Uma noite misteriosa escrita por Rebeccake


Capítulo 12
Capítulo 12: A descoberta


Notas iniciais do capítulo

Vou voltar aos poucos



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tas cobertas por suor. No instante que viu a silhueta do garoto armado suas conexões neurais pareciam ter sido cortadas a força. A dor de cabeça do dia que as pedras desabaram na ultima tarefa da Missão sempre voltava em qualquer situação estressante. Era como se mil demônios estivessem dentro de sua cabeça, arranhando com todo o desespero para saírem. A sua própria arma tremia violentamente, e ele tentava disfarçar com sua voz melodiosa confiante e controlada:

—Quem é você?

—...

O garoto menor está parcialmente na escuridão. Suas pernas começam a se mover e ele avança com destreza, sem nenhuma hesitação ou nenhum temor. Assim que ele avança um passo em direção a luz, Jonah atira instintivamente no lugar mais próximo do pé do garoto.

—Não se mova.-O aviso tem um tom mortal. A adrenalina está palpável no ar, o coração parece parar, assim como o tempo. Jonah não sabe dizer se queria ter atirado no garoto e nem se atirará, mas o aperto forte de Natalie em seu ombro o mantém tentando encontrar uma lógica, um raciocínio que explique o que estava acontecendo.

—Vesper?-Ele grita mais alto, tentando impor uma posição de agressividade e defesa.

—Que mente mais limitada.  Maniqueísmo. Bem VS mal. Cahills VS Vespers. Como se o sangue não estivesse formando uma piscina em seus pés.     

Jonah tenta perceber os sentimentos presentes nessa frase, só há o desprezo. Nem a raiva parece existir. A voz do garoto é rouca e suave. A curiosidade para ver o rosto do desconhecido aumenta cada vez mais. Os dois continuam com as armas apontadas, segundos viram horas.

Natalie está parcialmente escondida atrás de Jonah, sua mão desliza pelas costas do garoto, ao perceber um contorno. Com movimentos de hábeis e silenciosos, ela retira a pequena faca presa na cintura deste. Por algum motivo desconhecido por ela, sua consciência está completamente calma. Sente que conseguirão escapar daquela situação inconveniente, seria só uma questão de analisar.

Eles já estavam na desvantagem. A outra pessoa estava calma e controlada. Jonah estava nervoso e consequentemente fadado a cometer erros. Ela estava lúcida, só que não tinha informações uteis que poderiam ser usadas em um combate. A outra pessoa iria avançar e eles iriam se defender de alguém sem ter qualquer informação. Seria melhor se Natalie estivesse com a arma e Jonah com a faca. Ele poderia partir para uma luta corpo a corpo se Natalie conseguisse desarmar o garoto misterioso.

Nas circunstancias, se Jonah falhasse em defende-los, atirasse errado ou levasse um tiro, Natalie teria que atacar com uma arma inferior. Não que ela não fosse boa em combate, mas como ser boa em ataque se sua especialidade é defesa?

Lutar por sua vida. Lutar por suas conquistas. Lutar por seu espírito.

—Deixe ele avançar.-Natalie sussurra.

Jonah ergue a arma para a parte superior do peito do menino. Ele recomeça a avançar, sendo expelido das sombras. Pedaços de pele clara são descobertos pela luz, mãos firmes e delicadas seguram a arma, um terno escuro como a noite. Assim que o rosto é revelado, Jonah é assolado por um sentimento de familiaridade.

—Você não me conhece.-É uma afirmação confiante.

—Acredito que já nós vimos.

—Ver não é conhecer. Todos vocês viram coisas horríveis. Fizeram coisas terríveis. Viram o sofrimento. Talvez o conheceram. Mas não conheceram o de todos que viram.

Natalie pressente que o garoto irá atirar. As baboseiras que falava não faziam sentido e pareciam saídas da boca de um vilão estúpido e insano. A insanidade é atrelada a coragem.  Ela pensa em comunicar seu plano a Jonah, só que é tarde demais. O menino está tão perto que não há como não ouvir.

Ela dá uma inspirada profunda para ter coragem e sai de seu estado estático. Seu primeiro movimento é correr pelo canto esquerdo e desprotegido com todas as forças. O cabelo bate no seu pescoço e faz cócegas. Seu vestido levanta com a ação das pernas. O menino ergue o braço imediatamente e vira o cano da arma para ela. O minúsculo instante em que ele reage e foca nela logo é descartado. O garoto tem um elemento surpresa. Sua mão direita mantém a arma apontada para o coração de Jonah. Mas a esquerda está escondida pelo ângulo de seu tronco. Ele tira um revólver minúsculo e mira nela. A bala rasga o ar e passa de raspão na parte traseira do pescoço de Natalie. Ela sente uma dor intensa, misturada com uma sensação de queimação.

