CSI : Mirim escrita por Mary Kazuto


Capítulo 2
Bem-vindos aos jogos vorazes


Notas iniciais do capítulo

Estou eu de novo aqui, queria avisar que vou postar de semana em semana, bom mais isso não vem ao caso.
Aproveitem, nesse eu caprichei.



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Ufa! As férias acabaram (do que eu tô falando? Isso é ruim!), acabo de tomar banho, enquanto seco meus cabelos observo o guarda-roupa que eu tenho desde que me entendo por gente escolhendo o que vou vestir para esse primeiro dia de aula, afinal, uma boa impressão é tudo, eu acho.

Vou usar esta aqui: http://www.polyvore.com/cgi/set?.locale=pt-br&id=158291790

Decidi prender meu cabelo por ser mais confortável mesmo, afinal estou meio sem tempo para cortá-lo.

Fui em direção da cozinha, mas para minha decepção todos os armários e a geladeira estavam vazios, ah! É mesmo! Ontem a última feira que fiz oficialmente acabou, e do resto do dinheiro que eu tinha guardado para comprar um livro (duas semanas atrás) que acabei não comprando, só sobrou R$ 20,00.

Já sei o que fazer, eu paço a lanchar só na escola, porque esse dinheiro mal dá pra uma semana de feira, e quando ele acabar eu arranjo um trabalhinho aqui e ali, bom, como vou deixar pra comer na escola tenho que me apressar.

Saio de casa, vou andando tranquilamente com o celular no bolso e os fones nos ouvidos, nem preciso me apressar, falta em média vinte minutos para a aula começar e a escola não fica tão longe.

Finalmente cheguei. Não me demorei muito observando o quão grande ela é, simplesmente fui andando até chegar à sala da diretora para pegar meus horários, no ano passado eu consegui a bolsa para estudar os três anos, mas por conta de uns acontecimentos eu só estou com esse privilégio até o meio do ano, o resto vou ter que me virar para pagar, mas nada com que me preocupar.

– Pode entrar, ah, senhorita Edinger, por favor, entre!

Sentei-me em uma poltrona em sua frente, fiquei calada.

– Parabéns por ter passado ano passado, espero encarecidamente que não tenhamos desentendimento outra vez certo? Não queremos que você seja expulsa certa? – afirmei com a cabeça – aqui estão seus horários, antes de tudo vá para o ginásio, lá está acontecendo a cerimônia de abertura, tenha um bom dia.

Dirijo-me ao ginásio, impressionantemente está mais lotado do que ano passado, coloco o capuz, já basta a minha fama, não quero ter novatos me questionando do porque meu cabelo é “branco”, esse povo não sabe nada de semelhanças genéticas.

Espremi-me entre a multidão e pude ouvir um pedaço da palestra arcaica do vice-diretor, no mesmo instante que ele acabou de falar a última palavra um tsunami de alunos apressados para começar mais um dia de encarceramento em uma sala me atropelaram, eu caí no chão com tudo, alguns pisavam no meu braço, ou no casaco.

Sentei-me no chão, limpei meu casaco, coloquei novamente a faixa no cabelo, antes de pôr o capuz ouço alguém rindo baixo atrás de mim, olho rapidamente para trás e vejo duas vagabundas filhinhas de papai (líderes de torcida) com suas saias minúsculas.

– Olhe Anny! Parece que a vampira vai nos assombrar mais um ano não? – a outra garota soltou um risinho agudo que acredito ter me deixado um pouco surda.

As ignorei, uma das minhas especialidades é não me rebaixar o lixo, pois eu posso me sujar, na maior parte do tempo eu não ligo para o que as pessoas falam, se eu fizesse isso com certeza já teria tentado um suicídio, mas como quem vive de passado é museu eu deixei isso pra lá.

Levantei-me, sacodi a poeira e me dirigi à minha sala, as duas ficaram lá paradas como se esperassem que eu partisse pra cima delas, iludidas, mas se elas quiserem posso abri uma vaga para elas depois.

Entrei na sala enquanto o professor explicava alguma coisa, todo mundo olhou pra mim, devem ter muitos novatos, têm alguns rostos desconhecidos.

