SOS - Em má companhia escrita por Leelan


Capítulo 8
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Que demora, hein, um absurdo...



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Não foi nada agradável deixá-los ali. Tudo bem que não se gostassem, para dizer o mínimo, mas estavam no mesmo barco, ou, para tornar a imagem mais literal, estavam no mesmo avião. Que caiu. Ok, não caiu, mas que pousou em uma porra de ilha aparentemente deserta. O máximo que poderiam fazer era não deixá-los ali com a sem graça da Petra e o todo paternal Reiner. Então, é claro que o Connie tinha que pensar (e dizer):

– Vamos atrás deles.

Como assim “Vamos atrás deles”, Connie? Muto sol na cabeça desse garoto! Ela não saberia nem por onde começar a andar, como andar e, pior, como continuar andando em um lugar totalmente desconhecido, com, sem dúvidas, animais nada amistosos e mosquitos adoradores de sangue. Ela suava só de pensar, imagine andando.

– Conner… - Ela murmurou, usando o apelido que tinha lhe dado. Levantou só um pouco a cabeça do encosto da poltrona para lhe passar um olhar de poucos amigos e então voltou a fechar os olhos.

– O quê, então? Reiner vai ter um enfarto em 5 minutos, Petra provavelmente vai chorar. Eu não quero ficar aqui

– Conner, eu estou mesmo tentando me concentrar na minha mensagem telepática para o governo. “Manda um helicóptero! Manda um barquinho! Me tira daqui!” - Para a mensagem, ela teve que afinar o tom para dar autenticidade à voz de sua mente.

– Ann. É sério.

– Conner, lá fora tá muito quente. Entende isso?

Ele bufou.

– Arrume suas coisas, bicho preguiça. Fique pronta para partir.

Connie desceu do jatinho e desviou rapidamente de Petra e Reiner que ainda pareciam perdidos sobre como dar seguimento às suas vidas. Eles haviam o interceptado, ou melhor, o acordado, perguntando loucamente sobre o paradeiro dos outros. Não que Connie tenha entendido todas as perguntas feitas sem parar em velocidade máxima, mas ele tinha certeza que não sabia a resposta, então quando eles pararam de falar e respiraram fundo para recuperarem o fôlego, Con dise: “Não sei”, ao que deixou claro, era uma resposta geral.

Annie só manteve os olhos fechados e quando eles a sacudiram até chacoalhar seu cérebro, ela se dignou à responder: “Caiam fora”. Coube à Connie tranquilizá-los de que não era cumplicidade, era só o mau-humor dela de sempre.

Connie foi andando à esmo para a esquerda, até a rocha que delimitava a praia e era grande o suficiente para fazer sombra. Ele ficou rondando por ali enquanto bolava estratégias. Não era fácil lidar com Annie, mas não poderia deixá-la. Ela não era tão ruim quando não queria ser, relações com ela estabeleciam-se à base de “qual é o gatilho certo?”, em que funcionava da seguinte maneira: você puxava um gatilho (vulgo, fazia uma pergunta, dava certa resposta), e, às cegas, era retribuído com um sorriso ou uma careta, e assim seguia, meio como a roda da fortuna. Nunca dava para saber o que poderia irritá-la ou não, era um jogo sem padrões.

Ele deu um risinho debochado. Tinha a perguntado, certa vez, que se os olhos eram mesmo o espelho da alma, isso queria dizer que sua alma era cinza como seus olhos? E, diferente de todas as outras meninas que ele conhecia, convivia e flertava com, que certamente daria um tapa nele, um muxoxo ou o encararia com um olhar de matar, ela sorriu e respondeu: “Deve ser, não é mesmo?”

Diferente.

Ele provavelmente nunca trocaria uma palavra com ela além das saudações de bom dia, boa noite ou boa tarde que era obrigado sempre que seus pais se reuniam e ele tinha o azar de estar presente, ou quando eram pequenos e eram obrigados a participarem das festas de aniversário um do outro e sua mãe dizia “Dê parabéns á Anna, querido… Agora o abraço.”. Pelamor, infância era tão uma abdicação do ser. Mas agora trocavam, porque, incrivelmente, todas as outras pessoas que estavam na mesma situação que ele, naquela ilha, eram mais chatas que ela, com suas panelinhas muito mais arraigadas de amizade e até mesmo inimizade.

Ele só queria levar aquilo de boa até. finalmente. sair. dali.

Resolveu, então, escalar a rocha até o topo, o que tinha lá seu grau de dificuldade, devido à quentura do ambiente e do solo em si, tornando difícil se apoiar com as mãos. Mas o relevo era inclinado, então ao menos que tropeçasse, não precisaria se queimar.

Quando conseguiu, minutos depois, ele teve uma boa visão da paisagem ao redor, não era muito alto, talvez uns 12 metros, mas, uau, como ninguém tinha pensado nisso antes? A vista poderia ser mais reveladora, alguma das árvores eram bastante altas, impedindo uma maior análise do espaço, mas havia um padrão. Dava para perceber quando, entre tantas árvores enormes, um certo espaço parecia vazio, como uma clareira. Dava para perceber um morro e algumas construções ao seu pé. Dava para perceber água.

