E se... escrita por Virgo


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Eu sempre me perguntei para onde o Ikki corria depois de sumir. Sei que provavelmente ele passava um tempinho hospedado na casa do meu amado senhor Hades, mas e no resto do tempo? Onde esse cara ficava todo aquele tempo?
É... Tio Kurumada nunca foi um mestre no que diz respeito a explicações ¬¬'
Tenham uma boa leitura :)



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Era um dia relativamente calmo - prova de que aquele lugar estava se transformando - quando recebeu a notícia que menos queria ouvir depois de quase um ano de esforços.

¬ Senhor.— Cisne Negro se apresentou em sua sala de trabalho nas barracas. - Os Cavaleiros estão quase chegando a nossa localização. O último movimento de busca deles foi numa ilha mais ao norte.

Estava olhando alguns papeis sobre as negociações com uma das ilhas próximas, de onde tiravam boa parte da sua matéria-prima em troca de proteção e produtos. Soltou um longo suspiro, já não gostava de administrar as finanças, ou melhor, já não gostava de ser responsável por tantas pessoas, com uma noticia dessas o desgosto ficava ainda maior.

¬ Fale com Dragão Negro.— respondeu. - Ele sabe o que fazer. Encontramo-nos no porto amanhã cedo.

¬ Sim, senhor.— e se retirou.

Quando voltou para casa estava exausto e já tinha decidido tudo com os homens, partiriam bem cedo, mas não tinha ideia de como noticiar seu anjo.

Ela tinha deixado seu prato pronto sobre a mesa e agora estava apoiada na janela da pequena cozinha, olhando para o céu limpo e admirando todas as constelações.

Abraçou-a, aspirando o cheiro doce dos cabelos claros e estalando um beijo em seu ombro. Ela então começou a fazer carinho em seu rosto e pousou sua outra mão sobre os braços forte, porém não deixou de mirar o céu com um pequeno bico. Soltou um pequeno riso, o que ela estaria pensando agora?

¬ Ouvi boatos.— pronunciou-se já virando para encará-lo nos olhos. - Você não vai, certo? Diga-me que essa história de que vai lutar contra os Cavaleiros de Bronze amanhã é mentira.

¬ Gomen.— desviou o olhar das esmeraldas penetrantes. - Eu tenho que ir. Não posso deixar meus homens sozinhos. Apesar de não darem tanto valor aos sentimentos normais, eles prezam muito a lealdade. Devo ir com eles.

Ela escondeu o rosto, sabia o porquê de ele ir e entendia perfeitamente as razões e justificativas, mas nem por isso seu coração deixava de sangrar. Um Cavaleiro era muito mais forte que um Cavaleiro Negro, mas o leonino estava indo enfrentar um grupo de Cavaleiros como ele, corria perigo afinal e ela sofria por conta disso.

¬ Onegai.— pediu tentando fazê-la tirar as mãos do rosto. - Não chore. Não gosto de vê-la chorar.

¬ Não vá.— implorou o abraçando. - Por favor. Eu temo por você. Por favor.

¬ Esmeralda. — retribuiu o abraço, fazendo carinho nas costas estreitas. - Você confia em mim, certo? — sentiu a loira acenar contra seu peito. - Então, agora sou eu quem pede, acredite que irei retornar. Eu prometo que vou retornar.

Ainda demorou para que a virginiana aceitasse suas palavras, mas enfim eles chegaram à um acordo. Enfim pode jantar, só que passou o tempo inteiro com o coração na mão, a menor continuava apoiada na janela com um olhar de extrema tristeza e um ar pensativo.

Mais tarde, bem mais tarde, já estavam deitados e prontos para dormir. O leonino sentia que a menor estava agitada e ainda acordada, parecia estar com um pouco de medo e ele tentava entender o porquê. Talvez ainda fosse o fato dele partir na manhã seguinte que a perturbasse, porém tinha certeza de que não era bem isso. Ele partir talvez fosse um dos fatores, no entanto sentia que era algo mais.