Sento-me na fileira da ponta onde tem uma janela de vidro grande, dela dá pra ver a quadra de esportes e alguns bancos.

– Fala aí pessoal, desculpem o atraso! - Fala um garoto entrando na sala quase se jogando, ele é moreno e tem olhos verdes, logo as garotas começaram com seus grupinhos, algumas davam suspiros apaixonados, não sei o que elas viram nele.

– Senhor Arnold gostaria de se apresentar à turma? Já que chegou tão cheio de energia poderia dividi-la conosco? – ele deu uma rizada.

– Oi pessoal! Meu nome é Bryan Arnold, me mudei há pouco tempo e estou aqui para puxar os pés de vocês à noite, brincadeirinha! – todo mundo riu, esses dementes mentais.

Ele começou a vir em direção a minha fileira e sentou ao meu lado, ele virou para mim e deu um sorriso, quê que ele ta fazendo? O ignorei, fingindo que não o vi, mas não adiantou nada.

– Ei, novato, é melhor você não fazer isso, todos os que tentaram se comunicar com a garota “fantasma” ficaram amaldiçoados – falou alguém do fundão e todo mundo olhou pra mim.

– Você não me parece ser uma fantasma, se ao menos me deixasse ver seu rosto... – ele falou devagar se inclinando em sua cadeira e se aproximando de mim, eu simplesmente bati de leve em sua cabeça e ele caiu com tudo no chão, otário.

– Bem que eu avisei novato, essa garota é um espírito maligno – todos começaram a rir, tanto dele quanto de mim, mas eu não me importei, continuei a assistir a aula.

–------------------Quebra de tempo-----------------------------

Eu estava na fila para comprar meu lanche só esperando minha vez quando sinto uma bolinha de papel bater na minha cabeça, sigo meu olhar na mesma direção e me deparo com algumas pessoas da minha sala rindo, provavelmente de mim.

Compro um sanduíche e um suco e me dirijo a uma mesa vazia que logo foi ocupada pelos idiotas da silva, eles não desgrudam de mim que nem carrapato, só esperando que eu abra a boca, diga besteira e receba reclamações.

– Não sabia que almas precisavam comer algo humano além de seus órgãos.

– IÉ? Sério mesmo? Descobriu isso aonde? Na Wikipédia que não foi né? Ela não deve gastar tempo preocupada com mentes de ratos – digo, realmente não tenho a habilidade de falar com as pessoas, acho que esse é outro fator de eu não ter amigos.

– É o quê?! Olha como fala com a gente! Pelo que eu sei você não tem direito de falar nada comigo!

– Ta bom, filhinho da diretora – debocho com um sorrisinho no rosto.

Ele me puxa pelo casaco e, como é mais alto que eu, me levanta, continuo sorrindo, ele não sabe com quem tá mexendo.

– Não vou reclamar, esse é o esperado de um fantasma assassino – me irrito, dessa vez ele mexeu fundo na ferida, nessa altura o capuz escorregou da minha cabeça e houve um aglomerado em nossa volta.

Pude ouvir as infelizes vozes de pessoas confirmando que eu parecia uma alma penada com minha pele clara, outros incentivando para continuar a briga, aposto que é para descobri se dá pra espancar um fantasma.

Irritei-me, mas antes de eu acertar um soco em seu rosto ouvi o maldito som do apito da diretora, ela usava isso quando os alunos não a levavam a sério.

O garoto me soltou e eu abaixei a cabeça deixando um pouco da franja cobri meus olhos, foi quando percebi que a diretora não estava lá, e sim aquele novato, ele sorria divertido.

– Parece que eu estou perdendo alguma coisa, só pra vocês saberem a diretora teve que sair com os professores e nos deixou com uma folguinha hoje.

Todo mundo começou a comemorar, vi uns poucos com bolsas saindo da escola, a maioria continuou lá, me olhando, esses idiotas.

O filhinho da diretora pegou de novo no meu casaco, mas desta vez eu o afastei.

– Que foi? Eu estou apenas terminando o que comecei – o empurrei com força, ele quase caiu – sua vadia! Venha aqui, você vai ver.

