Novamente Você escrita por Letícia Castanheiras


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Gente, sei que demorei, de novo, mas agora que estou de férias da facul vai ser mais rápido. Prometo.
Boa leitura.



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Capítulo 11


Eu estava com medo. Haviam me arrancado dos braços da pessoa mais importante da minha vida e estavam me levando para longe. E o pior de tudo é que foi ela quem fez isso acontecer. Foi ela quem os chamou. Foi ela quem quis se separar de mim me garantindo que era pra minha segurança.


Mesmo ainda criança, eu sabia que tinha que ser forte, ou pelo menos aparentar ser, então num misto de saudade, raiva e desespero, fui embora sem olhar para trás e logo em seguida, quando dois homens enormes me colocaram dentro de um avião, eu adormeci tentando acreditar que quando acordasse tudo não passaria de um terrível pesadelo, mas quando acordei não foi exatamente o que eu vi.


– Olá, eu sou Teresa. Qual o seu nome?


A claridade atrapalhava um pouco minha visão, mas mesmo assim pude perceber que na minha frente estava uma garotinha com grandes olhos azuis que me observavam com curiosidade.


– Thomas. A onde eu estou? – Disse olhando ao meu redor.


Percebi que estava sentado numa poltrona com um cinto de segurança em minha volta. Ao meu redor estavam outras crianças na mesma situação, umas doze pelo menos. Provavelmente ainda estava voando, mas não no mesmo avião de antes, esse parecia muito maior.


– Estamos em um Berg. A tia Ava disse que estamos indo pra um lugar seguro, pois aquele em que estávamos foi atacado por pessoas ruins – Ela bateu com a mão na testa como se estivesse esquecido de alguma coisa – Mas claro que você não sabe disso. Acabou de chegar. Mas não tenha medo, está em segurança aqui. O CRUEL é bom.


O CRUEL é bom. O CRUEL é bom. Essa frase martelava em minha cabeça como uma incógnita. Como algo cruel poderia ser bom? Iria perguntar isso a Teresa o que ou quem era o CRUEL só que antes de eu conseguir percebi que estávamos aterrissando. Dois guardas soltaram nossos cintos e nos indicaram que fizéssemos uma fila indiana em frente à porta de saída. Foi quando tudo aconteceu.


Gritos do lado de fora, armas sendo disparadas, a porta do Berg se abrindo e várias pessoas descontroladas invadindo o compartimento. Elas estavam loucas, tentando a todo custo alcançar qualquer criança que encontrassem pela frente. Vi que o garoto que estava sentado ao meu lado na viagem havia sido pego, várias dessas pessoas malucas o cercaram e começaram arranha-lo, morde-lo, como se fossem animais ferozes em busca da caça. Achei um lugar para me esconder num vão entre dois armários e lá fiquei a espera que esse tal de CRUEL conseguisse resolver o problema e era o que eles estavam fazendo, atirando nos invasores.


Parecia que tudo estava dando certo. Haviam três crianças caídas ao chão, mortas, mas pelo menos os restantes conseguiram se esconder. Até que ouvi um grito bem baixinho e quando olhei do onde vinha, vi um homem enorme agarrando Teresa, ele estava segurando seu pescoço e ela já não tinha forças nem pra pedir socorro. Uma sensação de ódio tomou conta de mim, aquele cara era umas seis vezes maior que ela e maior do que eu também, mas eu precisava ajudá-la. Criei uma coragem que nem eu mesmo sabia que tinha e ataquei o homem pelas costas. Ele, surpreso por causa do ataque soltou Teresa e se desequilibrou e esse foi o tempo certo pra que eu conseguisse puxá-la para o meu esconderijo. O homem veio em nossa direção, mas ele não conseguia nos alcançar no vão entre os armários por ser alguém tão grande. Ele gritava que iria nos matar e Teresa se agarrou a mim chorando e com medo.


– Shiiii, vai ficar tudo bem. Com certeza alguém já está vindo nos ajudar – Disse tentando acalma-la.


– Eu estou com muito medo Thomas – Ela abaixou a cabeça a recostando no meu peito.


– Olha pra mim – Puxei delicadamente seu rosto para cima – Eu prometo, ou melhor, eu juro que nada de mal vai te acontecer, que ninguém vai te magoar ou machucar – Ela me olhava mais calma e eu sorri com isso – Nem que eu tenha que dar a minha vida pra que isso aconteça.


