Por Trás da Seriedade escrita por Lilly Belmount


Capítulo 29
Capítulo 26




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Os dias passavam lentamente. Mas a cada parte do dia, grupos de estudos do colégio iam visitá-la. Alguns compareciam apenas para saber se estava tudo bem com ela, outros apenas por curiosidades para saber quais as sensações de ser sequestrada. Brenda se sentia incomodada. Não gostava de ouvir sua filha falar sobre o que passara. Havia causado um buraco no peito de todos os seus entes queridos. Todos só desejavam esquecer aquele episódio horrendo de suas vidas. Doía em seu peito saber que o rosto de sua filha haveriam marcas dificeis de serem esquecidas. Ela se olharia no espelho e lembraria do quanto havia sofrido na mão de uma pessoa tão repugnante e invejosa.

Estavam todos reunidos na sala. Conversavam alegremente. Estavam tão envolvidos na conversa animada que mal ouviram a campainha tocar. Começou a tocar insistentemente. Uma coisa de doido. Uma fampilia que havia crescido e se tornado os alicerces um do outro.

Brenda olhou para Roberta, que entendeu qual seria a sua tarefa.

— Acho melhor você abrir, antes que eu resolva quebrar esses pratos nessa pessoa chata.

— Claro.

Ao abrir a porta, Roberta recebeu um abraço caloroso. Queria gritar mas não poderia, lhe pediram para que assim não o fizesse. Ela o acompanhou até a sala.

— Tia! A visita é para a senhora.

— Quem será?

Brenda perdeu as palavras ao ver seu filho parado na entrada da sala, mal conseguia distinguir o que era realidade e o que era sonho. Aproximou-se dele e o abraçou, deixou todas as suas emoções de mãe se desencadearem. Há tempos ela não demonstrava o sofrimento que passava pelo seu filho.

— Me perdoe, meu filho! — Foi tudo o que Brenda disse com o coração partido.

George ajudou Cindy a se levantar e a família se reuniu num abraço gigante. Novamente a família estava reunida, da maneira que sempre deveria ter sido. Todos os parentes mais próximos deixaram se levar pelo momento em que se encontravam.

— Olha que lindo! — Exclamou Lucy — A família inteira reunida.

— Oi tia! — Disse Damon animado. — Se importam se eu conversar à sós com a Cindy e o Jared?

— Mas é claro que não.

Cindy, Jared e Damon foram para a cozinha. A ideia era ir para o quarto, mas a cozinha se tornava mais perto para Cindy. Damon ficou comovido ao ver Jared abraçado com sua irmã. Realmente eles formavam um belo casal. Um sonho que se realizava.

— Eu não acredito no que aconteceu com você, maninha! Se eu soubesse teria ficado por aqui... — Disse Damon se sentindo culpado.

— É... mas eu não gosto muito de falar sobre isso. É uma parte da minha vida que eu quero apagar pra sempre. — Murmurou Cindy.

— Todos nós concordamos em não tocar mais neste assunto. — Disse Jared simplesmente.

— Entendo... mas e como está a gestação? Estou louco para ver se será um meninão como o tio, ou uma fracote como a mãe.

Jared riu, não sabia como era a relação deles tanto que o surpreendeu.

— Eu não sou fracote, talvez eu seja um pouco agora por causa da gravidez, mas eu sempre te batia como um menino e você chorava feito uma menininha. — Disse ela sorrindo vitoriosa.

— Acho melhor eu sair daqui, antes que entrem em detalhes sordidos.

Cindy conversou com o irmão durante muito tempo. Ficou feliz em saber que ele iria embora dentro de vários dias, assim poderiam aproveitar todo o tempo perdido. Em partes,Cindy conseguia ver o lado bom do sequestro: havia unido a familia. Cada membro que estava longe, aos poucos estava se reaproximando. Mantendo os laços mais fortes, deixando de lado qualquer rixa.

**********

As primeiras semanas que Cindy passou com a família depois do sequestro, foi como renascer. Mais do que nunca ela entendia o fato de sua mãe ser tão protetora. O pessoal do colégio sabiam do ocorrido e alguns realmente haviam ficado com dó e outros achavam que era uma forma de castigo. O que importava era a opinião das pessoas que ela amava.

