Um mês de desespero escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 8
VII: Confusion


Notas iniciais do capítulo

Hora da sinceridade: pensei em matar a fic no capítulo passado devido a falta de feedback. Falando sério mesmo. Não sei o porquê de eu não fazer isso. Vai ver é que eu me importo demais com os personagens que coloquei no mundo, ou porque acredito ter uma quantidade de leitores fantasmas...

Enfim, chega de chorar a falta de feedback (mas por favor, pensem no meu caso) e vamos de volta para a história. Temos uma protagonista em situação delicada, e... bem, melhor lerem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/616704/chapter/8

Himiko abriu os olhos, e a primeira coisa que percebeu foi uma luz que batia em seu rosto. Ela imediatamente colocou sua mão para proteger os olhos, mas não sem sentir dificuldade (e uma ligeira dor no braço). A garota tentou descobrir onde estava com o olhar. Não conseguiu reconhecer a cama, de madeira rústica e sem muitos detalhes (e desconfortável — o colchão fazia um farfalhar característico de folhas de árvores quando ela se mexia) nem a mobília do quarto que parecia improvisado. Mas o elemento mais característico do ambiente era o telhado translúcido, que deixava passar a iluminação externa denunciando um clima limpo em um final de tarde, ou talvez um começo de manhã (ela havia perdido a noção de tempo). O quarto estava bastante aquecido, o que a fez pensar que o ambiente fazia parte de uma grande estufa.

A garota tentava se lembrar, sem sucesso, de como viera parar ali. Sentando-se com ligeira dificuldade na cama (as dores começavam a se aliviar conforme ela ia se movimentando), se pegou pensando se por acaso James não morava ali, quando foi surpreendida por uma jovem que abria a porta do quarto, igualmente rústica.

— Que bom que acordou, estava ficando preocupada! — disse ela. Sua voz melódica combinava bastante com sua aparência. Tinha cabelos longos e lisos, castanho-claros, muito bem cuidados, no qual se destacava um arranjo de flor. Ela vestia uma blusa rosa e uma saia longa lilás, que ao mesmo tempo pareciam bastante confortáveis e lhe davam um ar jovial.

— Obrigada por se preocupar. — respondeu Himiko. — Mas… como eu vim parar aqui?

— Dois treinadores apareceram aqui lhe carregando, eles disseram que você desmaiou na floresta e pediram minha ajuda…

A floresta. James. A tempestade. O casulo com espinhos.

Himiko conseguia se lembrar dos acontecimentos na Floresta de Petalburg, mas havia uma lacuna que ela não conseguia preencher. A última coisa que ela conseguia se lembrar de era ter capturado o Pokémon inseto. O que acontecera para que ela desmaiasse não estava sob o alcance de sua memória.

— Quando foi isso? — perguntou Himiko

— Eles lhe trouxeram aqui faz poucas horas… Aliás, um deles está aqui ainda, ele disse que ficou preocupado. Vou avisá-lo que você acordou.

— Eu estou bem, não foi nada demais… — respondeu Himiko. — Eu vou com você.

— Não quer descansar um pouco mais? Pode ficar a vontade! — disse a jovem.

— Foi só um susto… Eu escorreguei e devo ter caído de mau jeito, não precisa se preocupar comigo…

— Se você diz…

As duas saíram do quarto (Himiko ainda com um ligeiro desconforto) por um corredor estreito, que dava para o que parecia ser uma loja de flores e frutas. Em um dos bancos estava sentado um rapaz que ela não reconheceu, mas que tomava conta dos pertences da garota.

Pelo visto, é mesmo uma grande estufa, pensou Himiko.

— Está tudo bem com você? — perguntou ele. O rapaz lembrava um pouco James, apesar de ser mais velho que este. Possuía o mesmo tom de pele queimado pelo sol, e vestia uma camisa azul e calça cáqui, ambos com marcas de uso. Seus cabelos eram curtos e negros, levemente ondulados, e seu rosto era tão cheio de arranhões quanto às roupas que usava. — O James teve que voltar pra casa dele, mas pediu pra eu ficar aqui até você acordar.

