Na manhã seguinte Daniel foi acordado pelo irmão, que estava ansioso para conversar sobre o que ele e seu pai tinham falado. Daniel ficou irritado ao ver que tinha sido acordado cedo e quase expulsou Cristoph do quarto, só não o fez porque Cristoph consegue ser bastante insistente quando quer algo.

– Você me paga por ter me acordado cedo – resmungou Daniel enquanto se levantava.

– Deixa de frescura e se veste logo, você fica horrível de cueca Box.

– Não perguntei sua opinião.

Cristoph gargalhou e sentou na cama do irmão e esperou enquanto Daniel trocava de roupa.

– Mas sempre é bom ter uma opinião sincera, tenho certeza que sua futura esposa não vai admitir que você seja horrível na sua frente – zombou Cristoph.

Daniel revirou os olhos.

– Quem passou boa parte da vida trancado em uma sala com um bando de conselheiros caretas foi você e não eu. Agora, dá pra falar por que me acordou tão cedo?

– Porque papai me pediu pra te ajudar a se acostumar com a vida de futuro rei e...

– Que legal, nem sou rei ainda, mas o inferno já começou. – Daniel interrompeu Cristoph resmungando.

– Se você está estressado desse jeito só porque acordou de seis horas da manhã, não quero nem estar por perto quando você ficar trancado na sala de reuniões durante toda a madrugada e só sair de lá pra tomar o café da manhã.

Daniel atacou os botões da manga da camisa e dobrou a gola da mesma para baixo terminando de se vestir.

– Você tem que entender, Daniel, que já não importa mais quais são suas habilidades na luta ou seu sincronismo na dança, porque quando você estiver a frente de uma reunião com os conselheiros isso não vai valer de nada. Você tem que ter estratégias boas, e se elas não funcionarem você tem que coloca seu rostinho bonito e sua simpatia pra trabalhar – argumento Cristoph.

– Só que eu não sei como agir na frente daqueles velhos. Eles me olham como se fossem e esquartejar se eu fizer alguma coisa errada.

– Porque eles estão lá para julgar sua decisão. Você tem que demonstrar confiança mesmo que não esteja confiante. Se você é intimidado com o olhar dos conselheiros, como vai ficar quando estiver passando por uma situação como a que papai está passando agora? Os olhares assassinos dos conselheiros não é nada se comparado com o olhar de raiva dos súditos quando você faz algo errado... Pra onde você vai? – perguntou ao ver Daniel abrindo a porta.

– Comer. Se quiser me acompanhar está convidado.

Cristoph revirou os olhos e acompanhou o irmão.

– O café da manhã só sai daqui a uma hora. – avisou Cristoph.

– Ninguém mandou você me acordar quarenta e cinco minutos mais cedo.

– Se você comer agora estará sem fome no café da manhã e você sabe que a mamãe não gosta...

– Primeiro, que eu não tenho quatro anos; segundo, você não é a mamãe. Então, que tal você continuar com seu discurso de “como ser o perfeito futuro rei”?

– Estava tentando te ajudar a fazer as coisas organizadamente, mas desisto. Quando estiver com o humor melhor você me procura.

Daniel se arrependeu do jeito que tratou o irmão quase que instantaneamente e desistiu de ir até a cozinha para ir atrás do irmão. O achou abrindo a porta do seu quarto e entrando.

– Cristoph! – chamou antes que Cristoph fechasse a porta.

Cristoph deixou a porta do quarto para que Daniel entrasse e para perto de uma das janelas.

– O que você quer? – Perguntou Cristoph.

– Me desculpe. Eu não devia ter te tratado daquela forma.

Cristoph virou-se para ver se Daniel estava sendo sincero e decidiu perdoar o irmão.

– Tudo bem.

– E que tal se você continuar me ajudando?

– Papai quer dar um baile para comemorar a sua decisão de fazer A Seleção.

