A Missão escrita por StefaniPPaludo


Capítulo 61
Capítulo 40


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora em postar. Mas é que to me escabelando com meu trabalho de conclusão que tenho que entregar até sexta-feira.
Em compensação vou postar um capítulo grande agora e se puder mais um à noite.
Espero que gostem.



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A cidade de Júlio e Danilo, Meric, era muito parecida com Crytur. E nem prestei muita atenção enquanto cruzávamos por ela. Comecei a reparar mesmo, quando Júlio entrou em um condomínio cheio de prédios. Ele estacionou o carro em frente ao segundo prédio perto da entrada e anunciou:

– Chegamos.

Descemos do carro e os meninos me guiaram para dentro do prédio de oito andares. Na entrada havia um zelador na casa dos 60 anos, sem cabelo e barrigudo. Ele ficou surpreso ao ver os irmãos Anthoni chegando:

– Não acredito! Quando tempo que não vejo vocês. Venham aqui me dar um abraço. - exclamou o senhor, indo rapidamente de braços abertos em direção ao Danilo. - Como você mudou Danilinho! Me lembro quando você era desse tamanho – o cara mostrou no ar a altura de um metro – Como foi seu treinamento lá no quartel? Já se formou?

Danilo abraçou o senhor também e respondeu educadamente a todas as perguntas. Em seguida foi a vez dele abraçar o Júlio e enchê-lo de perguntas:

– E você Júlio? Virou sargento e esqueceu das origens?

– Não. Eu nunca me esqueceria de Meric ou de você, seu João. Só não tenho mais tanto tempo para vir visitar. - Júlio abraçou o velho, e ele pareceu contente por Júlio dizer que nunca se esqueceria dele.

Quando os cumprimentos terminaram, seu João reparou em mim, que permanecia mais ao lado deles, só observando.

– E quem é essa moça bonita? - disse ele, se aproximando de mim e me olhando atentamente.

– Ela é nossa amiga – Danilo explicou – Liss esse é o João, ele é o zelador do prédio e nos conhece desde que nascemos.

Estendi a mão para ele, e ele apertou minha mão, mas me puxou para uma abraço também.

– Quanto tempo vocês vão ficar? - perguntou João, assim que me soltou.

– Só por hoje. É o nosso dia de descanso, mas amanha temos que trabalhar de novo. - Júlio falou calmamente, sorrindo um pouco. Tão longe do quartel, ele parecia outra pessoa.

– Que pena. Se bem que, pelo menos, vocês tem um dia de descanso. Nós não temos nenhum.

– É mesmo. Foi por isso que eu sempre quis ser militar – concordou Danilo – Nós vamos subir, fazer uma surpresa pra mamãe. Até mais seu João.

– Até crianças. - ele começou a abanar, enquanto saiamos. - Dona Silvia vai ficar muito feliz em ver vocês. Seu pai também ficaria muito orgulhoso.

Entramos no elevador e deixamos João falando sozinho.

O apartamento da mãe deles, era no sexto andar, e quando saímos do elevador. Eu achei que seria bom admitir para eles, enquanto ainda era tempo:

– Se eu disser que estou nervosa com isso, vocês vão rir de mim?

Os dois pararam e me olharam, me avaliando.

– Não Liss. Entendemos que esteja nervosa. Mas não tem porque estar. - Júlio pegou a minha mão.

– Olha, eu riria de você sim. - zombou Danilo. - Você enfrentou tantas coisas lá no quartel e está com medo de conhecer uma pessoa? Isso é irônico -Ele quase saiu correndo para apertar a campainha do apartamento, enquanto eu e Júlio seguíamos mais atrás.

Paramos em frente a porta esperando que alguém viesse abrir.

Meu coração parecia querer saltar do peito, e minha boca estava seca. Soltei a mão de Júlio e sequei o suor das minhas na minha calça jeans, minhas mãos estavam muito geladas. Eu estava muito nervosa. Por mais que eles me garantisse que a mãe deles era tranquila, que iria gostar de mim. Eu tinha certo receio. Eu não chegava nem perto da namorada ideal para Júlio. Uma mãe nunca aprovaria alguém como eu para seu filho.