Sua barriga estava enorme, em poucas semanas completaria nove meses de gestação. Sentia-se mais cansada e indisposta. A gravidez a havia mudado muito. Coisas boas e ruins aconteceram durante esse tempo. Fez coisas que ela própria não imaginaria fazer. Praticamente todos os dias ela era submetida a uma nova consulta, Jared e Brenda sempre a acompanhava.

Kimberly havia criado um vinculo com Brenda e Lucy. Kimberly quase teve um enfarto quando soube o que Cindy tinha passado. Não conseguia imaginar uma cena horrivel daquelas, causada pela Mellody.

A manhã em Londres estava gelada. Famílias estavam reunidas em suas casas, aproveitando o tempo para se manterem mais fortes. A união de uma família sempre as torna mais forte quando todos estão juntos por um único propósito. No entanto com Cindy não foi diferente. George de minuto em minuto entrava no quarto para ver se estava tudo bem com sua filha. Todo cuidado era pouco. Brenda havia pedido licença em seu emprego para poder cuidar e dar todo apoio a sua filha.

Roberta havia acabado de chegar na casa dos Harttman’s. Sua alegria era contagiante. Algo de bom realmente havia acontecido para toda aquela alegria.

— Olá! — Cumprimentou ela.

— Que animação é essa querida? — Perguntou George curioso.

— Não é nada. Apenas estou mais feliz do que antes.

— Isso nós já percebemos.

Soprou um beijo e foi para o quarto de Cindy. Ela estava deitada utilizando o seu notebook. Ao ver Roberta seu rosto se iluminou completamente.

Roberta sorriu largamente gostava de ver Cindy sorrir. Eram mais do que amigas, irmãs e primas, eram a metade uma da outra.

— Que linda! — Exclamou Roberta se aproximando.

— Amiga? Por acaso precisa de um óculos?

— Não...Porque?

— Estou imensa e você acha linda.

— Você é e sempre será.

Aproximou-se e sentou-se ao seu lado. Observou o que Cindy fazia em seu computador. Uma melodia suave tocava ao fundo. Não dava para saber ao certo o que ela estava fazendo.

— O que você tanto faz nesse computador?

— Nada demais, meu amor.

Terminou o que estava fazendo e voltou a sua atenção para Roberta. Foram pouco minutos de espera, mas sempre que podia Cindy se tornava ágil.

— Pesa? — Perguntou Roberta irônica.

— Claro...

— Sua mãe está feliz com o neto ou a neta que está por vir.

— Impossível não estar — Cindy riu — Ela me implora para que seja a madrinha. Acho esquisito, mas o que eu posso fazer?

— Muito óbvio! Ela já vai ser a avó e ainda quer ser a madrinha? Já é querer demais.

A conversa foi inetrrompida pelo toque da mensagem vinda do celular da Roberta. Aquela mensagem poderia mudar o dia das garotas. Olhou para a amiga sorrindo alegremente.

— Seu "amorzinho" — Disse Roberta — Irei ler a mensagem."Roberta prepare a Cindy. Chego ai em dez minutos."

Roberta tombou a cabeça de lado ainda sorrindo. Nem mesmo com a gravidez de sua amiga nada atrapalhava-a. Quando Cindy sorria, notava-se que o sofrimento que passou quando fora sequestrada ainda era evidente. A marca em seus pulsos deixavam claro o quanto uma corda poderia machucar. O uso de maquiagem para disfarçar o corte em sua bochecha se tornara necessária. Desde então a sua vida não era mais a mesma.

Todas as noites tinha pesadelo terriveis com Mellody. Ficava com medo de sair sem companhia, temendo que o pior acontecesse. Ainda era possivel notar as marcas dos maus tratos que sofrera enquanto estava nas mãos de Mellody. Aquilo serviria apenas para dizer o quanto um ser humano é louco quando ama, do quanto não se deve duvidar da capacidade mental de cada uma delas.

Jared esperava por Cindy no andar de baixo. Roberta ainda conversava com a garota. Descer as escadas da casa era um obstáculo. Todo cuidado que tinha era essencial.

— Oi! — Cumprimentou ele fazendo-a sorrir — Deixa que eu te ajudo — Disse ele já se postando ao lado direito de Cindy.

— Sai Jared — Brigava Roberta — Eu é quem devo ajudá-la. Conheço ela há muito mais tempo do que você.

— Mas ela está gravida de mim — Rebateu Jared.

