Um mês de desespero escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 41
XL: Rage


Notas iniciais do capítulo

É, eu sei, atrasei de novo. Pelo menos não foi tanto tempo assim. Acho que consigo manter esse ritmo daqui pra frente, pelo menos eu espero.
E vou adiantar uma coisa pra vocês: se não pegarem raiva da Himiko nesse capítulo, então vocês não pegam mais!
Enfim... bom proveito!



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Himiko percebeu-se encarando o colega, vários níveis diferentes de surpresa lhe invadiam naquele curto espaço de tempo. Não lhe bastasse o inusitado que era ter encontrado Brendan por ali, pesava também a atitude pouco condizente com o que ela esperava da parte dele.

— Vem, Himiko, vamos pra casa!

Tem alguma coisa aí!

Os pensamentos de Futa, materializados em sua mente quase como se fossem dela, faziam sentido para a garota. A impressão que ela tinha era de que o único motivo do inesperado encontro entre os dois era para ele levá-la embora. Algo que ele prometera explicitamente não fazer quando se encontraram na tarde anterior.

— Como assim? — Himiko perguntou, tentando raciocinar a respeito.

— Eu é que te pergunto! Eu viro às costas por alguns minutos e você consegue se meter em confusão outra vez? Não dá mais pra fingir que está tudo bem!

— Bem, você mesmo me disse que o que eu faço ou deixo de fazer é problema meu…

— Por favor, Himiko, você não é mais criança pra fazer birra assim…

— Então para de me tratar como se eu fosse!

Futa segurou a mão da treinadora, sinalizando indiretamente seu receio. O Gardevoir tremia, como se já soubesse o desfecho daquela situação.

— Anda, Himiko, eu tou falando sério agora.

— Eu não tenho porque voltar pra casa!

— Papai disse que quer conversar com você. Pessoalmente.

— E se eu não quiser?

Brendan apertou os olhos, tornando a duvidar da teimosia da garota.

— Se for assim, vou ter que fazer as coisas do jeito mais difícil. — O rapaz ativou uma pokébola, liberando uma de suas criaturas no espaço entre ele e a colega. — Samuel, hora de usar o Truque de Gato!

O resultado dessa ação, definitivamente, não foi o que ele esperava. O grande pokémon bípede de aparência amadeirada deveria dar apenas um susto na treinadora ao bater as patas, a lembrarem largas folhas, uma contra a outra em um ruído característico; com isso, esperava tirar a concentração de seu alvo para evitar qualquer reação súbita por parte dela.

O efeito causado pelo ataque do Shiftry foi o oposto, algo que Himiko somente percebeu quando já estava longe de seu oponente.

Assustada com a visão súbita do pokémon de Brendan, fechou seus olhos por um breve instante e, quando os abriu novamente, não via qualquer sinal da criatura, bem como do colega.

Nem mesmo da cidade de Lilycove.

Percebia-se, em verdade, flutuando nas imediações de um lago, muito acima do solo. Podia enxergar apenas a água tomando grande parte de seu campo de visão, exceto por uma formação rochosa surgindo do centro deste.

Esta, sendo seu ponto de referência, era a maior evidência de que algo estava errado.

— Futa, não sei se percebeu, mas ESTAMOS CAINDO!

Foi com tempo de sobra que o Gardevoir reagiu, impedindo o impacto usando de sua telecinese, de modo a suavizar os últimos vinte metros de descida e evitando qualquer dano à dupla.

O mesmo não podia ser dito da mochila, a atingir a grama barrenta em um impacto seco após escapar das mãos da treinadora no momento da frenagem.

Mas, entre o susto e o medo, ela somente conseguiu articular seus pensamentos quando já se encontrava segura no chão.

— Você quer me matar!? — Himiko gritou. — O que pensa que está fazendo?

— Eu estava tentando te proteger!

— Dá pra me explicar o que aconteceu, pelo menos?

