Um mês de desespero escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 9
VIII: Double Slap


Notas iniciais do capítulo

Muito fantasma pra pouca fic, hein? Vou mandar um fantasma puxar o pé de vocês no meio da madrugada se não derem pelo menos um oi, já que fantasma com fantasma devem se dar bem (-q)
Er... vamos voltar pra fic que é melhor, né? Quem é esse cara? O que ele está fazendo com Futa? Quais outras surpresas vão acontecer? Espero que estejam acompanhando com cuidado!



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Era uma cena aparentemente comum para alguém que não soubesse das circunstâncias. Os dois andavam pelas ruas da cidade de Rustboro em uma manhã agitada; ele com muita tranquilidade, ela bastante confusa, carregando um grande envelope que recebera antes de sair.

Himiko tentava se situar no meio da confusão. Não sabia como havia chego à cidade, nem como fora parar no hospital. Imaginava se o sonho que tivera fora real ou não. Ao mesmo tempo, tentava entender porque aquele senhor que a acompanhava estava de posse de Futa, o Ralts com o qual ela iniciara sua jornada.

Ele, por outro lado, não abrira a boca desde o momento em que saíram do hospital. Caminhavam já por cerca de dez minutos, e as tentativas da garota de fazê-lo falar foram totalmente infrutíferas.

Logo eles pararam em frente a uma grande construção. Tinha quatro andares; era cercada por uma grade cromada. Some-se a isso a aparência moderna do prédio, com sua pintura em um tom cinza-azulado, e Himiko teve certeza que o responsável pela construção tinha muito bom-gosto. A entrada, porém, denunciava não se tratar de uma mansão, mas de um pequeno edifício empresarial. Mais especificamente, da Devon Corporações Ltda.

A garota não tinha muito conhecimento em relação à empresa, mas a reconheceu imediatamente pela marca, em forma de uma pokébola estilizada. A Devon Corporações era responsável pela produção e importação de pokébolas em geral. Himiko ouvira esse nome por diversas vezes nas aulas de história; a empresa fora responsável pelo primeiro modelo de produção padronizada havia pouco mais de um século, causando o declínio da produção artesanal de pokébolas. Lembrar-se de tal informação enquanto seguia aquele senhor pelos corredores do prédio da Devon, repleto de salas com os mais diversos equipamentos de pesquisa, causaria a ela calafrios — não fosse o fato de ela ter motivos maiores para se preocupar.

— Bom dia, Sr. Stone.

A treinadora observava enquanto o senhor que andava à sua frente respondia ao cumprimento de alguns funcionários. Ele deve ser alguém importante, pensou ela. Mas o que diabos ele quer comigo?

E porque ele está com Futa?

As dúvidas que fervilhavam a cabeça da garota logo seriam respondidas. O Sr. Stone parou em frente a uma porta, aonde um sensor biométrico reconheceu sua presença, permitindo a entrada dos dois em um aposento bastante diferente do resto do prédio.

— Por favor, sente-se. — O sorriso no rosto do senhor parecia sincero, mas não fora o bastante para desanuviar a expressão da treinadora. Ela fitava o local com um olhar incrédulo. A decoração era propositalmente rústica, com vários elementos amadeirados. Uma cabeça de Pokémon empalhado presa a uma das paredes (com uma pintura que se fazia pensar que era feita de madeira, ainda que não enganasse a um olhar mais atento) fez com que a garota tomasse um susto. Ela não conhecia aquela espécie, de pelo castanho e presas grandes, e uma pelugem em tons de dourado e vermelho em volta da cabeça; ela considerou que não seria de bom tom checar na Pokédex por informações. Acabou por sentar-se, conformada com seu desconhecimento, em uma pesada cadeira de mármore, enquanto seu anfitrião se direcionava ao outro lado a fim de se posicionar de frente para a jovem, que agora notava uma pequena placa de madeira sobre a mesa.

Rochard Stone
Diretor Administrativo

— Então… por onde podemos começar… — O senhor procurava palavras para iniciar a conversa, enquanto se sentava. — Eu gostaria que me contasse a sua versão da história.

Himiko encarou-o com um olhar incrédulo. O Sr. Stone notou a surpresa, e continuou.

— Você estava desmaiada, e seus Pokémon estavam pedindo por ajuda quando cheguei. O que houve?

A garota continuava cheia de dúvidas.

