Dilemma escrita por Han Eun Seom


Capítulo 31
Esclarecimento


Notas iniciais do capítulo

Postando antes da manutenção :3

E.... RECEBI MAIS UMA RECOMENDAÇÃO ***



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Meus pais desceram com a gente e o carro de Beto estava lá. Disseram para Nicolas dirigir com cuidado e eu estranhei logo de cara esta atitude. Aniversário na minha casa era meio sagrado, eu podia passar com Sara, mas meus pais tinham que estar juntos também.

Minha desconfiança foi levada embora quando comecei a reconhecer o caminho que Nicolas estava fazendo. Sara estava sentada no banco da frente e tentava sem sucesso me distrair, mas logo que vi a ponta arredonda eu reconheci o museu de arte mais famoso do país.

– Nós vamos começar com um museu? – Nicolas suspirou e eu sorri. – Achei que nenhum de vocês curtissem isso.

– O aniversário é seu – disse e pelo retrovisor eu vi seu sorriso de canto.

Nunca fui exatamente uma fã de museus, mas estava tendo uma exposição de desenhos contemporâneos e de grafite e posso afirmar com certeza que passamos duas horas ali dentro aproveitando absolutamente tudo. Quando voltamos para o carro, Nicolas colocou um pendrive no radio e seguimos escutando um solo de guitarra simplesmente perfeito.

– Onde encontrou isso? – Perguntei vendo Sara aproveitar a batida batendo com as unhas pintadas no porta-luvas.

– Se você se refere a música, eu só posso dizer que eles merecem mais reconhecimento.

– Eles são gênios – murmurei e nós dois nos focamos no caminho. Meu estomago roncou e em pouco tempo paramos de frente a uma casinha de dois andares com paredes rosa e só faltava o babado para ficar mais “menininha”.

Estranhei o lugar, mas não era tão enjoativo por dentro. Sara me comprou um cupcake e colocamos uma velinha em cima dele ali. Não cantamos nada por que eu não deixei. Imagine a vergonha que eu sentiria. Enfim, era quase almoço e quando achei que os dois tinham acabado com todo o turismo, Nicolas dirigiu até a loja de CDs e colecionáveis da cidade.

– É sério isso? Não acham que estão gastando muito comigo? – O sorriso não conseguia sair da minha cara e Sara riu.

Não esperei por resposta e não faço ideia de quanto tempo passamos ali. O cheiro de LP e caixas velhas tomava conta do lugar, mas era bem moderno em questão de decoração. Cada tesouro que eu achava ali, Nicolas vinha ver animado e praticamente dando uma aula sobre bandas antigas. Era divertido ver que ele entendia perfeitamente do que estava falando e que ficava feliz em ver que eu estava interessada em saber.

Voltamos para o carro sem comprar nada. O preço pode ser justificável, mas isso infelizmente não deixa aquelas relíquias mais acessíveis para mim. Fomos então para a casa de Sara onde estavam os pais dela e os meus com uma mesa montada.

O prato principal era obviamente macarrão, mas depois do dia que eu tive não seria a “variedade” na culinária da minha mãe que me tiraria do sério. Comemos devagar e eu gostaria de poder dizer que não houve clima estranho, mas ninguém é de ferro... Principalmente Sara.

Todo momento em que o silêncio se instalava na mesa, uma sensação quase palpável se desconforto se formava. O colar pesava em meu pescoço e eu toquei a corrente levemente sem tirá-lo de baixo da camiseta.

Quando terminamos, Sara ficou de tirar a mesa e eu disse que andaria um pouco. O clima estava bom e o por do sol estava começando, mesmo com todos os prédios, ele ainda era lindo.

Então Nicolas me seguiu até a porta. A abriu para mim e ignorou a pergunta em meu olhar dando-me passagem para fora. Decidida a não contraria-lo tão de cara, apenas sai e o observei fechar a porta atrás de si.

O céu estava como eu imaginei. Tons leves de rosa e muitos de laranja, nuvens esparsas e quase transparentes. Uma brisa leve constituía o momento e eu registrei em minha memória que este era um dos melhores aniversários que já tive.

Andamos, então, lado a lado, em direção à padaria que ficava a três quadras. Não determinamos isso, apenas seguimos em direção a ela. Foi tudo no mais puro silêncio até chegarmos ao semáforo da esquina da rua de Sara.

– Eu escutei meus pais falando sobre... Sobre o que aconteceu enquanto eu estive... Enquanto eu estive... – Seu cérebro não conseguia achar uma palavra para descrever seu estado e achei melhor não falar “em coma”. – Enfim, enquanto eu estava fora e foi totalmente por acaso. Não entendi bem o que estavam dizendo, mas deu para pegar que Sara ficou muito puta com eles.

