A Missão escrita por StefaniPPaludo


Capítulo 65
Capítulo 44


Notas iniciais do capítulo

O capítulo é grande, mas também um dos mais importantes da história. Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/617123/chapter/65

Os dias seguintes passaram em marcha lenta. As horas pareciam se arrastar incessantemente e eu mal podia controlar meu nervosismo e ansiedade. Não via a hora que chegasse o tão esperado dia, em que minha vida mudaria completamente para melhor ou para pior.

Quando chegou o dia de descanso, levantei e fiquei caminhando pelo quartel vestida com minhas roupas comuns. Não queria dar pista que estava esperando por qualquer coisa.

Não encontrei nenhum outro colega de grupo, e imaginei que estivessem todos no avião, matando tempo e se mantendo longe dos comandos dos superiores no quartel.

As únicas que participariam da missão e que continuariam ali no quartel era eu e Khaless. Mas eu não havia visto ela naquele dia, o que era comum, considerando que ela trabalhava na clínica médica e não tinha motivos para ficar caminhando pelos corredores perto do meu alojamento.

Mais ou menos as onze de manhã, soou um alarme, como o alarme de incêndio e todos os soldados presentes se reuniram no refeitório do quartel, o único lugar capaz de abrigar todos os militares.

Os tenentes, juntamente com Alexandre, o único sargento presente, ordenaram que todos colocassem suas fardas e estivessem prontos o mais rápido possível em frente ao portão para que seguíssemos até a capital, onde havia um grande tumulto e protesto que teríamos que dar jeito.

Vesti minha farda de militar, ignorando meu uniforme de guarda pessoal, para que não chamasse a atenção, e dei um jeito de conseguir pegar tudo que eu precisava, duas armas, uma faca, algumas balas, duas algemas e um colete a prova de balas. Escondi tudo por baixo da minha farda e fui para o portão de saída do quartel, que estava uma confusão. Tanta, que ninguém percebeu quando eu sai dali e segui a pé até o palácio do governo.

Chegando lá, avisei o único guarda da entrada que tinha sido mandada para proteger a governante, enquanto meus colegas estavam a caminho do centro da capital. Ele não me questionou e me autorizou a entrada.

Por todos os demais guardas que passei, falei a mesma coisa, e nenhum desconfiou de nada. Subi até o terceiro andar e encontrei apenas dois guardas ali, o normal eram ter no mínimo oito. Tudo estava ocorrendo como o planejado. A maioria dos guardas tinha ido ajudar a conter o protesto.

– Vim proteger a governante, sou sua guarda pessoal. Você saberia me informar a onde ela está? - perguntei a um dos guardas parado perto da entrada daquele andar.

Ele me reconheceu, eu cruzava diariamente por ali seguindo Margareth.

– A excelentíssima está na sala de sauna e massagem. - respondeu ele.

Pedi licença e fui para a sala indicada por ele, que era naquele mesmo andar, no final do corredor. No caminho passei pelo outro guarda e lhe dei um breve cumprimento, ele me reconheceu também e não fez nenhuma objeção por eu me aproximar de onde estava Margareth, e nem precisei explicar que tinha vindo para protegê-la.

Bati na porta e esperei até que um homem semi-nu abriu-a para mim. Me apresentei e pedi licença para entrar. Margareth estava deitada de bruços pelada em uma maca, enquanto, pelo que parecia, o que cara lhe fazia massagem. Ele era um homem bonito, com uma cor bronzeada, cabelos escuros e corpo bem definido.

– Excelentíssima – eu disse, chamando a atenção dela – Peço desculpa pela intromissão. Fiquei sabendo da confusão no centro da capital e não pude ir para lá junto com meus colegas. Meu dever em protegê-la falou mais alto e vim aqui para cumprir minha função e garantir que nada lhe aconteça.

Margareth olhou para mim e depois para um outro guarda parado em um canto daquela sala. Eu não tinha reparado nele antes, mas devia ser o guarda pessoal substituto dela. Quando eu não estava trabalhando, durante meu dia de folga, e à noite, era ele quem ficava com ela. Os governantes não podiam ficar desprotegidos por um minuto que fosse, sempre tinha alguém com eles. Mas eu era a guarda pessoal oficial dela.

– Se faz tanta questão, fique e faça seu trabalho - ela disse dando de ombros. - Você está liberado – ela falou com o outro guarda.