Sua resposta é rápida. Assim que finge se jogar ao chão e colocar a mão esquerda no ferimento, a direita se ergue do chão e faz um deslocamento. A faca presa na posição certa, os dedos que a impulsionam no ar, e o gesto forte de catapulta tem um resultado. Seus cabelos atrapalham sua visão, a dor a desconcentra, mas a raiva é tão explosiva que deixa tudo claro. A faca atravessa o ar, reta e na trajetória adequada, se firmando com força na carne-alvo.

O garoto solta um grito abafado, ao perceber um objeto firme penetrado em suas costas. Ele fecha as mãos em punho e tem a expressão irritada. Jonah exibe um semblante de triunfo disfarçado e terror. Ele avança com a arma e mira no menino. Este dá um tiro em seu braço. A sensação é tão indescritível e dominadora que Jonah solta um gemido de dor e instintivamente protege o ferimento. O menino aproveita que Jonah está desconcertado e  chuta a mão dele, consequentemente jogando a arma para longe. Jonah se curva em cima de seu braço e se projeta para levantar, o menino se aproxima correndo e dá um soco tão forte que o faz cerrar os dentes.

Com o braço que não está machucado e ignorando a dor desgastante, Jonah fecha o pescoço do garoto, puxando-o para trás e levando-o ao chão junto consigo. O garoto se levanta tão rápido e de forma tão ágil que parece algo sobrenatural, Jonah tenta acompanhá-lo, porém, recebe um chute forte na área das costelas. O menino dá um giro e se firma em seu pescoço comprimindo o tronco de Jonah com o pé direito e forçando o pescoço com as mãos e o peso do corpo. A perícia com que completa os golpes é estonteante, um soco é dado na barriga de Jonah, fazendo-o ficar ainda mais ser ar, sufocando e engasgando, com a dor tão forte que o faz lacrimejar.

Ele vê o garoto levantando o braço com a arma e constata que será morto. O pavor nem é a sensação mais dominante, e sim a solidão e desamparo. Nasceu sozinho e morreu sozinho, esta é a única frase que ele queria que fosse escrita na sua lápide. Não que expressasse ironia, mas sim algo que o atormentava dia e noite, todas as multidões e todos os indivíduos próximos achavam que o conheciam. Na realidade, o cansaço de sempre ser o Garoto perfeito o fazia se sentir como alguém sufocando com o que sentia, fingindo que a exaustão não estava presente. Aguentando tudo pela felicidade dos outros. O único motivo para lágrimas de cansaço surgirem em seus olhos, foi imaginar o seu pai chorando silenciosamente no seu tumulo, a imagem mais triste possível, já que Jonah representava um esforço de uma vida. Era isso que ele era, sempre uma representação, nunca algo palpável, nunca um homem que tem sentimentos.  Seus pensamentos são interrompidos pelo menino, que usa o cabo para dar um forte golpe na cabeça, a dor domina e é como se as cortinas se fechassem.

Natalie assiste a tudo, sangrando no pescoço e sem conseguir se levantar. O ferimento era superficial, mas o garoto produziu tanto assombro que parecia inútil tentar. Jonah estava bem. Jonah não estava morto. Jonah não poderia estar morto. Jonah estava só machucado. A verdade é que não tinha como saber e isso a deixava a beira de um ataque de nervos. Suas mãos tremiam muito, e sua garganta soltava sons desconexos e gemidos fracos e agoniados. Assim que o menino foi em sua direção, ainda com a faca cravada nas costas, sua única opção foi se apoiar na parede fria e encará-lo com seus olhos furiosos.

—É uma garota muito esperta. Muito esperta. Uma mira muito boa também. A técnica também é ótima, parabéns por acertar em cheio.

Novamente aquele tom odioso e cínico, tão congelante que parecia acabar com toda a vida do planeta.

—Por azar você cometeu um erro. Qual é, Natalie? Quem não usa colete a prova de balas nesses dias? Espera, estou captando alguma coisa.-Ele sorriu e colocou a mão na testa e contemplou a falta de reação de Natalie.-Na verdade você percebeu, não é? Só que pensou que com a força suficiente poderia causar uns danos. Tinha razão, talvez causasse até uma morte. Mas você não foi forte. O que não é surpreendente.

Ele tirou a faca sem a menor cerimônia e um pouco de sangue jorrou no chão. Tirou o paletó e depois a blusa, revelando um corpo musculoso e feminino. As costas estavam sujas de sangue.

—Olha aqui. Machucou um pouquinho. Só um pouco. Garotas que machucam garotas. Temos que nos unir, Nat. Pena que é tarde demais pra você.

Natalie recuou quando a garota se aproximou. Os olhos azuis como o mar sem nenhum rastro da mente e os cabelos negros como o terno foram a última coisa que viu antes de tudo se transformar em um breu.


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Notas finais do capítulo

Comentem por favor, lindos ♥