Um mês de desespero escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 23
XXII: Rock Slide


Notas iniciais do capítulo

Certo, pessoal. Esse capítulo ficou gigante, por esse motivo peço desculpas pela demora maior que eu havia previsto. Como eu falei antes, três semanas é um período mais aceitável, mas com a faculdade me importunando parece ser pouco tempo ainda.

Para completar, percebi que tenho dedicado mais tempo para escrever a minha outra fic do que essa. Em condições normais eu ficaria chateado comigo mesmo; por outro lado percebo que é um sinal de que estou cada vez me divertindo menos com minha criação. Previsível, visto o rumo que a história está tomando.

Bem, se o capítulo depois desse demorar mais do que três semanas... já sabem o motivo. Não pretendo colocar ela em hiato ainda; o planejamento existe apesar da dificuldade crescente em escrever. E também não quero ser chicoteado por abandonar uma fic em detrimento de outra.

Mas chega de se sentir culpado. Deixemos esse sentimento com a Himiko.

———

Talvez aqui seja um ponto legar para eu colocar de novo essa informação.
Existe uma playlist feita sob medida para a história. Inclui muitas das músicas que usei como inspiração para escrever, e outras tantas que escolhi depois e achei que combinavam com os capítulos.
A fanfic tem 52 capítulos, e a playlist tem 52 músicas. Não vejam necessariamente como "uma música para cada capítulo", mas existe uma certa progressão paralela. Ela apenas não é engessada (tem música que combina com metade de um capítulo, tem música que combina com dois...)
Enfim, espero que gostem!

https://www.youtube.com/playlist?list=PLAPnW9KXBize7wlsIObFxOc4d9XAmsfRw



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A terceira manhã de Himiko na cidade de Mauville não podia ser exatamente promissora, mas ela estava confiante de que seria melhor do que as anteriores. Não que fosse necessário muito, considerando a tensão que os últimos dias carregaram consigo.

Mesmo que o dia não tivesse se iniciado com brigas ou pesadelos, no entanto, a jovem não podia dizer que se sentia melhor. De certo modo o desconforto da véspera continuava, sua dor agora compartilhada fazia com que a ausência de April doesse ainda mais. E por mais que tivesse o apoio de seus Pokémon, ou pelo menos de alguns deles, isso lhe dava a impressão de que seria mais cobrada por progresso do que antes.

Em um lapso de consciência, ela desejou que April não existisse.

Era seu inconsciente gritando, uma tentativa de se libertar do vazio que Himiko sentia. Como as coisas seriam tão mais fáceis se não fosse por ela; não teria tido tantos conflitos em casa, tampouco teria motivos para tanta raiva. Poderia, talvez, ter um pouco de paz.

No instante seguinte, sentiu-se imediatamente culpada por ser tão honesta com seus pensamentos. Seria muito egoísmo da parte dela, que tentava encontrar um meio de remediar a situação, algum tipo de distração, um pensamento ameno que pudesse fazê-la esquecer do que acabara de desejar.

Poderia por exemplo perceber que pela primeira vez em sua jornada tinha montado uma equipe completa, com seis Pokémon em condições de batalhar. Ikazuchi e Nagrev haviam recebido alta já devidamente evoluídos não a muito tempo, depois de passarem dois dias internados. Era bem verdade que precisavam manter-se em repouso, uma recomendação da equipe de enfermeiras, visto que o psicológico deles poderia ainda estar afetado pela medicação, mas mesmo que não o fosse Himiko não pretendia chamá-los tão cedo, como uma forma de punição pelo transtorno que causaram a si mesmos e a Monk.

Não vai dar certo… eu só penso em tragédia…

Himiko tentou rir de si mesma pela situação, com certo sucesso. Acabou lembrando-se do ginásio pelo fato de que passara em frente ao mesmo na véspera quando estava indo comprar a pedra evolutiva para Monk.

Era engraçado de pensar que uma garota como ela iria um dia se interessar por batalhas Pokémon. Talvez quando as coisas se resolvessem, porque não, poderia participar do desafio à Liga Pokémon. A prática fez com que percebesse não ter dificuldade em comandá-los durante uma luta; pelo contrário, sentia-se bem ao ponto de se pegar desenvolvendo estratégias para batalhas futuras.

