Um mês de desespero escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 32
XXXI: Confide


Notas iniciais do capítulo

Olá, eu voltei. Meio na correria mas voltei.
Estou aqui com o que espero que sejam explicações pro que tá acontecendo. Na medida do possível e do necessário pelo menos...

Se ficou confuso o porquê o Looker fala meio estranho, isso se explica por ele ser de outra região, aonde se fala um idioma diferente. No universo do jogo, Hoenn é equivalente a uma parte do Japão, enquanto supostamente Looker veio de uma área próxima a Sinnoh, que seria a Rússia. Como ficaria meio impossível fazer essa dualidade na história, que é escrita em português, optei por usar o inglês (o qual tenho certo domínio e consigo usar mantendo o charme do Looker). Melhor ainda, posso colocar o Seth Kugel interpretando-o no meu voicecast...

Sem mais delongas, vamos ao capítulo!



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A ausência de resposta de Himiko tornou o ambiente silencioso por alguns instantes. Confusa, não sabia qual das opções seria menos pior. Confessar seu crime, se é que poderia ser chamado por tal nome, não lhe parecia tão ruim. Ao mesmo tempo, pensava que Looker poderia estar blefando, fazendo tal comentário justamente para forçá-la a falar sobre aquilo. Aliás, por que ele queria saber justamente sobre isso?

Ao notar o silêncio dela, no entanto, o investigador emendou o questionamento, dando à garota a certeza de que ele sabia exatamente o que ocorrera.

— Acho que o nome Diego Gaignard deve lhe soar um sino…

A constatação, tão direta quanto mal formulada, foi capaz apenas de arrancar de Himiko a irritação. Ela chegara a conhecer um Diego, era justamente aquele que lhe vendera a insígnia. Jamais poderia se esquecer de alguém como ele, não quando lhe deixara um resultado tão dolorido naquele encontro, tanto no psicológico quanto no físico da treinadora.

Come on, eu sei que você pode explicar isso.

— Afinal, o que você quer comigo? — foi o que conseguiu responder, não exatamente em seu melhor estado psicológico. Sentia-se intimidada, culpa daquela sala pequena e apertada, seu reflexo no espelho a encarando, como se uma dezena de pessoas a tivesse acompanhando.

— Não precisa fingir que é inocente, Himiko. Você foi presa por receptação de roubo. Essa insígnia foi tirada de um treinador credenciado.

— Eu paguei por essa insígnia! Por acaso é proibido vendê-las?

Himiko sabia a resposta, tendo procurado a respeito na noite anterior à negociação. O ato de comprar ou vender uma insígnia não é enquadrado como crime, mas como contravenção penal, o que resulta em penas menores. Em vez da prisão, a pena envolveria, no pior dos casos, a cassação da licença de treinador, bem como uma multa, a qual ela não teria condições de pagar naquele momento.

— Vou ser direto, não quero mal para você. Apenas diga o que sabe!

— E o que eu ganho com isso?

Listen, você é uma Caterpie entre Dragonites, nós da polícia estamos atrás deles. Se você ajudar eu posso mexer umas cordas para te tirar daqui, o que você diz?

Himiko o encarava, pensando em como deveria agir. Ela sabia dos riscos que corria quando tomou a decisão de comprar a insígnia, apenas não pensava que o pior pudesse lhe acontecer. Considerava que as ações da polícia para com ela estavam sendo acima do que era previsto para o caso dela. Por outro lado, Looker se mostrava uma boa pessoa, capaz de ajudar nos momentos difíceis como o que ela tivera pouco antes e, apesar da pressão que colocava naquele momento, poderia ser de grande ajuda, sendo capaz de aliviar a situação dela.

— Me parece justo — respondeu ela.

Alright. Me fale como encontrou Diego.

— Tudo começou quando eu vi aquele anúncio no jornal…

Himiko se decidira por contar a verdade, ou o mais próximo que deveria chegar dela. Na medida do possível, iria ocultar detalhes que pouco fossem importantes, como a presença de Wally naquele primeiro momento; não seria de qualquer relevância para a polícia revelar que foi através dele que ela tomou conhecimento sobre aquele tipo de comércio clandestino, o que o poderia colocar em uma situação ruim desnecessariamente.

— Você se recorda de esse homem ao telefone? Qual era seu nome?

