“Ele me beijou de novo! Ele me beijou de novo! Ele me beijou de novo!” E era só isso que eu tinha em mente, inclusive quando Britt me chamou no corredor pra que eu a esperasse.

–Ele me beijou de novo! – Falei sem pensar direito.

Ela riu e passou o braço pelo meu ombro.

–Então somos duas! – Encarei-a surpresa.

–Por isso você sumiu o dia todo! – Quase gritei.

Ela assentiu sorrindo. Abracei-a forte, quase tremendo na verdade. Eu estava super feliz por ela, e bastante empolgada com o fator “Niels me beijou de novo”, o suficiente pra conseguir esquecer que acho que ele só me vê como amiga com benefícios ou algo assim, e não tem tempo pra um relacionamento mesmo se quisesse.

Ah, sem esquecer do Brian. Aquela criatura asquerosa, interesseira e manipuladora. Se ele juntar com a Karmen eu tô bem fudida! Pior, ela pode dar-lhe exatamente o que ele quer, e quem sabe o inverso também, esses dois se merecem, mas Brian também está no segundo ano, enquanto ela debuta, ele continua estudando e aperfeiçoando seu falso talento.

Não consigo acreditar que realmente pensei que ele estava apaixonado por mim. Não consigo acreditar que depois de tantas traições e mentiras, ele está ousando voltar. E acima de tudo, ele vai voltar a agir como se eu ainda fosse dele, e vai foder tudo o que eu construí com o Niels!

E quando eu percebi, estava chorando. Britt me abraçou e roubou uma barra de chocolate da Miranda pra mim.

–Ela vai te matar. – Falei rindo.

–Vai valer a pena, agora me diz, o que ele fez? – Encarei-a confusa.

– O Niels.

–Não foi ele amor, é outra coisa. – Disse mordendo o chocolate, estranhando o gosto. – Amargo?

–É melhor e não faz mal! – Brincou rindo e pegando um pedaço. – Quem é então?

–Meu ex vai ser transferido pra cá, ele deve chegar na segunda só pra fuder com a minha vida. – Resmunguei.

–Ele é gato?

–É, gato, mentiroso, falso, manipulador, e quando não consegue o que quer faz mais circo que a Karmen. – Continuei. – Ah, e o talento de artes que ele tem, é o teatro, porque a voz dele é mais esganiçada que de um gato sendo enforcado. – Estremeci ao pensar na cena.

–E se ele tiver mudado?

–Na voz ou na personalidade?

–Ambas.

–Nem todo lixo pode ser reciclado. – Falei curta e grossa, me levantando e tirando a roupa. Estava começando a ficar incomodada com aquele tanto de tecido em mim.

–E o Niels? Tá sabendo?

–Tá, mas bem superficialmente. – Britt virou o rosto quando fiquei completamente nua. – O que foi? Nunca viu uma garota nua na vida?

–Eu sou bi idiota. – Resmungou.

–E eu sou sua amiga idiota, você tá com o Albert e eu não vou me afastar por nenhuma dessas razões. – Falei jogando a blusa nela. – Posso te perguntar uma coisa? – Sussurrei indo até meu armário.

–Diga. – Sussurrou de volta finalmente me olhando.

–Você é virgem? – Ela ficou em silêncio por um tempo e depois negou. – Foi com um cara ou uma garota?

–Uma garota, ela era quatro anos mais velha e fez praticamente tudo. – Contou.

–Mas foi bom? – Ela ficou sem saber o que dizer, mas no fim assentiu.

–Você é, não é?

–Tá tão na cara assim? – Resmunguei.

Ela riu e revirou os olhos.

–Agora entendi toda a sua raiva pelo cara. – Corei.

–Eu não estava pronta na época...

–Não, você poderia até estar pronta, o problema não era esse. – Evitei olhar pra ela. – Você não gostava dele como gosta do Niels agora, era esse o problema.

Droga Britt! Não precisava falar, isso já tava comendo meu cérebro antes mesmo de eu perceber! -Não acho que ele sinta o mesmo por mim... – Sussurrei vestindo uma camisola fina.

–Ele sente.

–Droga Britt! Você tem uma bola de cristal ou o quê? – Quase gritei.

–Olha o volume, já passou da meia noite. – Falou séria. – É o “o quê”.

–Tarô? – Ela sorriu e assentiu.

Aí eu me lembrei, quando nos conhecemos ela leu minha mão, não acreditei muito mas no fim ela estava certa com as previsões que fez na hora.

–Mas o melhor agora, é você ir dormir antes que eu faça o serviço no lugar do Niels. – Falou se levantando e indo pra cama dela. – Sério, cê tá me seduzindo. – Ri, e fui me deitar.

–Espero que amanhã eu tenha alguma paz... – Sussurrei.

[x]

–Puta que pariu. Eu dancei pole dance na cruz, só pode! Mas que inferno! – Resmunguei fazendo todo mundo na mesa me encarar. Britt notou o motivo da minha raiva, mas só ela.

–Que foi Shay? – Stefan perguntou olhando ao redor do refeitório.

–Shayera! – O demônio gritou vindo até mim. Não, demônio não, isso é uma ofensa pra categoria.

Brian me puxou e me abraçou como se fossemos amigos de longa data que não se viam há anos. -Me larga. – Resmunguei.

–Me apresenta seus amigos querida. – Falou com o maior sorriso falso do mundo.

–Não sou sua querida. – Continuei.

Ele manteve o sorriso no rosto.