E pensar que ela entrara nisso tudo por conta de sua irmã…

O estrago estava feito. Himiko voltou a se recordar da infância, dos momentos alegres que a vida tratou de substituir pela solidão. O culpado por tudo isso era Norman, claro. Era para chegar até ele que a garota tanto almejara obter um Pokémon, tanto quanto teve a motivação inicial de obter as insígnias de Hoenn.

Não seria agora, tão próxima de seu objetivo, que iria ficar se remoendo pelas tristezas do passado. O momento era de preparação mental para a batalha que pretendia fazer naquela manhã.

E se tudo corresse conforme os planos, dormiria mais aquela noite em Mauville antes de partir para o norte em busca da última insígnia, dando a seus Pokémon um pouco de descanso após derrotar Wattson Tessen.

Himiko aprendera a lição quando teve oportunidade, preparando-se com antecedência para a batalha que iria realizar. Sua pesquisa lhe mostrou que o atual líder do ginásio era um ex-prefeito e co-fundador de Mauville, especializado no tipo elétrico. O senhor que aparecia às fotos, sempre sorridente, tinha uma expressão jovial que contrastava e muito com a idade avançada que ele aparentava.

Por esse motivo, quando encontrou o ginásio novamente fechado, logo descartou alguma questão de saúde como o motivo. Ela não gostaria de pensar na ironia que seria o falecimento do terceiro líder de ginásio em pouco mais de uma semana.

Seu instinto fez com que a treinadora caminhasse de volta para o centro Pokémon em busca de informações. Talvez a razão que tenha levado ao fechamento do ginásio fosse a mesma do cancelamento do Contest, o qual ela ouvira a respeito por conta do pequeno tumulto ocorrido na véspera.

De certo modo, era curioso que ela se recordasse da discussão segundos antes de cruzar pela rua com a garota de cabelos azulados que tentou acalmar os ânimos do treinador estressado no dia anterior.

Distraída como Himiko era, provavelmente não teria sequer reconhecido a garota se não fosse pelo atributo nada usual que lhe chamou a atenção. Enquanto observava a expressão tensa da jovem combinando com as mechas coloridas em tons de rosa e roxo, acabou escutando um trecho da conversa que ela tinha em seu telefone:

— Eu não quero abrir o ginásio, o vovozinho que gosta de batalhar, não eu…

Ao entreouvir a frase, Himiko deu uma guinada de cento e oitenta graus. Abandonou a ideia de voltar ao centro, percebendo que poderia conseguir a resposta de maneira mais rápida. Decidiu por seguir a outra silenciosamente na tentativa de continuar acompanhando o diálogo.

— É… acho que você tem razão…

A jovem que falava ao telefone se mostrava inquieta; possivelmente a pessoa do outro lado da linha lhe dava uma lição de moral, a julgar pelo tom triste e fraco com que ela respondia.

— Tá bom, você me convenceu. Eu vou.

Himiko não conseguiu deixar de abrir um sorriso. Se as coisas realmente estivessem acontecendo como ela interpretava o que ouvira, o ginásio logo estaria aberto. Melhor, teria como adversária a própria jovem que se encontrava conversando ao telefone, a qual a pouco revelara não gostar de batalhas.

Não que isso fosse motivo para baixar sua guarda. Aprendera a lição de que nunca era sensato subestimar um oponente e, principalmente, não suportaria a dor que seria perder um de seus companheiros por conta de uma imprudência.

— Tá bom, eu te ligo mais tarde. Até mais.

Ao ver que a outra desligava o telefone, a treinadora tratou de disfarçar suas intenções, deixando que a outra se distanciasse enquanto a analisava. Tentava descobrir quais Pokémon ele poderia utilizar, julgando por sua aparência, sem chegar a uma conclusão. Pensando melhor, ela nem mesmo aparentava ser uma treinadora.

Mas é claro! Como eu sou burra!

