Um mês de desespero escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 31
XXX: Lock-On


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, aqui está o que seria parte do capítulo anterior, mas que achei por bem desmembrar. Inclusive, pensando com calma, faz muito mais sentido colocar esse trecho separado, por mais que o resultado seja ter dois capítulos menores que de costume. A questão é que o clima deste capítulo é bem diferente do anterior, um nível de tensão diferente.

Ah, avisando antecipadamente: Se houver algum erro de concordância ou de digitação dentro da fala de certo personagem que vocês vão ver, é proposital; a explicação está no texto, mas não custa avisar antes que algum Pasquale venha questionar...



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A escuridão da noite se fazia presente no momento em que a garota despertou, encontrando-se em uma cama pouco confortável; o lençol branco contrastando com o excesso de cinza do cômodo. Este media menos de três metros de largura por no máximo cinco de comprimento, possuindo apenas o colchão sobre uma estrutura de concreto, um pequeno banco de madeira e algo que lhe pareceu uma pequena mesa de material plástico presa a um dos cantos do quarto. Uma única fresta se abria aonde deveria ser a divisão entre o teto e a parede oposta à porta, medindo no máximo uns quinze centímetros de largura, pela qual algumas estrelas podiam ser vistas no céu noturno.

Concentrou-se então na parede oposta, logo localizando a saída, ou o que logo notou ser a ausência dela; a pesada estrutura metálica não tinha nenhuma tranca ou fechadura visível, sua cor acinzentada quase se misturando ao reboco nas paredes sem qualquer pintura ou acabamento.

Olhou para si mesma em seguida, finalmente se dando conta de sua situação. Não tinha nenhum ferimento novo, e mesmo o que tinha nas mãos já estava cicatrizado apesar do aspecto áspero e escurecido, o que pôde perceber pelo fato de que o curativo havia sido removido. Seus pertences, contudo, não se encontravam no local; pokébolas, mochila, até mesmo a haste metálica que usava para prender os cabelos havia sido retirada dela.

Tentando se lembrar de como viera parar naquele local, analisou com mais calma o ambiente, notando que o que pensava ser uma mesa de canto era na verdade um assento sanitário, finalmente percebendo aonde estava.

Aquele lugar era uma espécie de prisão. Ou pior: era literalmente uma.

A primeira reação de Himiko ao perceber isso foi gritar, um ruído histérico e ensurdecedor que reverberava pelas paredes, ao mesmo tempo em que se forçava a lembrar dos acontecimentos recentes. Recordava-se do momento em que entrou no ginásio, entreouvindo a conversa que Ravena tinha ao telefone e chegando à conclusão de que tentavam se livrar dela.

Mas o ginásio fora invadido, como ela também se lembrava. Vários Pokémon entravam por um buraco na parede; logo em seguida ela foi capturada por um homem trajando vestes escuras sob um colete cinzento. Cada um dos Growlithe que penetrou pela fenda encarava Ravena, contudo, ignorando a presença de Himiko no recinto.

Então por que levaram a mim?

Forçava-se a lembrar de algum outro detalhe que pudesse ter passado despercebido. O homem que a levara não era o único; outros seguiam para o interior do ginásio mesmo enquanto ela se debatia, tentando se livrar do que provavelmente era um fluido feito de esporos do sono que lhe era colocado contra a face…

Tremeu com a lembrança, imediatamente tornando a gritar em desespero à medida em que olhava para si, sentindo-se tão mal que sequer conseguia manter os olhos totalmente abertos, procurando por algo que não desejava ver. Algo que nunca encontraria, sendo sua preocupação infundada daquela vez, por mais que seus medos teimassem em lhe convencer do contrário.

Não fosse isso, teria percebido a aproximação de pelo menos duas pessoas que conversavam do lado de fora, observando-a por uma pequena abertura na porta. Mais de meia hora de gritos e choro intercalados os detiveram, momentos de medo em que a jovem se encolhia, rolando de um lado para o outro, ora na cama ora no chão, intercalados com a raiva, quando atirava o pequeno banco de madeira contra a parede até destruí-lo, ou então tirando o lençol da cama, rasgando-o; teria feito o mesmo com o colchão se conseguisse removê-lo da cama concretada.

