependesse. E enquanto Maura não se expressasse, Jane não poderia ajudá-la em nada.

'Talvez se você me explicasse.' Ela desligou o carro quando estacionou na entrada da garagem da casa.

'Vamos entrar, eu estou com frio.' A loira abriu a porta do carro para se livrar da conversa.

Jane revirou os olhos e saiu do carro também. Quando entraram em casa, a morena fechou a porta atrás de si e antes que Maura pudesse sumir de vista, a morena a pressionou de novo.

'O que mudou, Maura?' Ela disse e suas mãos estavam agora escondidas no bolso da blusa.

Os ombros da médica subiram e desceram quando ela respirou profundamente. Ela virou a cabeça em direção a Jane e a fitou durante um minuto. 'Eu mudei, Jane. Eu não posso ter esse bebê, eu não saberia por onde começar.'

'Maur... Eu sei que é difícil, mas você vai...'

'Por que você está insistindo nisso, Jane? Você disse mais cedo que me apoiaria no que fosse.' Ela lançou um olhar afiado para a morena e corrigiu a postura.

Jane se surpreendeu com a mudança dela. 'Sim. Eu disse, e eu vou. Eu só quero que você pense antes de agir, para não se arrepender depois. Você não tem idéia do que é saber que existe alguém crescendo dentro de você, e depois perdê-lo.'

Maura arfou com a acusação. Ela estava ficando brava. Jane não tinha o direito de usar isso contra ela. 'E é por isso, Jane, que eu não quero saber! Quanto antes eu terminar com isso, melhor. Antes que eu crie qualquer afeto.'

A morena arregalou os olhos e balançou a cabeça, desacreditada. 'Você tem idéia de quão calculista está sendo?'

'Eu só estou escolhendo o melhor para mim.' Ela rebateu.

'Você... você tá em choque, Maura. Não tem idéia do que tá escolhendo.' Jane andou a passos duros e passou por ela para se dirigir à cozinha.

'Eu tenho. Eu não posso fazer isso sozinha.' Ela admitiu a mais pura verdade. Ela não podia, e esse era o principal motivo pelo qual ela não poderia dar a luz àquele bebê.

A detetive se virou para ela e balançou a cabeça. 'Você não está. Você sabe que não está. Você tem a mim, a minha mãe. Você tem minha família em baixo do teu teto, Maura.'

Bem, aquilo era verdade. Apenas em partes. Ela sabia que podia contar com a ajuda de Angela e Jane. Ela sabia que em qualquer momento as duas não recusariam ajuda. Dois anos atrás, quando Maura realmente queria um bebê, ela não tinha dúvidas de que Jane estaria lá, do seu lado, em tudo o que precisasse. Fosse para acordar nas madrugadas para amamentar, trocar fraldas, fosse para trocar períodos de trabalho para ficar em casa para cuidar da criança enquanto a outra trabalhava. Entretanto, algo nos últimos anos havia mudado. Jane havia se envolvido com Casey e quase se mudara para outro país. Maura se envolvera com Jack e o único motivo por terem terminado foi a necessidade do homem de ser mudar para outro estado. Observando bem, o envolvimento com outras pessoas quase colocara o relacionamento das duas em uma posição crítica. Elas ainda estavam próximas, tão próximas, mas parecendo correr o risco de se distanciar a qualquer momento. Se Jane tivesse se mudado, Maura estaria sozinha agora, provavelmente mais desesperada ainda, ou então... teria se mudado com Jack também. Se Jane tivesse ficado e não tivesse perdido o bebê, e Maura tivesse mudado com o namorado, seria a morena que ficaria sozinha. As variáveis continuavam aparecendo, e por conta disso Maura se sentia insegura em relação ao futuro. E se Jane se envolvesse com outra pessoa? Ela ainda estaria ali para ajudar com o bebê? A médica desconfiava de que não, pelo simples fato de que aquela relação que tinham há dois anos atrás já não era mais a mesma. Ela sabia que agora havia a possibilidade de Jane partir. E sem Jane ao seu lado, ela não poderia ter uma criança.

Mas Maura não ia verbalizar seus sentimentos. Ela não ia dizer sobre como uma saída ao cinema, ou à um resort era diferente de criar uma criança. Um bebê exigiria atenção vinte e quatro horas por dias. Todos os dias da semana. E era para sempre. E esse tipo de compromisso ela não podia pedir à Jane. Não na situação em que se encontravam, porque ela sabia que eventualmente Jane poderia se envolver com outra pessoa. Suspirando, e se sentindo exausta, ela decidiu por ignorar a discussão. Educadamente ela balançou a cabeça para dispensar as palavras e esfregou as mãos na calça.

'Eu realmente estou cansada, Jane. Se você não se importa, eu vou tomar um banho agora. Por favor, fique à vontade.' Ela disse na mais pura cordialidade e se virou antes que o olhar pesaroso de Jane lhe trouxesse lágrimas novamente aos olhos.

