Intransitividade escrita por AmanditaTC


Capítulo 3
Um olhar para frente


Notas iniciais do capítulo

Já disse que qualquer semelhança com a realidade é mera inspiração... hahahahahahaha



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- Mah, você só pode estar zoando com a minha cara! – Gabriela, a professora de Educação Física mais conhecida como Babi, quatro anos mais nova que Mariah, se mostrava indignada – Eu não acredito que o Fabrício te disse isso! Porra, ele fala como se tivesse te fazendo um favor...

- Eu já não falo nada, Babi.

- Esse é o seu problema, Mah. Você nunca fala nada! Mas quer saber, dessa vez você tem razão. Melhor não falar nada e agir. Você vai nessa festa sim, não porque ele falou pra ir, mas porque você é linda e merece se divertir.

- Concordo plenamente com a Babi! – disse uma voz jovial e divertida vinda da porta da sala de Produção Textual.

- Túlio! – Mariah exclamou surpresa com a presença do ex-aluno – Não sabia que estava na cidade.

Eles se abraçaram, o rapaz cumprimentou Babi também com um abraço e se jogou sobre uma mesa ao lado das duas ex-professoras, sorrindo com sinceridade.

- Cheguei ontem. Vou passar a semana aqui para resolver algumas pendências da documentação do fiador do meu apartamento em Belo Horizonte.

- E como está a faculdade?

- Ah, o começo é sempre estranho, né? Tipo, não conheço ninguém direito, os professores são sérios demais e as matérias me deixam ou com muito sono ou com muito enjôo.

- Você quem escolheu Medicina! – zombou Babi – Agora agüenta!

- Eu sei, mas vai valer a pena. É questão de costume! Mas quando eu cheguei você dizia que ia levar a Mah em algum lugar para se divertir. Onde é?

- Nós vamos à Exposição de Gado. Este ano tem show do Luan Santana e como a Mah é fã desse tipo de música...

- É verdade! A Mah adora Sertanejo... Fazer o quê? Ninguém é perfeito.

- Ei, vocês dois! Eu estou aqui, sabia? – a moça retrucou fingindo indignação.

Eles ainda ficaram um tempo falando sobre as mudanças na escola, contando casos dos professores nas festas de fim de ano e quando Túlio se despediu, afirmando que fazia questão de encontrar as duas durante a festa, Babi comentou, vendo o rapaz se afastar no corredor:

- Oh céus! Este aí é o meu número...

- O Túlio é uma gracinha mesmo. – ajuntou Mariah, rindo do comentário da amiga.

- Pena que ele só tenha olhos para você.

- Ai Babi! Deixa de ser louca só um pouco! O Túlio é um amigo... Quase um irmão mais novo.

- Quase, Mah! Disse bem, QUASE... Mas acredite, se meu irmão me olhasse do jeito que ele te olha ou me abraçasse do jeito que ele te abraça, nós íamos direto pro inferno por incesto.

Ela jogou um braço sobre o ombro da professora de Português e saíram rindo e conversando. Seguindo a empolgação de Babi, Mariah acabou aceitando ir pra festa. Compraram os ingressos do show naquele mesmo dia e ainda viram roupas, sapatos e o que mais precisavam.

No dia da festa, Babi foi para casa de Mariah antes das 17h. Chegou com duas garrafas de vinho, um pacote de queijos e outros aperitivos e já foi ligando o som num volume, segundo ela mesmo, dançável.

Mariah havia deixado Érico com os avós e há muito tempo não se divertiu tanto quanto naqueles preparativos para a noite. Babi e ela levaram umas três horas para fazer unha, cabelo, escolher roupa e se aprontarem. Nesse tempo, as duas garrafas de vinho que Babi tinha levado, mais as duas que Mariah tinha na geladeira, foram esvaziadas e quando elas pegaram o táxi para a festa, estavam ambas, no mínimo, muito alegres.

Mariah trajava um jeans justo, de cor clara, uma camisa branca de manga comprida e uma jaqueta de couro marrom, da mesma cor das botas de salto. O cabelo havia sido ajeitado para exibir o brilho das argolas douradas e Babi fez questão de desabotoar os dois primeiros botões da camisa para que o medalhão em forma de lua que ela usava ficasse visível.

O Parque de Exposições ficava fora da área urbana da cidade. Era um espaço amplo, com instalações próprias para os animais, local de provas hípicas, praça de alimentação, brinquedos para as crianças e ainda uma arena para rodeio e outra para shows musicais.

Centenas de pessoas circulavam pelas avenidas do parque naquela época. Excursões de cidades vizinhas emprestavam ao lugar inúmeros rostos desconhecidos que se mesclavam as figuras já tradicionais do município.

Babi e Mariah circulavam cumprimentando alguns conhecidos, a maioria sem conseguir esconder o contentamento em ver a professora de português de visual novo e sem a companhia desagradável do marido.