— Agradeça a ele por mim então. — disse a treinadora. — E muito obrigada a você também.

— Não foi nada. Ainda bem que eu estava por perto, acho que ele não conseguiria te carregar sozinho. — o rapaz se levantou. — Ah, aqui está sua mochila, veja se está tudo aí.

— Obrigada mais uma vez. — disse ela, dando uma rápida olhada na mochila, tendo a certeza de que seus pertences não haviam sido tocados.

— Bem, eu já vou indo então. — respondeu o rapaz, virando-se para a porta de saída. Tome cuidado!

Himiko virou-se para sua anfitriã. Queria poder retribuir o favor de alguma forma.

— Como posso lhe agradecer? — perguntou ela

— Não precisa. Era o mínimo que eu podia fazer.

— Tem certeza?

— Claro! Vai me dizer que você não faria o mesmo?

Himiko pensou um pouco, duvidando um pouco de seu altruísmo. Acabou decidindo por comprar algumas frutas antes de partir, com o duplo propósito de agradecer e se alimentar.

Rustboro estava sob o alcance da visão de Himiko após poucos minutos de caminhada, ainda que ela tivesse que pegar um longo desvio para chegar até lá, culpa de uma ponte quebrada. Talvez mais uma meia hora fosse o suficiente, a menos que…

Um pensamento tomou conta da mente de Himiko. Era seu segundo dia de viagem, e até o momento ela não havia parado para treinar. Considerando que o caminho que ela teria que percorrer não apresentava riscos, ela decidiu se dar a esse luxo a cerca de metade do caminho.

— OK, pessoal, todos para fora!

A treinadora libertou seus cinco Pokémon, apesar de não saber exatamente como iria fazer o treinamento. Nunca fiz isso na vida, pensou ela, enquanto analisava o local em busca de alguma ideia. Acabou se deparando com um Pokémon pendurado em uma árvore. Dessa vez, Himiko lembrou-se da Pokédex antes de tomar alguma decisão precipitada.

“Slakoth, o Pokémon preguiça. Slakoth é um Pokémon de metabolismo lento, chegando a dormir por vinte horas diárias. Alimenta-se de folhas em pequena quantidade uma vez ao dia. Sua principal habilidade é causar sonolência em possíveis predadores, evitando assim o combate direto, onde possui grande desvantagem. ”

— Ótimo, pessoal, é um bom começo. — anunciou a treinadora, pensando no que havia visto. — Quero ver vocês se revezando contra ele.

— O que quer que a gente faça, Himiko? — Futa perguntou

— Entrem em batalha contra ele. — Himiko complementou a ordem. — Sem dormir!

A entonação dessa última frase teve uma entonação que Futa nunca imaginaria ouvir da treinadora. Era como se ela dissesse “ou vocês vão ver ” implicitamente. O Taillow aproveitou a liberdade oferecida a ele e começou a sobrevoar o local onde estavam, enquanto os outros ainda a encaravam, como quem esperassem uma instrução mais direta.

— Quero ver o que tanto podem fazer. — disse ela, ao notar como o Poochyena lhe observava. — Me surpreendam!

Talvez fosse a falta de experiência deles, ou então a ausência de um plano. O fato é que os Pokémon de Himiko atacaram de forma totalmente descoordenada, e foram presas fáceis para o Slakoth. Nenhum deles foi capaz de causar algum dano no adversário, visto que caíram no sono quase que instantaneamente. O Pokémon preguiça, ao notar que havia uma treinadora por perto, começou a escalar a árvore, ainda que lentamente, para sair do campo de visão dela, que naquele momento se preocupava em acordar seu time.

— Vamos, vamos! — um a um, os Pokémon foram acordados sem muito carinho por Himiko, que os chacoalhava. Eles se encontravam visivelmente chateados com a situação. — Eu esperava mais de vocês!

— Todos nós ficamos confusos! — Futa começou a se justificar, no que foi imediatamente interrompido.