A garota em questão era a mesma que anunciara que o contest que estava prestes a ocorrer fora cancelado. Lembrando-se disso, chegou à conclusão de que a outra era na verdade uma das organizadoras, possivelmente sendo também uma coordenadora Pokémon. Mais do que isso, o estilo exótico dela, com seu casaco xadrez, leggings e tênis, combinava bem com a visão que tinha de uma participante desse tipo de competição; por esse motivo seria mais difícil acreditar que a garota se especializaria em um tipo específico de Pokémon.

Himiko voltou a pensar na batalha que pretendia realizar, imaginando qual de seus Pokémon teria um melhor desempenho contra ela. Futa era claramente o mais capaz dentre eles por conta de seu vínculo mental, porém poderia ser igualmente útil fora da batalha como fizera em Dewford, permitindo que ela entendesse os Pokémon que estavam em batalha para que pudesse agir de acordo. Usar Gérson não deixava de ser uma possibilidade, talvez mais arriscada; Gyarados eram famosos por sua grande força, porém estaria em uma imensa desvantagem no caso de ela usar o mesmo tipo elétrico pelo qual Wattson era especialista.

Tais pensamentos foram varridos de sua mente antes que ela pudesse vislumbrar o ginásio outra vez, pelo simples fato de encontrar outra pessoa caminhando pela mesma via. A jovem surpreendeu-se quando percebeu quem era; não apenas por tê-lo reconhecido, como também a última pessoa que imaginava rever.

O garoto, quase irreconhecível, sorriu para ela quando a viu.

— Wally? É você? — perguntou ela.

Era improvável que não fosse ele; os cabelos loiro-esverdeados e a baixa estatura eram por demais característicos. Em contraponto, sua aparência em nada lembrava o menino que ela ajudara em Petalburg.

— Himiko! — gritou ele, correndo até a treinadora.

Wally tornara-se outra pessoa por assim dizer. Sua voz se mostrava mais firme, revelando um desconhecido lado extrovertido do rapaz. Além disso, ele parecia ter engordado alguns quilos, dando uma forma mais aceitável a seu corpo, antes raquítico. Até mesmo sua pele adquirira um pouco de cor.

— Eu achei que nunca mais te veria! — suspirou ele, abraçando-a.

Se a intenção de Himiko era esquecer-se de seus problemas, não teria oportunidade melhor. O reencontro com o colega esvaziou-a de preocupações, ignorando até mesmo o ginásio e a jovem de cabelos azulados que se perdia na distância.

— Você mudou tanto, quase não te reconheci… — sorriu ela em resposta, apertando o menino.

— É como se eu tivesse nascido de novo…

Só então ela se lembrou do motivo pelo qual ele estava tão triste quando o viu pela primeira vez. Wally nascera com um problema cardíaco, pelo qual a única cura seria através de uma cirurgia por conta da qual iria se mudar para Verdanturf. Sem ter feito muitas amizades na cidade de Petalburg, ele era um garoto solitário, para não dizer excluído pelos colegas. Tal sentimento foi anuviado em parte pela ajuda dela, que lhe acompanhou e incentivou para que capturasse um Pokémon.

— Fico feliz em te ver bem assim…

— Eu tenho muito a te agradecer, Himiko. De verdade. — ele apertou ainda mais seu abraço, sem perder a ternura. — Nunca tive ninguém que me entendesse além dos meus pais, não até que eu te conheci… e depois o Percy…

Ele se emocionava ao dizer tais palavras, como se tivesse se libertando de uma prisão. A treinadora, de modo semelhante, não soube como reagir, levemente desconfortável com a situação. Por um lado sentia-se feliz por ele, por mais que ao mesmo tempo sentisse a dor das recordações.

— Você ia fazer a cirurgia, pelo que me falou. Como foi?

Os dois caminhavam em direção à praça da cidade, contando as suas peripécias recentes. Ambos tinham novidades para contar ao mesmo tempo que sentiam falta de alguém com quem pudessem jogar conversa fora despreocupadamente. Não foi surpresa terem perdido a noção do tempo, divertindo-se na companhia um do outro apesar dos compromissos de cada um. Talvez passassem mais duas ou três horas conversando não fosse a talvez óbvia pergunta de Himiko que os trouxe de volta para a realidade.

