O garoto sem nome escrita por Gessikk


Capítulo 7
Carta 7


Notas iniciais do capítulo

Minha demora foi simplesmente imperdoável, sei disso.
Eu me enrolei, esqueci, não tive tempo, não soube como escrever e quando vi..já tinha ficado esse tempo horrível sem postar e sem responder os comentários!
Espero que me perdoem e continuem a interagir comigo, prometo que não vou demorar tanto para postar. Quero que a próxima carta saía semana que vem!
E só para avisar, que apesar de estar amando essa fic pela forma nova que escrevo, a última carta será no capítulo nove e no dez será o epílogo, então estamos chegando ao fim!


"Essas palavras que escrevo me protegem da completa loucura" Charles Bukowski



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Remember me- Anadel

"But there’s hope in the madnessDon’t pretend you’re in this aloneShe sees me inside youAnd she’s afraid that you won’t come home

So remember me, write my name on a stoneBut don’t let me hold, you back from it all"

 

Uma semana. Foi o tempo que determinei para mim mesmo, nem um segundo a mais.

Pela primeira vez, senti que tomei controle da minha vida e isso é ao mesmo tempo assustador e magnífico. Não tenho mais que temer os imprevistos, eu mesmo vou acabar com meu sofrimento.

Sempre fui arrastado, maltratado, vítima dos desastres que me cercam, mas agora, vou fazer meu próprio destino. E foi isso que escolhi, que planejo há meses e finalmente estou prestes a realizar.

Essa é minha última semana de vida.

Na segunda feira, pedi para Derek me levar até a casa de Kira. Ele não perguntou nada, me ajudou no banho, escolheu minha roupa, fez o almoço e dirigiu seu carro, comigo no banco do carona.

Durante a pequena viagem, minhas mãos tremiam muito, mais do que estão tremendo agora, enquanto forço a caneta contra o papel para que as palavras fiquem legíveis.

Eu encarava, quase hipnotizado, o tremor dos meus punhos, até que Derek percebeu e falou pela primeira vez desde que entramos no carro.

"Você quer sair, depois de visitar a Kira?"

E como acontecia todos os dias, que conhecia um lado diferente de Derek, me surpreendi com a fala do lobisomem.

"Sair?" Não sei como era possível, mas minha voz estava ainda pior, sufocada, quase inexistente. Tinha sorte por Derek ter uma audição sobrenatural.

" Sim, sabe, ver um pouco de gente. Com certeza não é saudável ficar só com a minha companhia, então pensei de irmos para algum lugar, onde você quiser"

Tive vontade de falar, falar muito, tagarelar incansavelmente, dizer que a companhia dele era agradável e ponderar qual seria o melhor lugar para ir no final de sua vida, mas me limitei a poucos grunhidos, sem conseguir obrigar a minha voz sair.

"Não vai ter vergonha de mim?" Gaguejei, praticamente tossindo as palavras, muito depois de Derek ter falado, quando finalmente consegui dizer algo.

Quase que instantemente, o lobisomem estacionou o carro e me olhou sério. Só retribui o olhar, quando, com aquelas mãos imensas, Derek segurou meus braços, que eu batia repetidamente contra o banco abaixo de mim. Movimentos repetitivos, compulsórios, fazem parte dos sintomas da demência.

"Por que teria vergonha de andar com o garoto mais forte e corajoso que eu conheço? "

Porque eu tenho tremores nos braços, ando com a dificuldade de uma pessoa de 110 anos, não consigo falar sem gaguejar, não posso ficar muito tempo em pé e a qualquer momento posso travar e ter uma crise no chão. Essa foi a resposta que não pude dizer, não somente por não ter capacidade de falar, mas também pelo peso daquelas palavras que pareceram tão surreais para mim "forte e corajoso".

Derek, quando ler essas cartas, já vai saber que estava enganado ao meu respeito. Eu não sou forte, ao contrário, sou fraco e incapaz de suportar tudo isso, muito menos corajoso, tenho medo até mesmo de continuar a viver, nessa tortura eterna, repleta de mortes, limitações e dores.

Fui à casa de Kira e Derek foi andar pela cidade logo após me deixar na porta do apartamento da garota, para me deixar a sós com ela, sabendo que tanto Kira como a sua família, saberiam cuidar muito bem de mim.

