Por Trás da Seriedade escrita por Lilly Belmount


Capítulo 15
Capítulo 14




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No dia seguinte a casa se encontrava completamente vazia. Não havia sinais de que pessoas responsáveis moravam ali. Tudo era silencioso demais. Um simples pisar emitia um som bem alto. Apenas uma garota. Uma garota que enfrentava um de seus piores pesadelos. Muitas pessoas planejam o nascimento de uma criança, outras esperam que aconteçam sem que estejam totalmente preparados. Essa era a lei da vida, quando menos se espera acontece.

Jared foi mais cedo para casa da Cindy. Ela poderia ainda estar dormindo. Mas ao contrário do que ele pensava, ela já estava muito bem acordada. Estava no banheiro vomitando. Entrou na casa pela porta dos fundos. Andou pela casa até encontrá-la.

— Ei... tudo bem?

Ela assentiu com a cabeça.

Os primeiros sinais começavam a aparecer. Seu rosto estava opaco e pálido. Jared ajudou-a a voltar para o quarto, cambaleava um pouco devido a leve vertigem. Cindy sentou-se na beirada da cama com a cabeça levantada.

— Cindy, você está péssima!

— Isso não é nenhuma novidade — Ela rebateu — Mas o que você veio fazer aqui tão cedo? — Perguntou ela confusa.

— Vim te levar pra fazer uns exames mais especificos, lembra-se? — Ele fez gesto com as mãos .

— É claro. Só preciso me trocar.

— É...te espero lá em baixo.

Cindy não demorou para se aprontar e logo desceu. Sua cara estava horrível. Não havia conseguido dormir na noite anterior com muita dor. Sua cabeça doía muito. Entrou no carro. Jared se preocupava demais pelo bem estar da jovem. Foram para o hospital onde Cindy tinha plano de saúde. Algumas pessoas, encaravam-nos curiosos. Ela estava totalmente indisposta a continuar. Tremia por dentro e por fora.

— Tudo bem?

— Acho... que sim. Só é o medo que estou sentindo.

— Vai ficar tudo bem. Estarei ao seu lado. Confie em mim.

Caminharam lado a lado segurando na mão um do outro. Havia muitas pessoas na recepção. Uma pequena fila estava formada. Esperaram pacientemente até serem atendido.

— Nome? — Perguntou a recepcionista formalmente.

— Cindy Louíse Harttman.

A recepcionista digitava em seu computador. Às vezes olhava para Jared e depois para Cindy, tentando entender o motivo dele estar com aquela garota.

— Nome da sua médica? — Continuou ela.

— Camilla Stewart.

— Sala 16. Terceiro andar.

— Obrigada. — Agradeceu Cindy.

Seguiram para frente do elevador. Cada vez mais Cindy se sentia zonza e com ânsia. Jared a conduzia segurando por sua cintura. Ao sei lado, Cindy se sentia mais segura. Havia duas pessoas a serem atendidas antes dela.

— Senta um pouco.

Do jeito que estava não poderia nem recusar. O atendimento estava ligeiro. Logo chegou a vez dela.

— Entra comigo — Pediu Cindy.

— Quer que eu entre?

— Sim.

Ele assentiu. Tudo o que ela mais desejava era poder retribuir todo o cuidado que Jared praticava para com ela. Sentindo-se um pouco melhor, ela conseguiu entrar na sala antes dele.

— Cindy! — Exclamou a médica toda sorridente — Quanto tempo.

Assim que avistou Jared, Camilla logo voltou a formalidade.

— Sente-se ali querida. — Olhou para Jared — Acompanhante?

— Sim.

— Pode sentar-se perto dela se quiser.

Camilla pegava o seu material de trabalho. Tubos e seringas estavam bem próximos da mão da garota. Assim que o elástico foi preso em seu braço, olhou para o teto. Detestava ver seu sangue sendo retirado de si.

Camilla não precisou nem fazer perguntas. Sabia já deduzir que Cindy estava grávida, mas por métodos profissionais, teria de fazer exame de sangue.

— Prontinho!

— O resultado já saí na hora? — Perguntou Jared apreensivo.

— Sim... mas estamos com uns problemas técnicos e só poderão saber o resultado amanhã.

— Claro. Tudo bem.

