Abri os olhos e os fechei novamente por causa da luz. Meu corpo estava completamente dolorido e eu tinha um pequeno corte na mão esquerda. Levantei-me com a pouca força que eu tinha, porém o máximo que consegui foi ficar de joelhos. Reconheci a floresta e a luz do sol se pondo passando por entre os galhos das arvores.

Uma criatura de pelagem negra se aproximou de mim.

—Nightmare? –pergunto e recebo uma lambida no rosto confirmando a minha pergunta.

Tendo ficar de pé agarrada numa arvore. Cada músculo de meu corpo está tenso e só consigo lembrar-me de duas coisas: o que vim fazer aqui e alguém se aproximando de mim antes de desmaiar. Olho para o corte na minha mão. É um corte em forma de X, mas como eu fiz aquilo? Ou pior, por que aquela pessoa faria isso?

Entre meus dedos observo o Black Dog olhando diretamente pra mim.

—Nightmare, eu quero que você pare de vir para o Q.G –digo- Tem gente que diz que te viu e isso é um grande problema. A partir de agora, sou eu quem vai dar uma fugida dos muros pra ver você, ok?

Quem me ver agora, pensaria que eu sou uma louca anti-social que fala com animais, mas por incrível que parece ele me entende e da uma espécie de latido aceitando a minha proposta. O Black Dog volta pra floresta e eu pro Q.G.

—SAMMY!

Ouço alguém gritar meu nome e logo depois me encontro com o chão frio do corredor de quartos. Alajea me abraça muito forte quase me deixando sem ar. Quando por fim consigo me livrar dela e ficar de pé, sinto outros braços me rodeando. Reconheço os fios escuros de Nevra e ele me solta.

—Samantha, onde você estava? –pergunta ele.

—Estávamos preocupados. –diz Ykhar aparecendo com Miiko, Kero, Valkyon e Ezarel.

—Eu não estava. –diz Ez.

—Todos estavam. –diz Miiko fuzilando o elfo com o olhar. –Então, o que aconteceu?

—Não aconteceu nada pessoal –tento disfarçar meu nervosismo- Estou bem.

—Está bem? Você está pálida, seu cabelo desarrumado e seu casaco estão cheio de terra. –diz Valkyon.

—Sério, eu estou muito bem! Só quero descansar um pouco. –digo voltando a caminhar.

—Sammy, o que é isso na sua mão? –pergunta Kero.

—Oh, isso? –aponto pro corte na minha mão- Não sei, acho que me machuquei por ai. Boa noite!

Entro no meu quarto com pressa e tranco a porta. Deslizo minhas costas pela porta até chegar ao chão. Eu estava realmente cansada. Tiro meu casaco e jogo-o em qualquer canto no quarto, tiro uma folha que estava no meu cabelo e tento pentear-lo com as mãos.

Ouço batidas na porta, suspiro e abro. Nevra me olhava de maneira preocupada e séria, Blume estava em seus braços, mas imediatamente voou para os meus.

—Samantha, você sabe que não pode esconder nada de mim. –diz ele.

Um arrepio percorre minha coluna quando olho para seus olhos cinzentos. Aqueles olhos que sempre transmitiam diversão agora me intimidavam. Não quero falar sobre Nightmare, então vou ter que cortar algumas partes e mentir ao mesmo tempo. Como é que eu quero que eles confiem em mim se eu só fico dizendo mentiras pra eles.

Começo a falar. Digo que quis dar uma volta e acabei indo pra floresta, falo sobre a estranha dor no meu pescoço e de alguém vindo em minha direção.

—Passear na floresta Samantha? –pergunta ele levantando-se da cama. Quando viemos parar aqui?

—Eu... Conheço praticamente todo o Q.G  e a Vila de Eel, pensei que seria boa idéia descontrair só um pouco. –digo passando a mão na cabeça de Blume.

—Você pensou que seria boa idéia, mas não pensou que essa idéia idiota poderia ser perigosa? –ele andava de um lado pro outro.

—Eu...

—Você o que? –ele para na minha frente e segura meu rosto com suas mãos frias- Você não conhece esse mundo Samantha!

Afasto suas mãos do meu rosto e empurro-o. Até parecíamos dois namorados brigando!

—Sei que só estou aqui uma semana, sei que sou mais humana que Faelliene, mas eu também sei que não preciso da proteção de vocês o tempo todo. –as palavras saiam da boca pra fora. –Olha Nevra, eu estou cansada e não quero ter problemas com você, então, por favor, me deixa sozinha.

Ouvi-o suspirar e a porta do meu quarto fechar-se com força. Peguei uma almofada e ataquei na janela, pra minha sorte estava fechada. Deitei-me e deixei as lagrimas cair.

COM NEVRA

Nevra pegou a primeira coisa que viu e jogou na parede da biblioteca. Ele estava claramente irritado. Aquela humanazinha o fazia ficar louco. Louco de preocupação, mas por quê? O que ela tinha de tão especial que fazia ele se senti assim? Ela não era igual às outras meninas que ele conhecia. Não pelo fato dela ser meio humana, mas tinha algo nela que a fazia diferente. Diferente em tudo.

Ele sabia que ela estava mentindo, afinal, é uma de suas habilidades como vampiro saber o que as pessoas sentem. O tempo todo ela mentiu, alguma coisa estava perturbando ela e ele queria saber, queria ajudar, mas como poder ajudar uma pessoa que nem te fala o verdadeiro motivo?

Ele só não insistiu porque não queria assustar ela.

Por que ela não podia confiar neles?

Por que só ele confiava nela?

Por quê?

Ele pegou uma jarra de flores que estava numa prateleira e jogou na porta e justo nesse momento entrou Keroshane. O espécime de unicórnio deixou os livros que ele carregava caíram no chão por causa do susto.

—Qual é, Nevra? –pergunta Kero- Eu sei que não somos lá os melhores amigos do mundo, mas precisa querer me matar desse jeito?

—Desculpa Kero. –diz Nevra- Eu só estou irritado!

—Notei! –Kero pega o ultimo livro no chão e os coloca numa mesa- O que é que te perturba tanto?

—Samantha.

—A Sammy?

Nevra sentia o sangue ferver em suas veias. Ele não gostava nada que Kero chamasse Samantha pelo apelido carinhoso. Somente ele podia chamar-la assim, talvez Alajea e Ykhar também, mas os outros estavam fora de cogitação.

Desde quando ele ficou tão possessivo a respeito de Samantha?

—É... Ela está escondendo alguma coisa da gente e isso me preocupa.

—Entendo, mas já parou pra pensar que isso talvez seja não sei, saudades dos pais e do mundo dela?

—Já, mas isso não explica o fato dela ficar mentindo pra gente.

—Ela só está aqui á uma semana Nevra. Ela ainda pode estar assustada.

Nevra odiava admitir isso, mas talvez Keroshane realmente tivesse razão. Ele deveria fazer algo a respeito, mas por quê? Por que tanto interesse de uma hora pra outra?

—O que são todos esses livros? –pergunto o vampiro aproximando-se de Keroshane.

—Uma coisinha que podem nos ajudar a descobrir de qual espécie a Sammy pode ser. –Kero sorriu amplamente.

—Da pra parar de chamar ela de Sammy? –pediu o vampiro.

EM ALGUM LUGAR EM ELDARYA

—Ah, Keroshane, sempre surpreendendo! –diz o homem olhando para uma espécie de espelho. –Por favor, faça-me este trabalho mais fácil, meu querido amigo.