Tentei me lembrar que ela não tinha que aprovar nada. Não estávamos namorando de verdade. Eu tinha que focar no importante. Na conversa sobre a Missão.

A porta abriu, e eu respirei fundo. Uma mulher entre 40 e 50 anos estava lá, olhando surpresa para nós. Ela correu e abraçou Danilo, o que estava mais perto dela. Em seguida abraçou Júlio.

Quando ela vinha pro meu lado me cumprimentar, Júlio se apressou em me apresentar:

– Mamãe essa é a minha namorada – ele pareceu ter dificuldades em falar as palavras.

Me aproximei dela, e achei mais adequado lhe dar um beijo no rosto do que lhe oferecer um aperto de mão.

– Prazer, meu nome é Liss. - eu disse, tentando sorrir e controlar o nervosismo.

– O prazer é todo meu, querida. Sou Silvia. - ela tinha cabelos castanhos claros e algumas rugas no rosto. Sua altura era mediana e não podia ser considerada nem magra, nem gorda. Mas na aparência toda, ela parecia ser simpática. - Que bela surpresa vocês me deram... Entrem.

Segui-os para dentro do apartamento, que não era muito sofisticado, mas parecia muito confortável e aconchegante. Tudo era simples, uma casa típica de classe média, e tudo muito organizado.

– Fiquem à vontade. - Silvia disse, mais pra mim do que pra eles. - Sua avó está aqui também, vou lá buscá-la.

Danilo e Júlio se olharam e sorriram felizes. Não sabia que eles tinham uma vó. Nunca nenhum dos dois havia me comentado isso. Silvia entrou mais para dentro de casa e nos deixou lá na sala.

– Eu vou largar essa mochila, rapidinho lá no meu quarto. E já volto. - falou Júlio para mim e se foi também. Eu nem tinha reparado que ele havia trazido uma mochila.

Danilo e eu ficamos na sala, ele correu e se jogou em uma poltrona. Parecia uma criança em um parque de diversão.

– Pode sentar-se, Liss. - convidou ele, e eu me sentei em um sofá de couro.

Rapidamente Júlio estava de volta e sentado ao meu lado. Uns instantes depois, Silvia voltou, trazendo pelo braço uma senhora pequena, com o cabelo todo grisalho, a pele enrugada, um pouco gorda e usando óculos.

Danilo foi rapidamente cumprimentar a avó. Júlio o seguiu e me levou com ele. Depois das apresentações feitas, sentamo-nos todos na sala, para conversar:

– Como vocês estão? - perguntou Júlio.

– Estamos bem – respondeu Silvia, olhando feliz para o filho. Deve ser uma grande emoção para uma mãe rever seus filhos. Imagino como seria se eu reencontrasse meus pais, depois de tanto tempo. - Sua vó que anda com alguns problemas de saúde, mas nada grave. Ela tá morando aqui comigo, agora.

– É verdade vovó? O que a senhora tem? - Era tão fofo ver o Júlio preocupado com a sua família. E ainda melhor vê-lo relaxado e completamente à vontade, sem nenhum resquício do sargento durão que ele era no quartel.

– Ah, meu filho, tantas coisas – começou a dizer a avó. Ela parecia ter uns 80 anos. - Meu médico disse que minha pressão tá desregulada, e me deu pra tomar dois remédios por dia. E também ele disse que eu to com problema de triglicerídeos, colesterol alto e alzheimer e me deu mais remédios. Nunca tomei tanto remédio na minha vida. To pensando em pedir um remédio para conseguir lembrar de tomar todos os remédios. - ela deu uma pausa enquanto sorriamos um pouco com sua piadinha – Ser velho não é nada fácil...

– Quê isso vovó? A senhora tá em forma! - Danilo a incentivou – Como diziam mesmo na sua época? Tá um verdadeiro brotinho.

A vó riu e agradeceu, e o assunto acabou morrendo. Quem voltou a puxar conversa foi a dona da casa:

– Não sabia que você tinha uma namorada, Júlio. - Silvia disse olhando para nós e sorrindo. A primeira impressão é que ela parecia ter gostado de mim.