— Teletransporte. Eu queria te levar de volta para o centro pokémon, mas você pulou para trás bem na hora e eu me desconcentrei…

— E agora você vai querer colocar a culpa em mim porque o seu plano surpresa não deu certo…

— Calma, Himiko, não dava pra pensar muito na hora, aquele Shiftry podia ter te…

— …machucado? — Himiko completou a frase, atravessando o raciocínio do Gardevoir como ele tanto se acostumara a fazer com ela. — Você está louco? Era o Brendan, ele não seria capaz de me machucar!

— Você tá falando do mesmo garoto que te deu um tapa na cara não faz tanto tempo…

— Eu cansei! — Himiko bateu as mãos contra os quadris, prestes a avançar fisicamente contra o pokémon. — Eu não sei porque você estava com tanto medo dele, mas… quer saber? Pra mim já deu!

— Pare com isso, tente ser mais racional um pouco…

— Esse é o seu mal, o de todo mundo na verdade. Todos querendo me dizer o que eu tenho ou não que fazer, mandando na minha vida mais do que eu…

— Olha, você podia me escutar de vez em quando, sabe? Melhor do que ficar se autodepreciando, achando que eu vou ficar com pena de você por causa disso… mas comigo isso não funciona!

— Eu concordo, chega de frescura e de gritaria!

A chegada de um terceiro elemento não poderia causar mais surpresa para a treinadora, que caiu para trás sujando-se com a terra úmida ao perceber uma face disforme a surgir do lago, distante talvez uns cinco metros de onde eles estavam. Um rosto azulado com duas barbatanas negras imediatamente acima de seus olhos amarelados; outras tantas, menores, ocupavam o espaço entre elas, dando-lhe a aparência de cabelos arrepiados. Destacavam-se também duas protuberâncias amareladas nas laterais da face, uma partindo de cada bochecha e com três pontas nas suas extremidades.

— E quem é você pra chegar falando desse jeito comigo? — Himiko perguntou, sem tomar ciência do perigo.

— Sou só um cara que estava tentando descansar!

— Peço desculpas em nome dela — Futa interviu, tentando contornar a situação.

— Ah, que seja, vamos embora daqui! — A garota insistiu, ignorando a ambos e afastando-se em direção a sua mochila.

— Por favor, seja razoável, Himiko…

Ela fingia não ouvir, pelo menos até notar um ruído inesperado quando tirou sua mochila do chão.

— Só falta ter quebrado alguma coisa… E não se esqueça que a culpa disso tudo é sua!

— Ei, Gardevoir? — o outro pokémon cochichou, tentando não ser notado pela garota. — Já pensou em fugir? Essa treinadora não te merece…

— Eu nunca faria isso… — respondeu, usando um tom muito mais calmo que o usado com a treinadora. — Você está tendo uma impressão ruim, ela é uma boa pessoa quando não está irritada…

— Adolescentes…

Os dois pokémon conversavam à beira do lago, o anfíbio somente com a cabeça para fora desde que surgira; ignoravam a distância que a garota tomava ao seguir até uma pedra mais afastada, aonde poderia esvaziar sua mochila sem sujar todos os pertences de terra.

— Que ódio!

O grito da jovem roubou a atenção de ambos os pokémon, agora virados para ela a segurar um pequeno objeto na cor negra. Futa logo reconheceu o item, um pedaço do cubo plástico que Steven lhe entregara dias atrás.

Isso significava que, qualquer fosse o conteúdo do objeto, agora estaria jogado junto com os pertences da garota no fundo da mochila. E sem qualquer garantia de que não tivessem também se quebrado.

Entre as roupas e os pacotes de ração, atirados para o lado sem muito cuidado sobre a pedra, eles não tardaram a identificar os objetos contidos no cubo agora destroçado, revelados como um par de pokébolas de cores pouco usuais e um pequeno cartão eletrônico, possivelmente compatível com o PokéNav que ela não tinha mais.

— Veja pelo lado bom, Himiko, não era uma caixa inútil…

Ela apenas resmungou em resposta, virando a mochila de cabeça para baixo para se livrar dos pedaços de plástico que restavam.

