Estava quase terminando de arrumar meu quarto, quando minha mãe, Susan, surgiu na porta, balançando os cabelos ruivos. Ela olhou ao redor, reparando na decoração.

– Você deixou parecido com seu antigo quarto... – ela sorriu – Eu achava que iria querer mudar um pouco.

– Eu pensei em mudar, - falei – mas quis ter algo parecido com nossa casa em Nova York.

– Você vai sentir saudades, não é? – mamãe me lançou um olhar triste.

– Claro que vou, - sorri – mas não me arrependo de vir para cá com vocês... – olhei pensativa para a janela; havia parado de chover – Sinto como se algo fosse acontecer...

Ouvi minha mãe rir de leve e se aproximar de mim, colocando as mãos sobre os meus ombros.

– Talvez, então, essa mudança seja boa. – ela sorriu, com os olhos verdes brilhando – Talvez aqui você viva uma aventura, como as dos livros que você tanto lê. – me abraçou.

– Espero que sim. – suspirei, apoiando a testa no vidro frio da janela.

Minha mãe caminhou até a porta do quarto, mas se virou para mim antes de sair.

– Por que você não sai um pouco? – perguntou calmamente e eu me virei para olhá-la – Parou de chover, e, pelo que eu percebi, há gente da sua idade aqui no bairro... você poderia tentar fazer amizades...

Eu não era muito boa em fazer amizades, mas Salem tinha um ar que me atraía, um ar gelado, para ser mais específica... então eu realmente fechei meu casaco para sair.

***

Não me atrevi a me afastar muito de minha rua, apesar de conseguir memorizar os lugares por onde passava. Resolvi ir apenas até o parque que ficava por ali... me lembrava de tê-lo visto quando passávamos de carro.

Algumas crianças brincavam de pique-pega, correndo de um lado para o outro no chão escorregadio por conta da chuva, mas se divertiam; uma mulher passeava com um cachorro e falava ao telefone; mais afastados de todos, um casal parecia estar em um clima romântico, sorrindo um para o outro...

Me sentei em um banco e fechei os olhos, sentindo o vento bater em meu rosto e bagunçar meus cabelos. O frio sempre me acalmava.

Mas, de repente, senti uma brisa fria em meu pescoço, fazendo com que um arrepio percorresse toda a extensão de minha coluna. Olhei para trás, um pouco assustada; não havia ninguém. Tornei a me virar para frente, achando que estava ficando maluca, mas vi que não era o caso, pois as duas crianças que estavam correndo haviam parado de correr e olhavam entre mim e algo atrás de mim, rindo.

Fiquei tentada a chamar as crianças e perguntar qual era o problema, mas não tive coragem quando senti novamente a brisa gélida em meu pescoço... era como se alguém estivesse suspirando atrás de mim. Fiquei estática por alguns segundos, mas estremeci quando uma pessoa se sentou ao meu lado.

– Você é... nova por aqui? – olhei para ver quem havia se sentado. Era um rapaz, aparentava ter a minha idade, de cabelos bagunçados e escuros. Sua pele parecia brilhar, tão branca quanto a neve de inverno, mas os olhos azuis era o que mais me impressionou. Pareciam geadas, azuis claros e brilhantes, divertidos.

– Sou. – respondi a sua pergunta – Acabei de me mudar com meus pais...

– É uma cidade pequena – ele comentou, sorrindo – não fique assustada por eu ter descoberto.

Assenti positivamente com a cabeça e ofereci minha mão em cumprimento.

– Sou Audrey Wright. – falei.

Ele apertou minha mão, me dando a chance de perceber o quanto sua mão era fria; era como se eu estivesse segurando gelo.

– Jack Sullivan – ele sorriu – Prazer em conhece-la.