Ele fez uma reverência à ela, e saiu. Fui para o lugar onde antes ele estava e tentei pensar em alguma coisa para que eu conseguisse prendê-la sem que ninguém percebesse.

– Excelentíssima, quando terminar sua massagem aconselho que vá para o seu quarto. Só por precaução. Não temos muito guardas no palácio e eu conseguiria garantir melhor a sua segurança lá em cima. - eu disse profissionalmente. A minha intenção era que pudéssemos ficar sozinhas.

– Acho que já terminamos por hoje. - Margareth ouviu meu conselho e se dirigiu ao seu massagista, que usava apenas um pequeno calção de banho. - Passe no meu quarto, hoje a noite – ela ordenou a ele e deu lhe um beijo na boca.

Depois disso se vestiu e foi pra seu quarto. Comigo atrás. Reparei que tinham apenas 3 guardas no quarto andar. Um número razoavelmente pequeno. Um dos guardas estava à porta do quarto de Margareth e os outros dois na porta do quarto dos outros governantes.

Eu teria que arrumar um jeito de prendê-la em seu próprio quarto sem chamar a atenção do guarda à porta.

Margareth chegou e foi imediatamente tomar um banho. Eu não precisava segui-la no banheiro, então fiquei no quarto, me preparando para o ataque quando voltasse. Conferi se minha arma estava pronta, deixei uma algema a postos, e rasguei um pedaço da cortina da janela para que pudesse usar como mordaça em Margareth para evitar que ela gritasse e pedisse ajuda.

Quando escutei o barulho do chuveiro sendo desligado, segurei a arma para trás do meu corpo, e prendi a algema e o pedaço de cortina no meu cinto. Em seguida me aproximei da porta do banheiro, abri e entrei, apontando a arma a Margareth.

Ela estava secando o corpo, e demorou uns segundos para me notar.

– Se vista agora mesmo, e não fale nada, se não eu atiro. - ordenei, falando baixo, mas rudemente.

Margareth olhou para mim e me analisou por alguns segundos, decidindo se eu estava falando sério ou não. Por fim ela resolveu não arriscar e começou a se vestir lentamente. Quando terminou pedi que estendesse as mãos. Foi o que fez e eu prendi uma algema na mão dela e a outra em um ferro do box do banheiro.

Deixá-la presa ali era a melhor opção. Seria mais difícil alguém ouvi-la no corredor.

– O que está acontecendo? - ela enfim conseguiu perguntar. Por mais que Margareth fosse uma pessoa sangue-frio e sem coração, que fazia de tudo pelo poder, sem se preocupar com os outros, ela não estava acostumada a ter uma arma apontada para sua cabeça e estava nervosa, tremendo toda.

– Cale a boca ou vou atirar – reclamei.

Eu me sentia mal por estar fazendo aquilo, nunca pensei que seria capaz. Mas era o que teria que ser feito. Tentei pensar que eu não estava fazendo nenhum mal a ela, apenas a estava prendendo. E ela merecia muito mais que aquilo por tudo que tinha feito.

Tirei o pedaço de pano e me ajoelhei no chão do banheiro, prendendo a boca de Margareth, para que não gritasse.

– Estamos invadindo o governo. - eu disse a ela. - Vamos assumir o poder.

Margareth tentou resmungar alguma coisa, mas eu sai do banheiro, trancando a porta e dizendo que logo voltaria para buscá-la.

No quarto rasguei outra tira da cortina e peguei a outra algema que eu havia trazido. Margareth resmungava mais alto no banheiro, tentando chamar atenção, mas o som era abafado pela parede e ninguém que não estivesse no quarto conseguiria ouvir.

Passei para o próximo passo. Deter Margareth tinha sido fácil, o problema agora era com o guarda que estava na porta. Me dirigi até a entrada do quarto, e segurando a minha arma atrás do meu corpo para que ele não visse, abri a porta:

– Soldado, você poderia nos ajudar, um pouquinho? Margareth está trancada no banheiro. - usei minha voz doce e sorri para ele.

O guarda não pensou duas vezes e entrou no quarto, passando por mim. Fechei a porta e a tranquei assim que ele entrou. Em seguida mirei a arma para ele e fui andando atrás, sem que ele percebesse o que eu estava fazendo.

