Matthew não estava acostumado a ser notado por ninguém. Normalmente, ele era só mais um no quarto, só alguém ali, outro tijolo na parede. Quando faziam contagens de pessoas, ele quase sempre nem era incluído, ou achavam que era o próprio irmão, Alfred. Sabia muito bem que não falava muito, ou alto. E também sabia que fazer amigos não era lá sua especialidade. E sabendo de tudo isso, a situação presente não fazia sentido nenhum.

“Quer ir num encontro comigo?”

Como ele diria não? Bem, a resposta é simples, não diria. Mesmo assim, Matthew nunca esteve em um encontro antes. E se eu fizer alguma coisa errado? Oh, isso não pode acabar bem..mas se eu disser não, vou perder a chance! Não posso fazer isso, já não fico com muitas pessoas, e-

“Mattie? Você está pensando?”

Os pensamentos do canadense foram quase imediatamente interrompidos pelo outro. Era uma ironia incrível, mas Matthew realmente esquecera da presença do outro. Gilbert Beilschmidt, o barulhento e “incrível” alemão, que geralmente andava em um trio razoavelmente conhecido. É, aquilo realmente estava acontecendo.

“A-ah, I’m sorry...” desculpou-se o canadense, cabisbaixo. “Não é sua culpa, Gilbert, é só-“

“Culpa? Quem tá falando de culpa, Mattie? Hã..você tá bem mesmo?” Perguntou o albino, erguendo a sobrancelha. O canadense sentiu-se gelar.

“E-estou sim! É..bem..claro, eu vou num encontro com você, e-“

“Isso é ótimo!” exclamou Gilbert, abraçando-o com força. Matthew sentiu as bochechas esquentarem, e ficou sem reação, parado, nos braços do outro. “Valeu, cara, eu tinha certeza que diria sim! Afinal, quem diria não pra mim, né?” O alemão começou a rir, e alto, soltando o outro para enxugar a testa.

“É..” o canadense desviou o olhar. “Bem, hã..então, aonde nós vamos?” perguntou, e as risadas pararam na mesma hora. Droga. Gilbert não sabia aonde iriam. Bem que o Lud me fala pra planejar as coisas..afe.

“H-hã, é..nós vamos em algum lugar INCRÍVEL! Isso aí, vai ser muito legal, Mattie!” Gilbert sorriu, confiante, apesar de não estar realmente se sentindo assim. “Do que..do que você gosta?”

Oh god..e agora? E se ele não gostar dos meus interesses? E se eu for..e se eu me envergonhar? E SE ELE DETESTAR MAPLE? O QUE EU DEVERIA FALAR??

“DE HOCKEY!” O canadense falou, muito mais alto do que queria. Foi a única coisa que veio à cabeça que não o envergonharia depois. O alemão sorriu.

“Ah, certo! Então, nós vamos até um jogo! Pode ser?”

Pode ser? SERÁ QUE PODE SER? E SE NÃO PUDER SER? E SE EU..oh não. E se eu entrar no modo..modo agressivo? NÃO PODE SER.

“P-pode!” Damn it.

“Ótimo! Te vejo lá, Mattie? No estádio?”

Não.

“Claro! E-e..bem...posso levar chocolate?” perguntou, como se alguém fosse dizer não. AAHH, FALAR É MUITO DIFÍCIL!

“Hã..claro, não vejo porque não. Auf wiedersehen!”

“B-bye..” o canadense disse, quase sussurrando, e observou o alemão andar, até que saiu de vista. Matthew se deu um tapa na testa. “O que foi aquilo?! Caramba, Mattie, você sabe melhor, por que foi tão difícil?” disse, para si mesmo, até que o irmão saiu da casa, e começou a olhar estranho. Matthew corou. Ótimo. Só quem eu queria.

“Mattie bro! O que é isso tudo, dude?” Alfred parou do lado do canadense, com um sorriso largo, mas uma expressão confusa. Matthew olhou para o chão.

“É, bem..eu..t-tenho um encontro, e-“

“DUDE! Isso é INCRÍVEL! POR QUE NÃO ME CONTOU?” O americano interrompeu, e o canadense suspirou.

“Acabou de acontecer, Alfred.”

“Aah..e COM QUEM? É a irmã do narigudo? Cara, ela tem uns peitos boni-“

“NÃO!” Matthew exclamou, corando furiosamente.

“Okay, okay. Com quem é então? Que garota?” o americano abaixou o tom de voz, um pouco nervoso.

“Não é uma garota.”

“Aaah..CARA, ISSO É MUITO LEGAL!”

“Oi?” Matthew parecia confuso.

“NOSSA CASA NÃO É MAIS AZUL BRANCA E VERMELHA! AGORA É TODAS AS CORES DO ARCO-ÍRIS!” O americano parecia mais que animado, mas Matthew se deu outro tapa na testa.

“Alfred, já deu. É com o G-Gilbert..”

