A Missão escrita por StefaniPPaludo


Capítulo 60
Capítulo 39




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A semana correu como planejada. Eu observei e descobri cada detalhe do palácio do governo e repassei tudo a Júlio. Todas as noites, íamos juntos à base de treinamento e ficávamos treinando luta e tiro ao alvo. Um pouco antes do toque de recolher eu ia para o quarto dele e lá contava tudo que havia descoberto durante o dia. Ele prestava atenção em cada detalhe do que eu dizia e fazia algumas anotações. Inclusive me fez desenhar a planta do palácio, com todas as portas, janelas, saídas e câmeras. Depois que eu já tinha dito tudo que sabia, ele me levava de volta ao meu dormitório e ia embora para o seu.

Não precisávamos demonstrar afeto em público. Apenas andávamos de mãos dadas e Júlio sempre me dava um beijo na testa quando nos despedíamos. Nada mais do que isso, e eu ficava feliz. O que ainda me incomodava um pouco eram os outros, fazendo comentários e brincadeirinhas quando cruzavam por nós. Qual o problema que eles veem em nós estarmos "namorando"? Os militares têm um coração tão duro que namorar com alguém parece uma coisa tão bizarra assim?

Dois dias antes do dia de descanso, Júlio me levou até o meu dormitório e antes de sair, falou todo empolgado:

– O que acha de conhecer a minha mãe no dia de descanso? - ele segurava minhas duas mãos e eu estava de frente para ele. Júlio tinha um pequeno sorriso no rosto, não o meu sorriso preferido, um com bem menos graça.

Fiquei olhando para ele confusa. Porque eu iria querer conhecer a mãe dele?

Júlio percebeu que eu iria perguntar o porquê ele estava sugerindo aquilo e me puxou para ele. Ele começou a beijar meu pescoço, enquanto dizia:

– Liss, não vai ser tão difícil assim. Minha mãe é querida e uma ótima sogra. Aposto que vai amar você.

Ele continuou beijando meu pescoço, e eu fiquei arrepiada. Queria que ele continuasse. E não conseguia pensar em mais nada. Só na sensação dos seus lábios em meu pescoço, me provocando calafrios, e a sua boca subindo cada vez mais. Queria que ele fosse mais rápido, queria que sua boca encontrasse a minha duma vez. Enquanto isso eu só soltava suspiros de prazer, inundada com todas aquelas sensações.

Júlio chegou à minha orelha e começou a mordiscá-la. Eu ainda tentava controlar minha respiração e pensar direito. Foi quando percebi que ele estava cochichando alguma coisa muito baixa em meu ouvido. Demorei um pouco a entender, me arrepiando ainda mais com sua voz grossa falando tão baixo perto de mim:

– ... aceite conhecer minha mãe. Amanha te explico melhor. Agora, me empurre para longe. Você não gosta de demonstração de afeto em público.

Passou uns longos segundos, até eu entender o que ele havia me dito para fazer. Enquanto isso ele continuava me beijando, chegando cada vez mais perto da minha boca, já segurando meu cabelo, puxando meu corpo contra o seu...

Reuni toda a força de vontade que tinha e empurrei-o para longe de mim. Logo que ele se afastou pude voltar a entender tudo. Aquilo tinha alguma coisa a ver com a missão. Ele estava interpretando o namorado, e eu devia interpretar a namorada corretamente, não me deixar levar pelas minhas verdadeiras sensações. Mas era estranho, ele nunca tinha se aproximado tanto de mim daquele jeito.

– Júlio, hoje não. E não aqui. - consegui fingir uma reação apropriada.

– Tudo bem. - ele sorriu. Pelo que conheço ele, aquele sorriso era porque eu tinha entendido o seu recado – Mas então aceitei conhecer a sua sogra.

– E se ela não gostar de mim? - perguntei.

– Ela vai gostar, eu tenho certeza. Todos gostam de você. - ele continuava sorrindo.

– Ok. O que eu não faço por você?! - Haha! Aquela tinha sido uma frase boa, de uma menina tipicamente apaixonada e bobinha.

– Então vou conseguir uma permissão para você sair comigo no dia de descanso. - ele se aproximou de mim, segurou minha cabeça e me deu beijo na testa. Quando se afastou olhou fundo nos meus olhos e foi como se eu percebesse várias coisas naquele olhar. Primeiro os olhos dele estavam brilhantes e felizes, como quando ele falava em derrubar o governo, mas tinha alguma coisa a mais, talvez desejo? Ou alguma coisa assim. Parecia que eu não tinha sido a única a perder o controle do papel de namorados, e ficar realmente excitada com aqueles beijos. Quando ele falou novamente, não sei porque, mas tive a impressão que ele não estava fingindo, parecia ser ele mesmo – Tchau, princesa. Se cuide e até amanha.

No outro dia em seu dormitório, Júlio me explicou que ele queria me levar para a casa de sua mãe, para que lá pudéssemos conversar sossegados, nós dois e o Danilo. Os beijos daquele dia, tinham sidos para que ele conseguisse cochichar para mim aceitar. Quando foi comentado sobre essa parte, um clima estranho pairou sobre nós, e eu me lembrei imediatamente da sensação de sentir seus lábios macios em meu pescoço, em minha orelha, minha respiração ofegante de prazer. Ele pareceu se lembrar também, e seus olhos assumiram o mesmo aspecto daquela noite.

No dia de descanso acordamos cedo e logo saímos do quartel. Júlio conseguiu um carro dos militares para que nós pudéssemos ir, e também conseguiu uma permissão para mim e para Danilo.