Júlio se virou para mim antes de responder, e sorriu como se estivesse verdadeiramente apaixonado. Ele era muito bom ator.

– Começamos a namorar a pouco tempo. - ele deu de ombros.

– Quem tá namorando? - interrompeu a vó, mexendo em seus óculos.

– O Júlio. - explicou Silvia. - Essa moça é a namorada dele.

– Ah! - concordou a velha e ficou me fitando por bastante tempo, me analisando bem. Senti minhas bochechas corarem.

– E como foi seu treinamento Danilo? - Silvia fez questão de mudar de assunto, para ver se a vó parava de olhar para mim e prestava atenção nela.

– Foi duro! O começo foi fácil, mas depois no final ficou mais difícil.

– Ele está sendo modesto. - sorriu Júlio – Danilo foi muito bem em tudo. Eu fui professor deles por um tempo e depois ajudei a supervisionar tudo. Ele e Liss foram os melhores da turma.

Sorri com aquilo. Não sabia que tínhamos sido uns dos melhores da turma. Na verdade, o Danilo era de se imaginar que sim, na minha opinião ele era o melhor da turma mesmo. Mas eu não. Me considerava regular, e fiquei feliz em ver que Júlio não achava isso.

– Agora eu to treinando para ser um atirador de elite – Danilo prosseguiu, todo orgulhoso de si mesmo. Aquilo fez com que a vó deles parasse de olhar para mim e prestasse atenção na conversa.

– Fico feliz, filho – Silvia sorriu para Danilo. - Parabéns. E parabéns para você também, Liss.

– Obrigada. - agradeci.

A conversa continuou por mais um tempo. Depois Silvia pediu licença para ir preparar o almoço e Danilo quis ir rever seu quarto. Júlio aproveitou a deixa e também me convidou para ir conhecer a casa.

Ele me levou por todos os cômodos, desde a cozinha, banheiro, e os quartos. O seu quarto era simples, mas bonito. Tinha uma cama, um guarda-roupa, uma escrivaninha, e algumas fotos na parede. Também tinha pendurado em uma das paredes uma espingarda antiga, e uma estante cheia de livros, todos muito bem organizados.

Na sua mesa de cabeceira havia um porta retrato com a foto da família. Peguei-o na mão para olhar melhor. Júlio viu meu interesse e se aproximou, ficando atrás de mim para me explicar:

– Esse é o meu pai. - ele apontou para um homem moreno sorrindo. O cara era forte e bonito, seu sorriso e seus olhos eram iguais aos de Júlio e Danilo.

– Você é muito parecido com ele. - comentei.

– Todo mundo diz isso. E esses aqui são eu, e o Danilo. - ele apontou para duas crianças na foto. Júlio parecia ter 6 anos e Danilo parecia ter 2.

– Awn... que fofos! - não pude deixar de notar, eles eram muito mais lindos ainda quando crianças. Júlio tinha um sorriso sapeca no rosto, e Danilo olhava com curiosidade. - Vocês eram muito lindinhos!

Júlio sorriu:

– Que conhecer o quarto do Danilo também? Acho que ele não vai se importar.

–Claro.

Fomos para o quarto de Danilo e Júlio bateu na porta.

– Nós já vamos falar sobre a missão? - Danilo abriu e perguntou baixo para nós.

– Não. É que estou mostrando a casa para Liss, e ela quer ver seu quarto. - explicou Júlio

– Meu quarto não é nada demais, mas entrem.

O quarto dele era completamente diferente do de Júlio. De simples não tinha nada. Na verdade era cheio de coisas. As paredes tinham vários pôsteres de bandas e de mulheres quase nuas, ele tinha vários carrinhos em miniatura em uma prateleira, e as demais coisas estavam todas bagunçadas e confusas. Era incrível como os irmãos podiam ser tão diferentes em coisas como aquelas. Enquanto o quarto de Júlio era todo organizado e simples, o de Danilo era bagunçado e todo cheio de coisas.

Saindo de lá, Júlio me levou para a última peça do apartamento. Uma espécie de área de treinamento, com um saco de pancadas, uma arma com balas de borracha, colchonetes, um tiro ao alvo, entre outras coisas.