— Eu esperava que o senhor pudesse me responder isso… — ela pontuou, desconcertada. — Não me lembro de nada desde que estava na Floresta de Petalburg.

— Não contava com isso… — respondeu ele, enquanto decidia se contava o que sabia ou não. Acabou decidindo por falar. — Bem, eu lhe encontrei próximo ao Lago Ferrugem, na saída da cidade. Aparentemente você foi atacada por um Pokémon e acabou perdendo os sentidos.

A treinadora teve um calafrio. Aquele sonho… Será que…

— Eu tenho a impressão de que você se lembrou de algo, Himiko…

Ouvi-lo citando o seu nome desmontou a treinadora por completo.

— Eu tive um sonho pouco antes de acordar no hospital — disse ela — e nele um dos meus Pokémon me atacava…

— Então talvez não tenha sido um sonho… — concluiu ele, enquanto pegava a pokébola que carregava no cinto, libertando-o. — Esse Ralts em particular me chamou a atenção. Ele estava com dificuldade de respirar, sua pele estava praticamente púrpura. Como não poderia leva-lo a um centro Pokémon, eu o trouxe aqui para o centro de testes para reanimá-lo enquanto você estava no hospital.

A reação dele ao ver Himiko bem foi deveras extravagante. Ele imediatamente pulou sobre a garota para abraçá-la, ao que foi retribuído.

— Futa!

— Então, como eu ia dizendo… — continuou ele, chamando o Pokémon de volta ao seu encapsulamento, para a tristeza de treinadora e Pokémon. — Creio que esse Ralts a tenha atacado… em seu sonho — O Sr. Stone pontuou, ao ver a cara feia feita pela treinadora. — Estou certo?

— Sim.

— Entendo. Ele foi seu primeiro Pokémon, não?

— Sim. Mas eu não consigo entender porque ele me atacaria.

— Há um jeito de ter certeza. — disse ele. — Você está com os seus exames?

— Claro, estão aqui.

— Pois bem… — Ele então abriu uma das gavetas de sua mesa, tirando um envelope pardo. — Eu tomei a liberdade de fazer uns exames de mapeamento psíquico em seu Pokémon… E se compararmos com as imagens de seus exames, nós poderemos encontrar um padrão…

Para um diretor de empresa, ele parece ser muito entendido, pensou a garota, enquanto o Sr. Stone chegava à conclusão de que Futa realmente a havia atacado, diferentemente do que havia sido concluído pelo Dr. Reincke. A face de Himiko denunciava a vergonha que sentiu pelo fato. E o pior: ela não tinha a menor ideia do que havia levado a isso.

Ele, porém, não a julgava. Manteve seu sorriso no rosto, o mesmo com o qual a recepcionara mais cedo no hospital, enquanto guardava ambos os envelopes em sua gaveta.

— Deve haver uma explicação plausível para tudo isso. — disse ele.

— Imagino que sim, mas… — ela retrucou, sendo interrompida pelo Sr. Stone.

— Por mais que eu esteja curioso, quem precisa encontrar a resposta é você.

Talvez fosse uma tentativa de quebrar o gelo. Mas para Himiko, extremamente abalada com as informações que recebia naquele dia, não havia o que pudesse arrumar a situação.

Ou melhor. Existe uma coisa.

O Sr. Stone parecia perceber isso tão bem quanto ela. Definitivamente, a garota não estaria preparada para ouvir tudo o que ele tinha a falar. Pelo menos não naquele momento.

— Ainda temos muita coisa para conversar, mas talvez agora não seja o melhor momento. Tire um tempo para você com seus Pokémon. Imagino que você tenha muito a explicar para ele, não?

Ele estendeu a pokébola de Futa para a garota. Ela sorriu, sem graça, ainda com o rosto vermelho.

— Podemos tomar um café no final da tarde, se você quiser. — ele propôs. — Vou estar lhe esperando aqui em frente.

Himiko concordou. Ambos sabiam que era a única resposta possível.

— — —

O prédio da Devon Corporações era localizado bem próximo da saída leste de Rustboro que Himiko decidiu por seguir. O que ela precisava naquele momento era de um local tranquilo. De preferência, aonde não pudesse ser entreouvida.

Teve sorte ao localizar uma gruta ao longe, decidindo que seria um local adequado para o que planejava fazer. Ela só não contava que fosse encontrar um obstáculo no caminho.