– Nisso você tem razão.

– Você vai me falar o que é?

Meu coração começou a bater mais forte e eu não sabia se era bem o certo falar sobre isso sem Sara, mas ao mesmo tempo eu imaginei que ela não conseguiria se manter calma para falar com ele sobre isso.

– Na verdade... O que aconteceu no dia do acidente? – Pode me chamar de idiota. Ao invés de ir com cuidado, fui direto ao corte aberto.

– Bem... – Para minha surpresa, ele não se demonstrou alterado, apenas cansado. – Eu tenho memórias vagas sobre as horas que antecederam aquilo, mas a discussão que tive com meu pai...

Atravessamos o semáforo sem nenhuma palavra. Parecia que de repente ele tinha entrado numa espécie de transe e comecei a ficar bem preocupada até que ele parou e me olhou sério.

– É por causa disso?

– Do que? – Nada melhor do que se fingir de sonsa nessas horas.

– Sara escutou a discussão?

– Não – falei e troquei o peso do meu corpo de uma perna para a outra desconfortavelmente. – Ela não escutou a discussão, mas talvez tenha relação.

– Como assim? – Franziu a testa e eu voltei a andar devagar.

– Primeiro me fala o que vocês discutiram. Sinceramente, não posso ser de muita ajuda sem saber de nada. – Com um suspiro ele assentiu.

– Voltei do cara que cortou meu cabelo e meu pai tentou ser... Sei lá, ele tentou ser amigável e eu simplesmente ignorei a tentativa. Nada de novo até ai, mas... Quando eu subi para o quarto, ele apareceu e começou a falar que tínhamos que ter uma conversa séria sobre como havia sido para mim na França. – Soltou um risinho de escárnio e paramos de novo no semáforo mesmo estando aberto. – Fiquei puto da vida por que... Depois de tudo ele tinha muita cara de pau para tentar sequer manter uma conversa comigo... Resumindo, sai puto da vida e deu merda. Mas o que isso tem a ver com Sara?

– Vou ser bem direta e eu não acho que seja eu a pessoa que deveria estar falando isso... Enfim, o que aconteceu foi que Sara descobriu o “depois de tudo” que aconteceu antes de você ir para França.

Sua expressão foi de confusão para puro terror em frações de segundo, mas também durou milésimos até que ele entendesse o que eu tinha dito.

– Descobriu...?

– Ela achou uma caixa com todos os documentos da polícia e outras coisas também enquanto você estava em coma. – Seu rosto estava ficando pálido a cada palavra minha e um sinal vermelho piscava no meu cérebro, mas por algum motivo estúpido eu resolvi continuar. – Foi de madrugada e Sara ficou possessa e teve uma baita discussão com seus pais. Não é para menos, eles esconderam isso da gente durante todos esses anos.

– Espera.

Sua mão foi para o meu braço e aquela sensação de meses atrás voltou para mim. Lembrei-me de quando saímos do café após esclarecer a situação com Sara como num tiro.

– Como assim esconderam? Por que você disse que ela descobriu?

Qualquer reação que eu estivesse planejando ter para suportá-lo, dizer que estava tudo bem e que as coisas estavam melhores agora foi por água a baixo.

– Você não pode estar me dizendo que eles não contaram nada para Sara. – Seus olhos estavam bem arregalados, mas sua respiração não estava alterada o que já me deixou um pouco mais tranquila. Ele só estava furioso e não tendo uma crise de qualquer coisa. - Eu que não acredito no que você está me falando.

Encaramo-nos por um momento e até que a ficha caiu por completo. Suas duas mãos foram para seus cabelos curtos e sua cabeça balançava levemente.

– Eu achei que Sara simplesmente tinha me ignorado!

– Como você pode pensar nisso! - Exclamei nem mesmo acreditando no rumo que aquela situação estava tomando.

– Experimenta ser sequestrado e depois ver que sua irmã nem liga para isso! Porra, eu sumi por dias é claro que ela tinha que saber!

As pessoas que andavam começaram a olhar e cochichar baixinho, mas não era como se isso fosse impedir qualquer coisa.

– É impossível eles terem enganado vocês... Eles não fariam isso... – Tinha uma voz gaguejante e seu olhar estava desolado. Eu não fazia ideia do que fazer, eu não estava preparada para isso! – Quer... Quer saber? Isso só piora as coisas. Isso simplesmente quer dizer que além de eu ter passado por toda aquela merda naquele país, eu fiquei com raiva da minha irmã durante todos esses anos achando que ela estava pouco se lixando para mim!

