E se... escrita por Virgo


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

A primeira introdução longa que fiz na minha vida 0.0
Enfim. Tenham uma boa leitura :)



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Aquele era o Inferno na Terra. Uma terra seca, dura e quente, onde o cultivo era praticamente impossível e a vegetação que tinha era muito escassa. O vulcão era uma ameaça constante à aquela terra hostil e quente, onde o sofrimento era soberano.

¬ Odeie...

O sangue manchava a terra enegrecida e se misturava com o suor que escorria dos corpos. Somente o vermelho escarlate dava cor à aquela terra estéril.

¬ Sinta ódio, Ikki. Sinta ódio de tudo...

O rapaz mal se aguentava em pé. Seus músculos ardiam e seu corpo todo tremia, respirava desesperado por ar, seu corpo e cérebro clamavam por ar, mas mal conseguia puxar o ar direito, o que dirá continuar a ficar de pé.

¬ Faz quantos anos que você está na Ilha da Rainha da Morte, Ikki?!

Ao contrario do moreno, o inquisidor não parecia em nada desgastado. Como isso era possível? Todos os dias era isso, todos os dias eles lutavam pra matar, mas aquele homem odioso nunca parecia estar cansado.

¬ Já faz quatro anos e você ainda não entendeu o que falta para se tornar mais forte?!

Sentia que seus ossos rachariam a qualquer momento, mas tentava se levantar do mesmo jeito enquanto o maior gritava e brigava consigo.

¬ É o ódio! - bradava. - Você precisa odiar o inimigo para vencê-lo! Todas as artes marciais que aprendeu o impedem de progredir!

Aquele homem odiava tudo e todos. Tinha ódio do mundo. Tinha ódio das pessoas. Tinha ódio dos deuses. Tinha ódio de si mesmo. Odisseu, aquele que tudo odeia, seria um titulo bastante adequado para aquele homem cheio de cicatrizes.

¬ Não me considere seu Mestre! Abandone o respeito e a honra em combate! Só pense em matar o inimigo à sua frente!

Conseguiu ficar de pé. Doía. Tudo doía e o ar faltava. Sentia como se estivesse se esmigalhando aos poucos e que não podia fazer nada para impedir além de continuar a levantar até que sobrasse apenas o pó.

¬ Urg... - doía. - O-Obrigado pelos conselhos, Mestre.

¬ ISSO É INÚTIL!!!

Voou longe com um único chute. Parecia que seu cérebro quicava nas paredes do crânio e que todos os seus dentes cairiam a qualquer instante. A dor era insuportável, seu corpo estava cedendo aos poucos, clamando pela clemencia da inconsciência, que parecia nunca chegar. Queria se esconder nos braços da escuridão e dali não sair mais, mas isso ainda estava longe de acontecer.

¬ Jamais entregarei a Armadura de Fênix, a Armadura de Bronze mais poderosa! - o mais velho bradava. - Não conseguirá se tornar mais forte enquanto não sentir ódio!

Finalmente a inconsciência teve pena de si e veio buscá-lo. Não saberia dizer o que aconteceu depois, só sabia que não queria mais emergir das profundezas de sua mente, onde nada parecia capaz de atingi-lo.

Agora ouvia o som de gotas caindo. Uma a uma num ritmo constante. Sempre o mesmo barulho no vasilhame de bronze. Ping. Ping. Ping.

Não sabia ao certo como foi parar naquelas masmorras que lhe eram tão familiares, só sabia que agora estava dolorido e que desejava em muito qualquer alivio para aquela dor. Na verdade não sabia nem porque ainda se incomodava com a dor, ela era sua companheira em tempo integral afinal de contas, mas bem que queria uma folga dela.

Somente quando sentiu alguém tocar em suas costas é que parou de vagar entre a consciência e a inconsciência. Agora desperto, virou-se para encarar quem lhe tocava.

¬ Shun...?! - porque estaria ali?!

Aos poucos foi vendo que sua mente cansada havia lhe pregado uma peça. Não era seu irmão, era alguém totalmente diferente, mas igualmente importante.