Ele tentou fazer alguns cálculos de distância e o tempo que levaria, assim como certas escolhas, como a orientação, decidindo-se pelo leste, mesmo que alguma coisa o dissesse que os outros tinham ido para o oeste, onde havia o rumor de água após uma excursão do grupo de Reiner. Mas era isso, dividir para conquistar.

E como, diabos, eles despistariam Petra e Reiner? Ele olhou em direção ao jatinho, onde, àquela distância, os dois pareciam que estavam discutindo, mas não dava para ter certeza. O que ele faria?, pensou. E pensou por mais alguns minutos antes de descer e andar de volta. Annie, então... Não queria ter que arrastá-la, mas já visualizava modos diferentes de persuasão para fazê-la seguí-lo, modos nada atraentes.

Os dois mais velhos nem viram quando ele passou por eles e subiu no avião. Não tinha ninguém lá. Ele pegou sua mochila e a esvaziou, para tornar a arrumá-la só com os itens mais necessários. Ele ouviu um barulho do lado de fora e virou a tempo de ver Annie entrar.

– Ah. - Ela deixou escapar quando notou sua presença, e sua fisionomia mudou rapidamente de apreensiva para entediada, mas ele percebeu.

– “Ah”, o quê?

– Nada. - Ela foi até sua poltrona e se jogou.

– Onde você estava? - Ele insistiu.

– Lugar nenhum.

– Lugar nenhum me procurando? - Ele a olhou e sorriu, enviesado.

– Ha Ha. - Foi sua resposta, que saiu abafada pela posição, em que escondia o rosto.

– Não vai nem negar?

– Ha Ha.

Ele deixou passar por alguns instantes, se divertindo. Mas quando acabou de arrumar suas coisas, foi até ela e bagunçou seu cabelo.

– Eu disse que não iria sem você.

Ela o fitou, a fisionomia aparentemente vazia, mas não mordeu a isca, replicando que, na verdade, ele não tinha dito isso, não tão claramente, pelo menos.

– Agora me dá um papel e caneta. - Pediu ele.

Ela obedientemente pegou um caderninho e uma caneta da mala, arrancou uma folha e entregou a ele. Connie rabiscou um “Suba a rocha”, dobrou e guardou no bolso do jeans, depois saiu.

– Ok, eles me pediram pra não contar, mas vocês estão tão preocupados que eu… - Ele deixou a sentença em suspenso para fazer um suspense (ninguém era de ferro), mas não poderia continuar nem se quisesse, porque Reiner imediatamente calou e correu até ele, com Petra atrás.

– O quê, Connie? Onde eles foram?

Connie se permitiu pensar que nunca vira ninguém tão abafado e se sentiu mal pela mentira que diria, eles pareciam mesmo preocupados, Reiner estava visivelmente se segurando para não sacudí-lo até todos os seus segredos pularem fora. Ele queria fazer aquilo certo, então hesitou propositalmente antes de continuar.

– É… cara, eles vão me matar… - Coçou a nuca. - Eles foram atrás de água. Como naquele dia em que pensamos ter ouvido o som, sabe, à oeste.

Reiner assentiu bruscamente e foi andando para trás, como se preparando para partir em busca dos outros. Ele se virou e correu, mas parou assim que Petra, logo atrás, disse:

– E vocês? - Perguntou olhando para Connie e se referindo, claramente, a ele e Anna. “Valeu, Petra”, Connie pensou, ironicamente.

– Acho melhor ficarmos aqui. O que vocês acham? Vai que eles voltam e a Annie, sinceramente, ela não vai querer sair nesse sol. Tá muito forte hoje.

Os outros dois pararam, pensaram, se entreolharam e pensaram mais. Connie ficou imóvel, telepaticamente, como diria Annie, mandando que eles fossem. “Vão, vão logo, nos deixem aqui”

– Por mim tanto faz, vou chamar a Annie. Jesus, já estou até vendo ela se arrastando atrás da gente. Se alguém não sabe o que é pressa, esse alguém é ela. - Murmurou como que pra si, mas em um tom que garantia que eles escutassem. Esse ponto de vista finalmente fez o casal acordar.

– Oh, melhor não. Temos que alcançar os outros, fiquem aqui, temos que ser rápidos.

Reiner assentiu para ela, como que concordando, e disse por último, enfaticamente:

– Fique aqui!

Conner só assentiu, não ousando dizer algo errado e desencorajá-los. Assim que os dois saíram de vista, ele voltou para dentro.

– Valeu, hein - Disse Annie, à menção da sua lerdeza.

Connie foi até o assento em que Reiner geralmente ficava e depositou o papel em que havia escrito a dica. Voltou-se para ela e sorriu, não dando importância ao comentário.

– Vamos, princess.

Annie bufou e, surpreendentemente, pegou uma mochila embaixo do assento.

– Tá, se vai encher meu saco, pelo menos não me confunda com a Mikasa. - Repreendeu-o, fazendo-o rir.


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Notas finais do capítulo

Tomara que não tenham me abandonado :)



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