— Pois não deveriam. — Himiko retrucou. — Pensei que estivesse montando uma equipe aqui!

— Uma equipe precisa de um líder, não de alguém que fica dando ordens! — Futa respondeu. — E você está alterada demais, tente se acalmar!

As palavras do Ralts atingiram Himiko de uma forma completamente diferente do esperado. Ela pegou o Pokémon psíquico do chão e o levantou até a altura do rosto (levemente avermelhado, talvez um sintoma de raiva), perguntando com um tom de voz alterado:

— Como? Eu quero que você repita isso!

— Himiko… — Futa começou a perder a coloração novamente, como havia acontecido no centro Pokémon no dia anterior. A garota não percebera dessa vez, e ainda encarava-o, esperando por uma resposta dele, que continuou. — Me perdoe por isso, é para o seu bem.

Ela notou um brilho lilás entre seu rosto e o Pokémon, como se uma faísca de fogo de artifício houvesse explodido diante de seus olhos, antes de gritar de dor. Não conseguia manter os olhos abertos, parecia que sua cabeça iria explodir.

Em um instante, tudo passou. Ela abriu os olhos, de súbito. Tentou levantar-se, mas sentiu algo prendendo seus ombros.

Himiko estava presa a uma cama. Com o movimento limitado, pode perceber o ambiente alvo que a cercava. O quarto, que naquele momento se encontrava vazio, certamente pertencia a um hospital. Era fortemente iluminado, incomodando a garota, que tentava se localizar. Seu braço direito estava ligado a um recipiente contendo um líquido transparente, e que gotejava lentamente em sua veia, e seus batimentos cardíacos eram também monitorados por um equipamento ao seu lado (e cujos eletrodos ligados em seu corpo causavam certo desconforto à jovem). Não havia janelas, e o espaço do quarto era delimitado por cortinas, provavelmente para separá-la de outros pacientes.

Ela percebeu uma luz azulada acender acima da cabeceira de sua cama, porém não pode identificar a fonte.

O que diabos aconteceu?

Himiko ainda estava tentando entender o que se passava quando um enfermeiro adentrou o recinto. A imagem de Futa lhe atacando não lhe saía da cabeça. Foi só um pesadelo, repetia a garota mentalmente, como um mantra.

O rapaz sorriu ao perceber que a garota havia acordado; ao que foi retribuído inconscientemente. Ele então se dirigiu ao equipamento que media os sinais vitais dela, e ao notar que não havia nenhuma anormalidade, dirigiu a palavra à paciente.

— Você está se recuperando rápido. Logo vai poder receber alta.

Centenas de perguntas fervilhavam pela cabeça de Himiko. Ela decidiu começar pelas mais simples.

— Como eu vim parar aqui? Há quanto tempo estou nessa cama?

O enfermeiro sorriu, meio sem jeito. Era como se ele houvesse esquecido que isso poderia acontecer.

— Você esteve sob coma induzido pelos últimos três dias. — ele então apertou um botão que ficava sobre a cabeceira da cama. — O Dr. Reincke está a caminho, ele vai poder lhe informar mais sobre o seu caso.

Himiko olhou para o enfermeiro, sem ter entendido muita coisa. Ela tentava montar em sua cabeça os acontecimentos recentes. Lembrava-se vagamente de estar na floresta com James (mais precisamente, do momento em que ele quase a acertara com uma pokébola), mas não conseguia encontrar nenhum elo entre isso e o hospital.

Foi aí que ela foi tomada por uma dúvida mais preocupante. Enquanto o tratamento de Pokémon nos centros era subsidiado, o mesmo não se aplicava aos treinadores. E ela sabia que não teria dinheiro para pagar pelo tratamento.

O médico adentrou o recinto mais ou menos no mesmo momento em que o equipamento ao lado da garota começou a apitar mais frequentemente. A preocupação dela acelerara seus batimentos cardíacos, o que não foi considerado fora do normal pelos profissionais. Ela teve então os eletrodos e o frasco de soro retirados pelo enfermeiro, enquanto o médico analisava alguma coisa no equipamento.