Roberta entregou os pontos, mas mesmo assim os ajudou a descer as escadas.

— Muito obrigado meus amores! Agora posso saber o que faz aqui, Jared?

— Amor? — Disse ele espantado — A minha mãe está na minha casa, ela quer te ver.

Cindy sorriu.

— Traga ela aqui, seu mal educado.

Em poucos minutos Jared retornou com a sua mãe. Kimberly correu para abraçá-la.Um abraço caloroso que contagiou a todos, até mesmo Brenda e George apareçam para cumprimentar a senhora. Ela estava espantada com o tamanho da barriga da jovem. Não conseguia acreditar que seu filho estava feliz com o relacionamento. Cindy fazia bem a ele.

— Como você está meu bem? — Perguntou Constance tocando a barriga da jovem.

— Estou bem...falta pouco tempo pra nascer.

— Meu primeiro netinho...vai ser lindo como os pais.

Jared e Cindy entreolharam-se e riram.

Foram para a sala onde por horas conversaram,Constance ficava cada vez mais fascinada com as histórias que Cindy lhe contava.Jared sempre estava ao seu lado,protegendo-a,cuidando de tudo.Prova mais do que suficiente de que eles e amavam verdadeiramente. A vida deles parecia como a de um livro de romance.

— Ciny, quando pretende retonar à Los Angeles? — Perguntou Kimberly curiosa.

— Não sei...mas espero que seja brevemente.

— Brenda, meu filho tem se comportado bem? Tem ajudado a Cindy? — Quis saber a senhora.

— E muito. Ele é um amor de pessoa, muito protetor. Jared sabe como animar minha filha. Os dois se amam e isso é o que importa.

— Não sei como ele pode estar tão calmo, nessa altura já estava louca para saber o sexo da criança. — Murmurou Kimberly divertida.

— Nós estamos nervosos sim, mas a criança não quer nos ajudar. Todos os exames que a Cindy fez não dá para saber se é um nenino ou menina.

— Vai ser surpre na hora em que nascer.

E durante horas permancram juntos, comendo,rindo e se diventindo como nunca antes na vida. A rotina do dia-a-dia tem mudado bastante desde que a gravidez fora aceita. Assim Kimberly deixou sua marca, trazendo mais alegria e união para aquela familia antes de sua partida. Em outras oportunidades estariam reunidos novamente.

**********

As ruas de Londres estavam escorregadias, devido as suas grandes chuvas. Todos os seus habitantes lutavam para não terem que sair de suas casas. Queriam a quentura e a união de seus lares. Não era diferente com Cindy e sua família. A calmaria do ambiente lhe fazia bem.

Faltando poucos dias para o nascimento do bebê, Cindy passava o maior tempo deitada. Mal aguentava ficar em pé. Jared não saia de seu llado, principalmente nessa fase de muitos cuidados.

— Como se sente? — Perguntou Jared tirando a mexa de fios sob o rosto dela.

— Imensa.

Ele riu.

— Isso não é nenhuma novidade meu amor.

— Nossa! — Disse ela espantada.

— Sentindo dor? — Perguntou ele preocupado

— Não. O bebê chutou bem forte. Um pouco mais forte do que das outras vezes. — Ela disse sorrindo para ele.

Cindy estava amando a ideia de ser mãe, contava os dias para que a criança nascesse, queria senti-la em seus braços, lhe dando todo o amor do mundo. Projetava uma vida muito boa, seriam uma família muito feliz e companheira. Seria a melhor mãe do mundo.

— Tenho que me arrumar para a última consulta. — Disse Cindy animada.

— É muito bom te ver animada desse jeito. — Exclamou Jared.

— E por que não estaria? Falta poucos dias para que a criança nasça.

Jared a abraçou dando-lhe um beijo breve. Seus braços a envolviam com ternura, ali era a segurança que ela precisa, de que seu mundo se tornasse melhor. Ele a ajudou a se arrumar e pegou a bolsa da garota. Desceram as escadas e ficou conversando um pouco com ela. Dali em diante tudo seria muito melhor na vida deles e de toda a família.

Cindy despediu-se de Jared, era a sua última consulta antes da criança nascer. Mesmo chovendo muito Cindy estava sendo muito cautelosa com tudo. Jared abriu a porta do carro para que Cindy pudesse entrar.

