Já era quase a décima vez que Monika tentava encontrar alguém naquele aplicativo idiota. Sempre achava muitas garotas bonitas, mas encontrar alguma que também gostasse dela...aí já era muito mais complicado.

"Você não tá procurando direito, mana." a irmã sempre falava, o que não ajudava muito o ânimo já limitado da alemã. Bem, ao menos isso fazia com que ela procurasse outros jeitos. Já tentou encontros às escuras, tentou encontrar em sites de relacionamento, tentou sair, tentou cigana casamenteira, e nada ajudava mesmo. Era um problema com ela, só pode. Monika simplesmente não podia encontrar alguém.

Queria desistir. Sentia-se cansada, e não queria mais saber de relacionamentos. Pegou o telefone, e abriu o aplicativo uma última vez. Se não funcionar, fico assim mesmo. decidiu, e depois de uma procurada rápida, encontrou uma garota que fez seu coração acelerar. Era essa, tinha de ser. Com uma olhada rápida no perfil, descobriu que era italiana, de nome Felicia, e morava...a um quarteirão dali? A alemã não podia acreditar, quase boquiaberta. Era agora que o destino mudaria, e que o jogo ficaria a seu favor. Bem ali atrás, no número 1703 da rua Mistletoe, estava ela, a garota por quem Monika estava esperando.

"Sorella, sorella! Olha só isso!" Felicia exclamava, rodopiando pela sala com o celular na mão.

"O que foi, droga? Eu tô tentando dormir." resmungou a irmã, Chiara. A outra riu, e sentou-se no sofá, ao lado dela.

"Olha aqui, olha! Não é bonitinha?" perguntou, apontando para a tela. Era a foto de uma mulher alta, loira, e com um sorriso bastante forçado, que fazia a italiana rir. "E ela mora bem ali, olha! Na rua Libra!" disse, animada. A irmã deu de ombros.

"É, até que é decente. Mas esse sorriso aí é muito feio." disse, torcendo o nariz. Felicia parecia não se importar, abraçando o telefone com força.

"Eu gostei muito dela! Vou marcar um encontro!"

"NÃAO, NÃO FAZ ISSO, IDIOTA!" Chiara interviu, e a outra ergueu a sobrancelha.

"Mas por que não? Ela é perfeita!" choramingou, mas a irmã respirou fundo e fez que não com a cabeça.

"Você tem que esperar ela mandar uma mensagem, idiota. Pra ter certeza que ela é legal." disse, e a outra assentiu.

"Vou esperar então. Grazie!" disse, abraçando a irmã, que se debatia sem parar.

"S-solta, Felicia! Aargh, para com isso!"

"AAAAAAAAAAAAHH!" O grito da loira foi ouvido por toda a casa, e ela imediatamente se encolheu para esconder. Não era possível: a garota também tinha gostado dela. Monika não conseguia acreditar, e se sentia como uma criança de novo. O que podia dizer? 'Oi'? Não, muito casual. 'Você é fofa'? Credo, muito adiantada. 'Quero te conhecer melhor'? Aí parece que queria sequestrá-la. A alemã simplesmente não sabia o que dizer, nervosa. Também não queria pedir ajuda à irmã, Julia, ou Julchen, como a chamavam. Bem, sim, ela sabia mais disso do que ela, e ao contrário de Monika, ela não era exatamente...pura. Mas ainda assim, essa era a última opção. Honestamente, preferia até perguntar à sua prima Annelise, casada há mais de 5 anos.

"Mana, foi você?" ouviu, e corou imediatamente.

"N-n-nein!" exclamou. Monika ouviu risadas - altas - no corredor, e suspirou. "Julchen, para."

"Não dá...você tá igualzinha a um tomate..." a irmã disse, entre risadas, e quando conseguiu parar, sentou-se ao lado da outra na cama. "O que aconteceu com minha maninha?~"

"...para." resmungou, e a outra deu de ombros. "É só...eu posso ter encontrado alguém."

"MINHA IRMÃ? ENCONTROU ALGUÉM? HÁ." Disse, incrédula, e a loira respirou fundo. "Sério Monika, da última vez que ouvi isso foi quando você achou um namorado. 2 meses depois, você veio e me disse que era lésbica. É mesmo pra eu acreditar nisso?"

"Dessa vez é sério, Julchen! É uma garota, mora aqui perto." Monika interviu, com as bochechas vermelhas. A irmã deu de ombros.

"Tá, tá. Vai querer ajuda da sua irmã linda e incrível ou quer ir vestida de vó mesmo?" perguntou, com um sorriso travesso no rosto. A outra se segurou para não dar um tapa nela ali mesmo. Realmente, ainda ia precisar de ajuda.

"......pode ser." resmungou, e a outra lançou os braços pro alto.

"Yaaaay! Vem, vou te transformar em, hã...versão meio-que-gostosa. É, isso aí. Eu ainda ganhava de lavada." Julchen riu, e recebeu uma encarada não muito simpática da irmã. "Aai, credo, corta isso da lista, não vai te ajudar a pegar ninguém." disse, torcendo o nariz. Monika suspirou fundo, e assentiu com a cabeça.

"Que roupa você quer que eu use afinal?" perguntou, com um tom não muito animado, mas a irmã ergueu a sobrancelha.