— Afinal, o que você veio fazer aqui em Mauville?

— Ora essa… estou treinando para a liga Pokémon!

— Você tá tentando tirar uma com a minha cara, não é? — Himiko riu, sem acreditar no colega.

— Tou falando sério! Tá rindo de quê?

— Sei lá, é que eu não te imagino lutando nos ginásios e…

Wally calou a garota com um breve gesto antes de tirar um pequeno estojo de sua bolsa transversal. Abrindo-o, mostrou o pequeno objeto brilhante nele contido, logo reconhecido por ela.

— Mas essa… é a insígnia do ginásio de Rustboro!

A expressão dela mudou de maneira brusca. Uma coisa era ver Wally bem de saúde e viajando por conta própria, outra completamente diferente era saber que ele havia até mesmo derrotado um líder tendo começado sua jornada tão recentemente.

— Uma pena que o ginásio de Mauville esteja fechado… — comentou ele.

— Eu estava indo pra lá quando te encontrei, por sinal.

— Tinha passado em frente uns minutos antes, não tinha ninguém lá.

— Por que não damos mais uma olhada? — perguntou ela já se levantando, sem querer citar a conversa que entreouviu. — Talvez tenha alguém por lá!

— Pode ser, mas eu tenho quase certeza que ainda está fechado.

— Quem sabe não tem um substituto? — insinuou ela, como se não soubesse.

— Nah, duvido muito. Wattson gosta demais do ginásio, não iria sair sem um bom motivo. Se estava fechado deve ter acontecido algo sério.

— Eu me pergunto a mesma coisa. — comentou ela, desatenta, quase trombando com uma pessoa que usava uma túnica verde. — Se ele gosta tanto assim de lutar como você diz, por que iria sair assim sem aviso?

— Eu estou com uma sensação estranha com isso tudo. Quer dizer, é tanta coisa acontecendo que eu não duvido mais de nada. Meu tio andou me falando umas coisas estranhas enquanto estive com ele…

Eles acabariam por estender esse assunto se tivessem outra oportunidade, visto que a suposição de Himiko estava correta e o ginásio retomara seu funcionamento habitual. Também como ela imaginara, encontraram a jovem de cabelos coloridos no balcão, recepcionando-os com um sorriso no rosto.

— Bom dia. — disse ela. — O que desejam?

— O Wattson está por aqui? — Wally perguntou.

— Ele saiu para fazer a manutenção nos geradores da cidade, não sei quando volta… é só com ele?

— Acho que sim. — Himiko se interpôs. — Viemos aqui pelo desafio da insígnia.

— Acho que eu posso ajudá-los. Por favor, venham comigo.

A jovem pegou uma pequena placa do lado de dentro do balcão e colocando-a sobre ele; a mensagem nela sinalizava uma breve ausência. Assim que o fez, ela encaminhou a dupla por um corredor rumo a área de batalhas que ficava aos fundos.

— Com licença… — o rapaz tomou a palavra. — Qual seu nome?

— Pode me chamar de Rhavili.

— Pois bem… se o Wattson não está no ginásio, com quem vamos lutar?

— Ora, comigo!

O garoto não se intimidou com a naturalidade da resposta.

— Pensei que só o líder do ginásio pudesse defender a insígnia!

— Normalmente sim. — respondeu ela. — Só um líder ou alguém com competência equivalente pode defender a honra do seu ginásio… no caso, sou coordenadora-chefe da divisão de contests e, como ele sabia que ia ter que se ausentar por uns dias, pediu pra eu quebrar esse galho pra ele.

—Oh, entendi. — Wally surpreendeu-se com a informação, em especial por não suspeitar que ela ocupasse um cargo tão importante. Seu visual relaxado, incluindo as cores exóticas de seu cabelo, lhe davam um ar deveras juvenil, mas ao lado de Himiko era fácil perceber que que Rhavili tinha vários anos além dos vinte.