– O pior é que não me surpreendo com isso. - eu comentei rindo. O pai deles tinha sido militar, e os filhos também seguiam o mesmo caminho. Não era de se estranhar eles terem um centro de treinamento como aquele na própria casa. O Danilo mesmo havia contado que Júlio tinha lhe ensinado várias coisas em casa, antes dele entrar no quartel.

Antes de voltarmos Júlio perguntou pra mim:

– Como está sendo? Ainda tá nervosa?

– Não to mais nervosa, e até que ta sendo muito mais fácil do que imaginei – admiti.

– Eu te disse que não tinha com o que se preocupar. Mas eu quero lhe pedir pra não dar bola se minha vó lhe falar alguma coisa que você não goste, ela não pensa muito antes de dizer algumas coisas.

– Sem problemas. Mas eu gostei dela e da sua mãe também. Elas parecem bem queridas e simpáticas.

Na sala, sentamos de novo um ao lado do outro. Somente quem estava lá, era a vó. Ele ficou nos encarando por um bom tempo, olhando atentamente de um para o outro. Por fim, perguntou:

– Como vocês se conheceram e começaram a namorar?

A resposta certa para essa pergunta era: nos conhecemos e nos aproximamos mesmo, quando sofremos um acidente de avião juntos e ficamos presos na Floresta Amazônica, e começamos a namorar quando em uma reunião decidimos que isso seria bom para facilitar nosso plano de derrubar o governo.

Mas não podíamos falar aquilo. Olhei para Júlio buscando ajuda e ele disse calmamente:

– Liss divide o dormitório com Danilo e eles são amigos. Foi Danilo quem nos apresentou. - era tão bom poder contar com ele. Júlio sempre tinha uma resposta convincente e sempre era calmo e tranquilo.

– Acho bom que tenha sido assim... -a velha resmungou, começando com um sermão – Fiquei preocupada que ela tivesse se jogado pra cima de você só porque você é sargento. Você sabe que nesse mundo existem muitas mulheres desse tipo. Não sabe meu filho?

– Sim, vovó, eu sei. E Liss, não é dessas mulheres.

– Espero que sim. - e olhando para mim a vó continuou com o sermão – Olhe minha filha, eu espero que você seja realmente boa para o meu Júlio César. Ele não é qualquer homem. Eu mesmo o ajudei a criar. Ele é muito especial. Qualquer mulher daria de tudo para ter um homem como ele. E não é qualquer uma, que será suficiente para ele. Espero que entenda isso...

– Vovô, chega. A Liss não é qualquer uma também. - Júlio me defendeu, colocando seu braço em torno do meu corpo. Ele achou que eu iria ficar chateada ou nervosa com aquilo, mas não. Eu entendia a preocupação da vó dele, e achava realmente que eu não era a garota ideal para ele.

– Tudo bem, Júlio. - olhei para ele e sorri, mostrando que não via problema naquilo – Sua vó esta certa. - e agora olhando pra ela – Também acho que Júlio não é qualquer cara. Ele é um homem maravilhoso. E como a senhora mesmo disse, foi educado muito bem. Não é qualquer menina que será digna dele. Eu mesmo acho que não sou boa o suficiente. Ele merece alguém melhor com certeza. Mas eu vou fazer de tudo que puder, para fazê-lo feliz. A senhora não tem com o que se preocupar.

A vó deles me olhou admirada. Ela tinha gostado das minhas palavras. Eu nem sabia de onde tinha tirado aquela inspiração. O início era a verdade, o que eu realmente achava. Mas o final sobre fazê-lo feliz, foi uma surpresa tanto pra mim quanto pra ela.

A velha perdeu seus argumentos e deu de ombros, pegando em uma sacola ali perto, duas agulhas de tricô e uma linha, e continuou a tricotar uma peça já começada. Reparei que Júlio tinha ficado calado, o que era estranho para ele. Me virando em sua direção, percebi que ele me olhava confuso. Quando viu que eu o olhava, ele recuperou as palavras:

– Você é mais que suficiente para mim. Inclusive eu acho que é areia de mais pro meu caminhãozinho. Mas se quiser comparar elogios, tenho uma lista enorme para você.

