Nem pense em clicar aqui. escrita por Jujubas Azuis


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

100 piadas



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– Na boa, cara eu não tenho mais nada, o que você quer?- pergunto recuando para a parede.

– Você.

Rutendo me aperta na parede e eu faço o máximo para sair de lá, mas ele é muito mais forte que eu. Ele me levanta procurando a abertura do meu sutiã. Sorrio por eles só abrirem pela frente, mas logo esse sorriso desaparece quando me dou conta de que ele não é o Bryce, ele o tirou de mim, faço uma incrível força para tirar Rutendo de cima de mim, mas ele é mais pesado que a Camila.

– Calma, eu vou pegar leve com você.

– Não quero nem que pegue em mim.- pego a lasca de madeira que estava suja com meu sangue.- isso é meu, você me machucou. Se você não entendeu, você é um idiota!!

– Isso é passado…- ele cansou de tentar abrir meu sutiã e tentou na maldita calça que não tinha truque. Imaginem cara de bosta que eu fiquei.

– Tira a mão daí.- digo.

– Me obrigue.

Enfio aquela lasca de madeira no braço dele e o empurro para longe.

– Seu Pikachu demoniaco!!!

– Pikachu?

– Aquilo parece Pikachu.

– Do que você está falando? Nada, esquece. Vamos, seja uma boa garota e me deixe pegar em você.

– Como você disse antes, me obrigue.

Tento pegar outra daquelas lascas, mas já que a sorte me ama, não dava para pegar outra sem gastar um tempo que eu não tinha. Rutendo passa a mão no meu rosto, levantando-o e o puxando para perto dele.

– Vai ficar tudo bem, só confie em mim.

Desço o olhar para seu pescoço. Não, só digo isso. Sempre diga não a um Pikachu demoníaco. Rutendo tira a lasca de madeira do braço, não pareceu que tinha machucado muito, na verdade, só ficou presa na pele. Não foi nada.

– Não, não vai.- digo.

– Se você tivesse deixado, eu já teria saído. Mesmo porque, você não tem para onde fugir.

Não, eu não queria que aquilo acontecesse, não. Mas era verdade, a porta estava trancada e, mesmo que eu conseguisse destrancar, os caras da quinta guange me parariam.

– Por favor.- murmuro.- por favor não. Você já me fez passar por tanta coisa, por favor, isso não.

Me encolho num canto do quarto e não tento não chorar. Deixo as lágrimas correrem pelo meu rosto enquanto ouço os passos pesados de Rutendo se aproximando de mim. Ele tira meu rosto do aconchego do meu corpo me puxa para um beijo forçado, do qual eu não tive mais forças para escapar.

– Está bem, docinho. Eu volto amanhã para te ver acordar, você vai ser minha bonequinha favorita, eu prometo.

Ele me cobre com os cobertores que estavam na cama, me entrega o travesseiro e sai do quarto trancando a porta. Cuspo no chão para tirar a saliva dele da minha boca e fico encarando o outro canto bege lembrando do sorriso de quem eu perdi hoje. Bryce, morto por Leen, Leen, morto pelo monte de merda e Bine, morta por Rutendo. Me aconchego enquanto lembro das histórias que me fizeram chorar no momento, coloco o travesseiro atrás das costas e me certifico de que meus pés estejam cobertos, é horrível quando eu acordo com frio. De repente, as luzes se apagam e eu só ouço o barulho de chuva que batia na terra acima.

Quando eu era menor, Leen me contava que alma de quem morria subia e virava uma estrela. Olho para cima esperando ver algum ponto branco no céu, mesmo sabendo que eu estava de baixo da terra. Até de sonhos fui privada.

– Acorde, fofura.- Rutendo...

Ele passava a mão no meu rosto e eu a tiro de lá.

– Não.

– Vamos, fofura!- ele puxou os cobertores e eu fiquei com aquela vontade de esmagar cabeças.

– Pelo o menos me deixe dormir!!!

– Vamos ter um dia longo pela frente.