Quando ele chegou perto do banheiro, ouviu os ruídos que vinham lá de dentro e percebeu que alguma coisa estava errada. Mas já era tarde demais para ele. Eu segurava minha arma encostada em sua cabeça e tinha a outra mão em seu cinto, puxando a sua própria arma.

– Se renda ou eu atiro. - falei, puxando a arma dele e jogando-a do outro lado do quarto.

Como Margareth havia feito, ele me encarou por um momento, tentando ver se eu seria capaz de atirar mesmo. Por fim, acabou decidindo que não e partiu para cima de mim, empurrando minha mão para o lado e tirando a mira do revólver de si mesmo.

Ele me empurrou para o chão, e como eu não estava preparada para aquilo, quase cai. Ainda segurava a arma na mão, mas não teria coragem de atirar nele de verdade. Ele estava apenas cumprindo sua obrigação.

Mas ele não estava hesitante como eu, e mesmo sem uma arma de fogo, começou a revidar contra mim e me bater. Eu havia treinado bastante, e sabia exatamente como me defender. Foi o que fiz, fiquei me defendendo e acertando alguns poucos golpes nele.

Por fim, ele conseguiu me derrubar e estava vindo para cima de mim. Sem pensar duas vezes, mirei em sua perna e atirei, apenas para incapacitá-lo. Ele caiu no chão e eu me levantei correndo em sua direção. Me aproximei e peguei a algema conseguindo prender em uma de suas mãos, enquanto ele apertava a perna atingida. Quando se deu conta do que eu fazia, ele voltou a reagir, e tentou me dar um soco no rosto. Me defendi e lhe dei uma cotovelada no estômago, exatamente como Júlio havia me ensinado para fazer em situações como aquela.

Mirei a arma para ele caído no chão, e disse:

– Se renda que não atiro. Mas se eu não tiver outra opção vou ter que te matar. Você quem escolhe. Ou fica vivo e se rende, ou continua lutando e morre.

O guarda apenas ficou me olhando e não reagiu mais. Ele não era tão bom soldado quanto parecia, se havia se rendido. Me aproximei ainda mais dele, mantendo a arma apontada e fiz com que se levantasse e seguisse até a beirada da cama de Margareth. Lá o empurrei para o chão, e rapidamente prendi a outra parte da algema na sua outra mão, deixando o preso com as mãos ao redor do pé da cama.

Amordacei também sua boca e ele voltou a tentar lutar, mexendo o corpo, e tentando me acertar com a perna que não estava ferida. Me levantei de pé, e respirei fundo. Mais uma etapa concluída.

A adrenalina tomava conta de mim, mas eu sabia que quando ela passasse, ficaria toda dolorida pelo embate corpo a corpo com o guarda.

Eu não havia percebido que estava com o tronco abaixado, quando ouvi uma batida na porta, me ergui rapidamente e fui correndo para a porta com a arma apontada. Devia ser algum outro guarda que tinha escutado os barulhos ou muitos outros guardas. Se fosse esse último caso, eu estaria ferrada, mas não cairia sem lutar.

Destranquei a porta lentamente e a abri, me mantendo protegida por ela, e com uma arma apontada para quem estivesse ali.

Qual foi a minha surpresa em ver Khaless, sozinha, vestida com um uniforme branco e com uma maleta parada na porta. Quase tinha me esquecido que ela iria vir atrás de mim no quarto de Margareth para que seguíssemos até a sala das câmeras.

Ela deu uma olhada para o lado antes de falar comigo. Provavelmente, um dos guardas dos outros quartos estava de olho nela.

– Foi daqui que chamaram uma médica do quartel? - ela perguntou em tom profissional.

Abaixei a arma e respondi, alto o suficiente para que o guarda no corredor ouvisse.

– Sim, foi aqui mesmo. Pode entrar.

Ela entrou e eu tranquei a porta novamente. Khaless ficou horrorizada com a cena que viu, uma mancha de sangue no chão, onde eu havia atirado no guarda e outra possa enorme de sangue onde ele estava sentado algemado.

– O que você fez? - ela perguntou olhando pra mim.

– Fiz o que era preciso. Margareth está presa no banheiro. E ele era o guarda que estava de vigia na porta. - apontei pro cara quase desmaiado, encostado na cama e amordaçado.