— Jared, você sabe de quem é aquele carro? — Perguntou Cindy curiosa olhando o Audi vermelho.

Ele estudou um pouco o carro antes de explicar.

— Parece com o da Mellody, mas pode não ser.

— Estou com medo — Disse Cindy

— Relaxa — Acalmava Jared — Ela não vai te machucar nunca mais. Nunca mais foi vista por ninguém do barro ou sequer do colégio.

Cindy queria acreditar nas palavras de Jared, mas seu coração pulsava aceleradamente como quem desconfiva ade que algo estava para acontecer.

Cindy despediu-se de Jared com um abraço. Assim que o carro estava quase sumindo, o audi vermelho começou a sair em alta velocidade atrás do carro de Cindy. Jared conseguiu ver qu era Mellody e não hesitou em pegar o seu carro para ir atrás. Durante o percurso Cindy começou a se assustar mais ainda, temia que algo de pior acontecesse. Cindy só se deu conta de que era Mellody por causa da sua ligação.

— Olá vadia! Está pronta pra morrer?

— Mellody para com isso!

— Eu quero que você morra. O Jared será só meu e de mais ninguém.

Mellody jogava o carro em cima do da Cindy, fazendo o corpo da jovem ir para ir para frente. Cada vez mais a velocidade aumentava e Cindy ia perdendo o controle da direção. Como se não bastasse a chuva para dificultar o trajeto.O coração estava a mil.

— Nós vamos nos machucar, Mell. Para por favor.

— Agora se importa comigo? Vai pro inferno!

Desligou o celular e começou a ter mais força no seu ataque contra o carro. Jared tentava ser o mais rápido que podia, mas seu medo crescia cada vez mais. Ligou para o celular de Cindy.

— Aguenta por favor... estou quase perto dela. Vou consegui pará-la.

— Estou com medo — Disse Cindy chorosa.

— Fica calma. Estou contigo.

— Estou ten...

Jared ficou cego com o que vira, o carro que Cindy dirigia havia capotado e Mellody aproveitou para fugir na mais alta velocidade. Parou o carro no meio da avenida e correu o mais rápido que pôde, sem saber de onde tirar tanto fôlego. Já começava a a ver tudo enevoado, não conseguia controlar as lágrimas que surgiam. Tentava ligar para a emergência, cada segundo era valioso.

— Fica acordada, Cindy — Disse ele ao vê-la ainda acordada — Vou te tirar daí.

As pessoas que passavam por ali pararam para ver o que estava acontecendo, Jared desesperado pedia que todos o ajudassem, não poderia perder a mulher e o filho que tanto ama. E assim aos poucos, pessoas comovidas, se eseforçaram para ajudá-lo. Cindy sangrava muito quando conseguiram tirá-la das ferragens.

— A ajuda já está vindo — Confirmou ele.

— Jared... era a ...Mell

— Eu sei... — Jared tentava se manter calmo — Aguenta firme, meu amor.

Alguns minutos se passaram e a ambulância chegou tirando Cindy do braços de Jared. A ambulância ia muito mais rápido do que o comum, afinal estava lutando com a vida de uma garota e de um bebê. Ali na ambulância, Jared rezava para que sua amada aguentasse. Segurava fortemente sua mão e afagava-lhe o rosto. Ela tinha de sentir a presença de alguém, principalmente naquele momento em que ela precisava de ajuda. A todo momento os seu batimentos cardiacos aumentavam e diminuiam. Chegaram no hospital e a levaram imediamente para a sala de parto.

Seus batimentos cardíacos diminuíam a cada segundo. Seu rosto mostrava a luta contra a dor que só aumentava. Apenas conseguia ouvir vozes femininas que insistiam de todas as maneiras para que ela ficasse acordada. Apenas um toque. O toque, que mesmo na dor seu corpo reconheceria. Jared estava muito preocupado. A voz estava presa na garganta.

— Amor... — Suas palavras eram verdadeiras, lutando para não desesperar-se mais.

Cindy não respondeu. A dor era tamanha que dizer uma simples palavra se tornava impossível. As enfermeiras pediam insistentemente para que ela colocasse mais força. Força. Algo que Cindy não sabia mais o que era.

— Querida, você precisa acordar. — Cindy ouvia uma voz feminina desconhecida dizer. — Está em trabalho de parto, querida. Acorde.