– Correção, você vai e eu vou ficar dormindo.- fico sonolenta ao dizer isso.

– Ordens do chefe, acorda.

– Você é o chefe!- silêncio por um segundo. Burra.- eu não posso ficar assim.

– Não... você precisa vestir alguma coisa, mesmo que eu não goste da ideia.- Rutendo se levanta e anda até a porta. - seja uma boa garota e fique aqui.

Mesmo dizendo isso, ele tranca a porta por fora. Eu deixo os cobertores de lado e tento me alongar depois de ter dormido no chão, acho que aquele colchão mofado não seria melhor. Tudo em mim ainda doía de ontem, mas parecia que meu coração não batia mais, mesmo eu conferindo meu pulso de cinco em cinco minutos. Eu não tinha certeza se isso era raiva ou tristeza, mas eu sabia que eu não podia ficar desse jeito, eu sou quase um ninja, mas esse ninja já cansou de tudo. Não tem mais nada aqui.

Rutendo entra no quarto com uma LEGGING, UMA LEGGING!!!! Coisa apertada não! Não, rasga fácil e é desconfortável. Não, não, não!!! E uma camisa preta também fuking apertada!

Bato com a mão na cabeça enquanto processava o que eu teria que fazer. Roupa. Apertada…? Três letras, um sentimento. Aff.

– Jura?- pergunto.

Eu não me contento com um não.

– Sim, veste isso.

Ele se afasta e eu fico tipo. ? Was? Waren du nicht geht out?

– Tipo, você vai ficar aqui?- pergunto.- eu posso te dar o pé na bunda.

– Porque não me deu ontem?- Rutendo cruza os braços e fica me olhando com uma cara de tipo, sério?

– Você sabe o que aconteceu ontem. Na boa, mano. Cai fora.

Silêncio por um tempo, eu ainda estava do jeito que acordei e nem me mexi por preguiça. Rutendo se aproxima de mim e, como ontem, levanta meu queixo, mas eu saio das mãos dele e bato a cabeça com tudo na parede.

– Você está bem, docinho?- ele pergunta.

– Como se você se importasse- respondo levantando e começando a vestir a merda daquela roupa enquanto aguento Runtendo olhar para mim com AQUELA cara de tarado… adoro minha vida.

– Nossa, você não tem uma gordurinha nesse corpo ehin?

– Se eu não tiver, o problema é meu, cala sua boca.

Tudo o que eu queria era voltar para casa… meu niver será amanhã e ninguém vai vir. Além de tudo tem a versão humana de Pikachus demoníacos querendo meu corpo nu. Que jeito bom de se fazer dezoito!!

Sigo Rutendo até um pátio gigante de um aeroporto velho e ele me deixa com um cara parecido com o monte de merda.

– Devin.- ele se apresenta.- não pense que estou gostando disso, ainda estou bravo com você.

Sim, eu matei a irmã ou algo próximo dele. Fico tentada a dizer que a irmã ou algo próximo dele matou meu pai, mas decido ficar quieta para não piorar as coisas.

– Você sabe o que fazer?- ele pergunta.

– Não tenho ideia.

– Você é burra de nascença ou é doença mesmo?

– Eu acho que eu sou burra, mas o topo da lista é seu de carteirinha.

Ele ficou puto com isso.

– Tem um rio aqui perto, eu não me importaria de te jogar lá.

– Eu sei nadar.

– Piranha.

– Antes ser uma piranha do que burra que nem você.

– Cala a boca, sua puta!

– Por que todo mundo me chama de puta?

– Eles dizem a verdade.

Urg, pardon, merciê, mas se no percebeu, soi menos puta que voste.

Devin revira os olhos e eu dou uma leve risada, o tanto de vezes que eu já falei isso pra Camila… que dó, em contra partida, ELA tem uma vida confortável e eu sou QUASE uma puta.

– O que me impede de fugir daqui?- pergunto em tom desafiador.

– O que tem lá fora. Vai por mim, não é uma boa ideia.