– Só não me diga que ele vai convidar todos aqueles ministros, imperadores, aliados, etc, etc, etc...

Daniel fez cara de tédio.

– Mas pense pelo lado bom: seus amigos também virão e você poderá se distrair um pouco.

– É, eu sei. Mas você não entende, antes eu não precisava ser responsável e agora sou obrigado a ser. Agora sou obrigado a manter o papel de Príncipe Sério.

– Isso nunca me impediu de ser divertido, não será um problema para você.

Daniel sorriu, debochando da cara de Cristoph.

– E quem disse que você é divertido?

– As pessoas já me falaram isso várias vezes.

Daniel gargalhou da cara do irmão.

– Você não presta Crisph.

– Não me chame assim, odeio esse apelido.

– Você não pareceu odiar quando a mamãe te chamou assim.

– Porque a mamãe é a mamãe, nunca ousaria contrariá-la. E você está fugindo do assunto.

Daniel foi até junto do irmão e encostou a testa no vidro da janela.

– O que você tanto olha lá fora? A maioria das vezes que venho aqui vejo você parado aqui, olhando para o jardim. O que tanto tem nele?

– Nada. E não tente me distrair com essa conversa.

Cristoph foi até a mesa de escritório perto da sacada e pegou alguns papeis que estavam em cima dela.

– Vamos começar pelo que é mais importante agora: A Seleção. Tenho quase certeza de que você nem leu as regras, não é?

– Não, ouvi falar de algumas na sala de reuniões, mas ainda não encontrei tempo para ler.

– Não estou falando das regras que as Selecionadas têm que seguir, estou falando de você.

– De mim? – Daniel perguntou surpreso. – Não sabia que também haveria regras para mim.

– E você pensou o quê? Que as garotas chegariam aqui e fariam o que você quisesse, não importa o que pedisse?

– Não... Mas eu sou o príncipe, sou eu quem toma as decisões na Seleção, não preciso seguir regras.

– Claro que precisa. – Virou uma página e leu o papel, depois voltou a olhar para Daniel – Regra número 1: Você nunca, jamais deve passar dos limites com nenhumas das Selecionadas, não importa qual seja a circunstância. Você é o príncipe e se for pego com uma das Selecionadas em condições impróprias a culpa não cairá sobre você, mas você deve pensar no seu reino. – Cristoph pousou a mão no ombro do irmão e sorriu – claro que às vezes é bom passar dos limites, até eu já fiz isso. Mas eu tinha certeza do que estava fazendo. Eu a amava e ia me casar. Você entende o que quero dizer, não é?

Daniel sorriu lembrando-se de uma vez ter entrado no quarto de Cristoph sem bater – como de costume – e ter encontrado Alissa no quarto dele. Os dois estavam namorando e se assustaram ao ver Daniel. Depois Cristoph procurou o irmão e lhe contou que aquela tinha sido a primeira vez do casal. Pediu para que Daniel guardasse segredo e ele guardou, permanecia com ele até hoje.

– Claro que entendo. Não se preocupe, não sou nenhum cafajeste pra usar uma mulher dessa forma.

Cristoph assentiu.

– Regra número 2: nunca deixe que nenhuma delas tente mandar em você. Lembre-se de que uma delas será a futura rainha de Illéa, então quem tem maior autoridade é você e não ela. Regra núm... – Cristoph foi interrompido pelo ronco da barriga de Daniel.

Os dois riram e Daniel pediu desculpas, mas ele estava com fome.

– Tudo bem, continuamos isso depois. Vamos comer, acho que podemos tomar o café da manhã mais cedo. – Cristoph propôs e pousou o braço no ombro de Daniel.

♦♦♦

Cinco dias depois...

O castelo estava uma confusão no dia do baile. Criadas passavam a todo vapor pelos corredores com arranjos de flores, cortinas, tapetes e porcelanas. Sem contar que os quartos das Selecionadas estavam sendo preparados ao mesmo tempo, e tanto Daniel quanto a rainha estavam ocupados escolhendo cores e tecidos.