Cindy obedeceu. Estava fraca, mas sabia que precisava fazer aquilo mais do que qualquer outra coisa no mundo. O fruto do seu amor com Jared iria nascer. Queria ter uma oportunidade de ver o rosto de seu bebê

— Jared! — Sua voz era inaudível.

— Amor, estou aqui. — Ele lhe tocara a face,limpando o rastro da lágrima.

— Me... promete que irá... cuidar do... bebê — Ela lhe pediu humildemente.

— Nós iremos cuidar do nosso bebê...juntos.

Ele tinha certeza do que iria acontecer. Queria cuidar do bebe, junto com ela.C indy sentia que não iria aguentar por muito mais tempo.

Já havia perdido muito sangue,durante todo o percurso até o hospital. A insistência das enfermeiras era muito grande. Jared mostrava-se muito calmo diante de tal situação. Sua calma servia de apoio para que ela pudesse ficar mais tranquila. Não queria passar por aquela situação, muito menos queria que a sua amada sofresse.

Uma das enfermeiras observava como ele a ajudava a enfrentar aquela transtorno. Pediram mais uma vez para que ela colocasse mais força. Cansada e com o corpo dolorido, Cindy fez o que pode. Tentou respirar fundo, mas todo o seu corpo doía.

Cindy entrelaçou os dedos nos deles e segurou-o com força. Ela reuniu todo o resto de sua força e esforçou-se ao máximo. Todos ficaram apreensivos diante de tamanho esforço. Estavam todos tensos.

Um choro suave e leve mudou tudo no ambiente que antes estava tenso deixando-o mais leve. Cindy havia conseguido. Ofegante, ela chorava de dor. Cindy pôde ouvir o choro de seu bebê, que acompanhava o seu.

Jared beijou-a na testa.

— Meu... bebê — Pediu ela estendendo os braços.

— Parabéns — Disse a enfermeira. — É uma linda menina, assim como a mãe. Uma guerreira.

— Crystal — Disse Cindy, chorando, vendo o rosto de sua filha pela primeira vez. Uma imagem que jamais haveria como esquecer.

Jared a ajudou a segurar sua filha. Uma bela menina que tinha traços muitos semelhantes aos de seus pais. Cindy fazia carinho em sua filha.Tê-la em seus braços era tão gratificante quanto por ter gerado-a durante longos e sofridos nove meses, principalmente após muitas dúvidas que surgiram em sua mente.

— Eu... nem sei o que dizer, amor — Jared enxugava as lagrimas.

— Apenas cuide dela da mesma forma que cuidou de mim.

— Nós iremos cuidar dela juntos... assim como sempre sonhou. Eu te amo.

— Te... amo. Nunca... irei abandonar vocês dois.

Para tudo em que ela olhava começava a ficar escuro. Seus braços estavam começando a ficar mais leves em torno da criança, que antes quieta começou a chorar. Chorava como quem estivesse sentindo a ausência da figura materna. Ela tentava segurar a mão dele, mas não aguentava mais.

— Fica comigo, Cindy! — Pedia ele.

— Sempre estarei... com você e com a Crystal... Antes que todas as minhas forças se... esvaiam de meu corpo, quero lembrar do brilho dos seus olhos azuis, do céu que eu tinha perto de mim, das estrelas inalcançáveis. Nem mesmo em outra vida, seria o suficiente para desistir de você! ... O nosso amor foi conquistado a cada dia, a cada amanhecer, a cada pensamento... Te amar é inevitável.

Ele aproximou-se para trocar um último beijo.

O desespero foi maior quando as máquinas começaram a fazer um barulho irritante. Médicos e enfermeiros invadiram a sala, na tentativa de lutarem pela vida de uma jovem. As tentativas nada resolviam. Bastou apenas um olhar para que Jared entendesse tudo.

A vida de uma jovem fora encerrada por um beijo. Um beijo que selava tudo o que já havia sido vivido. Num beijo havia começado tudo e assim o destino quis que fosse encerrado. Muitas barreiras foram enfrentadas enquanto estavam juntos. Enquanto havia muita coisa a ser vivida. Agora restaria lembranças de uma vida que poderia ter sido mais longa. Jared chorava desesperadamente. Não poderia ser verdade.

Médicos e enfermeiros entraram desesperados na esperança de conseguirem fazer algo para salvar aquela vida. Infelizmente seus esforços foram inuteis.