— Fiquei sabendo que o último contest foi cancelado em cima da hora… — comentou a outra, entrando na conversa.

— Infelizmente. Esse foi um dos motivos, por sinal… ah, chegamos!

A dupla se surpreendeu com a arena que se abria diante dos olhos deles; ela mais do que o rapaz. Não havia uma demarcação física dos limites do espaço de batalha, exceto por pequenas torres localizadas aonde Himiko julgou serem as extremidades do campo. Além disso, estruturas semelhantes a imãs se encontravam em locais estratégicos pelo chão.

— Não se preocupe, — Rhavili comentou, notando a expressão de surpresa da outra. — Não vou colocar a arena toda pra funcionar… só ele que sabe mexer com esses imãs.

Himiko riu, sem graça com a situação porém aliviada. Rhavili continuou.

— Vocês dois estão precisando da insígnia, não é?

— Sim, eu acho. — Wally olhou para a colega, buscando confirmação. Ela assentiu com a cabeça.

— Podemos fazer uma batalha em dupla então… Cada um de vocês usa um Pokémon e eu coloco dois dos meus. Se vencerem, dou uma insígnia pra cada um. O que acham?

Os desafiantes tornaram a se olhar, desconcertados com a ideia de lutarem juntos. Himiko em especial estava sem saber como reagir à situação, não só por não estar habituada a lutar naquelas condições, mas também por pensar que teria mais dificuldade em conversar com Futa durante o combate. E para completar, ela supunha que o garoto tivesse mais dificuldade que ela em batalha. Ela nem de longe estava tão nervosa quanto ele, que corou imediatamente frente à proposta.

— Eu aceito! — ele praticamente gritou, a voz esganiçada fez com que Rhavili tomasse um susto.

— Tudo bem por mim também, eu acho. — ela comentou, não exatamente feliz com a maneira que as coisas se desenrolaram. E eu tenho escolha?

— Podemos começar então? — Rhavili se posicionava para a batalha na arena. — escolham seus Pokémon!

Himiko virou-se para o lado oposto, pensando em como poderia adaptar alguma estratégia para a situação, não sem notar que Wally ficara para trás preso em seu nervosismo, como se ele tivesse se arrependido da decisão. Ela acabou tendo de puxá-lo pela mão para que seguissem até o local adequado.

— Vamos logo, Wally!

Ao seguirem, ela percebeu que nervosismo era mero eufemismo para descrever os sentimentos do rapaz. Ele tremia, suas mãos suavam apesar de estarem geladas; ele tropeçou em seus próprios pés por duas vezes naqueles poucos metros de caminhada.

O jovem olhou para sua colega com um sorriso ao mesmo tempo bobo e desesperado, se assim pudesse ser.

— E-eu fiz besteira, não foi? — perguntou ele.

— Do que está falando?

— Eu não sei batalhar assim, eu vou te atrapalhar…

— Tenha calma, Wally! A luta nem começou e você já está se culpando!

— Eu sou uma negação, não sou bom e…

— E já deu de chorar. — Himiko apertou o pulso do colega. — O que não tem jeito remediado está, então me mostre o que você sabe e faz de melhor, OK?

— Mas…

— Nada de mas. Não tem quinze minutos que você estava se gabando por ter uma insígnia, você não pode ser tão ruim a esse ponto.

Ele engoliu em seco, ainda tremendo. Ela não aceitaria desculpas.

— Percy… faça o seu melhor!

Wally atirou a pokébola, revelando o Ralts que a colega o ajudou a capturar. O Pokémon psíquico havia se desenvolvido um pouco, mas nem de longe teria capacidade ao nível de Futa, o qual era liberado naquele momento pela treinadora.

— Estou com um mau pressentimento. — disse ele, telepaticamente, no momento em que vislumbrou o ginásio.

— Futa, hoje vamos lutar junto com o Wally, está bem? — comentou Himiko, sem dar tanta atenção ao alerta de seu Pokémon. Vamos tentar ajudá-lo, acha que consegue?

— Vai ser mais difícil do que parece. Acho que é a primeira batalha dele.