Ele tira algo parecido com um giz do bolso.

– Vamos ver seu cardíaco.- Devin diz.- quanto menos pontos de giz você tiver, menos você vai ficar na barra.

– Sacanagem, né?- pergunto.

– Ordens do chefe. Se você aguentar uma volta nisso daqui.- ele mostra todo o grande espaço cheio de aviões velhos e coisas parecidas.- vence. Te dou um segundo de vantagem.

– Que?- me viro e tento correr mais rápido que ele, mas, não consigo, no final, eu estava parecendo um dálmata.

– Acho que… cinco minutos na barra.

Meu braço já aguentou muito mais que cinco minutos fazendo flexões, mas não, eram cinco minutos se segurando em uma barra, eu quase morri!

Depois de um dia como esse, uso a hora do jantar do pessoal que morava na vila e pego um cinto com uma faca do uniforme deles. Mesmo com uma fome tremenda, corro para fora e só me deixo descansar quando estou em um prédio abandonado perto de Cato.

Estranho o fato magnifico de eu ter conseguido fugir, não era para ser tão fácil assim… tipo, vida é que nem matemática, tá fácil? Tá errado. Não foi uma surpresa quando ouço passos pesados próximos a sala onde eu estava.

– Docinho… onde você foi? Eu sei que você está aqui.

Na boa, o que ele tem comigo?!?! Me escondo de baixo de uma mesa que achei e torço para que ele não me achasse, nem respiro e tiro a faca do cinto, mas repenso a ação e a coloco de volta, ajustando silenciosamente o acessório para trás.

– Não se preocupe, amor. Eu não vou te machucar, está tudo bem.

Os passos pararam por um instante e eu ouço um suspiro baixo. Vou esperar mais um pouco até que ele saia. MAS!! Como tudo nesse mundo me ama, ele puxa a gola da minha camisa para cima da mesa, segura minha cintura e minha mão e fica me encarando, sem se mexer muito.

Meu coração para por um instante com um susto, mas eu elaboro um plano muito rápido, mais do que eu mesma conseguiria imaginar e coloco-o em ação.

– É, você me pegou.- digo sorrindo.- que pena, eu queria ter brincado mais um pouco…

Começo a desabotoar minha camisa e, em pouco tempo, a tiro. Tudo parte do plano.

– Não se preocupe, você pode brincar comigo.- ele levou a mão para algo próximo da faca, mas eu me sento na mesa para que ele não pegasse.

– Uh, então é assim que você gosta…?- diz Runtendo.

Como eu, ele tira a camisa e coloca a mão na abertura da minha calça. Não a tiro de lá e deixo meu pulso atrás do pescoço dele.

– O que aconteceu hoje que você está me deixando fazer isso?- Rutendo pergunta

– Simples.- eu o beijo, tiro a faca do cinto, dou uma linda facada nas costas deles e tinto o gosto de ferro que eu esperava. O solto, cuspo tudo o que tinha na boca e respondo.- não vou.

TURN DOWN 4 WHAT!!!

– Traidora!- ele fazia força para não cair.

– Não gaste saliva, meu bem. Deixe para os mortos já que você é assim.

Tiro a faca das costas dele, deixando muito sangue sair, o derrubo e seguro a lâmina frouxamente entre os dedo, ameçando cair.

– Me dê um motivo para não fazer isso.

Silêncio por um tempo.

– Aquele moleque irritante morreu.

– Isso só piorou as coisas.

Piso na cabeça dele com a faca em baixo para ter certeza que morreu. Ele parecia uma barata, nojento como ele é, só pode.

Junto os botões que Rutendo soltou e volto para Cato. Eu não sei o que faria agora, só sei que tenho que dar a notícia para Nikki e tentar achar minha mãe para dizer que Leen estava morto, mais por ela não ter ligado quando ele estava vivo e em parte pois ela merecia saber.

Mesmo eu tendo uma raiva enorme dela.