...
Dizem que as palavras tem poder e eu estava começando a acreditar nisso. Através de um sonho sobre meu passado esquecido percebi que eu cumpri e ao mesmo tempo descumpri uma promessa feita da pureza infantil. Eu estava salvando Teresa com minha própria vida só que antes disso eu já a havia magoado e machucado muito. A criança inocente que havia lhe prometido proteger, se tornou o homem que mais a fez sentir dor nessa vida.


Abri meus olhos e me deparei com um teto branco e uma lâmpada com o emblema do CRUEL nela. OK, eu não estava morto, só deitado em uma maca tomando um soro que fazia meu braço arder. Olhei em volta, ainda estava no laboratório, provavelmente do lado oposto do qual Teresa estava, pois tinha uma cortina o dividindo ao meio. Levantei-me ainda meio tonto, eu precisava vê-la, saber como estava. Fui até a cortina e a puxei e para meu desespero a maca do outro lado estava vazia, arrumada, sem o sangue todo de outrora. O pânico me invadiu.


–Não, não pode ser. Depois de tudo. Não pode ser – Disse chorando.


– Thomas, o que houve? Você está bem? – Minho entrou na sala, preocupado.


– Cara, por favor, não me diga que a Teresa não resistiu. – Disse temendo sua resposta.


– Fica calmo Thomas, ela está bem – Uma onda de alívio me invadiu – A colocaram no seu próprio quarto. Segundo Andrew ela estaria mais confortável lá, mas eu sei que foi pra afastar ela de você. Agora se acalme porque você doou muito sangue. Juro que eu achei que não resistiria, estava mais branco que uma folha de papel quando desmaiou.


– Eu não quero saber o que aconteceu comigo, eu estou vivo, só isso já basta. Eu quero saber mesmo é sobre Teresa, ela se recuperou bem? Ainda corre algum perigo? Já está acordada? – Eu falava sem parar.


– Hei, hei. Uma pergunta de cada vez – Ele disse rindo da minha ansiedade – Ela está bem, não corre nenhum mais nenhum perigo e sim ela acordou, tomou um chá que Dimas preparou pra ela, fez algumas perguntas e depois dormiu de novo.


– Eu quero vê-la. Por favor, me leve até onde ela está. – Disse já indo em direção à porta.


– Eu acho que isso vai ser impossível. Andrew deu ordens pra que você não entrasse no quarto dela. Tem dois ‘guarda-roupas’ vigiando a porta.


– Por que tudo isso?


– Sem querer eu acabei ouvindo uma conversa do Andrew com a Thaís, ele estava furioso e disse alguma coisa sobre o sangue de vocês dois, que Thaís não podia ter escondido isso dele e que em hipótese alguma Teresa poderia saber que foi você que doou o sangue pra salvá-la. E depois disse ele mandou os ‘guarda-costas’ pra lá.


Agora eu estava entendendo tudo. Andrew estava com medo de Teresa saber a verdade sobre a compatibilidade sanguínea e resolver tomar medidas drásticas para salvar o mundo.


Por hora eu resolvi deixar minha vontade de ver Teresa de lado, pois eu sabia que naquele momento eu não conseguiria nada mesmo. Eu daria meu jeito mais tarde.


Sai do Berg sobre os protestos de Thaís. Ela afirmava que era melhor eu ficar em observação, tomando soro, pois eu ainda estava muito fraco. Mas eu não conseguia ficar mais naquele lugar, eu precisava de ar puro, precisava ficar perto dos meus amigos e não sendo vigiado por um bando de guardas. Fui para o dormitório, eu realmente precisava descansar.

...
Mas como você foi ficar doente desse jeito? – Perguntou a morena sentada nos pés da minha cama.


– Como eu vou saber? Só sei que quando eu fui me deitar à noite eu estava bem e quando acordei de manhã eu estava assim: com febre, muita sede e essa dor de cabeça que vai e volta que está me matando.


– Bem, pelo menos a um lado bom nisso tudo – Disse ela risonha.


– E qual seria?


– Sempre é você que toma conta de mim, desde o primeiro dia em que nos encontramos. Agora eu vou ter a chance de fazer a mesma coisa por você. Eu vou ficar aqui até que melhore.


– Duvido que a tia Ava permita isso, ela daqui a pouco vai mandar os guardas virem te buscar a questionando o porquê da demora da visita.


– Na verdade a tia Ava nem sabe que eu estou aqui – Ela me lançou um sorriso sapeca – Eu consegui despistar os guardas. Pra todo mundo eu estou no meu quarto dormindo como um anjo. Então, pelo menos até o amanhecer eu posso cuidar de você.