A garota não duvidava do que acabou de ouvir de seu Pokémon. A insegurança de Percy exalava de seu corpo tanto quanto do de Wally. E se comandar a batalha sozinha já era difícil, fazer isso de uma maneira que Rhavili não percebesse seria um empecilho ainda maior.

— Azaléa! Megan! Podem sair!

A coordenadora liberou os dois Pokémon que usaria em batalha; o primeiro deles se destacava não só por seu tamanho reduzido, como também por duas flores coloridas que levava em suas mãos. Sua cabeça se assemelhava a uma coroa de espinhos, uma impressão aumentada pela fita vermelha nela amarrada. Seu corpo esverdeado, menor até mesmo que o Ralts usado por Wally, era coberto apenas por uma folha ligeiramente amarelada.

— Um Roselia! — exclamou ele. — Eles são raros de se ver!

O pequeno Pokémon de espinhos não chamou tanto a atenção de Himiko apesar do desconhecimento dela perante a espécie. Ao menos não tanto quanto ao outro que fora liberado. A treinadora até reconheceu o Pokémon, a despeito de nunca ter visto um exemplar tão deslumbrante quanto aquele. Possuía uma pelagem curta, verde e brilhante; seu longo pescoço, assim como o topo de sua cabeça, eram adornados com vistosas folhas escuras. A espécie em questão apresentava um aroma único que exalava talvez não somente de sua folhagem, como também das pequenas esferas negras que ficavam em sua curta cauda.

Enquanto observava o Pokémon quadrúpede correr pelo campo, já demonstrando um pouco de sua agilidade, Himiko chegou a duvidar que pudesse ter receio de lutar contra um Bayleef.

Pois aquele não era uma Bayleef qualquer; ela se mostrava muito bem treinada apenas por sua aparência e aroma. Talvez o mesmo pudesse ser dito da Roselia; por mais que ela nunca tivesse visto outro exemplar daquela espécie para poder comparar.

— Megan, essa é uma batalha de verdade! — exclamou Rhavili, dando início ao combate. — Vamos começar com as folhas brilhantes!

— Futa, use a barreira luminosa!

O Bayleef mostrou que era, de fato, um Pokémon acima da média; seu ataque atravessou parcialmente a proteção criada pelo Kirlia, atingindo-o, porém sem causar maiores danos. O que não poderia ser dito caso a situação se repetisse.

— Percy, consegue usar a onda psíquica na Roselia?

— Azaléa, evasiva! Depois, contra-ataque com esporos do sono! Megan, imobilize o Kirlia com o chicote!

— Futa, você é o alvo deles, proteja-se! Atire o Roselia em cima do Bayleef como fez com o Kazu na floresta se encontrar uma brecha!

O vínculo mental entre Himiko e seu Pokémon possivelmente uma grande vantagem, em especial nas condições caóticas de uma batalha em dupla em que a comunicação entre eles passaria desapercebida mais facilmente.

Percy, como não era de se surpreender, errou seu golpe, não somente sendo a Roselia eficiente em sua evasiva como também sua baixa auto confiança lhe atrapalhando. O Kirlia, em contraponto, foi muito mais bem-sucedido em seu ataque, conseguindo desconcentrar os dois oponentes antes que usassem os golpes pelos quais foram ordenados. Rhavili, no entanto, aparentemente se conformou em ver que seu comando foi impedido, como se já imaginasse que isso iria ocorrer.

— Hora de batalhar sério. Formação número dois!

Himiko teve um pequeno lapso ao tentar imaginar o que seria o ataque ordenado pela adversária.

— Futa! Use a investida antes que eles se aproximem!

O comando dela antecipou-se ao movimento que seria realizado pela dupla adversária; A Roselia subia nas costas da Bayleef, ambas preparando-se para avançar sobre a dupla psíquica. O Kirlia ganhava velocidade contra elas, reduzindo o espaço no campo.

Himiko nunca chegou a descobrir o que era exatamente a formação número dois, tendo em vista que a batalha foi interrompida naquele instante por uma quarta pessoa, a qual adentrava o ginásio por uma maneira nada convencional.