A vó deles não parecia mais prestar atenção em nós. Não tinha o porque continuarmos com aquela conversa estranha. Por mais que eu soubesse que era tudo fingimento, que não era real, uma parte de mim ficava confusa com tudo aquilo e queria que nossas palavras fossem sinceras mesmo.

– Não precisa. - eu disse, cortando o assunto.

Durante o almoço, sentamos todos em uma mesa para seis pessoas, enquanto comíamos. A comida estava muito boa, e me fazia lembrar muito da comida da minha mãe. Senti um aperto no peito de saudade, mas logo sufoquei.

– De onde você é Liss? - perguntou Silvia para mim, para puxar assunto.

– De uma cidade um pouco longe daqui. O nome é Crytur. Não sei se a senhora conhece. - respondi.

– Realmente não conheço. É uma cidade bonita? Seus pais moram lá? - ela prosseguiu. Senti que tinha chegado a hora do interrogatório para ver seu eu era adequada ao seu filho.

– Crytur é do tamanho de Meric, e as duas são muito parecidas. - falei, tentando controlar o nervosismo que ameaçava voltar. - E meus pais moram lá, sim. - uma pontada de tristeza me invadiu ao falar da minha família.

– E você já conheceu os pais dela, Júlio?

– Não tive essa oportunidade, ainda. Crytur fica muito longe daqui e não temos autorização para ir pra lá. - respondeu Júlio, tirando mais comida.

– Mas tente fazer o possível para conseguir uma autorização. Você não pode ficar namorando sem conhecer os pais dela. Tem que levar esse relacionamento a sério. Não pode ficar a enrolando. Ela é uma menina legal, e não foi assim que eu lhe ensinei – era engraçado ver a mãe brigando com Júlio.

Percebi de onde vinha o cavalheirismo dos irmãos. A mãe deles, realmente tinha os educado muito bem.

– Você sente falta dos seus pais? -ela prosseguiu

– Sinto. Muita. - fui sincera. - Na maior parte do tempo tento não pensar nisso, pra não ficar me lamentando. Mas em situações como hoje, é difícil não pensar neles e em como seria se eu os visse de novo.

Todo mundo ficou calado. Teria sido melhor se eu não tivesse aberto tanto meu coração. Eles não sabiam o que dizer. Silvia decidiu mudar de assunto, mas continuar com as perguntas:

– Você já tem um trabalho ou ainda não te chamaram?

– Se ela tem um trabalho? - se intrometeu Danilo, com sua empolgação de sempre. - Mamãe, Liss é a guarda pessoal da governante!

– É isso, sou a guarda pessoal da governante – tive que confirmar, pois Silvia e a avó olhavam pra Danilo como se não acreditassem nele. Depois que eu confirmei, elas voltaram seus olhares para mim, como se eu fosse algum tipo de extraterrestre.

Entendi o choque delas. Eu não parecia nem um pouco capaz de ter um trabalho como aquele. Também ficaria surpresa e sem palavras se estivesse no lugar delas.

Com aquilo, eu acho que Silvia se convenceu que eu era boa o suficiente para Júlio e parou de me fazer perguntas. Foi a vó quem começou com o interrogatório para Danilo:

– E as namoradas Danilo?

– Não tenho nenhuma, vó – ele respondeu, dando de ombro e abaixando a cabeça.

– Não tem nenhuma menina bonita por lá? - ela insistiu.

– Não tem muitas. Somente algumas. Mas elas não querem nada comigo. - Danilo soou triste.

Eu senti a indireta para mim e fiquei tensa no mesmo minuto. Júlio ao meu lado teve a mesma reação. Aquele não era um assunto bom de ser comentando entre a família. O clima ficou estranho, entre nós três. E Júlio, como sempre, foi quem se apressou em contornar a situação:

– E a Khaless, Danilo? - perguntou ele sorrindo pro irmão. Danilo pareceu ficar sem jeito. - Vocês se lembram daquela minha amiga, Khaless, que vinha aqui em casa quando éramos crianças? - as mulheres fizeram que sim com a cabeça – Ela tá trabalhando lá no quartel também, como médica, e parece que está interessada em Danilo.