¬ Tudo bem com você, Ikki...? - a voz gentil denunciava a preocupação de sua dona.

¬ É você, Esmeralda... - ela deve ter se esgueirado até ali de novo.

Forçou-se a sentar entre gemidos. Quando achou que cairia novamente, ela o sustentou, ajudando-o a ficar sentado como queria. Depois continuou a cuidar de um ferimento na altura do coração.

¬ Você me confundiu de novo com seu irmão? - perguntou com um sorriso, sempre gentil.

¬ Gomen... - sabia que não era nada bonito fazer tal comparação, mas era verdade. - Seriam idênticos se não fosse pela cor do cabelo e o fato de você ser mulher...

Gemeu e se afastou rapidamente ao sentir um dos ferimentos mais graves ser tocado. Ela se afastou com uma expressão de puro remorso, mas logo voltou a se aproximar e dessa vez foi mais cuidadosa ao limpar o ferimento.

¬ Você sempre está ferido... - concluiu com a voz um tanto embargada. - Todos os dias é a mesma coisa. Assim vai acabar morrendo...

Não gostava de vê-la triste. Não gostava de vê-la chorar. Gostava de seu sorriso. Um sorriso tão bonito que sozinho era capaz de curar toda e qualquer chaga que ele carregava. Ela merecia ter sempre motivos para sorrir e jamais deveria chorar. Ela era um anjo, e anjos não merecem chorar.

¬ Eu estou bem. - sorriu tentando animá-la. - E já disse para não vir. Você também vai correr perigo se andar muito comigo. - fez um pequeno carinho no rosto alvo.

Ela era obrigada a vê-lo sofrer todos os dias e isso machucava. Não gostava de vê-lo naquele estado. Queria gritar e chorar. Por que ele não via que tentando afastá-la e fingir que estava tudo bem a machucava?

¬ NÃ... - iria gritar, mas se lembrou de como todos gritavam com ele e suspirou; jamais conseguiria gritar com ele. - Não se preocupe comigo... - e sorriu tristonha antes de voltar a cuidar de suas feridas.

O tempo é precioso e companheiro a maioria das vezes, mas ele não é de esperar por nada e nem ninguém, ele só deseja correr o mais rápido que pode e, por conta disso, encontra muito mais inimigos do que amigos em sua infinita corrida.

Horas tornaram-se dias. Dias tornaram-se semanas. Semanas tornaram-se meses. E meses tornaram-se anos. Enfim. O dia decisivo havia chegado. O dia que descobria se era um Cavaleiro ou mais um qualquer naquela ilha maldita.

¬ Hoje é o seu último dia!

Não havia clemencia alguma nos golpes do mais velho. Nunca houve clemencia, mas agora havia a crueldade sem medida. A dor era muita, era indescritível, mas ela parecia mínima frente à dor que sentia por algo dentro de si querer explodir.

¬ Logo completará seis anos nesta ilha! Se não me vencer hoje, não terá o direito de se tornar cavaleiro! - tinha que se levantar rápido. - Ou você me derrota e se torna um Cavaleiro, ou esta ilha será seu túmulo!

A violência daquela luta era vista e sentida de longe, até mesmo por aqueles que jamais deveriam sentir tamanho poder destrutivo, e por essa razão que corria desesperada até o local do combate. Não ligava para a própria segurança e nem para qualquer eventual ferimento, apenas queria que o leonino saísse daquilo vivo.

¬ Ikki... - uma lágrima escorreu solitária por seu rosto antes de cair no solo quente e desaparecer.

Corria o quanto lhe era permitido. Não podia deixar que ele morresse, ele tinha que viver. Talvez fosse egoísmo, mas ela não queria que ele morresse e a deixasse com a dor de perdê-lo, pois tinha certeza de que seu coração jamais suportaria.

¬ Sinta ódio, Ikki! Sinta ódio pelo adversário a ponto de matá-lo sem hesitar!

Aquela sensação de que algo iria explodir era pior do que a dor de qualquer ferimento, seja um ferimento superficial, seja um ferimento profundo.