Jared ajudou Cindy a sair da sala. Andaram devagar até o estacionamento. Ambos não tinham se alimentado e passar no Subway era uma boa opção. Lá Cindy estava começando a se animar. Seu rosto estava com uma cor mais uniforme. Jared gostava de vê-la bem. Queria vê-la brincando, sorrindo e sendo ela.

— Está muito quieta, Cindy.

— Me desculpa...estou pensativa.

— No que está pensando? — Perguntou ele curioso.

— No... resultado.

Ele também pensava, mas seu modo era um tanto que diferente.Tamborilava os dedos na mesa. Não era um dia favorável para se ter conversas intensas Estavam sem um assunto concreto para ser discutido, no entanto tomaram o rumo de casa. Em frente de casa, Cindy se despedia de Jared, estava cansada e morria com a dor de cabeça. Só queria se deitar e nada mais. Seu pai já estava de volta da viagem. O que seria uma grande surpresa quando ela entrasse.

— Olá querida! — Cumprimentou George — Saudades.

— Oi pai... — Respondeu ela baixo.

— Que cara é essa?

— Não é nada pai, só estou com dor de cabeça.

— Se deita um pouco... já já subo pra te dar o remédio.

Obedeceu seu pai. Era estranha a reação que estava tendo. Ficou embaixo das cobertas até seu pai aparecer. No banheiro do quarto dela, havia todos os tipos de medicamentos que talvez ela precisasse. Por sorte, Roberta tinha se livrado dos testes de farmácia. Sua casa estava mais limpa do que antes. Não iria correr o risco de ser tão desatenta.

O resto do dia passara deitada. Não queria receber visitas de ninguém. Trancou-se no quarto para evitar que fosse atrapalhada. Quanto mais sossego tivesse, se recuperaria logo.

**********

Dia seguinte. O dia estava frio e Cindy havia acordado mais disposta do que antes. Estava determinada a enfrentar a sua mãe. Isso se ela não tivesse ido trabalhar cedo. Algum dia teria que revelar toda a verdade para os seus pais e deverias e preparar mentalmente. Estranhou ao ver apenas seu pai na cozinha.

— Como está se sentindo, princesa? — Perguntou George esperançoso de uma boa resposta.

— Um pouco melhor.

Ela pensou um pouco sobre o termo que seu pai havia usado. Fazia um bom tempo que deixara de ouvir esse termo. Era um jeito especial que seu pai lhe tratava, quando ela estava doente. Sonhara em ser princesa, mas nunca conquistara a sua coroa. Apenas Damon e George a consideravam uma verdaeira princesa.

— Vamos no mercado? — Perguntou ele temeroso com a resposta dela.

— Claro. O senhor sabe que eu gosto de passar meus fins de semanas ao seu lado.

Ele sabia sim, mas era diferente quando soube pelas próprias palavras que saiam da boca dela. Abraçou a filha calorosamente. Um abraço como o de um eterno apaixonado.

Foram para o mercado. Cindy pilotava um só de guloseimas e seu pai de coisas essenciais para o dia-a-dia. Conversavam animadamente até entrarem no setor de frutas, mas a alegria fora interrompida por uma súbita imagem, que parecia não ser deste mundo. Não era uma pessoa da qual poderia se orgulhar em dizer "que belo ser humano". Mellody estava bem perto de George.

Por sorte parecia que ela não a tinha visto. Enganos. Malditos enganos. Com os olhos semicerrados, Mellody cochichava com a garota ao seu lado, olhando diretamente para Cindy.

— Olá Cindy! — Cumprimentou Mellody.

— Oi! — Cindy respondeu frio.

— Está doente? — Ironizava Mellody — Precisas descansar amiga. Recupere todas as suas energias para que assim possamos voltar a conversar e debater sobre os nossos planejamentos.

— Vamos filha?

Agradeceu por seu pai sair logo daquele setor. Seu pai estava bem empolgado e Cindy preocupada. Mesmo sabendo que o resultado sairia naquele dia, nada mais a preocupava. Jared havia lhe mandado uma mensagem, informava que horas eles iriam ao hospital buscar o resultado.

No caixa, Cindy ajudava a guardar as compras nos sacos. Mellody estavam bem atrás deles. Era uma perseguição sem fim. Em uma falsidade bem mal encenada, Mellody sorria para Cindy como se fossem amigas há anos. Se sentia profundamente incomodada com a situação. Foram embora.

George não lhe perguntara nada a respeito de Mellody. Dentro em breve teria de sair de casa.