– Ele está ferido. - ela me disse. - Deixe eu tratar ele antes de seguirmos. Vai ser rápido. - olhei para ela pensando se perder tempo seria uma coisa boa. Os outros guardas no corredor já deveriam estar desconfiados e logo veriam ver o que estava acontecendo. - Se deixarmos ele assim, vai morrer por perda de sangue.

Eu não havia pensado nisso. Achei que mirar e atirar na perna seria o suficiente para impedi-lo de continuar lutando comigo e que não causaria um risco de vida a ele. Concordei com ela e deixei que ela cuidasse da situação.

Khaless abriu sua maleta cheia de coisas, pegou uma seringa, e rasgando a calça do soldado, deixou o ferimento a mostra. Tinha sido na coxa e não propriamente na perna. Eu não conseguia ver muita coisa, só muito sangue. Senti um embrulho no estômago e tentei me controlar. Ela pegou a seringa e enfiou na pele dele, próximo ao buraco da bala. Em seguida pediu:

– Segure ele para que não se mexa. Eu vou tirar a bala. - fiz o que ela pediu, mesmo achando que no estado em que ele estava não sentiria muita coisa.

Ela tirou uma faca da maleta e higienizou a mão e a faca com álcool. Em seguida colocou a faca no buraco na coxa e usou força para forçar a bala a sair. A bala saiu com facilidade, Khaless tinha habilidade naquilo, e o guarda, como eu imaginava, nem tinha se mexido. Ao contrário, havia desmaiado de vez.

O sangue começou a sair ainda mais. Eu já estava desesperada naquele momento. Me retirei um pouco de perto deles, e percebi depois que ela se mantinha calma e começava a costurar o ferimento. Quando terminou o sangue diminuiu e ela pegou uma atadura e amarrou firme na perna dele.

Em seguida se levantou, guardou suas coisas, e fechando a maleta disse:

– Não há mais nada que eu possa fazer no momento. Vamos deixá-lo.

Concordei e comecei a ir em direção a porta.

– Antes de desligar as câmeras precisamos deter os outros guardas do corredor. Se não eles podem vir aqui e soltar Margareth.

Khaless concordou com a cabeça e lembrando de alguma coisa, abriu a maleta.

– Trouxe isso – ela me entregou uma munição de arma – Eles não causam ferimentos, mas fazem as pessoas dormir profundamente. São como dardos, mas podem ser usado na sua arma.

– Obrigado. - Peguei e troquei as balas convencionais do meu revólver por aquelas. Seria melhor que eu não tivesse que ferir gravemente mais alguém.

Antes de sair, combinamos um plano. Nos aproximaríamos, cada uma de um guarda, e na hora certa, atiraríamos neles sem que percebessem.

Foi o que fizemos, sem dificuldade alguma. Os guardas acharam que queríamos alguma coisa e não perceberam nada até que sentiram a bala entrando. Mas aí já era tarde demais, já estavam caindo desmaiados.

Ninguém escutou nada, pois tínhamos silenciador nas armas, e não tinha ninguém além de nós no corredor para ver aquilo. Puxamos os dois guardas até o quarto de Margareth e os deixamos lá, para que ninguém percebesse duas pessoas caídas no chão em um corredor. Eu queria garantir, e prender os dois soldados, mas Khaless me garantiu que eles permaneceriam desacordados por umas doze horas.

Descemos para o terceiro andar como se nada tivesse acontecido. Os mesmos dois guardas de antes permaneciam por lá. Expliquei a eles, que aquela médica tinha aparecido no quarto de Margareth e falado que um guarda a havia chamado para atender a outro soldado que estaria passando mal. Perguntei se era algum dele e eles negaram. Em seguida falei que ia levá-la até a sala de monitoramento para ver se não era nenhum dos soldados de lá.

Eles não se importaram quanto a isso e seguimos tranquilamente até a sala das câmeras. Batemos na porta e um guarda abriu. Sem que ele mandasse, entramos e fechamos a porta atrás de nós. Os dois guardas presentes na sala estranharam aquilo, mas pareceram me reconhecer como guarda pessoal de Margareth.

– Foram vocês que chamaram uma médica do quartel? - perguntei os distraindo, enquanto sacava minha arma e mirava em um deles. O que estava mais perto de mim. Atirei em seu peito e no mesmo momento ele caiu no chão.

Khaless não foi tão habilidosa quanto eu e acabou errando o tiro, fazendo com que o outro guarda sacasse a sua arma e atirasse em minha direção. Consegui desviar, mas, mesmo assim, senti uma coisa quente me acertando perto da cintura. Ignorei a dor, e atirei nele, fazendo com que desmaiasse também.