Abro a porta do apartamento que eu passaria a chamar de meu e olho para tudo lembrando de histórias minhas com o Leen, tão boas, tão distantes... fuço nos documentos para achar minha certidão de nascimento, tem que estar aqui em algum lugar, Leen não é burro o bastante para perder algo tão importante. Acho o papel perdido em uma das gavetas de papeis da minha escrivaninha. Leio-o atentamente procurando o nome dos meus pais, como eu sou lerda, passei direto por eles umas trinta vezes e nem percebi. Só quando leio pela décima vez eu percebo que estava escrito.

Sally Jolly deu a luz a Bine Jolly como pai Leen Jolly.

Jolly, Jolly, Jolly e o.( leia como aquela música holandesa/vinking)

Procuro por Sally Jolly em muitos cantos da internet, mas não a acho em lugar nenhum. Tentei acessar um site do governo para ver os registros, mas continuei sem respostas. Fico encarando uma foto minha com minhas amigas da escola, eu estava em férias de inverno e demoraria para que eu as visse de novo, mas eu acho que não voltaria a estudar. Já sabia tudo o que eu precisava saber para continuar no emprego que eu precisava, mas precisaria ser em Ladro ou Timena, Eu não tenho dinheiro para isso.

Alguém quase derrua a porta e grita meu nome, Nikki.

– Tem alguém aqui?- ele pergunta.

Melhoro minha expressão e vou abrir a porta, mas todo o sorriso falso que eu levei pouco tempo para fazer, se foi tão rápido quanto apareceu. Nikki não estava melhor do que eu.

– Más notícias.- começo.

– Posso entrar?- ele pergunta.

– Claro.- saio do caminho.

Deixo o moreno entrar em casa e se sentar na cadeira, me sento na frente dele e apoio a cabeça nas mãos, mesmo com as dobras da camisa incomodando muito.

– Não tenha pressa, eu tenho o dia inteiro.- diz Nikki se jogando para trás e cruzando as pernas em cima da mesa.

– Bryce e Leen morreram.

Nikki pareceu abalado com a noticia, mas se levantou e me deu um abraço.

– Sinto muito.- ele diz.- eu sei que eles eram importantes para você.

– Eu matei dois caras em menos de uma semana e o segundo cara tentou transar comigo.

– Pense pelo lado bom.- Nikki olha nos meus olhos.- se desgraça fosse dinheiro, você seria rica. Quer beber alguma coisa?

– Vai ajudar?

– Não sei, só estou perguntando.

Ele foi para a cozinha e voltou com uma garrafa e dois copos.

– O bom e velho rum!- ele diz enchendo os dois.- meus modos, damas no local.

– Desculpa? A última coisa que eu sou é dama!!

Ele sorri mesmo com muita dor no coração. Eu pego o copo e fico bebericando um pouco.

– Hoje é seu aniversário.- diz Nikki.

– É… não ligo mais para isso.

– Feliz dezoito anos!

– É, Bine, feliz poder ser presa, feliz pagamento de contas, feliz trabalho, feliz faculdade, feliz vida de merda.

– Eu já passei por isso.- diz Nikki enchendo seu copo pela terceira ou quarta vez. Eu não sei como ele conseguia, eu nem aguentava um!- o que você planeja fazer agora?

– Dinheiro fácil como alguma coisa no quarto escalão e sair para Ladro. Não planejo ficar aqui.

– Eu sou uma árvore de Cato, se alguém me tirar daqui, eu morro.

– Bom dia, pinheiro no Pantanal.

Ele ri, mas minha expressão não muda, ele estava ajudando, mas não o bastante, minha cabeça ainda estava no passado.

– Fome?- pergunto,

– Permanente.

– Quer que eu faça alguma coisa?

– Não, eu trouxe chocolate. Quer um pouco?

– Pra quem você está perguntando?

– Para Bine Jolly, a maior chocólatra do mundo.

Nikki me entrega uma barra daquelas gigantes eu eu fico comendo muito devagar, é difícil de eu ter chocolate.

– Você está parecendo aquele smeagle dos senhor dos anéis.