Daniel achava tudo aquilo um exagero. Para ele qualquer cor servia. Cortina, então... Nem se importava. Ele estava tão confuso quanto as criadas que chegavam perto dele pedindo opinião sobre cores.

Cristoph continuava ajudando Daniel sempre que ele pedia sua ajuda e agora que o irmão estava sobrecarregado ele tentava dar ao máximo do que podia, mas não queria tomar as rédeas de tudo, pois se o fizesse as visitas pensariam que Daniel nunca conseguiria governar o reino sem a ajuda do irmão.

O rei estava uma pilha de nervos, mas tentava não demonstrar isso o máximo que podia. Não queria que sua amada esposa ficasse preocupada com os problemas do reino. Para ela, ele dizia que tudo estava indo bem, mas a verdade é que os ataques rebeldes continuavam e estavam se aproximando do palácio e o que mais preocupava o rei era que a situação ficasse pior. Porque seria mais do ruim se ataques acontecessem no castelo durante aquela semana. Ele concluiu que tinha sido uma péssima ideia convocar seus convidados para que chegassem na manhã do baile.

♦♦♦

Ao sair de mais uma estressante reunião com os conselheiros sobre os ataques rebeldes Daniel foi até a cozinha para beber um copo de água e se assustou ao encontrar seus dois primos – Lisandro e Johana – comento torta na cozinha.

– Oque vocês estão fazendo... aqui? – Gaguejou assustado.

– Viemos para o baile, oras! – respondeu Johana.

– Tão cedo? O baile só será à noite. – Daniel comentou confuso.

– Seu pai pediu em todos os convidados para que viessem pela manhã. Você não sabia? – Lisandro perguntou.

– Ah, sim. Ele comentou, mas acabei me esquecendo. São tantas que tenho que lembrar que acabo esquecendo algumas.

– Imagino. Ainda bem que eu sou a quinta na linha de sucessão. – suspirou Johana.

Lisandro e Johana eram os primos mais próximos que Daniel e Cristoph tinham, pois os outros irmãos do rei moravam em outros países e por isso não conseguiam manter muito contato com os familiares.

Lisandro é da idade de Daniel, mais velho apenas com diferença de meses. E Johana tem dezesseis anos, mas é muito inteligente e esperta. Sempre tem uma reposta na ponta da língua pra tudo, diferente do irmão, que é tímido e quieto – só consegue se abrir com os primos e amigos mais próximos.

– Michael e Stefan estão lá fora, no jardim. O que você acha de botarmos o papo com eles em dia, Daniel? – perguntou Lisandro empolgado.

– Eu adoraria, mas não tenho muito tempo sobrando. Tenho que voltar para a sala de reuniões daqui a dez minutos.

– Bom. Só assim vocês não me deixam sozinha. – Johana argumentou.

Daniel foi até um dos armários e pegou um copo para beber água.

– E como está Cristoph?

– Está bem. Acho até que ele está voltando a ser quem era.

– Que bom! Não aguentava mais ver ele triste pelos cantos como um rato por causa daquela noiva aguada dele. – Lisandro e Daniel mandaram um olhar de repreensão para ela – Tudo bem, eu sei que foi muito triste ela ter morrido e até entendo o fato de ele ficar arrasado por isso. Mas isso foi há sete meses atrás! Ele tem que chutar a bola pra frente e esquecer aquela...

– O que você está falando da minha noiva? – a voz de Cristoph interrompeu Johana.

Todos viraram o pescoço na direção de Cristoph, que fuzilava Johana com um olhar de raiva. Johana ficou pálida e arrependeu-se do que falou de Alissa, pois, para ver Cristoph com tanta raiva daquela forma só havia uma coisa que explicava tamanha raiva: ele ainda amava Alissa incondicionalmente.