— Viu só? Não quebrou nada de importante…

De fato, o pertence mais frágil em posse dela permanecia sem um único arranhão, sendo ele a Pokédex guardada por entre as roupas.

Mesmo assim, o comentário de Futa havia sido leviano, o que ele percebeu em seguida.

— A culpa disso é toda sua! — Himiko levantou uma das duas pokébolas anteriormente contidas no cubo, com ambas as metades na cor branca. Era quase imperceptível para o Gardevoir da distância em que ele se encontrava, mas a esfera continha uma rachadura na porção inferior.

E, estando ela já inicializada, a pokébola foi acionada pela treinadora, torcendo para que o pokémon nela contido fosse liberado com sucesso.

O feixe de luz, no entanto, falhou em se materializar por completo, formando apenas uma silhueta luminosa de um pokémon desconhecido para eles por talvez uns dois segundos, apagando-se em seguida com um alerta de erro mostrado na esfera.

— Tenha calma, Himiko, aposto que podem arrumar isso em um centro pokémon, não precisa se…

— Caralho, Futa, dá pra me deixar em paz!?

Ela voltava a guardar seus pertences sem qualquer cuidado, inclusive a pokébola de topo púrpura ainda não utilizada que viera junto com a outra. Preparava-se para sair dali deixando o Gardevoir para trás, sabendo que ele não tardaria a insistir com ela para que se acalmasse, como era de seu feitio.

Quando ameaçou dar os primeiros passos em direção às árvores ao sul do lago, entretanto, foi levada ao chão por algo a lhe atingir suas costas.

Especificamente, percebeu após quase dar de cara contra o solo, lhe atiraram uma grande bola de lama.

—Agora já chega! — A voz do Swampert mantinha o mesmo tom de irritação, porém sem demonstrar agressividade. — Venha aqui e peça desculpas para o seu Gardevoir!

Himiko demorou a reagir, mantendo-se deitada no chão por mais de um momento por conta da surpresa, processando o que acabara de acontecer. Uma coisa era ter de aguentar seu próprio pokémon lhe enchendo, outra completamente diferente era receber um sermão de forma tão grosseira e de uma criatura até então estranha para ela.

Virou-se após se levantar, com a cara mais emburrada que lhe era possível; aproximou-se a passos lentos da dupla. Estava óbvio para ela que os dois haviam combinado aquilo, a julgar pela ausência de reação de Futa após o ataque.

E justamente por esse motivo, o alvo dela era o Swampert.

— Você tá ficando louco!?

O anfíbio respondeu com um fino feixe de água, atirado de forma precisa na face da garota.

— Você não se meta comigo, não se esqueça que eu posso te machucar se e quando eu quiser!

O pokémon tinha razão. Ele, ao contrário de Futa, era um pokémon selvagem, sem o mecanismo de domesticação e obediência adicionado pela pokébola a lhe impedir de causar danos reais a seus treinadores. Não era uma proteção sem falhas, como Nagrev lhe provara uma vez, mas em geral era confiável o suficiente.

E foi assim que, ao perceber isso, Himiko atirou uma pokébola vazia na criatura aquática, com a reação dele em um novo jato de água usado para rebater a esfera lançada.

— E quem disse que eu quero ir com você?

A irritação do Swampert fez com que a garota reavaliasse sua situação, em especial por ele ter enfim saído do lago, revelando seu tamanho em muito superior ao que ela imaginava. O anfíbio tinha pouco mais de dois metros de altura mesmo em sua posição quadrúpede; diferenciava-se mais ainda na largura avantajada e nas diversas cicatrizes a cobrirem boa parte de seu corpo. Seus braços e pernas eram fortes o bastante para esmagá-la sem muito esforço se assim ele desejasse.

A primeira reação de Himiko seria pedir ajuda para Futa, mas ela conteve-se, sabendo que ele não faria nada a respeito, certamente lhe dando uma resposta sarcástica se ela tentasse.