Ao atravessar um trecho de grama mais alta, algo grudou em seu rosto, obstruindo sua visão. Foi o suficiente para que a treinadora perdesse o equilíbrio e caísse. O som estridente que ouviu quando atingiu o solo denunciou que o que havia grudado em seu rosto tinha vida — era um Pokémon.

Como que por impulso, a treinadora alcançou o bolso da mochila aonde guardava suas pokébolas vazias, lembrando-se de agradecer pelo poder da tecnologia ao encostá-la no Pokémon em sua face, antes que lhe faltasse o ar.

O sorridente Hoppip, Pokémon cuja existência era conhecida por Himiko desde a infância, havia sido capturado, sem ao menos se debater na pokébola, tornando-se parte da equipe.

Que equipe?

A garota não se sentia nem um pouco à vontade no relacionamento com seus Pokémon. Tinha praticamente certeza de que cometera um grande erro com todos os Pokémon que havia capturado. Talvez tivesse sido um erro ainda maior capturar o Hoppip, por mais que este parecesse implorar a ela para que a acompanhasse… A desconfiança que a garota tinha para com o Sr. Stone era tão irrisória naquele momento que parecia ser apenas um devaneio, comparado ao caos que ela sabia ter de enfrentar.

Ela ainda meditava a respeito quando chegou à gruta (que era mais como uma caverna, apesar de não aparentar quando vista de fora) percebendo que teria o isolamento que precisava, apesar de não ter certeza do que exatamente iria dizer. Libertou seus Pokémon um a um, enquanto se sentava. Futa a observava com certo carinho, e o recém-capturado Hoppip estava alegre, completamente alheio da situação. Mas os outros quatro membros do time mostravam-se zangados. Em especial um deles, que chegara até a evoluir. O Beautifly, mesmo com sua aparência mais delicada desde que evoluíra de um Silcoon, ainda era capaz de intimidar a garota; surpresa ao encontrá-lo evoluído, porém composta o suficiente para não citar o fato.

— Antes de tudo, eu acho que devo um pedido de desculpas a cada um de vocês. — Himiko parecia chateada, não com eles, mas consigo mesma. — Eu não sei o que aconteceu, nem como. Mas tenho consciência de que estão com raiva de mim.

Cada um dos Pokémon encarava Himiko, ainda descontentes, mas tentando compreender.

— É difícil para mim também. Estou pedindo perdão a vocês, mas nem mesmo eu sei o que aconteceu…

Paf!

Um cipó acertava o rosto da garota, com força o suficiente para ela sentir o impacto, mas não ao ponto de deixar uma marca. Seu Bellsprout a atacara, demonstrando reprovar a atitude da treinadora. O Ralts imediatamente interviu, gesticulando e emitindo sons incompreensíveis para a garota, mas que os outros Pokémon com certeza entendiam.

Passaram-se alguns instantes naquela discussão. Himiko era a única que não entendia o que se passava. Futa aparentemente estava defendendo sua treinadora, no que era questionado pelos outros membros do time. O Hoppip, por não ter presenciado nada a respeito, parecia influenciar-se para o lado do Pokémon psíquico, mas os outros não estavam dispostos a se dobrar.

— Você nos agrediu, Himiko. — Futa finalmente explicava à garota o motivo de tanta raiva. — Eu sei que você não se lembra, porque consigo ver o que pensa, mas tente explicar isso a eles…

Himiko engoliu em seco. A garota nem mesmo se lembrava dos detalhes do sonho que tivera, mas os poucos fragmentos que permaneciam não davam essa deixa.

— Você estava fora de si, — continuou ele — tanto que eu tive que lhe deixar desacordada.

Ouvir isso de Futa a fez cair em prantos.

Elm tinha razão. Eu não sirvo para isso.

A voz do professor de Johto, tranquila, mas ao mesmo tempo firme, voltava a ecoar pela cabeça da garota.

“Você teve um dos melhores resultados no teste de aptidão, eu não seria capaz de subestimar sua capacidade. Mas você está com a motivação errada. Pokémon não se alimentam desses seus sentimentos ruins, pelo contrário. Enquanto você estiver se guiando por esse desejo de vingança, você nunca vai conquistar a confiança de algum Pokémon. Seria um crime eu lhe dar uma autorização para sair em jornada nessas condições. ”

Vingança. Não é isso que eu quero. Nunca me importei com aquele canalha.

Futa notava o quanto a expressão de Himiko havia mudado. Ela se encolhera, escondendo o rosto para disfarçar as lágrimas, mas os sentimentos da garota eram transparentes como água. Ele começava a entender o que levara a garota a fazer essa jornada.