¬ Ikki... — ela o chamou e este se virou para ela na cama, daria toda a atenção possível. - Tenho algo muito importante para lhe falar...

¬ O que foi? — a abraçou, puxando-a para mais perto, afundando o rosto nos cabelos dourados.

¬ Ikki, eu... — ela retribuiu o abraço e tremia, estava com medo mesmo. - Eu...

¬ Eu? — a instigou.

Ela se afastou levemente do maior. Mordia o lábio e desviava o olhar. O que poderia estar fazendo isso com seu anjo?

Ela então fechou os olhos e respirou bem fundo a procura da coragem que lhe faltava.

¬ Ikki. — prendeu seu olhar ao dela. - Você vai ser pai.

Por um tempo o mundo pareceu parar. Pai? Ia ser pai? Tipo... Um bebê? Um pequeno ser humano que o chamaria de pai? Pai?!

¬ Está bravo? — ela se encolhia mais e mais sob seu olhar.

Ele se sentou na cama, aos poucos um sorriso bobo foi desenhando seu rosto e logo ele ria, ria e ria em alto e bom som. A virginiana se sentou, esperando outra reação além daquela, sendo abraçada e puxada para o colo deste logo em seguida.

¬ Agora eu reforço o que disse. — o moreno a enchia de beijos e continuava a rir. - Eu posso ir o mais longe possível, para onde mais ninguém quer ir. Mas eu sempre vou retornar ao lar. — mais beijos e um novo abraço. - Eu sempre vou retornar para vocês. Sempre. Sempre. Sempre.

O leonino não conseguiu dormir mais naquela noite, estava feliz demais para conseguir dormir. A menor chegou a dormir, mas ele nem fechou o olho, passou a noite inteira imaginando como o futuro bebê seria. Imaginava se seria mais parecido com ele ou com ela, se seria menino ou menina, se seria pequeno ou grande, se teria muito ou pouco cosmo. Só conseguia imaginar como o filho ou filha seria e por conta disso só conseguia sorrir. Porém, a manhã se aproximava e com ela o fato de que ele estava partindo.

A galera estava parada no porto, era a única nau preparada para zarpar e a única que zarparia apenas com Cavaleiros Negros em sua tripulação. Poucos estavam acordados para vê-la partir, um deles era a virginiana que chorava preocupada e amedrontada.

Naquele dia espalhou-se a fofoca de que o Bronze teria um herdeiro e que ele tinha um coração apesar de sua postura severa, a forma que se despediu da amada criou essas fofocas. Ele a abraçou e beijou, depois se ajoelhou, abraçou e beijou seu ventre e se levantou a abraçando uma última vez.

Pouco depois a nau se afastou da ilha, aos poucos as pessoas no cais foram retornando para suas casas ou tarefas e a ilha era cada vez mais distante. O leonino suspirou com a visão e logo se voltou para frente, deixando seus sentimentos para trás e apenas se agarrando ao seu ódio.

¬ Lobo Negro! Trace uma rota direto ao Japão! — mandou sem deixar espaços para retóricas. - Quero que se escondam enquanto estamos resolvendo as coisas, quando chamá-los quero que venham nos buscar. Entendido?!

¬ Sim, senhor! — respondeu e começou a dar as ordens necessárias.

Logo as velas estavam cheias e a nau cortava as águas feito faca em brasa, nada se punha em seu caminho e o leonino apenas observava seu trajeto com ódio de tudo e todos, principalmente do que estava por vir.

Reuniu-se mais tarde com seus mais fiéis soldados e mostrou-lhe a valiosa carga da nau. As partes que conseguiram da Armadura de Sagitário.

¬ Lancei um desafio aos Bronzes.— disse o leonino destacando as partes da armadura. – Uma luta e dois adversários, o vencedor sai com duas peças da armadura. Vocês possuem experiência e conhecemos o terreno em que lutaremos, nossas chances de vitória são muito maiores.