Aquilo bastou para aliviar o clima da situação. Silvia começou a falar um monte de coisa sobre Khaless, a elogiá-la e contar histórias sobre ela que lembrava. Júlio e a vó ajudavam na conversa, e Danilo assim como eu, só ficava quieto, escutando os outros tentando convencê-lo a dar uma chance para Khaless.

Terminamos o almoço, e eu quis ajudar Silvia a lavar a louça e organizar a cozinha. Mas ela não deixou. Quase me expulsou de lá, dizendo que eu era visita e não podia fazer os serviços. Não tendo outra escolha, desisti de ajudar, e fui com Júlio para seu quarto. Iríamos ter a conversa com Danilo, sobre a missão.

Entrando no quarto, sentei em sua cama, enquanto ele sentava em uma cadeira próxima. Em cima da cama dele, estava a mochila que ele havia trazido.

–O que você trouxe nessa mochila? – perguntei para ele curiosa, enquanto esperávamos Danilo.

– Nada de mais. Só algumas coisas que carrego sempre comigo por precaução.

– Isso inclui uma arma? - sorri.

– Inclui. - ele concordou sorrindo também.

Era tão típico do Júlio sair preparado para tudo, mesmo que fosse visitar a sua mãe. Era até uma surpresa ele não estar com a arma presa ao cinto. Mas talvez isso fosse porque ele estava com uma roupa casual e que não dava suporte para esconder a arma.

Danilo chegou e sentou-se. Júlio me pediu para eu contasse a Danilo tudo que eu havia descoberto durante a semana. Contei tudo que me lembrava, e Júlio me ajudou com o que esqueci.

Depois disso, repassamos várias vezes o plano que tínhamos para invadir o quartel. Para termos certeza que tínhamos pensado em cada detalhe e não esqueceríamos de nada.

Estávamos concentrados, repassando pela décima vez o plano, quando escutamos uma batida na porta. Júlio se apressou em ir abrir:

– Olá vovó. - ele disse.

– O que vocês estão fazendo? - ela colocou a cabeça para dentro do quarto, olhando pra tudo e encontrando eu e Danilo lá. - Namorando com Danilo junto?

– Não vovó. Nós só estamos conversando. - Júlio parecia cansado.

– Acho bom. - e velha disse, soando brava – E não se esqueça de quando não estiverem conversando, de se prevenirem. Você é muito novo para ser pai, Júlio.

– Eu sei. Eu sei. Mas não estamos fazendo nada disso. E nem vamos fazer. A senhora precisa de alguma coisa?

– Não. Só vim ver o que estavam fazendo. Posso participar da conversa? - ela olhou esperançosa para ele.

–Estamos falando sobre coisas do quartel, vovó. A senhora não iria entender. - Júlio soou compreensivo. Ele estava se sentindo mal por ter que dispensar a vó daquele jeito.

– Tudo bem. - a senhora saiu, andando devagar e mancando, seguindo pelo corredor.

– Nós já vamos para a sala com vocês. Só um pouquinho – gritou Júlio para ela, tentando recompensar.

Ele fechou a porta e voltou pro seu lugar, e recomeçamos a repassar o plano por mais cinco vezes. No fim, fomos para a sala com a mãe e a vó deles e ficamos por lá conversando.

Já estava anoitecendo quando saímos de volta pro quartel. Durante a despedida a mãe dos garotos disse que tinha gostado muito de mim, e me convidou para voltar mais vezes. Ela também recomendou a Júlio para ele me tratar muito bem. A vó, disse que eu não era assim tão ruim para o seu neto. E ela admitir aquilo já foi uma grande vitória para mim.

A viagem de volta pareceu durar menos do que a viagem de ida. Passamos conversando quase a viagem inteira. Quando já estávamos avistando o quartel de longe, eu perguntei pros meninos:

– O que vocês acham que elas acharam de mim? - pra mim parecia que Silvia e a vó tinha gostado de me conhecer. Mas eu não conhecia elas tanto quanto eles.

