Depois da notícia que nos deixou mais irados, Ethan chamou Scott e eu em sua sala.
– Sentem-se. - Ethan disse.
– O que quer? - perguntei.
– É óbvio que precisamos fazer alguma coisa sobre isso. - ele se inclinou na cadeira olhando para mim.
Eu e Scott trocamos olhares.
– Ah, bem...
– Sim, temos que planejar algum ataque, manifestação diferente dos rebeldes, sem violência. - Scott me interrompeu. - Não sei se isso dará certo, o rei pode nos punir.
– Você está certo. - falou Ethan. - Um dos líderes dos rebeldes falou comigo, para nos ajuntarmos.
– O quê? - levantei. - Não! Isso não. É muito arriscado.
– Você prefere morrer então? - Ethan ergueu a sombrancelha.
– Se você aceitar essa parceria, ai sim iremos morrer. - coloquei as mãos na mesa.
Scott ficou calado.
– Podemos fazer um trato, algumas exceções, não sei Natalie, mas precisamos mudar isso! Eu vou ser prejudicado também com essas novas ordens.
– Como sempre, só pensa em si mesmo. - balancei a cabeça. - Temos que arrumar um jeito em que não nos tragam prejuízos e mortes de pessoas inocentes!
– Ela está certa. - Scott disse.
Ethan nos olhou com raiva e se levantou.
– Saiam daqui! Eu sou o superior dos habilidosos e vou fazer essa parceria com os rebeldes.
Scott saiu primeiro.
– Então não conte comigo. - sai da sala batendo a porta o mais forte possível.

Idiota! Se aliar aos rebeldes é suicídio e falta de consideração com o restante de nós. Porque lhe veio de aceitar isso? Se ele fizesse, seria como o rei, talvez pior.
– Você está bem?
Olhei ao meu lado e Scott andava junto comigo parecendo preocupado.
– Ótima. Precisamos de Megan e Cam, são os melhores. Alex é ótimo em facas e estratégias. – pedi. – Sei exatamente o que fazer.
– Me dê o ar da graça de saber antes?
Ri.
– Sim Scott. Vamos até os caridosos, e os rebeldes passistas.
– Rebeldes passistas? Não os conheço. – ele franziu a testa.
– Protegidos pela caridade, vivem entre as terras dos caridosos.
– Joseph sabe?
– Não, e nem poderia. – avistei o grupo de Cam. – Miles! Holly, Foy, Van. Viram o Cameron?
– Não, na verdade ele, Keren e Durant saíram. – disse.
– Para onde? – perguntou Scott , falando antes de mim.
– Príncipe Philipe chamou.
Olhei Scott assustada.
– Sabe o porquê? – insistiu Scott.
– Algo com... Ajudar na segurança de Philipe. – respondeu Holly.
– Céus! – sussurrei.
– Por que Joseph iria convocar os três? – Scott recebeu olhares de todos ali. – Nada contra, mas Alex, Megan e Natalie são os melhores para o caso. Se for mesmo verdade...
– Como assim "se for"? – cruzei os braços e o olhei confusa.
– Pense, por que convocar Cam? Um mal arqueiro e amigo seu? – ergueu a sobrancelha. – Philipe não precisa de mais segurança, Nath...
E tudo se esclareceu.
– Faz parte do plano de Joseph... – sussurrei. Scott assentiu. – Está se livrando de quem não concordou ou quem não lhe agrada.
– Cam nunca concordou com isso de rei e seleção. Keren e Durant foram transferidos da caridade.
– Ele quer os caridosos fora do caminho. – mordi o lábio. – Eu fui transferida.
– Não! Não, não! – se irritou Scott. – Você não!
– Mas por que querem os caridosos fora do caminho? - Holly perguntou.
– Porque nós somos os mais prejudicados, e a maioria dos habilidosos faziam parte da caridade.- respondi. -E isso contribui para mais manifestações, então ele quer nos tirar daqui.
– Não vou deixar você sair daqui. - Scott falou.
– Vai ficar tudo bem.

***
Eu, Scott, Megan e Cristal fomos fazer a segurança da cidade a noite.
Estávamos andando tranquilamente pela cidade vazia, dava até um certo medo pelo lugar sombrio.
– Ai! - Cristal gritou.
– O que foi? - Scott perguntou.
– Quebrei a unha, droga! - ela fez careta.
Bufei.
– Garota, se enxerga. - falei. Megan riu.
– Você é durona assim mesmo ou se faz? - ela debochou.
Parei na frente dela.
– Não me faz perder a paciência.
– Ei! Calma ai. - Scott me segurou.
Sai andando na frente e Megan veio atrás.
– Pensei que iria voar nela.
– Quase. Não a suporto. - sussurrei. - Por que mandaram ela ficar no mesmo turno que eu?
Megan olhou para Cristal e tampou a boca escondendo um riso.
O que posso fazer se eu não a suporto? Ela faz por merecer. Que diabos ela veio fazer nos habilidosos? Está na cara que não se encaixa.
– Não entendo porque sua namoradinha não gosta que eu fique por perto.
Ouvi Cristal de longe. Ao virar para ver onde ela se encontrava, desejei não ter feito. Ela se jogava em Scott na maior cara dura. Essa... Argh!
– Talvez ela tenha bons motivos Cristal.
– Não vejo nenhum, Scott. - ela fez biquinho e começou a puxá-lo pela roupa.
– Chega! Eu vou matá-la.- sussurrei. Megan me segurou e repreendeu-me com o olhar.
– O que? - perguntei.
– Vai sufocá-lo de tanto ciúme. Não há necessidade Natalie! Veja. - ela apontou discretamente para Scott.
– Cristal, tenho respeito por sermos amigos há muito tempo. Mas eu sei quem eu quero, e não é você. Por favor, aceite. Não vai mudar o que sinto por ela.
– Scott... Pegou pesado. Mas admito que gostei.
Ela ficou com raiva, era visível.Ele se afastou dela, chegou até mim e Megan, sorri e deu um beijo em minha testa.