– Hei, eu não sou nenhum bebê pra que você precise cuidar de mim – Disse fingindo indignação.


– Então é assim? Eu me arrisco pra vim pra cá, morrendo de dó de você e é assim que sou retribuída? Com uma patada? – Ela disse brava, já chegando perto da porta. Eu precisava concertar o meu erro.


–Aí, aí, aí, minha cabeça, minha cabeça – Eu me contorci na cama, colocando a mão na nuca fingindo que estava com dor. Ela imediatamente voltou.


– O que foi? Você está com dor?Acho que vou chamar alguém – Disse em desespero.


– Não. Por favor, fique. Apenas fique aqui comigo, meu anjo. Meu doce anjo.


– Você só pode estar com febre. – Então ela se aproximou de mim e colocou seus macios lábios na minha testa para sentir minha temperatura.


Um formigamento surgiu aonde seus lábios se encontravam e uma sensação estranha tomou conta de mim. Ela tirou seus lábios da minha testa e me olhou com aqueles penetrantes olhos azuis.


– Thomas... Eu acho melhor eu ir.


Estava se afastando de mim, mas um impulso me fez segurar seus braços e sem dizer nada eu a puxei para mim e encostei delicadamente meus lábios nos seus. Eles ficaram assim durante um bom tempo, apenas encostados um no outro até que eu tomei a iniciativa e aprofundei mais o beijo.


Nunca havia beijado antes e muito menos ela. Mas esse ato me fez se sentir o garoto de 13 anos mais feliz do mundo. Não importa se era proibido, se podíamos ser pegos, eu estava no lugar certo, com a pessoa certa e com a certeza de que eu amava aquela garota.


Teresa Agnes.


Teresa Agnes.

...
– Teresa, Teresa...


– Thomas, acorda.


Abri meus olhos acreditando que iria vê-la ali, mas não era ela.


– O que você quer? Eu preciso descansar – Disse receoso.


– Eu só vim ver como você está. Se precisa de alguma coisa. Quer que eu busque algo para comer ou beber? – Brenda falava carinhosamente.


– Eu só preciso de sossego e não vou conseguir com você aqui – Tentei ser o menos ríspido possível.


– Thomas, me desculpe por tudo aquilo. Eu juro que falei sem pensar, eu estava muito alterada - Se aproximou pegando uma de minhas mãos – Quando uma pessoa está muito nervosa ela acaba falando coisas que na verdade não queria falar.


– E essas palavras quando são soltas não podem mais voltar atrás e nem reparar os estragos que fez – Disse tentando manter a calma.


– Vai terminar comigo?


– Eu quero um tempo Brenda. A minha cabeça está confusa, e eu vou acabar te magoando se continuarmos desse jeito – Beijei suas mãos delicadamente.


– Então não é definitivo?


– Vamos dar tempo ao tempo? Eu resolvo os meus problemas, você tenta se acalmar e depois nós vemos no que vai dar.


Ela não disse mais nada, apenas saiu do quarto chorando.


Eu não queria magoar Brenda. Estava sofrendo a vendo sofrer. Mas depois de tudo que aconteceu eu já não podia simplesmente fingir que estava tudo bem, que nada tinha acontecido. Eu precisava desse tempo e tenho a certeza de que ela também precisa, e mais cedo ou mais tarde vai compreender isso. Eu estaria sendo um crápula se continuássemos dessa forma.


– Posso entrar? – Thaís disse já entrando.


–E adianta falar que não?


– Obrigada.


– Pelo o que?


– Por salvar a vida da minha melhor amiga – Ela se sentou na cama que estava ao lado da minha.


– Não tem que me agradecer, eu só fiz o que tinha que ser feito e faria de novo se fosse preciso.


– Você realmente não tem amor à vida. Se doasse mais uma gotinha que fosse, você morreria.


– Se fosse pra ela ficar viva, eu morreria feliz – Disse brincalhão.


– Eu temi que isso acontecesse Thomas – Thaís ficou séria – Eu pensei que não fosse resistir. O resto da humanidade iria perder um grande homem e depois de alguns anos iria se extinguir.


– A então é por isso esse drama todo – Me fiz de ofendido – É só por causa da minha capacidade de fazer filhos perfeitos?


Thaís deu um meio sorriso e olhou no fundo dos meus olhos.


