Um mês de desespero escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 39
XXXVIII: Never-Ending Nightmare


Notas iniciais do capítulo

TRIGGER WARNING! ALERTA DE GATILHO!
TRIGGER WARNING! ALERTA DE GATILHO!
TRIGGER WARNING! ALERTA DE GATILHO!

Abuso Sexual


De certa forma eu me culpo por este spoiler. Contudo, ele se faz necessário. Como se não bastassem os avisos da história e o clima criado por boa parte da narrativa. Pois eles não bastam.

Em um sinal de respeito, marquei a parte... problemática do capítulo com texto sublinhado e um espaçamento extra. Tentei ao máximo evitar a descrição gráfica da cena, mas a descrição psicológica é extenuante e intensa. Se você tem gatilhos com esse tipo de cena, recomendo extrema cautela ao prosseguir. No entanto, a não leitura do trecho em questão certamente lhe deixará perdido na leitura, visto uma informação importante para a história estar inserida na cena.

No mais, devo dizer que este é o capítulo mais pesado até aqui, como evidenciado pelo alerta de gatilho. Não é a toa que dediquei um Z-move para o título (na verdade eu não pretendia usá-los, mas este e um outro capítulo ao final terão nomes de Z-moves. Ou seja: quando se deparar com um, prepare-se para algo importante).



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Os estalos sucessivos, com diferença de menos de um segundo entre si, foram as únicas coisas a passar pela mente de Himiko após o impacto, uma queda a ser estimada por ela em talvez uns oito a dez metros se tivesse a menor condição para pensar a respeito. A surpresa pelo buraco a se abrir de forma súbita não lhe permitiu aterrissar com segurança. O instinto lhe manteve em uma posição razoavelmente vertical, com uma das pernas atingindo o chão da caverna antes da outra, de modo a tombar para o lado.

Nesse ponto tivera um mínimo de sorte por sua cabeça ter se chocado contra seu ombro na queda, não contra o solo, permitindo-lhe sobreviver.

A garota não pensava dessa forma. Nem sequer conseguia pensar, na verdade. A dor ocupava todo o espaço disponível; tanto em sua mente quanto fora dela, ao se materializar através de gritos abafados a ecoarem em ambas as direções do largo túnel em formato circular.

Himiko recusava-se a abrir seus olhos, imaginando o estado deplorável de seu corpo colocado em uma posição inusitada. Privava-se da ideia de ter quebrado vários de seus ossos após a queda, uma realidade inevitável a considerar o modo que suas articulações latejavam. Imaginou a perna direita destruída, a julgar pela dor intensa emanando do tornozelo e do joelho. Os quadris também lhe incomodavam, mas, tal como sua perna esquerda, provavelmente se mantinham íntegros.

Não arriscaria se mover, não quando seu braço direito se encontrava em um estado de dor semelhante. O impacto de sua cabeça com o ombro após a queda podia ter lhe evitado uma lesão no crânio, porém, deslocara seu braço para fora da articulação, como percebeu a uma tentativa de movimento.

Se pudesse analisar de uma forma positiva, sobrevivera. Não via como vantagem, não apenas por sua situação mental como também a física. A dor era excruciante; uma dezena de vezes pior comparada ao ataque de esporos paralisantes sofrido em ocasião anterior, a lhe causar cãibras em todo o corpo. O fato de poder externalizar essa dor desta vez não lhe ajudava; estava em uma caverna escura cuja única fonte de iluminação era a fenda criada por ela em sua queda. Estava também afastada demais da cidade, e ninguém iria ouvir seus gritos para poder lhe ajudar.

Lembrou-se imediatamente de seus pokémon. Se pudesse alcançá-los, poderia contar com um mínimo de ajuda; Nagrev, por exemplo, seria capaz de sair voando pela abertura no teto em busca de alguém para resgatá-la. Poderia pensar em fazê-lo caso não tivesse colocado todas as pokébolas dentro de sua mochila, agora fora de alcance pelas condições adversas apesar do objeto ter se mantido preso às suas costas.

Mas Himiko estava enganada em um ponto. Com certa alegria, percebeu a presença de uma pessoa no longo túnel, atraída pelos urros de dor proferidos por ela.

O medo a substituiu em uma fração de segundo, tempo no qual reconheceu o homem a se aproximar dela. Se pudesse ao menos imaginar quem apareceria, teria feito o possível para suprimir seus gritos de forma a evitá-lo.