Ela ia lentamente se acalmando depois de todo esse tempo e mais um pouco; o ar voltava a encher seus pulmões, doloridos em sua ânsia de tentar respirar; o coração voltava a um ritmo aceitável de batimentos, reduzindo sua intensidade; o corpo encharcado de suor começava a incomodá-la, a sensação era como se tivesse tomado um banho sem tirar as roupas. E quando finalmente a paz parecia ter retornado, uma única pessoa bateu à porta, abrindo totalmente o postigo para que pudesse ser visto pela garota.

— Com licença… Você está bem?

Himiko demorou mais que um instante para olhar na direção de onde vinha a voz calma e suave, de sotaque carregado; o rosto jovial que a pronunciou, apesar das marcas visíveis de idade, sorria para ela da pequena fenda que se abria.

— Eu posso entrar?

Ela não sabia se confiar naquele desconhecido era uma opção, por mais gentil que ele parecesse ser. Após um tempo considerando, assentiu com a cabeça, quase se arrependendo por tê-lo feito.

O forte barulho da tranca se abrindo a assustou. Entretanto, o homem empurrava a porta lentamente, colocando primeiro o rosto para dentro, observando-a antes de prosseguir, temendo por algum tipo de reação.

— Não se prreocupe, vai passar… — ele pronunciou, evidenciando certa dificuldade com as palavras, mas não com a situação delicada em que ela estava. Pegou em seguida uma pequena barra de chocolate do bolso de seu casaco pardo. — Pegue isto, vai te fazer sentir melhor…

A jovem relutava, persistindo em temer a presença daquele que tentava lhe ajudar. Não sabia lidar com aquele tipo de insegurança, por mais que tudo estivesse bem com ela desde que ele chegara, sua preocupação mesmo infundada lhe perseguindo. Por educação, mais do que por boa vontade, recebeu o doce, contudo sem o abrir.

— O que deixou você assim? — perguntou ele na melhor das intenções.

Ela evitou imediatamente o olhar dele, abaixando sua cabeça para evitar que ele visse sua expressão mesmo que se pusesse em pé a sua frente. A situação já estava deveras desconfortável sem a presença do homem ali, quanto pior com aquela curiosidade. Não queria ter se sentido tão mal, não precisava ter se sentido tão mal. Era apenas uma sensação ruim da qual desejava se esquecer.

— Está tudo bem, não prrecisa falar se não quiser. — ele logo se apressou, imediatamente notando que a pergunta não fizera bem. — Estou aqui para ajudar. Respire, com calma, ok?

Aos poucos, Himiko começava a baixar sua guarda. Não sabia quem era o homem que lhe acompanhava na sala, mas mostrava a melhor das intenções. Não demorou até que abrisse o chocolate, deixando um pouco o receio de lado para dar-lhe uma mordida, o sabor adocicado lhe trazendo certo conforto.

— Você poderia vir comigo? — perguntou ele, sem muitas pretensões. — É um pouco desconfortável aqui, você não acha?

Por mais cheia de receios que estivesse, ela era obrigada a concordar. Ele não a levaria para um lugar pior que uma cela apertada como aquela, simplesmente por não conseguir imaginar que haveria como ser pior que onde estava. E, por mais que a garota teimasse do contrário, ele se mostrava muito solícito e amigável, o que ia de encontro com os medos dela. Algo bem no fundo de seu peito lhe dizia que podia confiar nele, um pensamento contido, mas que a fez considerar de fato a proposta.

— Quem é você? — perguntou ela.

— Me chame de Looker, é como me chamam.

Ela finalmente levantou-se, aceitando o convite. O homem seguiu primeiro, escancarando a pesada porta metálica para que ela pudesse seguir atrás ao mesmo tempo em que gesticulava; não para ela, mas para o lado de fora da sala, como se houvesse alguém por ali.

— O que está acontecendo? — perguntou ela, notando que havia muito a ser explicado.

— Eu pensei que você já sabia… alright, eu te explico quando chegarmos.