– Acho que você subiu no meu conceito. Quando cheguei aqui te vi como um moleque irresponsável que só se preocupava com o próprio nariz, mas não, você é um cara que faz de tudo pra salvar seus amigos, se preocupa com todos e eu acho que posso te considerar um amigo agora – Ela levantou sua mão e estendendo pra mim – E então, amigos?


– Amigos – Disse apertando a mesma.


De repente me olhou com aquele olhar indecifrável de sempre.


– Já que agora somos os melhores amigos do mundo está na hora de eu te comunicar que temos que começar a colocar nosso plano em ação.


– Depois que o Andrew descobriu sobre tudo? Eu acho impossível. Ele não vai permitir.


– Vamos dar um inicio pelo menos, depois deixamos as coisas acontecerem – Ela disse convicta.


– E o que seria esse início?


– Você contar a verdade pra Teresa. Contar que foi você que a salvou porque seus tipos sanguíneos combinam. Então ela vai juntar dois mais dois e perceber que a única maneira de salvar o mundo é tendo um bebezinho lindo com você. E isso tem que começar agora.


Eu não consegui dizer nada. Thaís me fez levantar e saímos do dormitório. Percebi que estava de noite e a maioria das pessoas estavam no refeitório jantando. A maluca me conduziu para perto do Berg.


– É o seguinte: tem dois guardas fazendo a ronda do Berg, eu vou distraí-los ai você vai para a parte de trás, lá tem uma escada.


– E o que eu vou fazer com uma escada?


– Subir até o quarto de Teresa. É o que está com a janela aberta. Vamos, você tem que ser rápido.


Ela não disse mais nada, saiu em direção aos guardas gritando sobre ter sido picada por uma cobra, eles apavorados foram até onde ela estava. Um procurava o local da picada e o outro tentava achar a cobra. Era minha deixa. Achei a escada escondida entre arbustos e logo localizei a janela que estava aberta. Só quando estava lá em cima me dei conta da loucura que estava fazendo. E se Andrew estivesse no quarto? Afinal, acredito que esse quarto seja de ambos então ele poderia estar lá.


Tentei olhar para dentro, mas estava muito escuro, então resolvi arriscar. Entrei bem devagar, sem fazer o menor barulho tentando procurar a onde ela estava. Foi ai que a vi. Teresa estava deitada numa cama enorme, coberto com uma manta azul, vestindo uma camisola leve de cetim rosa. Ela ainda estava um pouco pálida, mas continuava linda sobre a luz de um abajur.

Me aproximei da cama, eu precisava vê-la mais de perto e sem conseguir me controlar encostei meus lábios em sua testa, ela ainda estava um pouco febril.


– Hoje me lembrei do nosso primeiro beijo. Como eu queria que tudo voltasse a ser como era antes, quando era apenas eu, você e o nosso amor. Mas infelizmente eu estraguei tudo.


Era loucura, eu não poderia fazer o que Thaís falou. Teresa jamais iria concordar com isso. Ela ultimamente me odiava mais que tudo. Eu precisava sair dali e fui o que fiz me aproximando novamente da janela.


– Apenas fique aqui comigo, meu anjo. Meu doce anjo. – Ela sussurrou bem baixinho – A cena de alguns anos atrás está se repetindo, só que ao contrário. Agora é a sua vez de cuidar de mim de novo, Thomas.


Eu voltei pra perto dela novamente, coloquei minha mão em sua face e ela sorriu com o toque. Sorriso esse que eu já não via há muito tempo.


– Me diga do que precisa que eu farei imediatamente. Está com fome, com sede, frio? – Ela colocou seu dedo na minha boca pra que eu me calasse.


– A única coisa de que preciso agora é de você – Ela se recostou um pouco na cama – Me beije, Thomas. Me beije como na primeira vez.


Eu sabia que era errado. Sabia que Teresa provavelmente estava delirando por causa da febre, mas eu não consegui me controlar, eu precisava, ou melhor, necessitava naquele beijo, mesmo que depois eu fosse sofrer as consequências.


Aproximei-me ainda mais dela, pude sentir o seu cheiro suave, olhei novamente pra aqueles enormes olhos azuis que agora me olhavam com carinho. Eu sorri e ela sorriu de volta como uma permissão para prosseguir. Então sem pensar mais em nada, eu a beijei.


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Notas finais do capítulo

Finalmente aconteceu!!! Mas, será que a Teresa está sã ou foi a febre que fez isso???
Algo mais vai acontecer??? Confesso que nem eu sei ainda.kkkk
Bjs amores, até a próxima.



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