Não havia como sair de perto daquele corpo que jazia. A vida já não tinha o mesmo significado. O dia das mães,seria um sofrimento para a menina. A lembrança de que o sentimento realmente existiu entre Jared e Cindy, que agora jazia em algum lugar. Que ela pudesse descansar em paz, pois ela merecia principalmente depois de tudo que havia passsado.

Roberta e Evan foram um dos primeiros a entrar na sala. Provavelmente já sabiam da noticia. A pior noticia que poderia vir. Roberta abraçou o corpo de sua amiga. Aquela garota ainda tinha muito o que viver. Jamais as vidas das pessoas seriam como antes.

— Sinto muito meu irmão. A Cindy vai fazer muita falta. — Disse Evan.

— Concordo. E como está a Brenda e o George?

— A Brenda está inconsolável. E George está fazendo o que pode para acalmá-la. — Respondeu Roberta se afastando — Vou ver se eles precisam de algo.

— Vamos? — Chamou Evan.

— Claro.

Sair daquela sala, fazia com que uma parte dele ficasse. Como seria sua vida dali a diante? Como iria dizer a sua filha que sua mãe morreu lhe dando a luz?A cabeça de Jared era um turbilhão de pensamentos. Mas ele não iria deixar que a culpada saísse ilesa disso tudo. Ele iria se vingar mais cedo ou mais tarde.

— Brenda... — Disse Jared indo abraçá-la.

— Minha filha! Eu quero minha filha de volta. Não sou nada sem ela... — Ela se desesperava mais e mais — Traga a minha filha. Jared traga-a por favor.

George pediu para que um dos enfermeiros desse algo para acalmar sua mulher. Estavam todos muito perplexos e comovidos. Estava sendo difícil acreditar que Cindy não estava mais entre eles. Aquela doce e gentil garota faria muita falta. Jared se sentia tenso com o pedido que Brenda havia feito. Ele já havia trazido Cindy de volta uma vez, mas agora não poderia, não havia recursos que o ajudassem.

Jared saiu do hospital sem explicar nada a ninguém. Não queria que mais pessoas estivessem envolvidas. Iria resolver tudo à sua maneira. Foi direto para a sua casa, sabia o que iria acontecer e já estava preparado para qualquer acontecimento.

Ao chegar a casa acompanhado de policiais, Jared sabia onde encontrar Mellody. Como sempre ela estaria esperando por ele no quarto, mas dessa vez seria diferente. Estava cansado de ser bonzinho, dessa vez não havia mais Cindy para impedi-lo. Durante muito tempo ele controlou a sua raiva, tudo a pedido de Cindy.

— Oi meu amor! — Disse ela sedutora.

— Oi... como você está? — Perguntou Jared friamente.

Os olhos de Mellody estavam mais brilhantes do que antes, enquanto os de Jared estavam petrificados de ódio. Sua raiva agora tinha um motivo. Um motivo do qual ele nunca se sentiria bem. Nunca mais seria como antes.

— Eu estou muito bem. Nunca estive tão bem em toda a minha vida.

— Que bom...sabe eu achei bom o que você fez.

Mellody o olhou espantada.

— Eu não fiz nada.

— Claro que fez. Conseguiu tirar a Cindy do meu caminho. Ela era muito chata, pegajosa. Te devo uma.

Ela se aproximou abraçando-o fortemente.

— Eu sabia! Você não gostava dela e sim de mim. Agora seremos felizes para sempre. Como eu sempre sonhei. Foi bom acabar com a vida daquela garota escrota, sem sal.

— Ainda bem que sabe. — Sussurrou ele em seu ouvido — Mas... — Um nó havia sido feito em sua garganta — Eu ainda sinto ela perto de mim, a amo de verdade.Não quero nada com você,nunca mais.

Mellody estava incrédula.

— Desculpa, mas você acabou se entregando...

Um grupo de policiais invadiu a casa e prenderam Mlellody. Ele permaneceu sério até que a casa estivesse completamente vazia. Uma onda de tristeza o invadiu e se pôs a chorar, seu coração estava em mil pedaços, uma parte dele não existia mais.

"Por que choras, meu amor?"

Ele reconheceria aquela voz em qualquer lugar, parecia um sonho, mas ele estava vendo a miragem de Cindy à sua frente.