— Jordan, Jason, Jacob… sei lá, não consigo me lembrar…

— Não fique… como se diz… na mira da arma. Ninguém vai lhe fazer mal, pode ter calma. Quer um pouco de água?

Ela assentiu, ao que o interrogador se levantou, saindo pela mesma porta pela qual entraram, a única no recinto. A jovem tentava despreocupar-se, tarefa difícil naquelas condições, por mais confiança que aquele estrangeiro lhe passasse. Por mais que tentasse, não era capaz de relaxar, culpa das circunstâncias e acusações que pesavam sobre ela.

Ele levou não mais do que dois minutos para retornar, segurando dois copos descartáveis cheios, um dos quais foi entregue a ela, que logo o esvaziou. Com certa surpresa, ele colocou o outro sobre a mesa, à disposição dela, por mais que seu plano inicial fosse tomá-la ele mesmo.

— Por favor, continue. O que aconteceu depois?

Ela continuou narrando, notando que ele fazia o possível para deixá-la à vontade para falar. Não a interrompia, não a encarava. O máximo que fazia que poderia deixar a garota tensa eram suas anotações ocasionais, possivelmente em seu idioma nativo, as palavras no papel parecendo incompreensíveis para Himiko quando olhou de relance.

Não demorou a perceber que o que a mantinha presa não era exatamente o que ela havia feito, mas sim o que sabia. E, desse modo, decidiu que faria o possível para se lembrar de cada detalhe para que a polícia tivesse melhores condições de pegá-lo. Nada seria tão bom para ela quanto saber que Diego seria preso com sua ajuda.

Inclusive, demorou-se em descrever seu algoz. Não que pensasse poder esquecer-se daquele rosto de feições duras, não quando ele teimava em lhe assombrar a qualquer momento em que sua mente se distraísse, fosse dormindo ou acordada. Suas lembranças lhe traíam, forçando-a a reviver aquele que era com toda a certeza um dos piores momentos de sua vida. Arriscaria a dizer que fosse o segundo pior.

— Fale sobre o acordo, por favor.

Ela percebeu ter se distraído do interrogatório por um instante, mas logo conseguiu retomar o ritmo inicial. Via-se já à vontade para falar sobre o assunto. Entre outras coisas, o desejo de se vingar do homem que tentou lhe matar se sobrepunha à insegurança pelo erro que cometera; a dor da recordação pela quase morte de Futa era quase irrelevante.

— Então, ele te deu a insígnia e foi embora?

— Sim. Ele me pareceu um pouco apressado, suponho que tenha se aborrecido por causa do dinheiro trocado. Só sei que antes que eu pudesse sair de lá, a Beedrill dele nos atacou.

Pela primeira vez durante toda a narração de Himiko, Looker se mostrou realmente interessado. Arrumando-se na cadeira, tornou a questionar, a voz ligeiramente mais aguda como consequência da curiosidade:

— Volte um pouco, por favor. Consegue se lembrar do que ele falou?

— Não vou me lembrar das palavras exatas, mas tenho certeza que não foi nada demais…

— Qualquer detalhe pode ser importante, garota! — afirmou suavemente.

— Negociamos o preço, como eu falei. Estávamos afastados. Eu me aproximei para entregar a bolsa, ele a abriu e começou a contar as moedas. Até fiquei em silêncio pra não desconcentrar. — ela fez uma pausa, tentando se lembrar de alguma outra coisa. — Ele me entregou o estojo, agradeceu e foi embora… não, espere! Ele me entregou um cartão antes de ir!

— Você tem esse cartão?

— Se tiver, vai estar na mochila. Como eu te falei, depois a Beedrill atacou e não pensei mais a respeito.

I see… Algo mais que pode se lembrar? Mesmo que seja simples…

— Nada mais. Ele agradeceu, apertou minha mão e foi embora.

Treinadora e investigador se encararam por mais alguns instantes; Looker tornou a apoiar seu rosto sobre a mão, como por várias vezes fizera até então. Pouco depois, finalmente sorriu, um curto lampejo de alegria visível a um olhar mais atento.

— Obrigado. — arrastou ele, atrapalhando-se na pronúncia. — Vou fazer o que puder pelo acordo.

— Espero ter ajudado. — comentou ela, sendo deixada sem resposta pelo homem, que já se levantava.