Assim que atendeu a porta, Kira arfou e me agarrou em um abraço sufocante, reconfortante. Não sei dizer quantos minutos se passaram, mas minhas mãos doíam devido a força que apertavam a sua cintura.

Ela me ofereceu água e me ajudou a sentar no sofá, dizendo o quanto estava surpresa e feliz por eu ter vindo vista-la. A Kitsune sabia de tudo o que tinha acontecido, ela me visitou logo após a morte do meu pai e foi ao hospital quando estava fazendo os exames que me diagnosticaram com a doença.

Kira odiava voltar para Beacon Hills, seus olhos transbordavam de tristeza toda vez que ia para lá, mas ela nunca hesitou de ir para ver como eu estava sempre mostrando sua preocupação por mim. Por isso, eu sabia que precisa me despedir, por ela e por Scott.

Ela tinha muito o que falar, contou as novidades, como estava se adequando à nova cidade e os amigos que conheceu. Em nenhum momento falou sobre Scott, era um assunto sensível para ela, quase tanto quanto é para mim, mas naquele dia eu estava preparado para falar sobre ele, era minha obrigação.

"Mas e você, Stiles?" Foi a deixa que ela me deu, Kira sabia que eu não podia falar muito, mas sua expressão preocupada implorava para que eu lhe contasse algo bom sobre mim, mas eu não tinha nada de agradável para falar. " Você está morando com Derek agora, né?"

"Ele até está sendo simpático!" Consegui, através do tom incrédulo, fazer a Kitsune ri, o que resultou em mais um abraço.

"Você veio falar alguma coisa." O clima ficou pesado, logo que a garota teve coragem de falar o que era explícito.

"Eu vou morrer, você sabe”

“ Stiles” Quando comecei a falar, Kira falou meu nome diversas vezes, ora como uma lamentação, ora como uma negação, um consolo. Se fosse escrever a quantidade de vezes que ela pronunciou Stiles, provavelmente encheria a folha e tenho que confessar, que por mais que tente, não consigo lembrar das exatas palavras que disse a ela.

Aquela conversa podia ser definida em duas palavras: Dor, Difícil. Quando disse “Scott”, achei que fosse morrer na hora, pois meu coração se contorceu ao ponto de desejar ter força o suficiente para rasgar meu peito e arrancar o órgão pulsante de dentro de mim, somente para impedir aquela dor macabra.

Lembro que disse poucas palavras, por não conseguir desenrolar minha língua, mas foram palavras o suficiente para abrir as nossas feridas e fez com que Kira chorasse, por mais que tentasse se conter na minha frente.

Já eu, não tinha forças sequer para despejar lágrimas, então, consegui, com muita dificuldade, falar o que queria e entreguei a ela uma blusa de Scott, que guardava comigo desde a sua morte.

Podia parecer uma camisa qualquer, mas eu sabia que Kira reconheceria como a predileta dele, que sempre usava em ocasiões que considerava especiais, a mesma que usou no primeiro encontro com a Kitsune.

“A culpa não sua, ele amava” A última coisa que falei, lembro bem, pois mesmo com toda tristeza, consegui me sentir estupido por não ter conseguido dizer uma fala coerente, mas Kira entendeu e foi o suficiente.

 “ Às vezes você tem que esquecer, para conseguir viver”. Essa foi provavelmente a coisa que disse com mais clareza nos últimos meses, para logo em seguida dizer uma frase menor, porém muito confusa “Eu te amo”.

Eu não teria coragem de mandar essas cartas para Kira, não acho que ela precise saber de tantos detalhes do meu sofrimento, ela precisa se preocupar em esquecer o seu próprio, pois diferente de mim, ela tem que viver, seguir a sua vida. Odiaria que ela conhecesse tão claramente esse meu lado covarde e egoísta, só queria que ela lembrasse que foi amada por mim e que entendesse o quanto foi importante o apoio que me deu.

Passear com Derek, depois da visita, foi algo único. Unicamente estranho, bom e triste ao mesmo tempo.

Por que foi estranho? Imagine Derek Hale indo comigo para o cinema, essa visão já é estranha, agora imagine que estou calado, por não ter escolha e que ele está falando sem parar. Imagine um “eu” magro, frágil, com tique nas mãos e nos olhos, assistindo um filme de ação e conseguindo rir por causa das caretas do lobisomem graças aos efeitos baratos. Simplesmente estranho.