– MEU PRECIOSO!!- rio mesmo com culpa por eu estar de luto.

Fico em silêncio por um tempo enquanto meu pergunto como Nikki podia ficar tão feliz mesmo depois de ter perdido o Bryce, o pego como exemplo, acho nem o Bryce nem o Leen ficariam felizes de me ver chorando. As duas da manhã, Nikki se despede de mim, eu nem me preocupo em dar um jeito na casa, tomo um banho e durmo sem roupa mesmo, por preguiça e preguiça, amanhã é domingo, eu ouço a chuva do lado de fora e sei que não vai parar tão cedo. Me aconchego nas cobertas e fico lembrando dos bons tempos que eu tive com Leen e com Bryce.

Eles estão mortos, eu sei. Mas eu morri naquele lugar.

Acordo com o despertador do laptop que não armei, com susto, meu enfio em uma camisa enorme do Leen e vejo que tinha uma mensagem não lida:

Por que você está tão interessado em mim?

Sally Jolly. Mãe.

Quase jogo leu laptop no teto e digito rapidamente uma única palavra:

Mãe.

A bola verde que mostrava que ela estava on-line estava a mostra. Fico recarregando a página até a resposta aparecer. Eu não a leio de primeira, espero a informação acentuar e a fixa cair. Depois de dezessete anos eu a estava vendo…

Bine, como você me achou?

Você sabe com quem eu moro respondo rapidamente ou morava… más notícias…

O que aconteceu!?

O Leen…

Não consegui mais digitar, mas tive certeza que ela pegou o que eu queria dizer.

Não acredito, Bine, se isso for mentira, você está morta.

Você nunca teve responsabilidade sobre mim!!

Isso. É estar puta com a mãe. Ela não digita mais, eu coloco uma roupa decente e voltei para frente do laptop. A tela que aparecia era depressiva, mas eu fiquei encarando-a até que desisti de fazer isso. Fecho a aba e fico encarando meu fundo de tela igualmente chato. Dessa vez, não teria ninguém lá para me falar que estava tudo bem, desculpa, MENTIR que estava tudo bem. Não está, meu coração já está no chão a mais tempo do que a inteligência da Camila, já virou pedra a muito mais tempo do que as estatuas da Medusa. Pelo o menos ao meu ver…

O ícone do e-mail começa a irritar de tanto apitar, abro a coisa da janela e vejo que são mensagens da Sally

Bine, o que aconteceu?

Responde.

Tá mostrando que você visualizou.

Tá off-line?

Filha, responde a mamãe.

Me obrigue!! Tenha ousadia de vir aqui me falar isso na cara!! Não respondo, pensando em algo ruim o bastante para dizer. Eu queria perguntar para ela onde ela estava, saber se estava tudo bem. Mas só digito depois de tempo o suficiente para ela achar que eu tinha desligado.

Você deveria ter vindo aqui enquanto estava tudo bem. Agora que está tudo uma merda, não adianta mais. O Leen não está mais aqui, nem você. Claro, garotas ricas preferem a vida confortável da capital.

Fecho o laptop, era só isso que eu queria dizer para ela. Nada mais. Eu só queria dar a notícia e sumir do mapa. Abro algumas janelas do apartamento para deixar alguma luz entrar, mesmo que fosse inútil, era um habito que eu tinha, mas que foi reativado com memórias anteriores a isso. Me sento na CADEIRA ( felizes?) e fico encarando a parede. Vejo que abaixo de uma almofada tinha um bilhete, só soube de quem era porque li a assinatura antes do recado. Krysten.

Menina, onde você se meteu? Você tem que vir aqui agora!!! Não vou ficar aqui sem você. Kysten.

Deixo-o sobre a mesa, eu não iria. Fico olhando para a parede bege que eu ajudei a pintar, más lembranças. Memórias são uma maldição mais do que uma benção. Tento me livrar delas, mas só piorei. Escrevo um novo bilhete e o deixo completamente visível em cima da mesa.