Ela, no entanto, se abalara muito mais do que fizera parecer. Sentia-se destruída por se lembrar de que ninguém a apoiava, afinal. Todos que a conheciam se mostravam contra cada uma das atitudes que ela tomava. E agora que seus Pokémon também se colocavam contra a treinadora, ela compreendia o teor das palavras de seu quase mentor.

Porém, ele se enganava em um ponto. O que motivava Himiko a continuar não era para mostrar nada a ninguém. Ela sabia o pai que tinha tanto quanto que ele não mudaria por causa de qualquer coisa que a garota dissesse. Seu objetivo era apenas corrigir uma injustiça praticada por ele.

Eu preciso encontrá-la. É por ela que estou assim.

Himiko voltou a tomar consciência do que estava a sua volta. Ela tinha colocado esse objetivo de volta em sua mente, o que lhe fizera clarear as ideias novamente. Sabia que estava errada, claro, porém acreditava poder requisitar o perdão de pelo menos alguns de seus Pokémon. Antes que ela pudesse se recompor de fato, contudo, uma grande movimentação surgira de dentro para fora da caverna.

Havia pelo menos vinte ou trinta Pokémon correndo desesperados. Eram quase todos eles bebês, de diversas espécies, e pareciam estar sendo intimidados por algo que estava ao fundo da caverna.

— Whismurs! — exclamou Futa, mentalmente.

Himiko preparava-se para pegar a pokédex, tentando descobrir o que viria a ser um Whismur, no que foi imediatamente interrompida pelo Pokémon.

— Não há tempo! Temos que sair agora! — ordenou ele.

Naquele momento, todos esqueceram a discussão que se passava. Taillow e Beautifly foram à frente; por conseguirem voar, tinham uma grande vantagem em relação ao terreno rochoso e escorregadio da caverna, que dificultava a fuga. Exatamente por conta disso, inclusive, Himiko notou que alguns dos Pokémon tropeçavam enquanto tentavam fugir. Um deles, devido ao seu formato esférico, não conseguia se levantar, o que fez com que a garota desviasse do seu caminho para salvá-lo.

— Vão na frente! — gritou a garota. — Eu vou ajudar esse aqui!

Himiko foi a última a sair da caverna, segundos antes de um grito agudo e ensurdecedor ser ouvido. A pequena entrada da caverna começou a desmoronar, tamanha a intensidade do som, que se abafava à medida que o caminho se bloqueava, apesar de ainda perceptível.

Himiko sorriu. Foi por pouco, pensou ela.

Futa estava abraçado à sua perna direita. Bellsprout e Hoppip também haviam escapado com certa facilidade, com a ajuda da capacidade de flutuação desse último. Taillow e Beautifly já descansavam em uma árvore próxima, o primeiro ainda se protegendo do som com as asas.

A treinadora olhava para os lados. Sentiu que estava faltando alguma coisa, mais ou menos no mesmo momento em que o barulho estridente havia parado de ecoar.

Seis Pokémon haviam entrado com Himiko na caverna. E seis haviam saído.

O problema é que um deles era o inocente Igglybuff que a garota havia resgatado.


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Notas finais do capítulo

Que situação! Não basta ela ser uma pessoa desestabilizada, ainda tem que passar por essas situações...
Por outro lado, uma pequena parte do passado dela começa a ser revelada. O que tanto ela esconde? Quem precisa ser encontrado?
Respostas em breve...

Notas do in-game.
Malditos sejam os Whismur! Não deveria ter subestimado sua capacidade. Estava no meio do grind, um deles apareceu. Ataquei primeiro, tirando cerca de 1/3 da vida de um Whismur selvagem, e ele respondeu com o Uproar tirando mais da metade da vida do Poochyena. Tentei fugir, e o jogo me deu um NOPE com aquele maldito "Can't escape!".
Eu estava começando a gostar dele. Paciência.

Status do time:
Pokémon: 6
Ralts Lv. 16; Bold, Synchronize.
Bellsprout Lv. 17; Bold, Chlorophyll
Taillow, Lv.19; Mild, Guts
Beautifly, Lv.16; Serious, Swarm
*Hoppip, Lv.9, Lax, Chlorophyll
*Igglybuff, Lv.8, Bashful, Cute Charm

Mortes: 1 +1 = 2
Poochyena Lv. 2~12; Bold, Run Away



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