— Fique aqui. Logo vem alguém lhe buscar.

Ele saiu apressado pela porta, sem sequer explicar a ela o que o deixara tão agitado. Levou mais que um instante para que um policial, bem mais corpulento que Looker, aparecesse pela única porta do recinto, exigindo que ela seguisse pelo caminho indicado por ele, de volta para a mesma cela da qual havia sido resgatada mais cedo.

Ela não pôde deixar de notar, pensando melhor, que algo o interrompera naquele interrogatório. Looker com certeza percebeu algo pelas palavras dela, apressando-se para sair sem dar muita atenção a ela. Algo que Himiko falhava em compreender o que seria.

Talvez sequer percebesse o quão importante seu depoimento havia sido.

— — —

O colchão da cela podia não ser desconfortável, porém Himiko não chegou a dormir de fato naquela noite. Revivendo os acontecimentos do dia anterior, tão atribulado, percebeu o tamanho de sua falta de sorte. Tudo o que poderia ter dado errado havia acontecido, como se uma força externa a tivesse amaldiçoado com o azar.

Por conta disso, duvidava que as coisas pudessem melhorar quando se estava dentro de uma cela de delegacia, sua única visão do mundo exterior sendo uma fresta com no máximo quinze centímetros de largura na divisão entre a parede oposta à porta e o teto. Ao mesmo tempo, considerava humanamente impossível que as coisas pudessem piorar, estando isolada do mundo, em um local aonde, em teoria, nada de tão grave poderia lhe acontecer.

Por fim, a sorte decidiu virar a favor dela pouco após o amanhecer. A claridade veio acompanhada pelo mesmo policial que a havia acompanhado de volta para a cela na noite anterior, o qual abria a pesada porta metálica.

— Bom dia. Por favor, me acompanhe.

Ela hesitou, consequência do susto. Ao contrário da noite anterior, ele não a algemou no percurso que seguiam, na direção oposta à que ela tinha sido levada por Looker, fato que a fez quebrar o silêncio:

— O que houve?

— Você foi liberada. Estou te levando para o delegado, ele está cuidando da documentação.

A jovem não escondeu o sorriso, surpresa pelo fato. Tudo bem que Looker tivesse prometido que iria ajudar, mas ela não imaginava que pudesse ser tão rápido.

E foi com esse misto de alegria e surpresa que ela se viu sentada em uma mesa, tendo a sua frente um homem mal-encarado, duplamente intimidador por seu tamanho e sobrepeso, a qual supôs ser o delegado. Ele logo entregou alguns documentos, solicitando que ela os assinasse. Folhas e mais folhas tratando do que estava explicitado apenas como prisão temporária, sem qualquer especificação dos motivos pelos quais ela poderia estar detida.

A ausência de vontade em ler as letras miúdas fez com que logo se livrasse da obrigação, recebendo logo em seguida seus pertences. Além da mochila que já se encontrava na cadeira ao lado, lhe foi entregue uma pequena cesta com a haste de cabelo e suas pokébolas.

Ou melhor dizendo, quatro delas.

— Com licença, — perguntou ela, educadamente enquanto abria a mochila, certificando-se de que não estavam por lá — estão faltando duas pokébolas.

Ela olhava cuidadosamente para as esferas, logo identificando os Pokémon que não estavam presentes: Gérson e Futa.

— Suas coisas estão como me entregaram. — respondeu ele, monotonamente. — Quais Pokémon são?

— Gyarados e Gardevoir.

— Então aquela aberração é sua? — o delegado logo se interessou, finalmente encarando a garota. — Não me responsabilizo por ele.

O homem pegou o telefone em sua mesa, discando um número qualquer sem que Himiko pudesse perguntar alguma coisa.

— Tragam o 03 aqui pra minha sala! — foi apenas o que disse, desligando o dispositivo em seguida.

— O que vocês fizeram?

— Tivemos de dar um jeito nele. — o homem retornou ao seu tom monótono usual. — Aquele monstro saiu da pokébola sozinho e tentou destruir a delegacia. Eu devia te mandar de volta pra cela por causa dele, mas tenho uma ordem explícita pra te soltar.

Batidas à porta, um policial entrou na sala carregando duas pokébolas em um outro cesto, sendo uma delas de topo negro, deixando-a sobre a mesa e saindo da sala sem falar nada.