Jared e Roberta já a esperavam do lado de fora, perto do carro dele. Teve de respirar fundo para conseguir olhar para seu pai sem que levantasse suspeitas. Era fácil lidar com o seu pai.

— Pai, vou precisar sair com a Roberta. Tudo bem pro senhor?

— Claro querida. — Ele lembrou-se do que havia visto no lado de fora — A Roberta está virando amigas dos rapazes ao lado, não é?

— Diríamos que o pai dela trabalha com eles e no caso a convivência se torna fácil pra ela.

— Entendo.

Deu um beijo em seu pai e foi se encontrar com os dois. Roberta estava muito animada. A ansiedade tomava conta de Roberta. Tinha de ser positiva em algo na sua vida em algum momento. A felicidade não era uma boa opção para Cindy naquele momento.Cumprimentaram-se sem se tocarem.

— Preparada para saber o resultado? — Perguntou Roberta batendo palmas.

— Mais ou menos...

— Vamos meninas?

— Só se for agora!!! — Exclamou Roberta já entrando no carro.

Cindy estava muito quieta diante de tamanha empolgação de Roberta. Todo o agito epensamentos desordenados não ajudavam Cindy. Em questão de minutos a sua vida mudaria para sempre. Ao chegarem no hospital,tiveram de pegar uma senha. Tudo o que indicava, é que passariam o dia inteiro esperando. Por sorte a doutora Camilla avistou Cindy e a chamou para seu consultório. Roberta e Jared também a acompanhou. A médica fez sinal para que sentassem. Entregou o envelope na mão de Cindy. O envelope parecia pesar em suas mãos.

— Qual é o resultado Cindy? — Perguntou Roberta ansiosa.

O envelope não havia sido aberto. Jared aproximou-se mais massageando o ombro levemente tentando aliviar a pressão. Ela abriu o envelope retirando a folha principal. Percorreu os olhos pela folha inteira. Estava em negrito o resultado. Positivo. Ela estava realmente grávida. Roberta pareceu gostar da idéia. Entregou a folha para que ele pudesse ver equanto encarava o vazio. Os olhos de Jared brilhavam intensamente.

Agradeceram a médica e foram para o estacionamento. O silêncio de Cindy permanecia. Apenas pensava em como lidar com o acontecimento.

— Ei amiga, tudo bem? — Arriscou Roberta.

— Claro.

— O resultado te assustou?

— Não.

O resultado não era nada comparado com o que aconteceria caso seus pais descobrissem a gravidez. Seu mundo já não seria mais tão colorido como antes.

Passara o dia na companhia dos rapazes da banda e com Roberta. Perto deles sorria e brincava, mas por dentro estava desesperada. Não havia mais chão para pisar. A tarde ia embora e a noite chegava fria acompanhada de seus ventos fortes.

Despediu-se dos rapazes e fora pra casa. Em termos ainda estava cedo para que ela se recolhesse. Tomou um banho e ficou trancada em seu quarto. Cindy permanecera sentada naquela cama durante horas a fio, enrolada nas grossas cobertas azuis escuras, apenas pensando no que lhe acontecera. Como lidar com aquilo? Como sorrir falsamente para todos na escola na manhã seguinte e fingir que tudo estava bem? E o pior: como lidar com os seu pais?

A garota fechou os olhos e uma pequena lágrima escapou, deixando um rastro na bochecha rosada. Sentia-se mal com tudo o que estava acontecendo. Uma vontade de sumir a dominou, mas se sumisse estaria sendo fraca a ponto de não enfrentar seus problemas. O cansaço a dominou. Não restou a menor dúvida de que dormira a noite inteira. Talvez fosse melhor se acostumar com a nova vida que levaria dali em diante.

**********

Lidar com o George sempre foi mais fácil para Cindy. Falar sobre a gravidez poderia ser traumatizante, mas pelo menos ele lhe daria alguns conselhos necessários para a vida toda. A paciência que possuia para com os outros era impressionante.

Ao se levantar, Cindy tomou um banho gelado. Necessitava que estivesse bem alerta. Desceu as escadas, despreocupada. O dia seria diferente, lutaria para ser assim. Seu pai estava sentado à bancada da cozinha. Segurava uma folha impressa sério. Frio. Essa pequena palavra que o definia naquele momento.

Cautelosa, Cindy se aproximou.

— Pai? — Sua voz era um sussurro imperceptível — Tudo bem?