Estou em Ladro, talvez eu vá para outros lugares. Me despeço de vocês. Façam o que quiser com o que eu tenho.

Pego meu laptop, eu compraria um carregador depois, mesmo porque esse já está um lixo, levo algumas fotos, meu caderno, meu estojo, algumas barrinhas de cereal e enfio tudo na mochila, vou para meu quarto, pego algumas mudas de roupa e, no espaço que sobrou, coloco algumas coisas para vender, nada que me importasse muito, nem para o Leen. Coloco anzóis que eu não sei de onde, livros inúteis e outras coisas, saio deixando a porta do apartamento aberta e pego um trem para o centro de Ladro, talvez eu fosse para Timena, mas só a sorte diria algo.

O trem não estava lotado, mas também não estava vazio, a entrada estava cheia enquanto a parte em que eu estava sentada tinha privacidade.

Começo a ler um livro antes de pegar no sono, só acordo quando uma vós nos alto falantes diz.

“Bem vindos a última parada, Laleto! Laleto!”

Desço por falta de opção e procuro por um mapa da cidade por nunca ter ido ou ouvido falar de lá. Procuro no papel uma loja de penhores e me dirijo para lá. Entro no estabelecimento e sou recebida calorosamente por um cara gordo.

– Bom dia! Entre, entre, fique a vontade, o que deseja?

– Eu vou vender algumas coisas…- digo desconfortável com a proximidade com o estranho.

– Vamos ver o que tem aqui…

Deixo todas as tralhas que trouxe do apartamento em cima do balcão, o cara da uma olhada e diz.

– Dou Quinhentos Kira por isso.

Eu sempre tive uma lábia muito boa.

– É tudo edição de colecionador, muito raro… só vendo por novecentos.

– Mas não estão em muito bom estado. Oitocentos e cinquenta.

– Feito.

Disse que eu tinha uma boa lábia? O cara me entrega uma nota de quinhentos, duas de quatrocentos e uma de cinquenta. Saio do lugar e vou para um albergue, uma recepcionista me leva para um quarto pequeno e bem cuidado, com um banheiro e uma cama preta. Arrumo minha mala e minhas coisas, eu ficaria um bom tempo aqui, então teria que deixar as coisas arrumadas.

Tomo um banho e ponho os retratos que eu trouxe no criado mudo, saio para comprar papéis de desenho quando um dos amarelinhos me para.

–Gostaria de ver seus documentos senhorita, muitas pessoas indesejadas de Cato vem para cá.

Não dava para ele ter pego outro alguém? Eu tenho imã de policial ou algo parecido? Parece que eu vou tirar uma bazuca de Nárnia e atirar em alguém para eles.

– Eu seria alguém indesejado?- pergunto com o coração na mão.

– Onde estão seus pais?

– Já tenho dezoito anos.

– Então mostre seus documentos!

Dava para ver que ele já estava perdendo a paciência comigo, eu teria que dar um jeito nisso, mas não tenho os documentos falsos que usei no hospital.

– Estão vencidos.

– Me acompanhe.

Faço o que ele pediu, andando até algo parecido com um despachante. Fico sentada em uma sala de espera lotada onde a maioria das pessoas olhavam para mim, tento ignorar o fato de eu ser o centro das atenções e saio discretamente para meu quarto no albergue, mas sou parada na recepção.

– Desculpe, mas… precisamos ter certeza que não estamos abrigando nenhum fugitivo.

– O que eu tenho que fazer?

– Diga seu nome completo que eu verifico seu histórico.

– Bine Jolly.

Ouço algo parecido com uma comemoração atrás de mim e Camila diz.

– Ela vem de Cato.

Filha de uma puta desgraçada. Tenho vontade de dar um lindo soco na cara dela, mas me contenho, Leen não nasceu em Cato, eu podia mostrar algo dele. Por sorte a moça diz.

– Não tem nada aqui, desculpe pelo incomodo.

Olho para Camila com aquele sorriso de psicopata e a levo para trás da construção forçadamente.