"Não tem nada no seu armário que não pareça um sutiã de academia ou uma blusa de vó?" perguntou, e Monika encarou-a mais uma vez. "Vou assumir que não. Pode ir lá pegar alguma coisa minha."

"...acha mesmo que vai caber?" A loira indagou, e a irmã riu.

"Não. Mas precisamos tentar."

"......." A casa das italianas era, por uma vez, só silêncio. Felicia ainda esperava a mensagem, e Chiara tentava seu melhor para esperar também. Não era lá muito fácil.

"Acha mesmo que ela vai mandar uma mensagem? Fazem duas horas..." comentou a primeira, com um suspiro. A menor deu de ombros.

"Nem sei mais. Você que sempre insiste em ser otimista, continua esperando se quiser. Eu vou embora." Chiara disse, levantando e pegando a bolsa. Felicia se atirou de costas no sofá, cansada.

"Vai aonde?" perguntou, encarando o teto sem muita animação como seria de costume. Para sua surpresa, a irmã corou.

"N-não importa." disse, por fim, e fechou a porta. Felicia riu. Sabia que a irmã conheceu uma garota, mas não contou pra ninguém. Assumiu que era isso. Mesmo assim, ainda não tinha recebido nenhuma mensa- opa.

O coração da italiana acelerou só de ouvir o toque do celular. Só podia ser ela. Era uma mensagem, ao menos.

'Quer me encontrar às 8?' era a mensagem. Nossa, que adiantada ela..NÃO PERDEU TEMPO!

'Em que lugar?' mandou, sorrindo para o celular. Agora, ela tinha de responder mais rápido.

"JULCHEN, POR QUE VOCÊ MANDOU ISSO?!" Monika tinha as bochechas tão vermelhas quanto poderiam ficar, e dessa vez tinha quase certeza de que iria mesmo socar a irmã. Não queria ser tão direta, o que a outra iria pensar?

"Aai, fica tranquila. Sua crush já respondeu, ela quer saber aonde. E você vai com essa aí mesmo?" Perguntou, e a irmã assentiu. "Amadora. Isso não é, hã...roupa de encontro, mas tudo bem."

"Eu gosto. Agora, aonde nós vamos então? E-eu nunca fiz isso, Julchen!" disse, mais desesperada do que de costume. A albina riu.

"Olha, acalme suas tetas, sua maninha incrível aqui vai ajudar." Disse, e pegou o celular das mãos da outra. "No ci-ne-ma. Pronto." digitou, e entregou de volta com um sorriso orgulhoso. Monika suspirou.

"É melhor que isso dê certo, Julchen."

"Vai dar. Agora senta aí que eu vou arrumar seu cabelo."

Quando chegaram as 8 horas, Monika já estava de pé, em frente ao cinema, esperando a outra chegar. O filme que veriam era algum tipo de comédia romântica, coisa que não era lá sua favorita, mas teria de servir. A alemã olhava para os lados, impaciente. Não se passaram 2 minutos, mas ela não queria esperar.

"Hã... Potrebbe aiutarmi?" escutou, e se virou imediatamente para o lugar de onde a voz vinha. No mesmo instante, ficou paralizada. A boca abria e fechava, mas não saia nada. Ótimo.

"E-e-eu...." disse, e a outra riu. Tinha alguma coisa de errado com ela?

"Ciao! Você é a Monika, não?" perguntou, e a loira assentiu com a cabeça. Era ainda mais bonita ao vivo. "Meu nome é Felicia. Você...me chamou pra vir, não foi?"

"B-bem...não exatamente, eu...foi minha irmã...d-desculpe, eu não..não queria ser tão direta." admitiu, mas a outra não parecia se importar.

"Tudo bem. Mas você quer ir? Porque eu não posso ir se você não quiser!" a italiana disse, um pouco preocupada, mas a resposta veio de imediato.

"Q-quero!"

"Então nós vamos! Qual é o filme?" indagou, e Monika entregou os ingressos. "Ah, é uma comédia romântica? Que bonitinho!" disse, e se segurou para não abraçá-la. Sorella disse para respeitar o espaço dela...talvez seja assim aqui.

"É, hã...podemos ir entrando?" perguntou, e a outra assentiu, tomando sua mão. Monika sentiu as pernas derreterem. Não se importava com isso, de jeito nenhum. A outra saltitava até a sala do filme, trazendo-a junto.

"Psst...ei, hã..Monika?" sussurrou a morena, tentando não fazer barulho. Sabia que não era bom falar em filmes.

"Hm?"

"Esse filme é meio chato, né? O que acha de ir pra outro?" perguntou, e a alemã empalideceu.

"Não pode, é contra as regras!"

"Aaw..mas não tem problema se quebrar as regras só às vezes! Por favor?"

"N-não pode, é..." começou, mas Monika suspirou fundo. "Certo. Mas..não vamos fazer de novo." Disse, e a italiana riu.

"Vamos sim. Você precisa se divertir mais!"

"E-eu me divirto sim, só que...sendo correta." disse, mas a outra mostrou a língua.

"Parece tão chato...sem contar que ninguém pode ser certinho sempre. Você vem comigo."

"M-mas-"

"Vem!" a italiana agarrou sua mão, e dessa vez, Monika deixou que a puxasse. Até que não se importaria tanto assim em sair numa aventura com ela. Só dessa vez. E as outras depois, se...se eu tiver sorte.