— Você consegue se levantar? — perguntou o enfermeiro, enquanto a garota se levantava lentamente. Ela sentiu um leve incômodo, possivelmente por ter passado tanto tempo na mesma posição, mas sentiu-se aparentemente bem. No fundo, ela queria mesmo era sair correndo, mas sabia que não era uma boa ideia.

— Afinal, o que houve comigo? — perguntou ela

— Seu quadro foi de lesão craniana leve, causada por fonte externa. — explicou o médico. — Vou poder avaliar melhor depois de uma ressonância, mas aparentemente não houve dano permanente.

Himiko não sabia se sorria ou se preocupava. Não tinha a menor noção de como havia ido parar ali. Acabou seguindo para a sala de ressonância magnética, aonde o Dr. Reincke chegou à conclusão de que o trauma fora possivelmente causado por uma descarga elétrica, e que de fato não havia sequela, de modo que a garota poderia receber alta no mesmo dia.

— Você está pronta pra outra. — brincou o médico.

Himiko deu um sorriso sem graça, enquanto ainda era consumida pela dúvida. Decidiu por perguntar a ele.

— Então… não sei nem como vim parar aqui, e… não tenho dinheiro o bastante para pagar pelo tratamento…

— Não se preocupe! — ele sorriu. — Suas despesas já foram pagas.

— Hã? — Himiko estava bastante surpresa.

— O senhor que lhe trouxe aqui fez questão de pagar pelo seu tratamento. Imagino que seja seu pai, não?

Himiko ficou desnorteada com a informação. Não pode ser… ou será que…

Ela não conseguiu parar de pensar nisso até o momento em que finalmente recebeu alta. A garota foi informada inclusive que ele já estava a sua espera no saguão.

A garota tremia. E isso não tinha nada a ver com algum dano neurológico.

No momento em que ela chegou ao saguão de entrada do hospital, viu que ele o encarava, sorrindo. Vestia um terno azul em risca de giz, muito bem alinhado em seu corpo pequeno (era quase da mesma altura de Himiko, pouco menos de um metro e sessenta). Seus cabelos grisalhos eram levemente espetados, o que dava a ele um ar estranhamente juvenil, apesar de seu rosto possuir algumas marcas denunciando sua terceira idade.

— Fico feliz em te ver bem, Himiko!

Não. Definitivamente não era Norman. A treinadora tentava se lembrar de quando poderia ter visto esse senhor. Não conseguia reconhecê-lo, apesar de que certamente ele a conhecia — e se aproximava para abraçá-la assim que ela pegou a mochila com seus pertences na recepção.

Himiko não sabia o que pensar. Esperava que ele pudesse explicar o que estava acontecendo. Assim que se abraçaram, ele cochichou em seu ouvido.

— Precisamos conversar em particular.

Calma, pensou ela. Não tenho por que me preocupar.

Ela não demorou dois segundos para perceber que estava enganada. Ainda enquanto ele a abraçava, Himiko notou uma pokébola bastante característica presa ao cinto daquele senhor.

Era a pokébola de Futa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Uh-oh. Himiko se metendo em problemas novamente.
Afinal, o que diabos aconteceu nesse capítulo? Até mesmo eu estou na dúvida, e olha que tenho boa parte do roteiro planejado. (Não tudo, por motivos óbvios. Nunca se sabe o que um Nuzlocke nos reserva...)

Notas do in-game:
Grinding time. É um saco, e lógico que eu não ia perder meu tempo dizendo que passei quase uma hora atacando pokémon selvagens para ganhar níveis. Yawn. deu sono só de falar...

Status do time:
Pokémon: 5
Ralts Lv. 13; Bold, Synchronize.
Bellsprout Lv. 13; Bold, Chlorophyll
Poochyena Lv. 11; Bold, Run Away
Taillow, Lv.13; Mild, Guts
Silcoon, Lv.9; Serious, Shed Skin

Mortes: 1 +0 = 1



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um mês de desespero" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.