“Gui-Gilbert? Alfred ergueu a sobrancelha, e Matthew desceu a mão pelo rosto com força. Eu devo ter pego a parte boa a genética..

“Não. Gilbert. E-eu..eu só estou nervoso.” Explicou,e Alfred sorriu novamente.

“Oooh..bro, vai ser um MITO! O cara é muito legal, eu conheço! Prometo que vai ser legal. EU POSSO AJUDAR A ARRUMAR VOCÊ?”

Matthew deu um passo pra trás.

“Hã, é..n-não precisa, nós vamos ver um jogo, e-“

“Vamos comprar um terno pra você! JÁ CONSIGO VER O ORGULHO NO PAPAI!”

“ALFRED.”

“NEXT STOP, AFONSO’S!”

A hora do jogo se aproximava. Matthew, contra sua vontade, usava um terno preto e gravata vermelha, com o cabelo mais penteado do que o de costume. Tinha chegado no estádio depois do alemão, que já tinha os ingressos, e o olhou torto pelo terno. Ele ficou bem assim..

“Mattie! Olha, comprei os ingressos nos melhores lugares que eu pude, na fileira do meio. E..por que o terno?” perguntou. O alemão vestia uma camiseta preta, com um cachecol triangular vermelho, e jeans. Roupas casuais, já que era um estádio.

“É, hã..coisa do Alfred. N-não foi ideia minha.” O canadense tentou explicar, e o alemão deu de ombros. Entraram no estádio.

O jogo estava indo um tanto mais lento do que o de costume, mas Matthew tinha dificuldades próprias. Não entre no modo agressivo, não entre no modo agressivo, não-

“PORRA!” Gritou, a plenos pulmões, chocando o alemão. Mas que diabos ele está fazendo?! “O GOL É BEM ALI, IDIOTA,QUAL É A DIFICULDADE?!”

“Hã..Mattie-“

“AGORA NÃO, GILBERT. FILHO DE UM ALCE, ANDA LOGO E PARTE PRA CIMA DELES!” Matthew esbravejava de um jeito que Gilbert nem imaginava. Os pulsos estavam erguidos, e ele alternava entre se sentar ou levantar, inquieto. “VAI, VAI, VAI! ISSO! FINALMENTE, OS LERDOS FIZERAM UM GOL! AÍ!”

Gilbert olhou estranho para o canadense, muito confuso, mas sentiu as bochechas esquentarem. Até que ele fica..hã..sexy..assim..

Matthew continuava gritando, até que o painel da “Câmera do beijo” voltou a aparecer, e nessa hora, estava focado nele e em Gilbert. O alemão corou, e se virou pro canadense, que não parecia nem um pouco envergonhado.

“H-hã..Mattie, eu- MMPHH!” Começou, mas foi interrompido por um beijo intenso do canadense, que “partiu para o ataque” logo que teve a oportunidade. Gilbert mantinha os olhos abertos e arregalados, mas Matthew quase caía sobre o alemão, agarrando o cabelo do mesmo e se pressionando contra ele. O coração de Gilbert parecia pular pra fora do peito, e suas bochechas estavam tão vermelhas quanto poderiam ficar.

Os dois desabaram no chão da arquibancada, ainda numa posição mais íntima do que Gilbert estava acostumado. Quando precisou de ar, Matthew separou os dois, e pareceu voltar a si, pois o rosto queimava.

“A-ah, me desculpe, eu não-“ Tentou se explicar, mas foi puxado de volta pelo alemão.

“Agora é minha vez, Mattie.” O alemão disse, em uma das curtas pausas.

No outro dia, Matthew pegou o jornal como sempre, e folheou as páginas. Seu rosto corou quando leu a notícia dos esportes.

Dois desconhecidos causam uma confusão em jogo de ontem por se aproveitarem da câmera do beijo.

O canadense corou loucamente. Ligou para o alemão, curioso para saber se ele tinha lido o jornal.

“H-hello?”

“Mattie! Hã..você..viu o jornal, né?” perguntou Gilbert, do outro lado da linha. O loiro fez que sim, envergonhado, e se lembrou que o outro não podia vê-lo.

“A-ah, é..eu..eu vi.”

“Hã..é..foi até bem divertido ontem.” Gilbert parecia nervoso. Mal sabia o canadense que as bochechas do albino estavam tão vermelhas quanto as suas.

“F-foi..”

“Você, hã..você pode sempre vir até a minha casa..e..terminar aqui-“

“I’ll go!” O canadense interrompeu, como um impulso, mas ficou nervoso pouco depois. “S-se..você não se importar..terminar aquilo seria bom..”

O alemão riu.

“Ja, seria. Vou dar uma preparada.” Disse, com um sorriso travesso que o canadense quase podia sentir em sua casa. Matthew sentiu-se derreter. Oh, god..

“E-eu..eu já vou.”

“Não precisa levar roupas,”

“..não vou levar.”

“Nem no corpo mesmo.”

“G-Gilbert!”

“Estou esperando, Mattie! Sem roupas!”

Eu..já vou aí.