¬ E o que pretende fazer, senhor?— perguntou Andrômeda Negro.

¬ Cada um vai guardar uma parte da armadura.— atirou as partes para cada um.

Pegasus ficou com a cintura, Dragão com a proteção de peito, Cisne ficou com os ombros, Andrômeda com o corpo e o moreno ficou com o elmo. Cada um defenderia sua parte com unhas e dentes, além de tentar conquistar as partes que faltavam.

¬ Defenderemos nossas partes com todas as nossas forças, senhor. Tenha certeza disso.— falou Cisne Negro.

¬ E também tenha a certeza de que traremos a vida dos Bronzes com as partes que faltam.— sorriu Pegasus Negro.

O tempo que passou longe se mostrou mais penoso do que acreditava e as lutas se mostraram bem mais difíceis e sofridas. Lutaram com a morte os espreitando e um deles o anjo negro conseguiu levar. Após tantas feridas dolorosas, pode perceber o quão enganado estava e o arrependimento passou a corroer sua alma.

Fez o possível para expirar sua culpa, até morrer e voltar dos mortos ele fez, e continuaria fazendo, mas nada traria seu companheiro perdido de volta, o máximo que podia fazer era ajudar os demais como podia e devia.

Depois de dias voltou para a Ilha da Rainha da Morte e voltou sustentando velas negras, o maior sinal possível de luto que poderia sustentar em uma galera. Estava ferido como os que o acompanharam nesta cruzada falha, mas quase nada se comparado, pois ainda tinha o fator de regeneração ao seu lado.

Foram recebidos por lágrimas daqueles que aprenderam a amar. A virginiana, por exemplo, quase ruiu quando o viu sair da galera sendo carregado assim como Andrômeda e Cisne. Estavam muito feridos. O gêmeo de Dragão Negro e Pegasus, feridos mais superficialmente, levavam o corpo coberto do gêmeo morto. Aqueles foram dias de sofrer e luto, até o céu negro pareceu compadecer-se das dores e permitiu-se chorar sobre a ilha desolada.

Nunca antes viu seu anjo chorar tanto. Tanto por ver o estado em que eles voltaram, quanto por saber que agora ele tinha se arrependido, ou seja, toda aquela dor foi por nada. A única coisa que parecia consolá-la era o fato dele estar dispostos a aceitar e acolher seus irmãos mais novos. Ela esteve brava com ele por um longo tempo.

¬ Quero ver o túmulo de Dragão Negro.— disse praticamente do nada.

¬ Ainda está ferido.— a virginiana já estava com a barriga um tanto saliente e ainda estava um tanto brava. – Você não vai a lugar nenhum enquanto não estiver totalmente recuperado.

¬ Esmeralda...— teria que apelar nesse ritmo. – Onegai...

A loira lhe olhou torto, mas acabou cedendo. O ajudou a se levantar, estava com o osso de uma das pernas em migalhas e só conseguia andar com apoio, o ajudou a se vestir de forma decente e por fim deu-lhe as muletas que o médico o mandou usar.

Não tinha vergonha alguma de seu estado, se estava assim era porque merecia. Saio acompanhando da virginiana, queria muito visitar o túmulo, sentia a necessidade de visitar o túmulo.

A única pessoa presente no lugar além do casal era o irmão gêmeo de Dragão Negro, se bem que Dragão Negro agora era um título seu, mas isso era somente porque seu irmão estava morto. Ele só deixou de ser o segundo porque o irmão tinha morrido e não se sentia bem com isso, se pudesse escolher, trocaria tudo por seu irmão. Quem afinal disse que Cavaleiros Negros não possuem coração?

¬ Haskel...— era a primeira vez que o chamava pelo nome. – Eu... Eu sinto muito, Haskel...