Ela pegou primeiro a esfera vermelha, reconhecendo ser a de Futa. Ela estava vazia, contudo.

— Ele está nessa outra aí agora. — explicou o delegado. — Se ele sobreviveu, dessa aí ele não escapa sozinho.

— O que vocês fizeram com ele?

— Ora essa! Nós o atacamos!

Himiko pensou em muitas coisas que gostaria de dizer ao homem, nenhuma delas de bom tom. Sem querer testar a paciência do delegado, controlou-se para não se estender no assunto.

— E o Gyarados?

— Esse não estava conosco. A equipe do Looker deve ter confiscado por algum motivo.

— Tá, e o que eu faço a respeito?

— Volta mais tarde, eles não tão aqui. Agora cai fora que eu tenho mais o que fazer.

Intimidada com a grosseria do homem, ela logo se retirou, encarando a liberdade que a aguardava do lado de fora da delegacia, a qual ficava afastada o suficiente da cidade para que ela não soubesse que direção tomar.

Foi então que pegou o PokéNav, visualizando não somente a rota que deveria seguir para chegar ao centro Pokémon, como também se lembrando de seu outro compromisso naquela manhã.

Um encontro para o qual estava atrasada, sendo incapaz de chegar à Praça Clemente nos cinco minutos que faltavam para as oito da manhã.

— Merda!

Apressou-se então, correndo para chegar logo ao local combinado. Sabia que não chegaria a tempo, mas a ideia de deixar o Sr. Stone esperando por ela não lhe agradava quando ele havia sido tão incisivo em marcar aquele encontro.

O relógio do PokéNav marcava exatamente oito e catorze quando ela finalmente chegou, ofegante, colocando as mãos aos joelhos ao buscar mais ar para encher seus pulmões, as pernas levemente doloridas pela fadiga.

Mas Rochard não estava lá.

Ela logo sentou-se em um banco, tendo visibilidade de toda a pequena praça. Não sabia se ele havia tido problemas a ponto de não conseguir chegar a tempo, ou se desistira de falar com ela ao ver que Himiko não cumpriu sua parte no combinado.

Os minutos se arrastavam junto com o movimento da cidade. Oito e vinte. O sol começava a esquentar, sua nuca queimando com o sol. Oito e vinte e cinco. Um treinador se aproximou do lago central, liberando dois Pokémon lutadores para praticar. Oito e meia.

Não demorou para que ela se inquietasse. Olhava fixamente para o PokéNav, decidindo se valia a pena ligar para ele. Logo se deu por vencida, discando para o Sr. Stone para descobrir o motivo de sua ausência, ao que não foi atendida. O fato a assustou, considerando que das outras vezes em que ligou ela havia sido prontamente atendida.

Passavam alguns minutos das nove da manhã quando ela se deu por derrotada, encaminhando-se para o centro Pokémon. Ela, tanto quanto seus companheiros, teriam por bem uma oportunidade de descansar e se alimentar. E, no caso de Futa, ter seu estado avaliado, dada a falta de coragem da treinadora em se utilizar da pokébola negra.

Sua preocupação a respeito do Gardevoir não se mostrou verdadeira, por mais intimidadoras que fossem as palavras do delegado. O Pokémon se encontrava mais uma vez inconsciente, porém sem qualquer dano mais sério; nada que não pudesse ser resolvido com uma energização e um dia ou dois de descanso.

Mas mesmo quando ela devorava as torradas, minutos depois, sua mente continuava ocupada, tentando entender o porquê da ausência do Sr. Stone, principalmente pelo fato de que foi ele a insistir para que o encontro ocorresse pessoalmente.

Mesmo assim ela não se deixou abalar pelo acontecido; cedo ou tarde acabaria falando com ele, tendo enfim a oportunidade de ouvir o que pudesse ter a dizer. Por esse motivo, quando recebeu a notícia de que seus Pokémon estavam prontos e recuperados, — ressalva feita a Futa, que precisaria de um dia inteiro de repouso para estar em perfeito estado — ela partiu outra vez em direção ao ginásio. Tinha certeza de que não encontraria Norman por lá desta vez, entretanto igual era a convicção de que Ravena também não estaria lá.

