Deixamos tudo preparado para a entrevista, Ean e Erik estariam do lado de fora da sala até que os chamássemos. Esperava que Ean não causasse mais confusão, principalmente porque seria uma entrevista ao vivo.

Gravril estava nos esperando em uma das Salas de Estar que ficava no terceiro andar. Quando chegamos lá ele nos recebeu com uma reverência e acenou para que nos assentássemos.

–Bom dia Rei, Princesa... –ele sorriu. O câmera estava logo atrás dele, gravando tudo desde o início. –Nossa entrevista está sendo transmitida à toda Iléia ao vivo. –nós concordamos com a cabeça. –Me diga, Alteza, qual é o motivo dessa entrevista urgente nessa manhã? –ele me perguntou fazendo cara de confuso, mesmo não estando.

–Bom dia Gavril. Então, um assunto muito importante tem de ser compartilhado com nosso povo e eu creio que essa seria a melhor forma. –eu fiz uma pequena pausa e continuei meu “discurso” variando o olhar entre Gavril e a câmera. Meu pai havia me ensinado que esse é um bom truque para aumentar a credibilidade. –Há uma semana, tivemos um vazamento de informações Reais por parte de alguém de dentro da Seleção. Depois de muito tempo descobrimos uma história muito interessante envolvendo Ean Cabel, um participante de minha Seleção e Erik, o intérprete de Henri Jaakoppi. Gostaria de chamar Erik aqui para que ele pudesse explicar com mais detalhes o que ocorreu. –eu acenei para a criada que estava perto da porta então ela se prontificou em chamá-lo.

Erik entrou com cara de quem estava muito nervoso e tímido para fazer aquilo, mas se apresentou e começou a contar a história do mesmo jeito que já havia feito varias vezes. Gavril as vezes o interrompia para perguntar algo, mas tudo foi esclarecido rapidamente.

–É uma história e tanto, não? –disse Gavril se virando para a câmera, somente enfatizando o momento. Logo se voltou novamente para meu pai. –Agora, como a maioria dos telespectadores, eu gostaria de saber o que vocês decidiram como punição para essa tremenda traição... ?

–Eu preferi deixar que minha filha, sua próxima rainha, decidisse pelo que ela considera mais certo nessas condições. Isso, considerando que essa é a Seleção dela e o povo tem que ter uma certa noção de como será seu governo. Além do mais, eu confio no discernimento dela. –meu pai sorriu e apertou minha mão levemente. Eu sorri de volta e tomei a palavra.

–Para vos contar qual será a punição, eu gostaria de chamar o infrator para escutar junto de todos vocês. –acenei para o guarda parado ao lado do câmera para que ele buscasse Ean.

Quando Ean entrou, todos ficamos um pouco mais rígidos. Ele tinha ódio estampado no rosto. Ean foi posicionado próximo de Gavril e Em, mas com uma segura distância criada pelos 3 guardas que o acompanhavam.

–Muito bem... Prossiga Alteza. –disse Gavril.

–Eu pensei muito e decidi que as penas pagas por Ean serão: expulsão eterna do palácio, pagamento de 200 horas de trabalho voluntário e ele também ganhará a oportunidade de pedir desculpas em rede nacional. –eu mal terminei de falar e Ean começou a gritar.

–EU ME RECUSO. VOCÊS NÃO PODEM ME OBRIGAR A ISSO! –ele se levantou e começou a gesticular com as mãos apontando para mim e para meu pai.

–Olha como fala! Eles são seus governantes se você não sabe! –Erik se posicionou com uma postura mais ereta na cadeira ao meu lado.

–EU NÃO ME IMPORTO. NÃO FAREI NADA DISSO! –Ean continuou aos berros e tentando se livrar dos guardas que o seguravam mais forte a cada segundo. –EU ODEIO ESSA BOSTA DE MONARQUIA, EU ODEIO TODOS VOCÊS. –isso foi a gota d’água.

–Olha aqui seu garotinho mimado, você não tem o direito de julgar a decisão da princesa, muito menos de se recusar a ela ou de falar desse jeito na minha frente! –meu pai se levantou da cadeira e apontou o dedo na cara de Ean. E exatamente nessa hora Ean fez a pior coisa da vida dele, a pior atitude que ele poderia tomar depois disso tudo. Ele cuspiu em meu pai. Meu pai, irado, se controlou para não bater em Ean em rede nacional. Ele simplesmente se virou para a câmera e disse.

–Os planos mudaram. Ean pagará a pena com 150 açoites. Hoje às quatro horas da tarde, na frente do palácio. Essa entrevista acaba aqui. –Gavril, que aparentava muito assustado, nem sequer se pronunciou após o que meu pai havia falado, apenas acenou para o câmera. A câmera foi desligada.