Mesmo assim não se daria por derrotada. Seu ego jamais permitiria.

— Rejane! Use o golpe de Drenagem Vital!

A reação impulsiva da treinadora a liberar a Lombre foi mais rápida até do que a telepatia do Gardevoir, de modo que a resposta dele com uma barreira luminosa só se materializou depois de o golpe da pokémon ter atingido o Swampert. Ela interrompeu o ataque assim que percebeu a intervenção de Futa, mas já era tarde; o anfíbio desabou contra o chão, consciente, mas sem forças devido ao golpe ser extremamente efetivo.

— Oops! — Rejane exclamou, sem entender a situação apesar de perceber que não deveria ter atacado.

— Se é isso que você quer, vá em frente! — O Swampert rugiu, percebendo o objetivo da treinadora ao vê-la pegar a pokébola caída na lama. — Você pode até me capturar, mas nunca vai ter o meu res…

Ela nem mesmo deixou ele completar a frase, atirando outra vez o orbe contra o pokémon. Fora eficaz em fazê-lo calar a boca.

A captura, no entanto, revelou para Futa que ele deveria ter tomado as rédeas da situação ele mesmo, sem envolver o outro pokémon em seus problemas.

E foi o que fez, usando de sua telecinese contra Himiko para imobilizá-la no ar.

— O Swampert tinha razão. Brendan tinha razão. Não dá pra você continuar desse jeito.

— Eu não te pedi pra me deixar em paz!?

— Sim, e é exatamente o que eu vou fazer agora. Você vai ficar aí, flutuando e pensando em tudo o que fez de errado!

— Você não é minha mãe pra me tratar desse jeito!

— E você acha que eu queria ter que fazer isso, Himiko? Um descuido e você podia ter matado o Swampert, ou pior, ele podia ter te matado! E tudo isso porque você não consegue pensar!

— Não me enche!

Futa não respondeu, deixando que Himiko resmungasse à vontade. Sabia que seria inútil insistir com ela enquanto a garota estivesse tomada pela raiva.

— Por que ela está assim de cu sujo?

A pergunta da Lombre quase desconcentrou o pokémon psíquico, culpa da expressão pouco usual usada por ela.

— O mesmo de sempre, Rejane… Você a conhece…

Os dois acabaram por passar um bom tempo conversando, esperando que Himiko pudesse finalmente se acalmar para seguirem viagem, qualquer fosse o destino deles. Apenas não esperavam que pudesse demorar tanto.


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Notas finais do capítulo

Bem, eu só posso dizer que eu avisei...
Nah, pra ser honesto esse capítulo pode ter parecido uma coisa meio jogada no caminho, mas é mais necessário do que parece. Até porque ninguém nesse capítulo foi 100% sincero...


Notas do in-game:

Okay, tive que condensar MUITA coisa aí. Eu já estava com um time incompleto mesmo quando o Nick estava vivo, e com a morte dele então as coisas foram ladeira abaixo. Inclusive com um pokémon que não passou ~literalmente~ nem cinco minutos no time, mas que pelas regras que eu impus a mim mesmo nessa fanfic, tinha que aparecer por aqui por mais desnecessário que o seja...
Já o Swampert surgiu na rota 123, bem como os outros starters evoluídos. O lugar é também o melhor ponto para grind de exp antes do final do jogo. Em outras palavras, no in-game eu enjoei de visitar essa rota (você deve imaginar pela progressão de níveis)

Status do time:
Pokémon: 5
Futakosei (Gardevoir) Lv. 62; Bold, Synchronize.
Ikazuchi (Manectric), Lv.62, Serious, Lightning Rod
Nagrev (Charizard), Lv.62, Naive, Blaze
Rejane (Lombre), Lv.63, Bold, Swift Swim
? (Swampert), Lv.50, Relaxed, Torrent

Mortes: 8 +1 = 9
Cyber (Porygon2), Lv.30~35, Brave, Trace,



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