Seria inocência crer que o local estivesse vazio; pelo contrário. A fita de isolamento colocada no entorno do terreno atraiu um sem-número de curiosos, transeuntes que deixavam de seguir seu caminho para descobrir o que teria acontecido a ponto de uma equipe de policiais estrangeiros tivesse fechado o ginásio, como identificado na faixa amarela e preta que o cercava.

Himiko ignorou a advertência. Talvez tivesse a sorte de não encontrar ninguém no terreno que pudesse importuná-la dessa vez. E se Looker estivesse por lá, poderia ao menos perguntar sobre Gérson.

Lembrando-se da batalha da véspera e de como ela se decorreu, a jovem tratou de procurar pelo rombo na parede pelo qual os diversos Pokémon invadiram o ginásio, duvidando que a polícia tivesse feito algo a respeito.

Mesmo assim, não seria tão fácil. Pois como ela mesmo havia previsto, uma quantidade de agentes estava trabalhando no local. Entre eles, Looker, que se encontrava do lado de fora, ao telefone.

Ela pesou a situação. Preferia que fosse encontrada por ele, que já a conhecia, e não por outro membro da equipe, que trajava os mesmos uniformes negros com coletes cinzentos da noite anterior. Por esse motivo, aguardou o momento em que ele desligou o telefone para se aproximar, se permitindo ser vista pelo homem.

— Oh, Himiko! Bom te ver! — Looker abriu um sorriso ao ver a jovem. — Quero falar com você.

— O que está fazendo aqui?

— Investigação. Não posso falar sobre isso.

— Tudo bem, eu entendo.

O detetive encarou-a, como que procurando o melhor jeito de dizer suas próximas palavras:

— Primeira coisa, obrigado pela ajuda. — ele fez uma pausa, notando a surpresa dela. — Você ajudou mesmo, vejo que podemos encontrar Diego logo.

Ela, sem resposta, apenas o observou, esperando que ele continuasse a falar.

— Então, sobre ontem. — ele comentou, mudando o tom. Mais sério agora, parecia ter dificuldade de encontrar as palavras certas. — Seu Pokémon…

— Eu já ia lhe perguntar. — completou ela, sem perceber a tensão que Looker ocultava. — Me disseram que ele estava com vocês.

— Hmm… ele, bem…

Na falta de uma maneira melhor para anunciar o que ocorrera, ele se contentou em retirar uma pokébola cinzenta do bolso, entregando-a.

— Desculpe, eu não pude fazer nada…

Estranhamente, Himiko não se abalou com a notícia. Tendo visto o estado em que Gérson estava após receber o golpe, se surpreenderia mais caso o Gyarados estivesse vivo. Tal fato não a impediu de começar a chorar, pois mesmo que ele fosse o Pokémon com quem tinha menos intimidade no time, ele havia sido dado por Brendan, carregando consigo uma carga emocional forte o bastante para que se sentisse mal.

— Ele não estava no seu melhor, you know. — Looker tentava explicar. — Aquele Houndoom era o mais poderoso Pokémon que eu vi em mais de quinze anos na polícia. Precisamos de oito dos nossos para pegar ele, seu Gyarados nunca teve chance…

Mais do que a morte, as palavras de Looker a deixaram perplexa. Estava claro para a garota que o espécime usado por Ravena era muito acima da média, mas não seria capaz de imaginar que mesmo Looker estava impressionado com sua capacidade.

— E como isso aconteceu?

— Nós queremos descobrir isso. Ela está envolvida em algo grande, acho que Diego também. Aquele Pokémon é chave para o que acontece.

— Então quer dizer que… — Himiko finalmente percebeu o tamanho da confusão em que tinha se colocado. — Céus…

— Posso te pedir algo? — Looker questionou usando um tom mais sério. — Você falou que estava procurando por seu pai, mas… tente não entrar em problemas!

— O que você quer dizer?

— Como eu posso dizer… coisas estranhas estão acontecendo, até aonde sei Norman se escondeu, e vendo que você é filha dele podem lhe fazer algo de mau.

— Eu nunca quis me meter nisso, sabe… — ela finalmente desabafou, esperando que ele pudesse entender seu lado. — Eu só estou nessa pra me encontrar de novo com ele e com minha irmã… faz quatro anos que eles se mudaram e não tive notícia deles desde então, aí eu venho pro ginásio dele e…

Uma lágrima escorreu pelo rosto da garota. Lembrar-se mais uma vez de quando percebeu que April tinha ido junto com Norman para Hoenn a machucava a esse ponto. Looker percebia que não era nenhum fingimento, finalmente dobrando-se.