— Por que agora, sei que poderá descansar em paz. Fiz o que devia há muito tempo.

"Jared, agradeço tudo o que fez por mim, pela nossa filha...sempre estarei com vocês."

— Obrigado... — Jared sorriu docemente — É estranho não poder te abraçar, te tocar, sentir o seu cheiro.

"São detalhes... você saberá como lidar com isso. Sorria sempre, gosto de te ver sorrindo."

— A Crystal é linda assim como você!

"Ela tem os seus olhos... Te amo. Adeus Jared"

— Te amo! Adeus Cindy... Não vá.

E o silêncio tomou conta da casa, apenas se ouvia o vento bater nas cortinas. Novamente ele estava sozinho e agora era pra valer. Olhava fixamente para a foto que tinha de Cindy. Pegou-a e abraçou fortemente. Se pudesse teria trocado de lugar com a jovem.

Assim que sentiu-se melhor foi até a casa dos Harttman's ajudar com os preparativos do velório. Entrar nos cômodos da casa era como se uma grande parte da família tivesse sido arrancada. Dava para ver Cindy sorrindo pela casa, dançando e fazendo suas brincadeiras favoritas. Brenda já havia tirado algumas das fotos que estavam espalhadas pela casa.

— Desculpe-me por tudo Brenda! — Disse Jared abraçando a frágil mulher — Queria ter feito algo mais pela Cindy.

Brenda sorriu docemente.

— Entendo meu querido, mas isso não é culpa sua. A minha menina sempre estará viva em nós.

Horas depois já estava tudo pronto e logo foram para o cemitério. Carros e mais carros formavam filas durante o trajeto. Até mesmo Damon conseguira ir prestar sua última homenagem a sua querida irmã.

Durante o velório, Roberta demonstrava todo o seu apoio a família. Era uma dor sem comparação, não havia como medir o tamanho do sofrimento ou da cratera que tinha sido aberta no coração daquela família. Era o último momento de se despedir de uma garota que sempre foi amiga, amável, mesmo sendo tímida. Cindy sempre seria lembrada pelo que ela sempre foi e pelo que conseguia mudar nas pessoas. Os momentos em que foi de alegria permaneceria para sempre na memória de cada um deles.

Damon, Jéssica e Kimberly estavam absortos em sua dor que não saíam de perto do caixão. Havia algumas pessoas do colégio estavam ali presentes, todos a fim de prestarem as últimas homenagens. Damon não conseguia acreditar no que tinha acontecido com a sua irmã. Ele apenas se preocupava com a criança, tinha medo do que poderia acontecer.

Jared queria ficar um pouco mais afastado da família, a dor da perda poderia ser maior para os pais, mas depois de conhecer Cindy, ele havia se tornado uma pessoa diferente. Ela sabia como fazê-lo se sentir diferente perto das outras pessoas, nunca alguém o conheceu como realmente ele era. Assim que se sentiu um pouco melhor aproximou-se e tocou a mão dela. Olhava para o corpo que jazia como se realmente houvesse alguma vida ali. Enxugou o rastro da lágrima que caía e disse suas últimas palavras.

— Cindy, meu amor... sei que fui uma pessoa horrível em alguns aspectos, mas foi por você que eu mudei. Mesmo que para muitas pessoas o nosso relacionamento tenha começado sem motivo, para mim foi mágico. Sabia que merecia alguém que fosse melhor, mas já estava louco por você e não havia como voltar atrás. Cada minuto ao seu lado será lembrado com muito amor. Sempre te levarei no coração. Não deixarei que ninguém machuque nossa filha. Te amo.

Deus, em sua misericórdia, sabe que quando um ente amado deve partir nosso coração precisará de consolo para resistir, por isso,nos deu uma dádiva maravilhosa.Que não se apaga com os anos.O dom de reviver momentos preciosos,no tesouro de lembranças que guardamos. É tão difícil compreender porque devemos amar e perder. Mas, agradecemos a Deus pelas lembranças que em nós continuam a viver. De sorrisos e alegrias. De tempos difíceis partilhas. Todas as vezes em que riram juntos e enfrentaram problemas lado a lado.E quando o tempo com seu toque manso aliviar a dor no coração,o seu presente mais precioso será esse tesouro de lembranças de quem você tanto amou.

Um dia todos aqueles que sofreram terão o seu momento de glória.


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