¬ Abandone qualquer sentimentalismo! Odeie seus pais que o deixaram órfão!

Era como ter seu corpo rasgado em milhões de pedaços, um menor que o outro, como se o alvo fossem seus átomos, que não paravam de se agitar loucamente, desesperados para explodir.

¬ Odeie seu irmão covarde que o mandou aqui no lugar dele! - bradava furioso. - Odeie a fundação sem escrúpulos que lhe deu este destino infeliz!

Sentia que finalmente havia chegado ao ponto de ruptura. Sentia todo o seu corpo vibrar, antecedendo a explosão que viria. Sentia como se fossem mini explosões que logo formariam uma maior ainda, que formaria outra ainda maior e por fim formaria uma espécie de Big Bang. Será que era isso que passou seis anos sofrendo para sentir?

¬ Odeie! Sinta ódio, Ikki! Ódio! Você tem que odiar! Odeie todas as coisas deste mundo!

Urrou. Um rosnado feroz e gutural vindo do fundo do peito carregado de ódio foi o que o impulsionou para um novo golpe. Com aquele único golpe estaria livre, estaria livre daquele homem e daquela vida, deveria matá-lo e acabar com aquilo de uma vez. Mas então porque não concluiu o ato de traspassar-lhe o peito?

¬ Por que deteve o golpe? - talvez porque ainda tivesse um pouco de humanidade. - AINDA NÃO ENTENDEU QUE ISSO PODE LHE CUSTAR A VIDA?!

Se recebesse aquele golpe de frente certamente morreria, desviar era sua única salvação. O tempo novamente foi seu inimigo, permitindo que o golpe lhe talhasse a testa e que algo, ou melhor, alguém surgisse em seu campo de visão.

O golpe estava indo diretamente para aquela pessoa, que não demorou a ser atingida na altura do peito. Logo ela cambaleava para frente.

¬ O qu...

¬ I-Ikki... - e tombou.

Abandonou tudo. Deixou tudo. Tinha que estar ali ao lado dela.

Puxou o corpo cada vez mais mole de encontro ao seu peito. O ferimento vertia muito sangue, mas ainda sim não era mortal, levaria algumas horas, talvez minutos até que ela finalmente desfalecesse.

¬ Esmeralda!

Ela não conseguia e nem podia falar. Cuspia e tossia muito sangue, formando manchas e filetes escarlates entorno da boca. Apesar de seu estado ser desesperador, ela o segurava e olhava com gentileza. Estava morrendo por culpa dele, mas jamais o daria como culpado, a forma que o tocava evidenciava isso.

¬ ESMERALDA!!!

¬ Idiota... Ela está morrendo por sua causa! - disse o mais velho de maneira um tanto orgulhosa. - Foi por você não ter matado seu inimigo...

Tremia. Sentia. Sentia o imenso poder que tanto falavam percorrer seu corpo todo. Devia estar feliz por enfim ter conseguido, mas nada era capaz de superar a dor de assisti-la morrendo.

Sentia seu corpo queimar, sentia sua vida queimar. Sentia que tudo não passava de fogo, cujas chamas só destruiriam e consumiriam até que não restasse mais nada além de cinzas e dor.

¬ O quê?! Vejo chamas... Aquelas são as asas de fogo... - a voz do mais velho era cada vez mais distante. - É A FÊNIX!!!

Era estranho ter algo pulsando em sua mão. Muito estranho ter um coração em sua mão. Mais estranho ainda era ter o coração de um demônio pulsando em sua mão.

¬ I-Isso... Isso mesmo, Ikki! Isso é ódio... - ele tossiu sangue, manchando a mascara que usava e o rosto moreno do mais novo.

No olhar do rapaz não existia nada, nem mesmo o brilho que caracteriza os vivos. Tudo o que tinha ali era o ódio que seu Mestre tanto queria despertar.

O velho Ikki acaba de morrer junto com suas lágrimas.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e até daqui 10 dias ;)
Bjs. L :3



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