Era impossível dizer qual o gênero da pessoa que apareceu; ela atingiu o chão rapidamente após uma queda de talvez uns oito ou dez metros do telhado, atravessando o forro de gesso como se ele não existisse. Pedaços de telhas se espalhavam pelo chão ao redor do corpo desfalecido coberto por uma túnica verde, o capuz tampando seu rosto.

Dos três ali presentes, Himiko foi a primeira a agir; em um reflexo, ela liberou outros de seus Pokémon para ajudar:

— Monk, tire ela dali antes que se machuque! Nuri, cheque a situação no telhado!

— Espere, Himiko! — Rhavili interviu. — Pode ser perigoso!

Mais escombros começaram a cair do telhado, que se mostrava mais danificado que o esperado. Nuri teve dificuldade em permanecer voando enquanto desviava dos pedaços de gesso e telha que continuavam a se desprender do teto.

É uma armadilha!

A pessoa inconsciente revelou-se o menor dos problemas; antes mesmo que a treinadora pudesse reagir ao aviso de seu Kirlia. Uma pedra avermelhada, com cerca de um metro de diâmetro, despencou pelo buraco no telhado, atingindo a asa esquerda de Nuri e levando-o ao chão de maneira brusca.

A rocha, no entanto, não chegou a atingir o solo. Em vez disso, ela ganhara vida, rodando em torno de seu próprio eixo com grande velocidade, suas protuberâncias amareladas mal podiam ser vistas. Um brilho incandescente surgiu dela, forte o bastante para ofuscar a visão dos que estavam presentes no recinto.

Himiko, hipnotizada pela luminescência, não percebeu que Rhavili desatava a correr com seus Pokémon para longe, da mesma forma que Wally havia retornado Percy para a pokébola e se afastava rapidamente. Sua mente estava ocupada demais com a ideia de que o sonho que teve estava se materializando; a imagem de April caída ao chão se misturava ao corpo coberto pela túnica verde, Monk ao lado deste tentando carregá-lo…

Quando ela ameaçou correr em direção a pessoa, todavia, foi atingida com força na direção contrária, sendo atirada a vários metros de distância. A treinadora não conseguiu raciocinar a respeito do que ocorria, principalmente quando percebeu, ainda no ar, que o autor da cabeçada havia sido Futa.

Sem conseguir entender por qual motivo seu Pokémon iria impedi-la de salvar April, Himiko apenas gritou, antes mesmo de atingir o chão. Revoltou-se com ele, incapaz de compreender por qual motivo ele tentaria afastá-la de sua irmã. Seu próprio corpo agora se arrastava pela pedra fria por conta da velocidade adquirida com o golpe, a imitação de mármore ao menos fez com que ela ao menos não se arranhasse com a queda.

No instante seguinte, Futa se jogou sobre ela, usando seu corpo para impedir que ela se levantasse. Não que fosse o caso, pois a treinadora finalmente se lembrou de como o sonho acabava.

Menos de um segundo depois, a explosão se mostrava idêntica à que ela presenciou enquanto dormia.

 


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Notas finais do capítulo

Posso pular essas notas? Por favor...
Não, sério. Qualquer coisa que eu comentar a respeito desse final de capítulo pode acabar estragando o clima, então prefiro não citar nada.

Notas do in-game:

Me permitam não dar spoilers demais, por favor! O que eu posso dizer aqui é que Rhavili não existe no jogo e que o ginásio é do tipo grama. Ah, a líder original não usa Roselia ou Bayleef, mas sim coisas mais perigosas como Exeggutor e Ludicolo.
Quanto ao resultado da batalha... bem, ela ainda não acabou. Deixarei o status do time em aberto.

Status do time:
Pokémon: 6?
Futa (Kirlia) Lv. 31; Bold, Synchronize.
Monk (Victreebel) Lv. 30; Bold, Chlorophyll
Nuri (Swellow), Lv.31; Mild, Guts
Ikazuchi (Manectric), Lv.30, Serious, Lightning Rod
Nagrev (Charmeleon), Lv.30, Naive, Blaze
Gérson (Gyarados), Lv.30, Brave, Intimidate



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