Não… ele não…

O sorriso desdenhoso foi o primeiro elemento a ser discernido por Himiko na quase escuridão da caverna; certamente ele já a reconhecia a julgar pelo curto feixe de luz incidir na direção da jovem. O estalar de dedos do homem era como o karma a lhe pregar uma peça, concretizando o motivo de seu medo ao mostrar que nada era tão ruim que não pudesse piorar.

— Hoje deve ser meu dia de sorte… — a constatação dele vinha em um tom provocativo, como quem a chamava para confrontá-lo; uma tarefa impossível em seu estado atual.

Não…

Em meio a tanta dor e medo a lhe acompanhar, Himiko não conseguiu pronunciar qualquer palavra, sequer um murmúrio preso em sua garganta em meio aos soluços constantes.

— Nunca imaginei que o Harvey fosse ser tão eficiente… fez um esconderijo e uma cova ao mesmo tempo…

O tom das palavras de Diego era preocupante. Seu sadismo era visível aos olhos tanto quanto através de suas palavras. O que deixava Himiko mais assustada, contudo, era sua incapacidade de se proteger. Observando ele se aproximar, a garota resolveu lutar contra sua dor e tentar alcançar alguma pokébola em sua mochila apesar do braço ruim impedir-lhe os movimentos. Atrevendo-se a tentar se desvencilhar, não conseguiu nada além de mais dor ao ter os pertences arrancados de maneira brusca pelo homem.

— O que é isso, quer estragar a brincadeira? — Ele chacoalhava o objeto diante dos olhos dela. — Estamos só nós dois aqui, não acha melhor continuarmos assim?

A mochila fora atirada longe, vários metros para trás da treinadora. Fora do alcance dela.

— Vejamos… é, sem as pokébolas. Elas estavam lá dentro, não é?

Himiko não respondeu, não apenas pela dor, mas também por já esperar pelo pior. Era óbvio pelos gestos de Diego que ele iria matá-la. Desejava apenas que fosse breve.

Um urro de dor lhe roubou os pensamentos; desta vez era o lado esquerdo a latejar, consequência de um chute bem-dado em suas costelas, até então livres desse incômodo.

— Ah! Isso é pela Katrina!

Ele a observava, saboreando sua dor. O sorriso lhe acompanhou até o fim das lamúrias da garota, momento no qual ela ousou questioná-lo:

— Por que… — murmurou ela. — Por que eu?

— Porque eu quero — respondeu o homem, desferindo outro chute em Himiko. — Mas claro que sendo você fica tudo mais divertido…

Ele a encarava, divertindo-se com a inocência de sua presa.

— Você se lembra do dia em que nos conhecemos? Deve se lembrar, pois eu não vou esquecer… Lá naquele buraco fétido, atrasado para um compromisso, contando aquele monte de moedas que você me trouxe… E então você me diz seu nome, e eu enfim sei de onde te conheço…

— Você me conhecia?

— Claro que não, sua idiota! — Diego respondeu com outro chute, atingindo não as costelas, agora protegidas pelo braço bom, mas suas partes baixas. — Mas Scyther me falou sobre você. Eu deveria ir para Lavaridge, iria lhe pegar de surpresa por lá. Um dia de sorte, eu pensei. Não precisava mais viajar, acertei os dois Spearow com uma pedra só…

Himiko tentava conter seus soluços, evitando desconcentrar o homem a sua frente. Sabia que ele a iria golpear se o fizesse, aumentando sua dor. As lágrimas não vinham apenas por esse motivo. Steven estava certo afinal: eles a queriam morta.

Eles quem?

Mas de que importa? Eles conseguiram…

— Eu achei que seria fácil. Bastava uma ferroada da Katrina e eu estaria livre pelos próximos dois dias. Descansar um pouco me faria bem… mas você escapou. Aquele seu Kirlia era mais esperto do que eu pensava, nem mesmo ele deveria ter percebido a presença dela, treinei minha Beedrill para ser invisível. E você conseguiu fugir, deixando aquela Lombre ridícula para me atrasar. Além de estúpida, é muito corajosa. Eu não podia usar o Harvey, iria chamar atenção demais. Tive que desistir. Tive de mentir!

Mais um golpe do homem, a lhe atingir o ventre e arrancando mais gemidos da treinadora.