Foi bom pelo mesmo motivo que foi estranho e triste, porque não consegui me comunicar com ele da forma como queria e porque tive uma “pequena” crise de convulsão na saída do shopping, logo após termos comido, quando parecia que tudo tinha dado certo.

“Amanhã, Melissa” Foi o que consegui pedir a Derek, logo após ele me ajeitar na cama e me cobri.

“Por que eu tenho a impressão de que está tentando se despedir das pessoas, Stiles? ”

Não respondi, não conseguia, nem queria.

“ Você não pode desistir, sabe disso, não é? ”

“ A vida já desistiu de mim, Derek”

" Mas eu não desisti, você sabe que tem uma solução para isso."

Eu não queria falar sobre aquilo, ouvir novamente Derek dizer que eu precisava de um alfa para me transformar e assim, ter uma mínima chance de viver.

Eu não aguentava mais viver.

Apenas me enrosquei na cama e com um suspiro e um tapinha nas costas, o lobisomem me deixou dormir.

Logo na manhã de terça, fui ver Melissa.

Era horrível ver como a mulher forte e linda que conheci a vida toda, mudou naqueles últimos anos. Após a morte do filho, a enfermeira já estava completamente acabada, mas tinha meu pai que a ajudava a se manter firme, cuidando dela, a vendo definhar da mesma forma que viu minha mãe.

Eu sabia que ver Melissa e o próprio filho morrendo em vida, só trazia lembranças horrendas para ele, de quando minha mãe adoeceu, mas era a única força que restava para a mulher que ele passou a amar. E então, meu pai morreu e ela ficou completamente sozinha.

Talvez você já tenha ouvido falar que algumas mães enlouquecem quando seus filhos morrem, mas acredite, nada do que possam descrever é tão horrível quanto ver isso acontecer.

Assim que entrei na casa, usando a chave que ainda guardava comigo, Melissa correu até mim, me abraçou e disse "Scott, eu estava com saudades".

Quando percebi que delirava, não fui capaz de a contrariar, apenas sussurei " Eu também estava, mãe" e deixei que a mulher me guiasse para o sofá.

Ela sorria e chorava ao mesmo tempo, me contou tudo sobre a sua vida e como estava com saudades, eu apenas assentia e sorria, sem falar, prendendo o choro e a deixando pensar que de fato, eu era Scott.

Nem com todo o remédio do mundo, ou toda bebida alcoólica que pudesse ingerir, eu iria conseguir dizer como me senti, como foi me passar por meu melhor amigo e ver Melissa daquela forma, com vários fios brancos que nasceram precocemente, magra, com olheiras enormes e completamente crédula em sua alucinação.

O máximo que consigo contar é sobre o breve diálogo que eu respondi, escolhendo as palavras certas, falando pouco, para conseguir me comunicar.

"Por que você ficou tanto tempo sem me ver?"

"Eu não podia"

"Mas agora você não vai mais me deixar sozinha, não é?"

" Eu só vim me despedir"

" Não, não, mas você é meu filho! Eu preciso de você! "

" Desculpa"

Ela me agarrou com força o suficiente para eu ficar sem ar. A dor foi tão insuportável que pensei que meu pulmão ia explodir, mas continuei firme, apertando as mãos em punho para controlar os tremores no braço.

Preciso parar de escrever, isso é muito mais do que eu consigo suportar. Acho que a única coisa válida a acrescentar, é que em meio a tudo o que Melissa falou, ela falou sobre mim.

Ainda estou tentando absorver a forma carinhosa como "Stiles" saiu de sua boca e a forma que falou que eu era seu segundo filho, que me amava e mandou que Scott, dissesse a mim, que era para eu vista-la também.

Quando ela foi embora, a única coisa que desejei era que de alguma forma eu a tivesse reconfortado, afinal, talvez, acreditando que se despediu do filho e que ele estava bem, ela conseguisse ter um pouco de paz.

Scott, não sei se onde você está, pode ler isso, ou se pode me ver, mas eu espero que tenha visto isso. Ela ama muito você e está enlouquecendo com a sua falta.

Eu também estou.

Nesses últimos dias, espero conseguir fazer algo de bom para aqueles que você ama e que deixou aqui.

Logo nós vamos nos rever e tenho esperança de que isso, diminuía a saudade devastadora que vou sentir de Kira, sua mãe, Derek e Lydia.

Pai, se estiver aí também, espero que me perdoe pela decisão que estou tomando, lamento decepcionar você e mamãe.

O garoto sem nome.


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