O garoto sem nome escrita por Gessikk


Capítulo 6
Carta 6


Notas iniciais do capítulo

Mil perdões pela demora, tive alguns problemas e bem..Quando estava escrevendo o capítulo, não consegui terminar, estava quase chorando e mergulhei tão profundamente nos sentimentos do Stiles, que por muito tempo fui incapaz de continuar a escrever. É isso que dá ser uma escritora emocional, enfim, espero que gostem!

"Ó doçura da vida: Agonizar a toda a hora sob a pena da morte, em vez de morrer de um só golpe."William Shakespeare



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Running up that Hill- Placebo(versão Track and Field)

"And if I only could,

I'd make a deal with God,

And I'd get him to swap our places

(...)

You don't want to hurt me, But see how deep the bullet lies.

Unaware I'm tearing you asunder.

Ooh, there is thunder in our hearts.

(...)

Let me steal this moment from you now."

Pós e contras de estar vivo.

Pós:

. Lydia

. Derek

Contras:

. Meu pai está morto

. Scott está morto

. Eu faço mal a Lydia

. Malia me abandonou

. Não consigo voltar a ser eu mesmo

. Fui diagnosticado com demência frontotemporal

Não pretendia transformar essa lista em uma carta, mas depois que escrevi, colocando só os pontos principais, conclui que poderia ser bom mostrar, claramente, os motivos que estão me levando a ter cada vez mais certeza da minha decisão.

Pai, é muito estúpido escrever para você? Eu já falo todos os dias com o tumulo, mas olhar para aquela lápide faz com que de alguma forma, você pareça menos real, como se nunca tivesse existido. Eu só quero ter a certeza que você viveu comigo, quero guardar a lembrança do seu rosto, não posso simplesmente permitir que a sua imagem suma da minha mente.

Lembra quando minha mãe começou a adoecer? Ela perdia a memória gradativamente, acho que nunca tive coragem de falar, mas teve um dia no hospital, que ela esqueceu quem eu era. Ela me olhou por minutos em silêncio e perguntou meu nome, depois uma enfermeira a dopou e quando acordou, lembrava novamente que tinha um filho.

Seja como for, essa demência torna as lembranças mais indistintas. Por mais que tente, não consigo lembrar do rosto dela, da minha mãe e tenho medo de que isso aconteça com o seu rosto. Agora antes de dormir, sempre vejo uma foto de vocês dois, para me lembrar quando for morrer.

Por mais egoísta que seja, eu queria que você estivesse aqui, para saber que vou morrer, para falar que meus sintomas são um pouco diferentes de minha mãe. Eu consigo escrever bem, estou lúcido na maior parte do tempo, talvez devido aos remédios, já mamãe, no decorrer da doença, não conseguia nem escrever o próprio nome.

Eu fui proibido de dirigir, tiraram o Jeep de mim, pai. O jeep que você me deu aos 16 anos, pois tinham medo de que eu dirigisse sem poder.

Talvez esteja escrevendo tanto, porque não consigo falar. Lembra como minha mãe ainda falava com clareza até o último dia? Bem, eu não estou assim, é como se minha língua travasse toda vez que tento dizer alguma coisa, sons estranhos saem de mim, não reconheço minha voz.

Tenho tido muito problema com coordenação motora, não consigo andar por muito tempo sem ajuda, pois meu equilíbrio falha constantemente e bem, eu passo mais tempo no chão, com os músculos travados do que de fato andando.

Estou escrevendo rápido demais, pulando fatos importantes. Acho que devo uma explicação melhor para quem está lendo essas cartas e como hoje já tomei uma dose grande de remédios, acho que sou capaz de escrever sobre alguns dos meus assuntos proibidos.

. Scott morreu em um terrível acidente de carro, ele estava com Kira e a protegeu com o próprio corpo. Os ferimentos foram tão graves que nem ele foi capaz de se curar.

. Depois da minha ida a boate, encontrei Tiffany outras vezes e nesse tempo, acabei me relacionando com várias mulheres desconhecidas em uma tentativa fracassada de me distrair.

. Kira saiu de Beacon Hills.

. Meu pai morreu pouco depois do meu aniversário de 22 anos, ele teve um ataque cardíaco na delegacia.

. Três meses depois da sua morte, eu fui diagnosticado com a doença que matou minha mãe.

Escrevi a primeira carta dois meses após a morte do meu pai e a anterior, antes de ir para o hospital, foi no dia que me diagnosticaram com a doença.