— Eu sinto você… mas não posso te ajudar. Não tenho pista de onde ele pode ter ido…

— Será que ele não deixou nada que possa ajudar a descobrir?

Ele balançou um pouco, porém acabou cedendo um momento depois.

Fine. Vem comigo! E por favor, use isso! — ele retirou um par de luvas plásticas do bolso. — Só tente não bagunçar nada!

Os dois acabaram adentrando justamente pela fenda que fora aberta na véspera, a qual estava sendo guardada por um dos agentes. Looker pronunciou algo para ele que a jovem não conseguiu compreender, possivelmente em outro idioma, aparentemente para justificar a entrada dela.

E mesmo tantas horas depois da batalha, o ambiente na arena continuava pesado, consequência dos resíduos do combate que se mantinham por lá. Uma espécie de areia cinzenta forrava o chão do ginásio, possivelmente formada pelos restos das brasas emitidas pelo Houndoom.

Eles, no entanto, ignoravam o estado da área de batalhas, logo se dirigindo a um cômodo menor, o qual não passara despercebido a ela na véspera mesmo que não tivesse tido a oportunidade de entrar.

— Por favor, não bagunce nada.

Era difícil precisar se o pedido de Looker era sério ou apenas uma ironia, considerando a completa falta de organização do pequeno escritório. Vários livros se encontravam jogado ao chão, retirados de uma estante agora vazia. Uma mesa se situava ao centro, os documentos espalhados sem qualquer ordem sobre ela. Duas das três gavetas ao lado da mesa estavam abertas e igualmente bagunçadas. E se havia alguma cadeira para que Norman pudesse se sentar à mesa, ela não estava no local.

Himiko olhou primeiro para as gavetas, cujo conteúdo era pouco relevante. Canetas, carimbos, clipes de papel. Mesmo a gaveta fechada não tinha nada que não pudesse ser comprado em qualquer papelaria. Suas atenções logo se voltaram para os documentos sobre a mesa. Entre as contas para pagar e os documentos da liga, nada que pudesse dar uma dica sobre o paradeiro dele.

Estava quase desistindo quando notou um papel colorido em uma das gavetas abertas, sob um grampeador. A princípio julgou ser apenas um folder de propaganda, nada muito relevante. Um casal de treinadores trajando laranja ilustrava a divulgação de um tal Centro de Formação de Rangers, com sede em Fortree.

Mais do que a estranheza em ver algo do tipo no meio dos pertences de Norman foi encontrar uma única palavra escrita à caneta no canto do folder, em uma caligrafia que a garota reconheceu ser de seu pai. Puffie.

Ela recordou-se imediatamente da infância. Sabia exatamente o que aquela palavra significava, lembrando-se de mais do que uma ocasião na qual ele se referia a April por este apelido, comparando-a com um Jigglypuff.

Naquele momento, Himiko soube exatamente aonde precisava ir se quisesse vê-la novamente.


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Notas finais do capítulo

O que foi, achavam que a história estava chegando no fim? Bem que a Himiko queria, não é?
Ainda tem muito chão pela frente, situações a serem desvendadas... e novas aventuras nessa outra etapa da busca...

Notas do in-game:
Bem, eu prometi que iria explicar alguma coisa, mesmo sabendo que eu não deva. Ao menos no jogo, é dito que um grupo de vilões, denominado Team Omega, está agindo para tomar o controle da liga pokémon, e que Ravena está alinhada com eles. Mas como jogo é jogo e fanfic é fanfic, já adianto que as coisas não vão acontecer exatamente igual ao jogo, afinal, que graça teria?

Já o Gérson... bem... Eu falei que ele tomou um Thunder Punch de um Magmortar na batalha do ginásio. Quais eram as chances de ele sobreviver?

Status do time:

Pokémon: 4
Futakosei (Gardevoir) Lv. 47; Bold, Synchronize.
Ikazuchi (Manectric), Lv.46, Serious, Lightning Rod
Nagrev (Charizard), Lv.47, Naive, Blaze
Rejane (Lombre), Lv.46, Bold, Swift Swim

Mortes: 6 +1 = 7
Gérson (Gyarados), Lv.7~46, Brave, Intimidate



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