Sem pensar duas vezes, ao ver os guardas caídos, Khaless começou a mexer em um dos computadores da sala. Aproveitei a oportunidade e ergui a parte de cima da minha farda dando uma olhada onde o guarda havia me atingido.

Eu tinha esquecido que estava usando um colete a prova de balas e foi ele o responsável por não ter um estrago grande em mim. A bala tinha me atingido exatamente onde o colete acabava e por isso tinha me perfurado um pouco, mas não tanto. Provavelmente o colete tinha impedido um pouco do impacto, fazendo com que a bala estivesse visível em minha pele, não muito fundo e impedindo que saísse sangue. Só um pouquinho.

Mas mesmo assim eu sentia a dor e a queimação. Tentei ignorar aquilo e abaixei minha farda, escondendo o ferimento. Lidaria com ele mais tarde, por enquanto eu não sofria risco, além da dor e não daria nada se eu não mexesse no machucado. Tinha outras coisas com o que me preocupar.

Fiquei olhando para Khaless enquanto ela digitava uma infinidade de códigos na tela do computador. Depois de alguns minutos vi todos os monitores da sala ficando pretos e Khaless comemorando que havia conseguido.

Ela pegou um celular na sua maleta, discou alguns números e falou:

– Tudo certo. Podem invadir. - em seguida ouviu alguma coisa – Sim, ela está presa. - mais uns instantes enquanto ficava calada – Ok. Vamos para lá.

Khaless desligou o telefone e olhou pra mim, que ainda tentava ignorar a dor da bala:

– Thomas disse que é pra nós voltarmos para o quarto de Margareth e cuidar para que ela permaneça presa. O resto é com eles.

Concordei e saímos da sala de câmeras normalmente. Passando por um dos guardas, achei que devia uma explicação:

– Não eram eles quem a haviam chamado – eu disse – Mas um deles não estava se sentindo muito bem e quis uma consulta mesmo assim – alguma coisa tinha que justificar a nossa demora lá dentro. - Só que era só pressão baixa. Ele já está melhor. Vamos ver com Margareth se você está dispensada – falei para Khaless e seguimos nas escadas acima.

Foi um sacrifício para mim, subir cada um dos degraus. O movimento de erguer a perna direita parecia apertar meu ferimento e fazê-lo arder ainda mais. Disfarcei a dor, e mantive minha expressão normal, para que Khaless não percebesse.

No quarto de Margareth verifiquei se ela continuava lá, e depois me sentei em uma cadeira. Tentando ignorar os três militares desmaiados e a minha dor.

Cogitei em mostrar para Khaless meu ferimento.Enquanto esperávamos pelos outros, ela podia dar um jeito. Mas achei melhor não. Ela iria querer tirar a bala, o que faria o ferimento sangrar e doer ainda mais. E depois iria costurar e fazer com que eu não fizesse mais nem um exercício por aquele dia. Mas eu não tinha terminado ainda.

Tinha que libertar Júlio! Só depois que isso fosse feito poderia relaxar e cuidar de mim mesma.

Permanecemos esperando por um bom tempo, até que ouvimos uma batida porta. Me ergui rapidamente e peguei minha arma. Fiz sinal para que Khaless se colocasse em posição também.

Quando vi que ela estava pronta e com a arma em punhos, destranquei a porta e a abri, não fazendo questão de me esconder mais.

Eram Thomas, Danilo e mais uns 5 militares, que faziam parte do grupo da missão, mas que eu não me lembrava o nome. Todos eles estavam com armas também. Alguns como Thomas, com um fuzil.

Fiz sinal para que entrassem, Danilo foi o primeiro a passar por mim, sorrindo, em seguida passou Thomas e mais outros dois. O restante permaneceu do lado de fora. Fechei a porta e olhei para eles:

– Como foram?

– Tudo certo. - respondeu Thomas indiferente a mim, procurando alguma coisa pelo quarto e nem se importando com as marcas de sangue e os soldados caídos. - Cadê Margareth?

– Está no banheiro. - eu disse. - Vou buscá-la.

Peguei a chave do banheiro no meu bolso e destranquei a porta. Vi Danilo ao meu lado. Ele entrou antes que eu, e apressou-se em pegar uma chave que estava com ele e soltar a algema de Margareth. A maioria das algemas podia ser aberta por uma chave mestre.