Meu eu já estava morrendo, minha personalidade, meu jeito, minha alegria, agora, além de tudo, minha mente está se deteriorando dentro de minha cabeça, sou como um zumbi que apodrece aos poucos e ainda sim, continua a andar, grunhir, devorando toda a vida que ainda resta ao seu redor.

Tive que trancar a matrícula da faculdade, já não conseguia fazer os trabalhos, nem estudar e com apenas 22 anos, era inválido, não podia sequer trabalhar para me sustentar.

Depois de um mês com a doença, a solidão se tornou muito opressora para que eu pudesse suportar.

Estava entrando em desespero, sem poder sair de casa. Esse era o preço por ter insistindo em não ficar no hospital, escolhi definhar aos poucos em casa do que sofrer com os tratamentos no hospital e morrer da mesma forma.

Foi aí, que Derek me surpreendeu novamente de um jeito assustador. Eu estava em casa, na sua cama, pai, era um daqueles piores dias, lembra? Como quando minha mãe parecia estar prestes a morrer de tristeza. Foi em um dia assim, que Derek surgiu na nossa casa e mandou eu sair da cama, eu recusei e ele me tirou a força, com sua delicadeza habitual.

Alguns anos atrás, eu diria que isso era impossível, mas o Hale, aquele lobisomem mal humorado, me levou ao seu loft para que eu morasse com ele.

"Eu não vou deixa-lo sozinho naquele lugar por nem um minuto a mais. A partir de agora você mora comigo!"

"Como assim moro com você?"

"Chega das lembranças daquele lugar e aqui eu posso cuidar melhor de você. "

Derek não é o tipo de pessoa que se pode discutir e assim, estou a dois meses morando no loft.

No final, o Hale tinha razão, ficar naquela casa estava me matando mais rápido. Eu não aguentava mais ficar naquele lugar, ver as paredes com fotos da minha mãe, a mesa da sala que Scott quebrou, a cama que dividi inúmeras vezes com Malia e o quarto do meu pai, vazio.

É meio estranho morar em outro lugar, quando fui criado desde pequeno na mesma casa, mas a presença de

Derek faz com que diminua a solidão. Acredita que ele sabe cozinhar? Muito bem por sinal e todos os dias ele me da um prato pronto no almoço.

Basicamente, eu não preciso fazer nada para ajudar no loft, talvez pelo fato de não conseguir ficar em pé por muito tempo. Derek cuida de tudo para mim, me ajuda até com coisas simples como me vestir e ao mesmo tempo que sempre aparece quando preciso, ele em nenhum momento invade minha privacidade, me deixando sozinho (no quarto dele que cedeu para mim) enquanto ele segue a sua vida normalmente em um silêncio assustador.

Silêncio. Está aí algo que sempre me incomodou bastante, mas não posso reclamar do Derek, afinal, ele é muito calado e não tem culpa de estar hospedando um hiperativo que está de cama e incapaz de falar frases longas.

Apesar do clima amigável entre nós dois, a minha doença deixa um amargo quase palpável no ar, mas ontem fiz ele rir e me orgulho disso, afinal eu não reconheço quase nada de minha personalidade e estou limitado em quase tudo, mas ainda sou capaz de arrancar uma risada de alguém carrancudo.

Foi durante o banho, eu acabei caindo, culpa de minha coordenação motora já duvidosa, abalada pela demência, Derek escutou e precisou me ajudar. Quando estava em segurança, de volta a cama e vestido, por ele, fui capaz de dizer uma fala completa que foi como fiz que ele risse: " Você não me engana, eu sei que me trouxe aqui só para abusar de mim."

Em outra época, se eu soubesse que a companhia de Derek podia ser tão...Boa, eu poderia aproveitar o fato de ter um "colega de quarto" e lobisomem ainda por cima! Quem diria, isso é realmente maneiro, tirando o fato é claro, de que estou prestes a tirar minha própria miserável vida.

Se eu pudesse fazer um pedido a Deus, um último clamor antes de morrer, eu pediria que ele trocasse a minha vida por a de alguém. Tem tantas pessoas que mereciam estar vivas, minha mãe, meu pai, Alisson, Scott, eu morreria no lugar de qualquer um deles, para que eles pudessem viver e eu finalmente, pudesse ter meu descanso.

As vezes parece que esse descanso nunca vai chegar, por isso vou atrás dele. Se o destino resolveu brincar comigo, tirando tudo de mim e me deixando vivo, eu mesmo conserto esse erro.

O garoto sem nome.


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