— Anteontem eu recebi uma ligação. Scyther descobriu minha mentira. Você estava lá, viva. Minha honra morreu. Mas consegui arrancar informações preciosas. Descobri mais sobre você, o suficiente para saber que viria para Fortree. Eu já tinha um encontro marcado com a Winona de qualquer modo, e… o que te importa!?

Diego ameaçou desferir outro chute, mas parou antes de acertá-la. Himiko não gostou de imaginar o porquê.

— Eu devia era me livrar de você logo, sabe? Seu corpo não seria encontrado tão cedo, enquanto isso eu poderia pelo menos dormir em paz, de alma lavada por ter feito o que prometi. Eu vejo em seus olhos, você também quer isso, não é? Quer que eu faça você parar de sofrer… — ele a agarrou pelo pescoço, levantando-a do chão sem dificuldade. — Mas você me roubou a paz, você me obrigou a mentir… você matou a Katrina… e isso já virou pessoal!

Diego a soltou, fazendo com que as dores do lado direito de seu corpo voltassem com todas as forças. Estava quase se acostumando com elas, as pontadas substituídas por um incômodo persistente. Poderia ficar assim por um bom tempo sem precisar gritar, desde que conseguisse ficar sem se mover.




— E, convenhamos… — completou ele. — Seria um desperdício lhe deixar apodrecendo nesse buraco imundo… e eu devo confessar que necrofilia não é um dos meus fetiches…

A garota tremia. Espasmos que de certa forma lhe anestesiavam frente à postura agressiva do homem. Espasmos misturados a uma fraqueza intestinal. Espasmos capazes de amplificar tanto sua dor física quanto a emocional. Ela percebia aonde Diego pretendia chegar com aquilo. Eram espasmos incontroláveis, pela violação que se mostrava iminente.

Outra vez.

Um trauma que se perdera no fundo de sua mente, em um local onde jamais seria alcançado. Nem mesmo por ela. Nem por Futa. Ninguém.

As lembranças se misturavam. Passado e presente intercalavam em sua visão de forma grotesca. Tivera sua intimidade rasgada antes; a sensação de nojo retornava às suas lembranças pela visão do órgão semi-rígido do futuro abusador, despindo-se da cintura para baixo.

Impotência.

Descontrole.

Era inútil tentar resistir. Os tremores se tornavam mais intensos, a sensação de inferioridade tomava conta. Ela era apenas um objeto. Um brinquedo feito de carne para a diversão de pessoas como ele.

Tomou a decisão inconsciente de fechar seus olhos; um erro grosseiro. Continuava a enxergar cada detalhe da cena sufocante a se construir. Sufocava-se. A voz impedida de passar além da garganta seca. As mãos sujas do agressor deslizando por suas pernas em direção à virilha. Não mais Diego, mas sim Norman.

A ilusão se quebrava através da dor; suas vestes inferiores sendo arrancadas sem qualquer delicadeza, forçando a perna machucada a se deslocar para dar passagem às roupas. Um novo grito a ecoar pela caverna.

O abuso era o mesmo. Mas era diferente desta vez. Norman não a machucara gratuitamente. Preocupara-se até mesmo com um preservativo, uma das últimas coisas que viu antes de ser anestesiada pela substância a embeber o pedaço de pano amarrado contra seu rosto. Mesmo em seu estado alterado, ele não se mostrava tão brutal quanto Diego. Tão sujo. Tão podre.

O nojo sentido por ela naquele instante era infinitamente maior em comparação ao que tinha de Norman pelo abuso anterior.

Ela afogava-se em suas lágrimas, soluçando ao bafo quente a se aproximar de seu rosto. Um sopro do inferno, um local no qual preferia estar naquele momento. Os dedos podres do abusador deslizando por sua intimidade a encheram de remorso, a culpa pelo modo com que seu medo a rendera inútil. Não deveria ser assim. Não era para seu corpo reagir daquela forma. Não queria sentir nada.

E, surpreendentemente, não o sentiu.




Conseguiu abrir os olhos outra vez em um relance, notando que Diego não estava mais sobre ela. Caído a uma curta distância, o homem tinha suas feições marcadas por um medo impossível de ser descrito, o pânico a tomar conta de cada centímetro de seu corpo musculoso, a surpresa estampada por sua posição defensiva ao ser impedido de consumar o ato por frações de segundo.