Ele deixou um lado da algema preso em Margareth e o outro prendeu no próprio braço. Em seguida, ergueu a governante, que olhava assustada para nós e começou a empurrá-la para frente.

Peguei no outro braço dela, e comecei a puxá-la também. Levando a para Thomas.

Ele tinha um papel na mão e uma caneta. Ele colocou o papel em cima de uma cômoda próxima e pegou sua arma, mirando para ela:

– Você vai assinar aquele papel, se não quiser morrer. - ele rugiu e sua expressão ficou mortal.

Soltei Margareth e ela se aproximou do papel e o pegou na mão livre para que pudesse ler. A leitura demorou um tempo e Thomas já estava impaciente com a arma apontada para ela. Por fim, ela terminou, colocou o papel na cômoda, pegou a caneta e começou a assinar enquanto falava:

– Era minha intenção fazer isso. Mas não agora. Sempre planejei que ela fosse a minha sucessora.

Não entendi o que ela queria dizer com aquilo. Thomas pegou o papel depois que ela assinou e eu pedi:

– Posso ver?

Ele me alcançou e eu comecei a ler. Margareth tinha assinado que abria mão do poder de governante e o passava para mim.

– Mas eu... - olhei chocada para Thomas. - Eu não queria isso, e você também não.

– Pensei melhor e achei que talvez Júlio estivesse com a razão. Você parece qualificada e confiável para isso. - Thomas deu de ombros.

Sorri para Thomas. Nos últimos dias ele estava se mostrando uma pessoa bem melhor do que eu imaginava. Talvez Júlio não estivesse tão louco assim quando disse que no fundo ele era uma pessoa legal.

Mas o meu julgamento sobre Thomas ser uma pessoa melhor durou pouco tempo. Até que ele ordenasse a um dos outros soldados:

– Agora pode executá-la. - apontou para Margareth.

Achei que tivesse ouvido errado:

– O que? Você não vai matá-la! - segurei o soldado, que já tinha uma arma na mão, indo em direção a ela.

– É claro que vai. - foi Danilo que me respondeu, tristemente – Ele já fez isso com os outros dois.

Margareth caiu de joelhos no chão e começou a chorar. Ela tinha acabado de saber que ia ser morta e que seu irmão já estava morto. Sua reação não era exagerada.

Por mais que Margareth não fosse a pior pessoa do mundo, não deveria ser morta. Nenhum dos outros deveriam ter sido. Eu concordava plenamente com Júlio. Essa não era a melhor opção.

E além do mais, do seu jeito, Margareth tinha sido uma pessoa legal comigo. Não podia vê-la indefesa e morrendo. Eu impediria aquilo.

– Se depender de mim, você não vai. - me joguei na frente de Margareth, ficando de pé e a protegendo. Enquanto desafiava Thomas – Não era isso que estava combinado. Não era isso que Júlio queria.

– Nada estava combinado – Thomas deu um passo para a frente. Ficando frente a frente comigo. - Não chegamos a um consenso aquele dia. E como Júlio está preso achei que cabia a mim sozinho decidir.

Tomei uma decisão drástica. Tinha que contar que os outros ali presente me apoiariam. Se não me apoiassem, Thomas poderia ordenar que me matassem também.

– Não posso fazer mais nada pelos outros. - disse olhando fundo nos olhos dele e impondo minha vontade – Mas por Margareth eu ainda posso. Você não vai matá-la. Pelo papel que ela acabou de assinar, temos o mesmo poder de decisão agora. - chacoalhei o papel que permanecia na minha mão. - Vamos levá-la para a prisão e libertar Júlio.

Thomas me olhou por mais alguns segundos, mas como tinha sido na noite em que prenderam Júlio, ele não se opôs a mim, depois que falei autoritariamente com ele. Saiu do quarto e seguiu para algum lugar que não vi.

Me virei para Margareth e soltei a algema que a prendia a Danilo, e a coloquei na outra mão dela. Em seguida olhando pra todos na sala, pedi:

– Vamos levá-la para a prisão.

Rapidamente Danilo ergueu Margareth do chão, que ainda chorava, e começou a empurrar porta a fora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ufa! Por hoje é isso. Próximo capítulo é eles libertando Júlio.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Missão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.