Minha mãos estavam ali, inúteis e eu não sabia se abraça-lo seria uma boa ideia. Então, liguei o foda-se para meus pensamentos e o abracei.

Foi estranho passar meus braços por sua cintura e o puxar para mim. Eu comecei a achar que aquilo havia sido a coisa mais estúpida que eu fiz na vida principalmente quando ele não reagiu, mas logo depois ele devolveu o abraço e senti seu rosto nos meus cabelos e sua boca perto da minha orelha.

– Não posso dizer que sei o que está passando, mas... Não foi culpa da Sara e nem sua.

– Eu sei.

Não sei dizer por quanto tempo ficamos ali, mas seus olhos estavam um pouco marejados quando se afastou de mim. Manteve a cabeça baixa e ficou encarando o chão por um tempo antes de respirar fundo.

– Eu tenho que tirar isso a limpo de uma vez por todas.

Franzi a testa e o desespero brotou na minha voz.

– O que você vai fazer?

– Calma. – Com um sorrisinho de lado ele começou a caminhar na direção da casa. – Não vou morrer por mostrar aos meus pais como eles foram idiotas esses anos.

Seu passo era acelerado e logo vimos Sara nos esperando sentada no meio fio. Só de ver a expressão dele ela sabia que algo tinha acontecido e olhou para mim buscando algum tipo de esclarecimento. Minha boca se abriu para um pedido de desculpas, mas Nicolas abriu a porta com força e chamou Flávia e Beto gritando.

– Ele sabe – avisei antes de entrarmos e ela fechar a porta.

O que se seguiu não dá para descrever. Não foi algo turbulento como a discussão com Sara no dia em que encontramos a caixa, mas foi muito mais doloroso. Flávia sentou no sofá enquanto Beto tentava se explicar e Sara completamente atônita não conseguia acreditar que Nicolas passou todo o tempo achando que ela sabia o que havia acontecido.

Nenhuma lágrima caiu dos olhos dele, mas eu sabia que as coisas não estavam nenhum um pouco fáceis. Por algum milagre, todas as acusações e o tom indignado de sua voz saíam bem claros, sem nenhum traço de nó na garganta, mas sim raiva e mágoa.

Eu tinha até esquecido da existência dos meus pais naquela confusão e eles fizeram um bom trabalho em se manter fora do momento. Olhei para os dois encostados no batente da porta da cozinha. Meu pai com um braço envolvendo os ombros de minha mãe de uma forma protetora e dava para ver a dor no rosto dela quase como uma estampa. Eu fiquei ao lado de Sara o tempo todo, ela sentada no sofá e eu em pé com a mão em seu ombro.

Quando o meu olhar e o da minha mãe se encontraram ela estava me dizendo silenciosamente uma coisa: desculpe. Não sorri, mas assenti levemente.

Guardar raiva não ia adiantar em muita coisa agora.

Por quanto tempo ficamos ali? Admito que não faço ideia, mas não foi muito tempo, as coisas aconteceram rápido demais ou foi esta a impressão que eu tive ao menos.

– Eu vou para o meu quarto. – Nicolas disse de repente e olhou para Sara com tristeza. – Desculpe por tudo, Sara.

– Não foi culpa sua. – Provavelmente meu pai estava pensando que eu não deveria me meter nisso, mas não dava para ficar calada. – Quero dizer, quem escondeu tudo não foi você.

– Sim. – Sara concordou com a voz embargada. Olhou para Flávia e Beto e suspirou.

– Acho que todo mundo aqui tem que pensar – falei e ela olhou para mim.

– Ainda tem macarrão. – Minha mãe, a melhor corta-clima deste mundo. Eu até agradeci por ela ter dito isso, pois arrancou um sorriso rápido de Sara e Nicolas.

Beto não estava bem, dava para ver só de olhar que estava desesperado, mas por algum motivo eu sabia que as coisas não iam tão mal quanto ele estava planejando. Nicolas estava magoado e Sara furiosa, mas as coisas estavam correndo de uma forma mais devagar e a cabeça deles estava no lugar o que significa que nenhum ia tentar uma bobagem.

Espero não estar errada desta vez.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado deste capítulo! Fico feliz com as respostas que tive no capítulo anterior xD! Valeu por participarem gente :3 Caraca eu ainda fico atônita ao ver que eu estou com tantos leitores e também que recebi três recomendações *O*

Enfim! Já estou pensando em um jeito legal de agradecer todos vocês no final de tudo (me doí só de pensar nisso).

Amo muito vocês!



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