A morena apenas suspirou e esfregou a testa com a mão. Não havia razão para continuar a discussão. Não enquanto as duas estivessem sendo bombardeadas por sentimentos de todo o tipo, a todo momento, perdidas num redemoinho de emoções que continuavam a se colidir. Se sentindo terrível, a morena se dirigiu à cozinha e preparou o melhor sanduíche que ela pôde - ela se certificou de colocar algumas folhas verdes, porque ela sabia como Maura era exigente em relação à coisas saudáveis. Quando terminou o lanche, ela o colocou no prato e o encarou por alguns minutos. Ela não estava com nenhuma vontade de comer, o que ela diria de Maura? Revirando os olhos, ela decidiu que diante das circunstâncias, algo líquido seria melhor para ser engolido. Isso é, se a garganta de Maura estivesse tão apertada quando à dela. Com uma mistura de frutas, ela bateu no liquidificador uma vitamina e guardou o sanduíche na geladeira. Amanhã, que sabe.

O banho de Maura tinha sido o mais rápido de sua vida. Sentindo o corpo dolorido e se sentindo emocionalmente drenada, ela saiu de baixo do chuveiro poucos minutos depois de entrar, escovou os dentes e colocou o primeiro pijama que as mãos alcançaram. Ela não estava querendo prolongar o dia. Tudo o que queria era deitar as costas na cama macia, fechar os olhos e acordar para um amanhã que, esperançosamente, lhe revelaria que isso tudo tinha sido um pesadelo. Quando se sentou na cama, ela estava dividida entre descer novamente para dar boa noite à Jane, ou simplesmente se deitar, até que uma batida suave na porta a tirou de seus pensamentos.

'Pode entrar.' Ela disse em voz baixa, sem ter certeza depois de que Jane a ouvira.

A porta se abriu lentamente e a morena enfiou a cabeça dentro do quarto, e só quando Maura maneou a cabeça a morena entrou de vez, trazendo um copo cheio de vitamina nas mãos.

'Você disse que iria comer.' Ela pousou o copo em cima da mesa de cabeceira.

'Eu disse talvez.' Maura a corrigiu. Ela não estava com nenhuma vontade de comer.

'Qual é, você não precisa nem mastigar!' A morena argumentou, mas Maura lançou um olhar para o copo e torceu o nariz. 'Maura.' A morena ameaçou.

'Jane.' Ela retrucou no mesmo tom.

Sem acordo, a morena revirou os olhos enquanto a médica se deitava na cama. 'Tudo o que eu preciso agora é dormir.'

Jane encolheu os ombros. 'Ok.' Ela segurou o copo, disposta a deixar o quarto. Antes de ela se virar, a voz de Maura chamou sua atenção.

'Você pode ficar.'

Os olhos negros correram pelo colchão e então para Maura. Ela balançou a cabeça em negativo. 'Não. Você tá cansada e... Eu não quero atrapalhar seu sono.'

'A cama é grande o suficiente. E eu não quero conversar.' Ela fez uma última tentativa, e não é como se ela estivesse desesperada pela presença de Jane. Não. Ela só queria que a detetive soubesse que, apesar da pequena discussão de mais cedo, elas estavam bem.

'Tudo bem... Se você diz.' Ela jogou o cabelo para trás com a mão. 'Eu preciso tomar um banho também. Eu volto logo, ok?' Ela esperou até que a loira respondesse - que foi com um balançar de cabeça - e se retirou do quarto.

Ela não soube por quanto tempo ficou em baixo do chuveiro, sentindo os pingos de água quente massagearem o corpo. Pareceu uma eternidade, e talvez tenha sido, porque quando ela entrou de volta no quarto Maura estava dormindo profundamente. Ela conferiu se a loira estava aquecida, puxou a coberta até o seu queixo e afastou uma mecha loira do rosto dela. Durante um minuto ela observou a mulher dormindo, como se de alguma forma pudesse descobrir quais seriam suas decisões. Ela terminaria a gravidez? Ela teria o bebê? Contaria à Jack sobre a criança? Consternada, Jane piscou os olhos e lamentou a situação. Não era justo, Maura tinha razão. Não era justo com Jack, porque se Maura abortasse, ele nunca saberia. Não era justo com Maura, porque ela não tinha pedido por aquilo, e Jane sabia quanta comoção uma criança não planejada podia causar. Não era justo com Jane, mas não pelos motivos que Maura nomeara. Não. Eram por motivos que a loira nunca chegara a cogitar.

A morena suspirou, dessa vez amargurada com os pensamentos. Ela se inclinou e beijou a cabeça de Maura sussurrando um boa noite em seguida, mas ela não se deitou na cama. Ela teve medo que seus pensamentos gritantes fossem acordar a mulher se ela se deitasse ao seu lado. Ela deixou a porta entreaberta, se dirigiu à sala e pegou uma cerveja. Aquilo a ajudaria a dormir. Cerveja e um jogo.


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