– Eu já te aguentei antes, te aguento hoje, mas fale para mas alguém que eu sou de Cato, moça da capital, que eu te mostro que você mora na capital dos cimitérios.

– Duvido.

Derrubo-a no chão e piso no pescoço dela, mesmo usando sapatilha e digo:

– Eu mesma te enterro.

Solto-a e volto para o quarto. Tinha uma nova mensagem da Sally:

Eu sei que você está em Laleto, me encontre no café próximo ao banco, temos muito o que falar…

Eu iria. Pego um pouco de dinheiro, deixo paga a diária de uma semana e entro no edifico, procurando por ela. Pouco depois, uma moça parecida comigo, com o mesmo tom de pele, o mesmo cabelo que parece uma nuvem e os mesmos olhos verdes. Sally….

Me levanto e a olho como se fosse um diamante, ela me abraça e eu retribuo o gesto esquecendo da raiva eu eu tinha por ela. Passo a mão pela cabeça dela e não a deixaria sair tão cedo.

– Bine, você não tem ideia de como eu senti sua falta!!

Ela me da um beijo na bochecha e me da um tempo para responder.

– Você também não tem ideia!

Sally se senta na mesa em que eu estava guardando e pede para que eu faça o mesmo, e;a segura minha mão e começa a falar.

– Eu não acredito que o Leen está morto, deve ter sido mais difícil para você do que está sendo para mim.

– É verdade, mãe, eu matei a moça que roubou a vida dele, logo depois disso.

– Você fez o que?!?- ela estava muito surpresa.- eu sabia que eu não devia ter te deixado com ele!! agora você é uma assassina, Bine!!

– Desculpa, mas era eu ou ela.

– E no final da contas foram as duas.

– Sim.

Não menciono o fato de um estranho querer meu corpo nu, nem o de eu ter matado o mesmo estranho, só tento faze-la sentir-se bem depois de perder o Leen.

– Então, Bine, o que fará agora? Não pode mais ficar em Cato, eu te tiro de lá, mas não tem como ficar em Laleto por muito tempo. Talvez você queira ficar comigo, sabe? eu tenho uma vida bem confortável aqui.

– Eu não quero conforto e estou pensando em vender desenhos sem pagar impostos para a Capital.

– Você vai pagar impostos sim!! Menina, você passou tempo de mais com o Leen. Vou tentar te concertar, pegue as suas coisas e vamos para minha casa.

Sally me empurrou para dentro de um dos mil carros que estavam estacionados na calçada.

– Mãe, da para ir andando.- reclamo do lado de fora.

– E se te assaltarem?

– Eu dou um puta soco na cara deles!- falo como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

– Olha a boca!! Você não pode revidar! Entra no carro ou eu te enfio.

Como ela mandou, me sento no banco de trás. Sally dirige em silêncio até o albergue onde eu estava, me faz esperar no carro enquanto pegava minha mochila. Depois de um tempo, a tenho de volta em companhia e dirigindo para uma casa muito boa, ela abre o portão, coloca o carro dentro e eu hesito um pouco antes de sair, eu sempre morei em apartamento.

– Vamos, filhota! Não tem nenhum reator radioativo aqui!

Sally me puxa para fora e me leva por um tour na casa, era enorme, com dois andares e muitos quartos, eu me senti um pouco perdida, então começo a explorar o lugar.

– Você dormia aqui, sabia?- ela pergunta quando eu entrei em um quarto pintado de roxo bebê.

– Parece fofo…

– Era bem fofo, torne-o assim de novo. Amanhã saímos para comprar uma cama decente, por hoje, eu também tenho um monte de mofo.

– Quem disse que eu vou morar aqui?- pergunto de braços cruzados.

– Sua mãe. Vamos, eu não mordo.

– Eu preferia minha vida antiga.

– Nem tudo é como gostamos. Você entende isso.

– Sim, muito melhor que você.


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Notas finais do capítulo

Prosciuto, prosciuto, louvado seja prosciuto picante com minestrone.



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