Eu comecei a correr, mas fui parada por uns garotos do terceiro ano, esses idiotas! Enquanto isso o idiota veio e começou a apertar meu pescoço, eu não conseguia respirar.

– Ei, bryan, não gostaria de me ajudar aqui um pouquinho não? – diz enquanto o outro se aproxima, mas fica quieto, só observando, enquanto uma cambada de meninas fica atrás dele.

– O que foi? Eu te chamei para me ajudar, não ficar olhando!

O outro nem se mexeu, essa foi minha chance, quase sem ar juntei minhas forças (esse cara é forte) e dei um soco em seu nariz, ele em reação me jogou de cara no chão, tenho certeza que a marca de suas mãos em meu pescoço vão me acompanhar por um tempo.

– Sua idiota! Olha o que você fez! – diz apontando para o próprio nariz.

– Você mereceu – diz Bryan, nessa hora até eu me surpreendi, ninguém nunca me defendeu, como eu suspeitava, ele é um demente, um débil mental.

– O que você disse?

– O que você ouviu, acredito que não devemos ir Machucando os mais fracos assim.

– Fraca? Ela? Você que é um idiota, pra sua informação essa daí já chegou a matar... – antes que ele pudesse terminar de falar o interrompi com um chute, não quero mais um me incriminando, já basta os problemas que eu tenho.

O outro me olhou meio confuso, ai não, ele deve ter ouvido.

– Você está bem? – diz ele, sério, como alguém pode ser tão demente?

– Olhe aqui, eu não preciso de ninguém me defendendo tá? Também não preciso da sua pena, com licença.

Vou para dentro do ginásio e sento em uma das arquibancadas, abraço minhas pernas e apoio minha cabeça nelas, sinto meu pescoço arder, tento ignorar o máximo possível.

Continuo imersa em pensamentos quando sinto uma mão em minhas costas, me assusto, e se for aquele garoto? Levanto um pouco os olhos e me deparo com Bryan agachado, perto de mim. Levanto-me em um pulo e subo uns degraus da arquibancada me afastando.

– Ei, você está bem?

– Cala essa boca, é óbvio que estou bem.

– Seu pescoço discorda da sua versão.

Toco meu pescoço de leve, sinto o ardor novamente e afasto minha mão.

– Me deixa ver.

– Não! – gritei, ele pareceu se assustar, eu também me assustei – eu estou bem, não preciso da pena de ninguém.

– É mesmo? Acho que se eu não tivesse te salvado naquela hora você poderia não estar viva.

– Não me preocupo com isso, afinal eu sou um fantasma – digo calmamente.

– Eu sabia você se sente incomodada com isso.

– Não sinto.

– Sente sim, quando você falou sobre isso seus olhos abaixaram, sua boca ficou sem expressão, seus ombros se contraíram, você puxou o ar com mais lentidão.

Assustei-me, o que é esse cara?

– Eu consigo ler os seus movimentos e deduzir seus sentimentos, mas isso é segredo, ok?

– Então você é um nerd? – ele me encarou meio assustado.

– Não, eu não sou quem disse isso? – dei uma risada, ele também riu.

– Me chamo Bryan – diz me estendendo a mão.

Eu encaro seu rosto, olho para sua mão, rosto, mão, enfim, decido apertá-la.

– Sou Ayla.

– Então, só pra constar se você fosse um fantasma eu não teria conseguido apertar sua mão.

– Idiota – eu sorrio, esse cara é irritante, mas de um lado bom.

– Mas é verdade que o seu cabelo é branco, posso pegar? – assenti – que legal! – ele solta a faixa e com isso o cabelo cai nas minhas costas – é macio.

– Ta bom, acabou a brincadeira, vou embora.

– Não – ele fala manhoso – pelo menos me deixe te acompanhar.

– Pra quê? Sério, não tem necessidade alguma, acho até que você vai me atrapalhar.

– Vai lá, você não tem nada a perder.

– Tá bom, mas vou avisando que isso é besteira.

E lá vamos nós refazendo o meu caminho de ida para a escola, só que desta vez voltando dela, estávamos em silêncio absoluto, parecia que se algum de nós nos pronunciasse estaria cometendo um crime, na verdade era quase isso, eu não saberia direito o que falar.