Continuamos andando.
Não estranhamos a tranquilidade, é assim quase sempre, tirando os ataques que nos pegam de surpresa.
– Natalie. - Scott me chamou. Megan e Cristal foram andando na frente.
– O que?
– Poderíamos ir no palácio ver Anna.
– Ficou maluco? Não podemos.
– É só fingirmos que fomos chamados para fazer a segurança, depois podemos ir na casa dos seus pais e conversar com eles sobre os passistas.

Fiquei indecisa. É muito arriscado ir à essa hora da noite, logo agora em que a segurança foi triplicada.
– Não sei. - murmurei.
– Precisamos aproveitar o momento, quando amanhecer voltaremos ao palácio e não vamos poder sair o dia inteiro.
– E Megan? Cristal?
– Elas podem continuar aqui na cidade, tem mais dois grupos fazendo a segurança noturna, elas não estão sozinhas.
– Tudo bem. Vamos.
Corremos até elas e falamos que visitaria Anna no palácio.
Scott subiu no trem primeiro e me puxou logo em seguida.
Aventuras perigosas é comigo mesmo! Treinei para isso, mas confesso, o que está por vir não é nada bom.
– Scott, eu sinto que vai acontecer algo. - falei entrelaçando minha mão na dele.
– Não vai acontecer nada. - ele deu uma piscada, mas logo ficou apreensivo.

Conseguimos avisar Anna dos planos do rei Joseph, pedimos para que ela mantivesse segredo e continuasse tentando ser a rainha. Como se não soubesse de nada, será mais segura a ela. Scott não quis contar para Anna que é adotada, e sobre Philipe ser irmão dele. Respeitei sua decisão, mas acho que seria o certo falar. Anna está crescendo, ela pode e deve saber sobre sua família.
– Ei! Vocês dois. - trovejou uma voz masculina. Scott e eu olhamos para trás e o rei Joseph estava rodeado de guardas. - Prenda-os! Agora! - gritou. Puxei Scott e começamos a correr, o trem estava um pouco longe, mas se fossemos ágeis conseguiríamos.
– Merda! - xingou Scott. - Torci o pé a dois dias, ainda está... um pouco dolorido.
– Pai! Quero Natalie Johnson viva. - gritou outra voz. Parecia familiar... Philipe.
Scott estava com dificuldades. Droga! Do que adianta?
– Scott para! Seu pé...O segurei e o fiz parar.
– Nós vamos morrer se pararmos.
– Deixa! A culpa foi minha, não deveria ter aceitado vir aqui. - falei irritada. Parei de correr.
Os guardas nos alcançaram e seguraram com força. O rei e Philipe chegaram até nós dois.
– Ora, ora. Scott Roberts por aqui? - O rei ironizou.
– Pensei que você fosse um rei de verdade e soubesse que eu já entrei aqui várias vezes, mas sei que você está muito ocupado maltratando as pessoas. - Scott disse tentando se soltar.
– Scott, para! - tentei acalmá-lo e não piorar a situação.
– Sabe quem teria que estar no trono ? Meu pai e não você, seu desgraçado! - ele continuava nervoso, nunca vi Scott daquele jeito. Eu estava nervosa e com medo, ele não estava facilitando as coisas. Philipe olhava atencioso em uma certa distância. - Você acabou com a minha familia, e eu vou acabar com a sua!
– Como ousa falar assim com o seu rei? - Joseph se irritou. - Seu pai não iria ser um bom rei, ele desviava as economias do país e eu o desmascarei.
– Mentira! Você planejou isso tudo para ter poder. E não vai durar muito tempo. - Scott retrucou.
– Pai, deixe eles. - Philipe sussurrou.
– Com essas novas ordens, o seu reinado irá acabar. Será que não percebe o que fez? Estão organizando ataques e rebeliões, não só em Seattle, mas sim no mundo inteiro. - intervi.
– Fique quieta! Eu sou o rei e faço o que eu quiser. - o rei disse fazendo um gesto para que os guardas nos soltassem. - Vão embora daqui!
Nos soltaram, Scott andou até o rei, e tentei impedi-lo, mas ele não parou.
– Isso não vai ficar assim. - ele sussurrou.