Himiko teve mais motivos para hesitar, mas não voltou atrás. Looker caminhava silenciosamente ao seu lado, em uma tentativa de fazê-la se sentir mais protegida naquele corredor escuro, em que notava outras portas como a que fechava o cômodo em que estava antes; finalmente percebeu que chamar o ambiente de cela não era errado. De fato, se pudesse supor aonde estava, seu primeiro palpite seria um presídio.

E mesmo que não o fosse, estava tão bem equipado como um, se não melhor. Passaram por mais de uma porta sem fechadura, as quais possuíam pequenos painéis ao lado; aparentemente sua entrada somente era permitida com o uso de uma senha. A porta pela qual Looker a levou, no entanto, era apenas uma estrutura comum de madeira, a qual revelava um cômodo não tão mais espaçoso como havia sido prometido; cabiam ao menos uma mesa e duas cadeiras, não mais do que isso. Não era exatamente aconchegante, mas somente o fato de ser um ambiente bem iluminado e de paredes claras, em tons de bege, já a fazia se sentir melhor.

Não foi necessário pedir para que Himiko se sentasse, já percebendo que era a única coisa que poderia fazer ali. Certamente ele gostaria de conversar à sós com ela, algo que não tinha a intenção de fazer na cela aonde ela estava detida. Só o que lhe faltava era descobrir o porquê.

— Eu preciso fazer a você algumas perguntas. — dizia o homem ao se sentar na cadeira oposta, dando uma breve olhada ao espelho que ficava na parede ao lado.

— Tudo bem, eu acho… Mas dá pra explicar o que tá acontecendo?

Looker hesitou, não pelo questionamento, mas por não saber exatamente como responder. Sua falta de domínio do idioma não lhe ajudava.

— Eu sou detetive de polícia. — explicava ele, retirando o distintivo que estava em uma das gavetas e colocando-o sobre a mesa. — Eu estou trabalhando em um crime, e eu… imagino, que você pode ajudar na investigação.

A jovem não se sentiu exatamente aliviada, encontrando-se desconfortável no cômodo. Acreditava estar sendo observada, por mais que não houvesse câmeras ou qualquer outro equipamento eletrônico na sala. Temia que a situação se virasse contra ela, não sendo totalmente inocente. Tinha medo de que houvesse um motivo real para que estivesse presa.

— Antes de outra coisa… Qual o seu completo nome?

— Himiko Meanders Senri. — respondeu pausadamente, tentando se acalmar. Não havia motivo para ter receio, não quando era apenas vítima da situação em que se encontrava, por mais que no fundo duvidasse ser apenas isso.

— O dia e a cidade em que nasceu, por favor?

— Vinte e um de dezembro. Nasci em Ecruteak, Johto.

— Oh, eu conheci Ecruteak. Uma cidade bela. — fingiu distrair-se o investigador. — Você gostava de morar lá?

— Eu não me lembro muito de Ecruteak, na verdade. Eu morei em Mahogany até pouco tempo…

I see… é uma pequena cidade, não é?

Himiko começou a se soltar aos poucos, falando a respeito o local em que crescera. Seguiram-se perguntas sobre sua infância, por conta das quais ela narrava suas peripécias, as brincadeiras que gostava quando era menor. Looker apenas a observava, prestando atenção em cada detalhe do que ela dizia.

— O que te trouxe para Hoenn?

— Minha mãe decidiu se mudar pra cá. — Ela fez uma careta. Não era um assunto do qual gostava de falar sobre. — Digo, meu pai é líder de ginásio aqui, acabamos vindo pra cá por causa dele.

— Como é sua relação com a família? O que sente por seus pais?

— As coisas não são muito boas em casa, vou ser sincera… Meu pai veio primeiro, tem uns quatro anos… não falo com ele desde então. Nunca ouvi uma palavra dele desde que se mudou, eu precisava vir falar com ele aqui pra resolver uma situação…

Oh, right… Era porque esse motivo você estava no ginásio hoje?

— Ah, sim. Pensei que ele fosse estar por lá, mas me enganei…

O investigador parou por um momento, apoiando a cabeça com a mão ao mesmo tempo que o cotovelo pousava sobre a mesa.

— Aquela pessoa que você estava… lutando. Você conhece?