Deveria ser impossível. Por mais cautela que ele tivesse tomado, mesmo as hipóteses pessimistas consideravam a morte daquele pokémon. O golpe de Katrina havia sido certeiro em seus órgãos vitais, como fizera questão de verificar através das manchas negras no ferrão abdominal da Beedrill.

Mas lá estava ele, recuperado e evoluído. Fora capaz de sair de sua pokébola por conta própria, mesmo estando vários metros longe da treinadora. Distante demais para poder perceber qualquer emoção da parte dela.

Uma situação que seria cômica não fosse tão tensa. Diego levantava-se, nu da cintura para baixo, encarando o adversário enquanto pegava a pokébola levada ao pescoço como um pingente. Do outro lado, o Gardevoir transpirava fúria, seus braços esticados e alinhados verticalmente ao equilibrar uma esfera de energia negra com mais de trinta centímetros de diâmetro.

— Ninguém. Encosta. Na Himiko!

O pokémon do homem se revelava ao ser liberado, justificando a largura exagerada do túnel. Uma criatura metálica de grande porte se punha a proteger o abusador, colocando sua larga cabeça como um escudo a defender seu treinador do golpe iminente. As extensões pontiagudas em seu queixo fincavam-se ao chão em uma tentativa de fechar qualquer espaço por onde o orbe etéreo pudesse vazar em direção ao homem.

Himiko, situada entre eles, sentia-se inebriada pela situação. Tudo lhe parecia enevoado, cinzento, traumático. Uma guerra de luz e sombras permeava a sua mente, traduzida em sua visão borrada pelo brilho metálico a dançar em volta da grande cabeça do pokémon alongado, em contraste com a escuridão percebida ao redor de Futa na outra extremidade, privado da iluminação externa. Ou teria ela desaparecido por conta da esfera negra controlada por ele?

Incapaz de entender a guerra entre eles, rendeu-se a seus próprios pesadelos, ignorando a realidade antes do golpe se concretizar, lançado contra aquela serpente metálica grotesca.

Ela não chegou a ver o resultado do conflito, consumado de imediato após o ataque. A resistência física do adversário se mostrara inútil com o orbe negro atravessando sua carapaça sem dificuldade; sua força etérea incapaz de ser detida pelo aço. Diego, com sorte, haveria de ter sua vida drenada de súbito, sem ao menos ter tempo de sentir dor. Como o karma a lhe pregar uma peça; se tivesse se livrado de Himiko sem fazê-la sofrer, Futa seria incapaz de despertar para salvá-la.

Não que ele tivesse sido capaz. A treinadora sobrevivera, mas não estava a salvo. Ela balbuciava palavras sem sentido quando o Gardevoir se aproximou em uma tentativa de proteger a jovem daquela dor.

— Steelix… detenha… antes que ele…

O pokémon psíquico tocava o rosto da garota, tentando canalizar energias positivas na mente dela. Forçava-se a trazer as melhores recordações que tinha deles juntos. Uma tarefa fútil comparada ao sofrimento crescente dela.

— Não… April não, não… morta…

E, vencida pela dor, Himiko apagou.


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Notas finais do capítulo

Só o que eu posso dizer é "eu avisei".
Se você sobreviveu até aqui, prepare-se, pois estamos nos aproximando do fim. Não falta muito; se não tiver nenhum bloqueio criativo pelo caminho, devo terminar pelo segundo semestre do ano que vem. Assim espero




Notas do In-game:
Este capítulo também serviu de metáfora para o ginásio. E, tanto quanto na história, Futa resolveu tudo sozinho. O primeiro pokémon do ginásio (tipo terrestre) era um Claydol, com os golpes Light Screen / Reflect / Psychic. Suponho que o último fosse Explosion. Oportunidade perfeita para um spam de Calm Mind e posterior sweep com Psychic e Magical Leaf.
Literalmente a batalha de ginásio mais fácil que eu tive.
Resta a pergunta de como eu vou lidar com os próximos com a ausência de elementos equivalentes na história daqui em diante...

Status do time:
Pokémon: 4
Futakosei (Gardevoir) Lv. 58; Bold, Synchronize.
Ikazuchi (Manectric), Lv.56, Serious, Lightning Rod
Nagrev (Charizard), Lv.56, Naive, Blaze
Rejane (Lombre), Lv.57, Bold, Swift Swim

Mortes: 8 +0 = 8



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