– Elas te adoraram! - Júlio respondeu, não tirando os olhos da estrada. - A mamãe ficou encantada com você. Não viu como ela me fez milhares de recomendações? Como se você fosse a filha dela e não eu.

– Sem ciúmes Júlio. - brinquei.

– Não to com ciúmes. Fiquei feliz por isso, de verdade. E também nem era de se esperar outra coisa. Todos gostam de você. Mas o que interessa é o que você achou delas?

Refleti por um momento, colocando meus pensamentos em ordem.

– A vó de vocês, é uma figura. Um exemplo de vida, eu diria. E apesar dos problemas de saúde dela, se preocupa muito com vocês. E a dona Silvia, ela é uma verdadeira rainha. Simpática, querida, mãezona. Não é de se estranhar que tenha criado dois príncipes.

Júlio deu uma olhada rápida para mim e sorriu. Danilo veio pra frente, ficando entre os dois bancos:

– Você nos acha príncipes, é?

– Acho. - concordei. Por favor, que ele não confunda as coisas, que não pense que eu chamá-lo de príncipe demonstra algum interesse de minha parte.

– Haha! Você ouviu isso, Júlio? Nossa amiga aqui, disse que nós somos príncipes. Ganhei meu dia. E por acaso, você seria também uma princesa, senhorita Deboch?

– Não, não. Eu to mais pra uma plebeia. Mas não se preocupem, vocês logo encontrarão duas verdadeiras princesas, uma para cada um. - fiz questão de deixar aquilo bem claro. Eu não combinava nem um pouco com eles.

– Eu discordo quanto a você ser uma plebeia. - disse Júlio.

– Eu também – concordou Danilo.

A conversa acabou ali, pois chegamos ao portão do quartel. Júlio desceu para falar com as guardas para que pudéssemos entrar, e eu e Danilo ficamos no carro. Uns minutos depois Júlio voltou e o portão foi aberto.

Júlio dirigiu até a garagem dos carros, e estacionou. Eu estava abrindo a porta para descer quando Júlio pediu a Danilo:

– Pega minha mochila aí, Danilo.

– Que mochila? - Danilo olhava confuso para o banco e para o chão do carro.

– A minha. Desce que eu acho. - ele pediu. Danilo desceu do carro, e Júlio entrou na parte de trás, procurando sua mochila. - Não acredito! Acho que esqueci no meu quarto! - Júlio saiu do carro e parecia realmente decepcionado e triste. O que haveria naquela mochila de tão importante para ele?

– Tinha alguma coisa importante nela? - perguntei, tentando entender seu estado por ter esquecido uma coisa tão supérflua.

– Tinha.

– Tipo o que? - insistiu Danilo.

– Além de uma arma e munição, dois diários. - Júlio estava encostado no carro, se culpando mentalmente por aquela falha.

– Dois diários? De quem? - Danilo parecia cada vez mais confuso. Porque Júlio carregaria dois diários com ele?

– Meus. Um pessoal e um com todas as informações da missão.

Danilo não se aguentou e começou a rir, na frente de Júlio, que o olhou com cara feia.

– Porque você tem dois diários? - o irmão mais novo perguntou, tentando conter o riso – Isso não é coisa de menina?

– É que eu e o Thomas mantemos um diário sobre a missão para mostrar um ao outro e nos mantermos informados sobre tudo. No começo eu estava escrevendo coisas muito pessoais no diário, e então resolvi ter dois e separar as coisas.

– Você já sabe tudo de cór, Júlio. E não vai morrer de passar uns dias sem escrever sobre sua perfeita vida. E nem tem como ir buscar. Liga pra mamãe e pede pra ela guardar tudo e esconder a arma da vovó. E a única coisa que você pode fazer agora.

– Certo. Vou fazer isso. Agora vamos para nossos dormitórios que já esta tarde.

E fomos, Júlio para um lado e Danilo e eu para outro.


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Notas finais do capítulo

Eu gosto muito deste capítulo. É bom ver nossos personagens em um local diferente do quartel. Também acho engraçado certos diálogos. E o que acharam?

Já adianto que vai demorar um pouco para os Diários voltarem, já que o Júlio esqueceu em casa e não poderá mais escrever.



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