— Eu cheguei a conversar com ela uma vez… — Himiko explicava sobre sua primeira visita, logo no início de sua jornada. — Ela me disse que eu era iniciante ainda, que eu precisava treinar antes de falar com ele. Eu nunca cheguei a comentar com ela quem eu era, não sei, não fui muito com a cara dela…

— Sim… pensou correto. — ele fez outra pausa. — Há quanto tempo você é treinadora?

— Não muito, na verdade. Tenho minha licença tem umas duas ou três semanas, eu acho…

— Você já teria ido a algum ginásio antes?

— Oh, sim. Já consegui insígnias. — ela continha o nervosismo, sem muito sucesso. Não queria ter de falar sobre elas, ou teria problemas maiores por assuntos que não se sentia à vontade para relembrar. A morte de Roxanne e de Bugynus, pelas quais estava de certo modo envolvida. O atentado ao ginásio de Mauville no qual esteve presente. A insígnia comprada em Verdanturf, pela qual quase morreu por duas vezes…

— Fale um pouco sobre as lutas. Teve você pro… pro… problemas? — perguntou ele, quase não conseguindo dizer aquela palavra.

Himiko teve um calafrio com a pergunta. Lembrava-se de cada uma das situações que vivera, com pelo menos três batalhas curiosas. Começou a narrar a respeito do embate de Dewford, talvez o menos memorável até então, porém o único que não lhe traria problemas em falar sobre.

— Foi a primeira vez em que batalhei usando dois Pokémon ao mesmo tempo, tive muita dificuldade em coordenar os dois. — explicava, controlando sua respiração para conter a ansiedade. — Acho que eu só consegui vencer porque o líder ficou só se defendendo, eu demorei muito a pensar em um jeito de vencer…

Mesmo aquela era uma luta da qual não gostava de se recordar. Lembrar-se do combate significava lembrar-se também de dois Pokémon que não viajavam mais com ela, por um motivo que persistia a lhe causar dor.

— Fale sobre a luta recente. — Looker abria novamente a gaveta, tirando dela um pequeno estojo que a garota imediatamente reconheceu, sendo idêntico ao que carregava em sua mochila. A uma análise melhor, ela percebeu se tratar de ser o próprio estojo. A tensão se transformou em medo no momento em que ele retirou o pingente avermelhado, assemelhando-se a uma labareda que partia de uma pérola, colocando-o ao lado do distintivo. — Foi muito difícil derrotar Flannery?

Himiko encarou-o, sem ter a menor ideia do que deveria responder. Era, dentre as insígnias, justamente a única pela qual não havia iniciado uma batalha. Aquela que lhe custara praticamente todo o dinheiro que tinha.

Forçava-se a encarar aquele que lhe interrogava, conseguindo apenas pensar em uma única palavra. A mesma que invadira a sua mente horas atrás, quando se viu cercada pelos Mankeys. Não poderia pronunciá-la na frente de um investigador de polícia, sabendo que seria imediatamente presa por desacato; contentou-se em mentalizar, como quem conversava com Futa, controlando-se para não dizer em voz alta o que pensava naquele exato instante.

Fodeu.


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Notas finais do capítulo

Problemas? Problemas.
Ou algum de vocês alguma vez se esqueceu que Himiko tem um certo magnetismo para a má sorte?

Me contentarei com isso por enquanto. Espero não demorar muito tempo para o próximo capítulo...


Notas do in-game:

Desenvolvimento no jogo? O que é isso?
Mas a história por trás dos líderes de ginásio trocados ganhou uma explicação no jogo, cortesia do pai do Wally. Nas versões normais ele apenas agradece por você ter ajudado o filho dele a conseguir um pokémon; aqui não. Em vez disso, ele te pede pra procurar o filho dele, que fugiu para lutar contra uma situação... que vou explicar melhor depois desse interrogatório. Me desculpe pelas blue balls...

Status do time:

Pokémon: 5
Futakosei (Gardevoir) Lv. 47; Bold, Synchronize.
Ikazuchi (Manectric), Lv.46, Serious, Lightning Rod
Nagrev (Charizard), Lv.47, Naive, Blaze
Gérson (Gyarados), Lv.46, Brave, Intimidate
Rejane (Lombre), Lv.46, Bold, Swift Swim

Mortes: 6 +0 = 6



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