Aos poucos as casas grandes e luxuosas se tornavam cada vez mais raras e davam lugar à paisagem do subúrbio, cachorrinhos correndo com crianças, uma praça onde casais e amigas de longa data se encontravam.

Estávamos chegando ao meu quarteirão quando percebemos um aglomerado de pessoas começando a se formar, curiosos fomos lá ver.

Quando vi mal pude conter a surpresa, era uma mulher, ou melhor, o corpo dela deitado no chão e uma poça de sangue ao seu redor, quase impulsivamente me aproximei dela, aproveitei que não tinha nenhum policial por perto.

Ela usava um vestido vermelho que aparentava ser de seda, isso indica que ela era da classe dos filhinhos de papai, me agachei e olhei seu rosto meio encoberto pelos fios ruivos, ela parecia tão serena, em seu pescoço havia um colar que acredito ser mais caro que o valor de todos os meus bens juntos, sem falar no relógio de prata em seu pulso.

– Não foi uma pessoa qualquer que a matou, ele a conhecia – disse pra Bryan que se aproximou.

– Como você sabe?

– Se tivesse sido um roubo, ou até um mal entendido o culpado teria levado os bens de valor dela, mas não, ele pode ter feito isso por dinheiro, amor, um emprego, quem sabe.

– Hum, parece que temos uma especialista aqui.

– Você tem os seus gostos e eu os meus.

– A polícia chegou todos, por favor, esvaziem a área.

– Vamos logo – diz ele me puxando de leve pela mão.

Continuamos até chegar a uma rua aparentemente deserta, e no final dela minha atual casa.

– Bom, é isso, o seu trabalho foi cumprido, até.

– Espera, eu vim até aqui e você não me convida para entrar? Já está perto da hora do almoço, é o mínimo que você pode fazer por mim, eu salvei sua vida.

Eu abaixei minha cabeça e dei um sorriso meio envergonhado.

– Olha, na minha casa não tem comida, acho que não vou ter que explicar o porquê de ter sido despedida do meu antigo emprego.

Ele ficou calado, eu só esperei até que ele pedisse desculpa e fosse embora arrependido por ter conhecido a garota mais estranha e pobre que ele já viu, mas ele não foi embora, ficou lá parado, até que pegou meu pulso e começou a andar.

– O-oque você está fazendo? Bryan! Eu te disse, o que quer que seja o que você fez por mim eu não vou poder retribuir.

– Quieta, ou melhor, era pra você ter dito antes.

– O quê? Pra quê? Não entendi.

– Quem você acha que eu sou? Não posso deixar uma amiga passando fome na sua própria casa.

– Eu ainda tenho dinheiro, mas não é suficiente pra fazer a feira, só isso. Me solta - tentei puxar meu braço, sem sucesso – para Bryan, eu não preciso da compaixão nem da pena de ninguém, se eu vivo assim é porque eu quis ser assim, me deixa.

Ele parou, soltou meu braço.

– Tá, desculpa, me deixei levar pelo momento é que eu queria pelo menos tentar ajudar alguém, meus pais vivem pegando no meu pé por conta disso, desculpa, seus pais devem estar preocupados também, logo eles mandam dinheiro, você vai ver.

– Claro - digo sem coragem - se eles não estivessem mortos - quase sussurro essa última - mas não é como se isso me afetasse em alguma coisa, eu aprendi a viver só, e não tenho remorso por isso.

– Então vamos fazer o seguinte, se você me deixar te pagar o almoço prometo que não insisto mais nisso, caso contrário vou ter que me mudar pra sua casa, você que escolhe.

– Comida italiana ou chinesa?

– Você é estranha Ay.

– Meu nome não é assim.

– vamos logo.

Tenho que admitir que depois de tanto tempo ver que existe alguém que se importa comigo é tão bom, no almoço tive vontade de chorar, estava tudo bom demais, só que, como as criancinhas dizem quem chega perto demais de mim acaba sofrendo, não só com a discriminação, mas eu acabo trazendo um pouco de azar por onde eu passo, não dá para evitar, mas tudo foi relativamente bom hoje.

Queria mais dias assim.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Por favor comentem.



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