O dia continuava triste e chuvoso. As nuvens cinzentas cobriam o sol, que, por mais que teimasse em aparecer, havia sempre alguma nuvenzinha que, por mais pequena que fosse, fazia questão de tapar o seu brilho.

De certa forma, era assim que estava minha vida... triste e cinzenta.

Eram 5 da tarde. Eu, apesar de não ter fome alguma, comi um pão e bebi um suco de laranja. Com disse a Fran, agora não posso pensar só em mim. Tenho de pensar no bebé que esta por vir.

Como estava cansada, e o meu voo seria só amanhã, tirei as malas de cima da cama , as colocando de seguida ao lado da escrivaninha. Olhei de relance para a folha branca que pousava sobre ela. Ainda estou tentando arranjar coragem para escrever a tão temida carta, escrever a verdade sobre este papel.

Quando parti-se, iria deixa-la em cima da cama, dentro de um envelope, para que quando o León a encontrasse lê-la esperando que ele não se zangasse comigo, e que de certo modo entendesse o meu lado.

Mas por enquanto, ainda não estou preparada para tal ato.

Caminhei novamente em direcção da cama e repousei sobre aquele cobertor lilás que tinha pequenas violetas desenhadas.

Olhei novamente para a janela. O dia continuava chorando, e pelas nuvens, não iria sorrir tão depressa. Apenas suspirei.

Voltei minha atenção para o meu quarto. Um pequeno cómodo de paredes brancas, com mobília também branca e alguns detalhes de diferentes tons de roxo por todo ele. Foi aqui que foi meu mundo durante vários anos. Agora não vai ser mais.

Passei minha visão em redor desse quarto e encontrei uma coisa que eu pensei que nunca mais veria. Em cima da minha estante, estava meu diário.

Me levantei, fui buscar a cadeira da escrivaninha, coloquei perto da estante, subi nela e tirei ele de lá. Depois desci.

Passei a mão pela capa. Ele era rosa, cheio de detalhes, uma faixa preta na parte da lobada e tinha ainda uma "faixa" que vinha de trás da capa e que tinha uma flor lilás composta por cinco pequenos corações. Esta florzinha, era o cadeado.

Fui até ao criado mudo, peguei meu guarda jóia e de dentro tirei um fiozinha de prata que segurava uma chave.

Finalmente, abri o diário.

Me sentei sobre o leito da minha cama, e comecei a folheá-lo.

Em cada página saboreava uma parte da minha vida, que vinha acompanhada não só pelas inúmeras cores e ilustrações, mas também por algumas fotos que eu surripiava dos álbuns.

Enquanto folheava, o meu olhar recaiu sobre uma das páginas. Uma página que falava dele... que falava de nós.

E do outro lado, havia uma fotografia. Me lembro que esta foi tirada no dia do meu 17º aniversário.

Meu pai queria fazer uma festa digamos, formal, e por mais que eu tivesse recusado, ele fez a festa.

E foi nesse dia que esta foto foi tirada. Ele estava de fato . e tinha o cabelo formando um lindo topete. Eu, por outro lado, estava com um vestido . comprido azul água estilo princesa e com o cabelo formando um penteado.

Estávamos os dois bastante sorridentes e ele me abraçava de lado.

Uma lágrima caiu sobre aquele retrato, e rapidamente mais algumas se seguiram a esta.

Fechei-o com força, e cai no choro. Ando extremamente sensível.

Ouvi então leves batidas na porta e de seguida uma voz falou:

"Vilu, posso entrar princesa?"

Parei rapidamente de chorar. Era ele que estava do outro lado da porta.

Ele estava alí... e agora?