Júlio foi quem dirigiu, e eu fiquei sentada ao seu lado, e Danilo no banco de trás.

– Para qual cidade vamos? - perguntei, logo que passamos dos limites do quartel.

–Uma cidade vizinha à capital, se chama Meric. É quase do mesmo tamanho que Crytur. - explicou Júlio.

– Nós vamos passar pela Capital? - Danilo animado, se aproximou mais de nós lá na frente, colocando sua cabeça entre os dois bancos para poder participar da conversa.

– Vamos. - Júlio soou indiferente.

Danilo abriu um sorrisão e se encostou para trás, abrindo os braços em todo o encosto do banco.

– O que tem na Capital que você quer tanto ver? - olhei para trás o máximo que o cinto de segurança me permitiu.

– Não tem nada. - Danilo permanecia espichado no banco e de olhos fechados. - Eu só gosto de ver a Capital. É bem diferente das outras cidades. Você se lembra quando o papai nos levava para visitar a Capital, Júlio? - ele foi para frente num impulso, e quase bateu em mim que estava ainda olhando para ele lá trás.

– Lembro. Você sempre foi fascinado pela Capital mesmo. Me lembro uma vez, que nós nos distraímos e você saiu sozinho, com uns 5 anos de idade, andando por ai. A mamãe entrou em desespero, mas o papai logo te encontrou. Você tava parado, no centro da cidade, olhando admirado pra um prédio de 20 andares.

Todos rimos. Era bem a cara do Danilo, sair sozinho com 5 anos de idade, em uma cidade desconhecida e deixar todos preocupados.

– Qual a desculpa para Danilo vir conosco? - perguntei a Júlio, logo que todos paramos de rir.

Júlio estava pronto para responder, mas Danilo se meteu:

– E eu preciso de desculpa? Estou com saudades da mamãe e vou aproveitar que vocês vão pra lá para ir junto e revê-la.

É aquele parecia um bom argumento. Com uma boa parte de verdade.

Passamos pela Capital, uns minutos depois, e eu pude entender toda a fascinação que Danilo sentia. Só tinha visto a capital uma única vez. Quando havia chegado de Crytur . Aquele dia tinha várias preocupações na cabeça e não consegui prestar muita atenção na cidade.

Mas hoje eu podia ver que era verdade que a capital não parecia com nenhuma outra cidade. Tinha enormes prédios que eu não conseguia nem enxergar o fim. Todos eles não tinham janelas, e suas paredes eram de espelhos que refletiam as pessoas, e os carros nas ruas.

As ruas, era muito largas, e brancas, com uma fila imensa de carros coloridos passando por elas. Entre os prédios, alguns enormes viadutos cinzas entrelaçavam-se entre si, em várias alturas, onde outros vários carros coloridos também cruzavam. As calçadas eram amontoadas de pessoas, que se empurravam e tentavam andar apressadas. Todas elas estavam vestidas com roupas estranhas e multicoloridas.

Continuamos andando com nosso carro, no meio de tanto outros, e eu e Danilo só conseguíamos olhar pelas janelas, admirado com tamanha beleza da cidade. Em certa esquina, Júlio dobrou, entrando em outra rua com uma infinidade de outros carros. Olhando para aquela rua, ela tinha em um lado, prédios parecidos com os outros, e do outro um enorme lago, com a água muito azul e cristalina, onde os raios de sol batiam e faziam tudo brilhar. O azul-claro do lago era contrastante com a grama verde e bem cortada, e algumas flores rosas e vermelhas plantadas por lá. Era a visão de um paraíso.

– É aqui onde tudo vai acontecer. - Júlio anunciou, apontando para frente.

Nem precisei de mais explicações para entender que ele se referia ao protesto que iria chamar a atenção dos militares e os ocupar para que pudéssemos invadir o governo.

À frente a rua terminava, dando em uma imensa praça, toda arborizada, com grama muito bem cuidada e flores coloridas. Do outro lado da praça havia uma construção de dois andares, que se destacava das demais pela pouca altura. Observando bem, percebi que a arquitetura daquele pequeno prédio era muito parecida com a do palácio do governo.

– É o banco? - apontei para a construção.

– Sim. - Júlio confirmou.

Seria nessa praça que os manifestantes ficariam, fingindo que queriam invadir o banco e fazendo com que os militares fizessem de tudo para protegê-lo.

Júlio dobrou na praça e entramos em outra rua que era igual as demais. Seguindo em frente, logo tínhamos saído da capital e andávamos agora, em uma estrada em linha reta, com somente duas pistas e sem nenhuma construção ao redor.

– Como eu devo me comportar perto da mãe de vocês? – pedi. Eu não ia confessar para eles, mas eu estava nervosa em conhecer a mãe deles. Por mais que eu soubesse que aquilo era mais uma desculpa para pudéssemos conversar em paz, eu sentia como se estivesse realmente para conhecer a minha sogra, e tivesse medo que ela não me aprovasse.

– Como minha namorada – Júlio foi direto, não tirando os olhos da estrada.

Será que ali dentro do carro não estávamos seguros para falar o que quiséssemos? Por isso ele não havia falado nada ainda? Por via das dúvidas achei melhor garantir e não falei mais nada a viagem toda.


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Notas finais do capítulo

E como vocês acham que é a mãe do Júlio e do Danilo? O que ela vai achar da Liss? Deixem suas opiniões nos comentários.



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