No início, Fabrício se esforçava por ser simpático com os amigos de Mariah, mas nos últimos tempos ele estava sempre de cara fechada e sequer cumprimentava as pessoas que trabalhavam com ela. Vê-la sem ele, recuperando a expressão sorridente e a naturalidade de antes era o que todos desejavam.

Quando o show começou, as duas amigas já estavam cercadas por vários conhecidos com quem dançavam, riam e conversavam sobre amenidades.

Mariah dançava com Luciano, um ex-colega de faculdade, quando sentiu uma mão puxando-a pela cintura. Virou-se pronta para xingar o babaca que a havia segurado daquela maneira quando deu de cara com Túlio, sorrindo com um ar travesso.

O rapaz vestia uma calça jeans escura, sapatos marrons e blusa verde musgo com estampas em bege claro. Os cabelos estavam penteados para trás, arrumados com algum tipo de gel. A barba bem feita e o perfume amadeirado completavam o conjunto despojado porém charmoso.

- Aposto que já ia me xingar! – ele falou, rindo.

- Se eu não estivesse segurando as mãos dela, ela ia bater em você! – respondeu Luciano, soltando a moça e saindo em direção ao bar, falou – Vou buscar uma cerveja. Quer uma, Mah?

- Não, acho que já bebi demais por uma noite... E você, senhor Túlio Álvares Negrone, foi muita sacanagem da sua parte me assustar assim.

- Ah qual é, Mah! Eu não fiz nada... Você que está com os nervos a flor da pele. Vem cá, relaxa e vamos dançar!

Ele a puxou, agora pela mão, e eles foram dançar. Mesmo de salto, Mariah ainda era bem mais baixa que o rapaz moreno, que devia ter quase 1,90m de altura. Chegava a ser engraçado ver os dois numa tentativa desajeitada de dançarem juntos. Por fim, Túlio decidiu apenas abraçar Mariah e rodar com ela suspensa em seus braços.

As horas passaram rápidas, num clássico complô contra os bons momentos e o dia estava quase amanhecendo quando Mariah percebeu que Babi havia sumido com um rapaz que havia conhecido no começo da festa.

- Ótimo! Tudo o que eu precisava era ir pra casa sozinha. Eu mato a Babi amanhã!

- Você vai voltar de taxi?

- Fazer o quê, Túlio? Sair de casa dirigindo depois de beber duas garrafas de vinho é suicídio...

- Eu te levo! Não bebi nada hoje.

- Não precisa... Sua casa fica do lado oposto da cidade e vai dar trabalho.

- Mah, pra quem vai chegar em casa as 7 da manhã, chegar as 7:30 não faz muita diferença. Vamos, meu carro ta aqui pertinho.

Ela só acenou com a cabeça e seguiu o rapaz até o carro. Seguiram em silêncio por quase 20 minutos. Ela olhava a paisagem da estrada pela janela do veículo e sentia o cansaço começar a adormecer seus músculos. Um sorriso involuntário apareceu em seus lábios e ela fechou os olhos, suspirando e espreguiçando.

- Faz tempo que eu não vejo você assim... – Túlio comentou, em voz baixa, assim que estacionou o carro em frente ao prédio que Mariah morava. Aquela hora o porteiro estava tomando café e nenhum vizinho atrevia a sair na rua. Pelo menos não num domingo de junho.

A moça virou-se para ele, abrindo os olhos de forma que indicava o quanto estava sonolenta.

- Assim como?

- Assim... – ele tirou uma das mãos do volante para arrumar uma mecha dos cabelos dela que havia lhe caído sobre os olhos – Tão linda!

- Eu? Linda? – ela riu e ainda piscando devagar ajuntou – Não sabia que me achava bonita.

- Bonita é pouco, Mah. Você é uma das mulheres mais incríveis que eu conheço. É tão fácil ficar do seu lado, conversar, rir e... E é melhor você entrar!

A última frase saiu de um jeito ríspido. Um tom que a fez despertar, não só da sonolência, mas do que estava acontecendo dentro do carro: eles estavam flertando. Ela engoliu em seco. Eles estavam flertando e ela se sentia incrivelmente bem com aquilo.

Túlio olhava direto para frente, esperando que ela descesse do carro. Mas em vez disso, sentiu o toque dela puxando seu rosto para que se olhassem de frente.

- Não acho que o melhor seja eu entrar. Acho que o melhor está aqui mesmo...

E foi tudo o que ele precisava para largar o volante e colocar as duas mãos no rosto miúdo da moça e selar seus lábios com um beijo primeiro incerto, tímido, que aos poucos se tornou sôfrego e intenso.

Quanto tempo se beijaram foi irrelevante. Mas quando seus lábios se afastaram, eles se encararam e sorriram. Ela disse boa noite, depositou um selinho nos lábios dele e desceu do carro, sem olhar para trás.

E ao colocar a camisola e se jogar no meio dos edredons macios, depois de uma ducha quente, ela sabia que realmente não ia mais olhar para trás. Agora, tudo o que Mariah queria era olhar para frente.

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Notas finais do capítulo

Tá ficando bom, né? Gostaram do Túlio? Quero reviews...



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