¬ Sua dor não trará meu irmão de volta.— soluçou. – Minha dor não trará meu irmão de volta. Nada trará Heiko de volta. E é tudo culpa sua!— bradou virando-se para onde acreditava estar o moreno, afinal não podia vê-lo. – Se tivesse se agarrado a sua causa, eu pelo menos estaria conformado de que meu irmão morreu por uma causa! Mas você se arrependeu de tudo! Meu irmão morreu em vão! A CULPA É SUA!!

¬ Eu sei que a culpa é minha Haskel...— se sentia um monstro. – Sei que deve me odiar e não o diminuo por isso, julgo-o até o mais sensato aqui... Acredite, se eu pudesse, daria qualquer coisa para que seu irmão voltasse...

¬ Até mesmo a vida de seu filho?— perguntou ácido.

A virginiana escondeu o ventre por instinto. O leonino travou. Daria tudo que ele poderia querer se isso fizesse alguma diferença, mas seu filho?!

A falta de resposta fez o já amargurado Dragão Negro fechar ainda mais sua expressão.

¬ Sabia...— e voltou-se para o túmulo do irmão.

A lapide era bastante parecida com as do Santuário. Uma rocha clara, onde estava entalhado o nome e constelação do guerreiro ali sepultado. Heiko de Dragão - Cavaleiro Negro.

¬ Haskel.— chamou. – Como você mesmo disse, nada no mundo trará seu irmão de volta.— pegou a mão do outro e a deixou sobre seu peito, o coração batendo dolorosamente. – Mas se a minha vida diminuir sua dor, eu estou disposto a cedê-la.

¬ Não, Ikki!— o anjo agarrou-se ao seu braço. – Não!

O olhar da menor era suplicante e as lágrimas já estavam se acumulando, ela sabia muito bem que ele não era muito dado a voltar atrás com sua palavra. Ele o olhou gentil e a fez soltá-lo, estalando um beijo em sua testa.

¬ Ikki...

Logo se voltou para o rapaz a sua frente. Ele emanava um cosmo perigosíssimo e muito pesado, quase sufocante, qualquer coisa ele explodiria e só pararia quando aquele sentimento horrível o abandonasse.

Ficaram parados por um longo tempo, com o novo Dragão Negro ameaçando um bote e o leonino de cabeça baixa, pronto para sua sentença. Porém, no final o Cavaleiro Negro ruiu, rachando o solo duro com seus punhos e chorando a plenos pulmões. Nada no mundo traria seu irmão de volta, nem mesmo a morte de seu algoz.

O leonino acabou ruindo ao seu lado, mal ligando para sua perna ferida. Segurou seus pulsos para que não se ferisse e continuou com seu discurso, não queria perder mais ninguém.

¬ Eu sinto mesmo, Haskel...— chorou. – Sinto muito mesmo. Heiko foi um bom homem e cheguei a vê-lo como um amigo. Não sei nada da dor que sente, mas garanto a você que me compadeço com ela.— o homem a sua frente estava destruído pela dor, não conseguia se imaginar sofrendo como ele de forma alguma e isso o irritava, irritava por não poder ser o exemplo e líder que aqueles homens queriam, irritava por não poder fazer nada por aqueles que lhe confiaram suas vidas e destinos. - Haskel. Tem a minha palavra de que farei a morte de seu irmão ter valido algo. Sua dor não mais vai lhe abater e o sacrifício dele jamais será esquecido. –segurou a mão do mais novo com força. - Eu juro à você que seu irmão não morreu em vão.

Nesse meio tempo, a virginiana colocou sobre a lapide a linda guirlanda de flores que o leonino passou a manhã tecendo. Afinal quando as palavras faltam, as flores falam.


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Notas finais do capítulo

Vou ser bem honesta. É maçante transcrever lutas das quais todo mundo conhece, por isso pulei e resolvi escrever sobre suas consequências do que sobre seu desenrolar. Melhor não?
Enfim. Espero que tenham gostado :)

Bjs. L :3



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