Ele não respondeu. Apenas entregou-lhe a folha. Ela o reconhecera.Era o resultado do exame. Aquele que comprovava que ela estava grávida.

— Pode me explicar? — Pediu ele gentilmente.

— Acho que não será preciso explicações. O que o senhor viu é verdade. — Ela baixou a cabeça antes de continuar — Estou grávida sim.

— Como é que você não contou antes? Falamos tanto sobre os cuidados, minha filha e de repente parece que nunca ouviu falar sobre preservativos. — Explicou George.

— Desculpa pai, mas aconteceu.

— Com quem? — Questionava George.

— Com o Jared. — Contou Cindy.

— Espero que ele se responsabilize pelos seus atos. Não irei bancar o pai chato. Contou pra sua mãe?

— Não... preciso me preparar. Sei que ela vai me odiar para o resto da vida.

— Sei que foi um erro a noite que passaram juntos. Assim como sempre na primeira vez é. Vou te ajudar no que precisar. Sou seu pai e não posso te julgar.

Cindy abraçou o pai. George era muito compreensivo em relação a sua filha. Seu abraço a confortara, a transportava para outro mundo como num piscar de olhos.

Ela teve uma vaga lembrança do seu irmão. Sua mãe sempre dissera que Damon, fora concebido através de um erro adolescente. Brenda na adolescência foi mais ingênua do que Cindy. No entanto não aceitava que sua filha crescesse. Sempre implicava com algo que a garota desejava realizar. Não tinha voz e nem vez. Tudo era controlado por Brenda.

— Teve alguma noticia do Damon? — Perguntou ela esperançosa.

— Não. Faz mais de quatro meses desde a última vez que seu irmão nos telegrafou.

— Ele faz falta...

Era mais do que a saudade. Damon era a sua metade.Um sentimento forte que cresceu dentro dela. Pensava que tudo seria mais fácil se ele estivesse por perto. Talvez...não tivesse ido na festa por insistência dele, mas Damon estava anos longe de casa. Não haviam garantias de que ele voltaria para o lar.

Seus pensamentos fora interrompido ao ver sua mãe entrando na cozinha. Apressou-se em pegar a folha e colocar dentro do bolso. Sorrir falsamente para aquela mulher que havia lhe dado a vida era dificil.

— Mãe?! — Berrou ela alegre.

— Oi minha linda. Se divertiu enquanto estava fora?

Ela apenas assentiu. Voltou para o quarto. Ficou deitada olhando para a foto no criado-mudo. O resultado não era o esperado, mas a sensação de ser mãe, estava começando a animá-la. Ter seu próprio filho, segurá-lo pela primeira vez. Passar momentos ao lado de seu filho lhe dando amor e carinho, ensinando tudo sobre o mundo em que cresceria, o que era certo e errado a animava.

Sua mãe entrou no quarto sem bater. Seu coração disparou. Tentou sorrir, mas se preocupava em tentar não dizer nada. Não naquele momento.

— Tudo bem filha?

— Sim... — Respondeu ela estranhamente.

— O que você acha de ir comigo em umas reuniões?

— Reuniões? — Perguntou ela desentendida.

— Rodas de conversas, entre mães adolescentes e pessoas que abortaram! –Explicou Brenda

— Tem certeza?

— Claro...você está fazendo um trabalho sobre isso, não é? Está até lendo um livro.

— É... — Sua voz era rouca e falha — Pode ser uma boa.

— Daqui a pouco iremos.

Não era tão legal ouvir outras pessoas falarem a respeito de suas vidas. Faria tudo o que fosse necessário para agradar a sua mãe. Foram para essa tal "reunião". Ao chegar no local, a vontade de Cindy era a de simplesmente voltar correndo para casa, como se fosse o Flash. Todos aqueles olhares voltados para ela se tornavam desconcertantes. Dentre alguns relatos, Cindy se identificava. Muito das jovens ali presentes, tinham medo de contar a seus pais. A conselheira chefe disse-lhe que houve uma adolescente que tentou abortar e acabou morrendo. Estava morrendo de medo por dentro após ouvir tal declaração. Cindy era totalmente contra o aborto. Todos tinham o direito de viver.

Ao voltar pra casa estava totalmente pasma. Não conseguia processar as informações que lhe passaram.Era muito coisa para ser digerida num dia. George mantinha suas conversas um pouco secretas diante de sua mulher. Não queria levantar suspeitas. No momento mais adequado revelaria o segredo de sua filha.


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