–Agora, mas vai voltar a ser, tanto minha querida, quanto principalmente, minha. – Sussurrou no meu ouvido, enlaçando minha cintura.

Toda e qualquer reação que tive a partir daí, foi puro reflexo, juro! Mentira, eu realmente queria fazer aquilo, sim, eu dei um soco nele. Um dos melhores da minha vida, e saí dali de uma vez antes que alguém me questionasse. A única coisa que realmente passava pela minha cabeça era o leve – leve feito uma âncora – de tomar um porre. Um porre forte o suficiente pra esquecer até mesmo quem eu era. Só foi bem surpreendente que o Rick realmente tivesse aberto as oito da manhã. -Pensei que só abria de tarde. – Comentei.

–Aqui não é só um bar querida, seria desastroso pra mim se eu só abrisse a tarde, mas pelo jeito, seria mais ainda pra você. – Encarei-o sem saber o que responder. – Parece precisar de algo bem forte, não sou muito fã de deixar vocês da Von Elfstein se embebedarem, principalmente os sem experiência, mas pela sua cara você tá precisando.

–Meu ex namorado se transferiu pra academia, pra infernizar minha vida e acabou de dizer que vou voltar a ser dele depois de todas as merdas que ele fez. – Ele balançou a cabeça e encheu um copinho com alguma bebida colorida de cheiro forte.

–Experimente. – Virei tudo num gole só, tossindo e quase caindo pra trás. – Devagar ruiva, vou deixar que tome um porre antes do meio dia, mas vou te ensinar a beber também.

Em algumas horas, tudo estava girando, e eu estava deitada no balcão, sem entender mais nada. Principalmente depois de ver o Niels com a maior cara de preocupação ever.

–Shay! – Falou vindo até mim, quase levando um tapa por ter praticamente pulado em mim. Então ele virou pro Rick. – Quanto ela bebeu? Rick apontou pro balcão.

Tinha sete copinhos e duas garrafas de bebidas coloridas vazias. Sorri pro Niels como uma criança que acabou de ser pega aprontando.

–Oi. – Falei sem conseguir controlar o riso.

Niels revirou os olhos.

–Posso levar ela lá pra cima? – Perguntou já me levantando, me pegando no colo assim que Rick assentiu.

–Tchau. – Falei acenando, parecendo uma criança. Rick sorriu e acenou de volta, enquanto Niels me levava pro andar de cima. Niels me deitou com cuidado na cama e saiu, voltando com um copo d’água logo em seguida. -Você é maluca... – Sussurrou me ajudando a beber. Revirei os olhos. -Você é tão perceptivo. – Resmunguei quase me engasgando.

–Entendo que esteja com raiva daquele cara, mas isso já é demais Shay! Não é nem meio-dia e você está mais bêbada do que eu jamais fiquei! – Encarei-o séria.

–Queria ver se não ficaria puto se Karmen fingisse estar apaixonada por você só pra ter alguém pra transar, pra depois te trair e te jogar fora! – Rosnei. – Ah, e depois voltar falando que você vai voltar a ser dela. – Niels me segurou antes que eu levantasse.

–Só me surpreendo que não tenha vomitado ainda. – Voltei a revirar os olhos.

–Sua tentativa de sermão tá me fazendo criar vontade. – Ele me encarou confuso.

–O que eu fiz? – Perguntou olhando nos meus olhos.

–Não percebeu que estou mais do que loucamente apaixonada por você. – Disparei sem pensar. Niels ficou sem resposta e eu me joguei de vez na cama. Passou-se um tempo em silêncio até eu finalmente me virar pra ver se ele ainda estava ali. E bem, ele estava, estava meio que vindo pra cima de mim e me beijou.

–Talvez meu pai estivesse certo esse tempo todo, e a razão dos meus batimentos acelerados quando estou com você seja a mesma que te deixa irritada comigo agora. –Sussurrou acariciando meu rosto. Me sentei, e ele sentou na cama também. – Talvez eu também esteja apaixonado por você...

–Eu quero um “sim” ou um “não”, chega de “talvez”! – Falei respirando fundo.

Niels simplesmente me puxou pro seu colo e me beijou mais uma vez.

–Sim Shayera, eu estou mais do que apaixonado por você! – Sussurrou me olhando nos olhos.

Se eu pirei? Não, claro que não! Eu só fiquei sentindo fogos de artifício estourando na minha barriga enquanto borboletas faziam acrobacias olímpicas e minha cabeça girava ainda por causa da bebida. Niels apertou minha cintura e os beijos foram ficando mais intensos e quentes, seguidos de alguns pequenos chupões nos meus ombros e uma série de peças de roupas sendo jogadas pelo quarto.

–Você tem certeza que isso não é só a bebida te controlando? – Sussurrou a centímetros do meu rosto quando já estávamos quase completamente nus e ele me deitava pra passarmos pros finalmentes.

–Tenho toda certeza do mundo! – Respondi mordendo o lábio.

E depois da minha primeira vez atordoada pela bebida e uma leve dose de paixão que me daria mais ressaca que as duas garrafas de bebida forte que o Rick me deu, acabamos tendo que voltar pra academia, Niels ainda tinha compromissos pro dia e eu só tinha trago mais dor de cabeça pra ele, mais do que eu tive depois de passar o dia dormindo e a madrugada acordada fazendo bagunça com as meninas. Porra! Eu tava com uma dor de cabeça do caralho, meu estômago tava brincando numa montanha-russa, e mesmo assim eu tava super feliz! Mano, paixão é uma coisa mais complicada que o clima brasileiro, sério.