Intransitividade escrita por AmanditaTC


Capítulo 10
Pra você guardei o amor


Notas iniciais do capítulo

Capítulo curtinho, só para fechar um ciclo...



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O apartamento de Mariah não era muito espaçoso, mas ainda assim era bastante confortável. Dois quartos, dois banheiros, uma sala com varanda, cozinha e área de serviço. Tudo decorado com praticidade.

 

Ela comprou um lhasa apso preto e branco para Érico, que deu nome de Bart ao animal de estimação. O menino foi matriculado numa escola próxima do local em que a mãe trabalhava e sua adaptação à nova vida, inclusive à convivência com Túlio, foi tranqüila.

 

A relação com Túlio seguia sem rótulos embora ela já tivesse sido apresentada aos colegas e professores da faculdade dele e ele a acompanhasse em todos os eventos do Fórum e da OAB.

 

Após dois anos em BH, Mariah havia voltado para a faculdade e cursava Direito. Estava em plenas férias escolares de meio de ano e Érico havia viajado para a casa da madrinha, em Buenos Aires, com a avó.

 

Naquela manhã de segunda-feira ela acordou com uma sensação engraçada. Parecia que em algum momento do dia as coisas passariam a fazer sentido e as respostas que ela buscou por tanto tempo seriam encontradas.

 

Após o banho demorado, o café da manhã preguiçoso, ela se arrumou para o trabalho. Túlio continuava deitado na cama de casal e, mesmo que sonolento, observava a moça se arrumando. Gostava de observar a calma com que ela se maquiava, espalhava o hidratante floral pelo corpo, vestia as meias e só então soltava a toalha dos cabelos molhados.

 

- Você sabe que nós não estamos vivendo uma história de amor, não é? – Esta foi a última frase que ela disse naquela manhã.

 

Preparava-se para ir ao serviço, vestindo sem pressa o conjunto de saia e blusa verde musgo, a camisa palha, os sapatos do mesmo tom marrom da bolsa. Olhou mais uma vez para o espelho grande a sua frente, certificando-se de que seus cabelos estavam impecáveis no rabo-de-cavalo que insista em usar sempre que havia alguma audiência no Fórum.

 

Ele se espreguiçou discretamente, ainda embaixo do edredon macio e sorriu. Sim, ele sabia muito bem que não viviam uma história de amor, mesmo que não houvesse aberto a boca para responder.

 

A mulher, de pouco mais de 30 anos, pegou seus objetos de trabalho, sua bolsa e saiu de casa sem se despedir. Sabia que ele não estaria mais ali quando retornasse na hora do almoço e que provavelmente passariam uns dois dias sem sequer uma conversa ao telefone.

 

Explicar o que tinham era algo que fugia de sua capacidade, embora ela sempre tivera um jeito especial para as palavras. Conheceram-se há anos e por mais que tentasse, nenhum dos dois conseguia precisar o ponto em que deixaram de se olhar com a admiração de uma amizade sadia para enxergarem-se e, acima disso, desejarem-se como homem e mulher.

 

A caminho do serviço, dentro do carro, ela pensava o quanto a única idéia que nunca lhe passou pela cabeça pôde ser capaz de mudar o modo como encarava a vida. E mesmo que esta não seja uma história de amor, ela sabia que viveria quantas vezes fosse.

 

Entrou pelo saguão do Fórum Municipal e já dava o primeiro passo para dentro do elevador quando ouviu atrás de si:

 

- Mariah, depois eu quero que você me ensine o seu segredo.

 

A promotora, Drª Ana Paula Santine Barros vinha apressada, segurando uma pasta e fazendo sinal para que a assessora segurasse o elevador.

 

- Vamos, me diga, qual seu segredo? – ela tornou a falar assim que a porta do elevador se fechou.

 

- Do que está falando, doutora?

 

- Das flores, ué! Vai dizer que ainda não viu?

 

- Flores? Não sei de flores, estou chegando agora...

 

- Ah, então vai ter uma bela surpresa. Elas chegaram minutos antes de eu sair para almoçar.

 

O elevador parou no quinto andar e assim que a porta se abriu a assessora já pôde ver o arranjo sobre sua mesa, bem ao lado do porta retrato com a foto dela e de Érico. Nada de rosas vermelhas. Não, seria muito clichê e nada, até aquele momento, na história dela e de Túlio era clichê. O arranjo delicado trazia tulipas brancas e gérberas cor de vinho, as flores preferidas dela. E um cartão, escrito com a letra inclinada e firme do futuro médico:

 

Eu sei que não vivemos um romance. Mas seja lá o que for que nós vivemos, quero viver todos os dias da minha vida. Você me aceita?

 Com amor,

Túlio

 

Ela permaneceu em pé, lendo e relendo o cartão e deixando as colegas de trabalho curiosas com a situação. Por fim, Mariah sorriu e guardou o pequeno envelope na bolsa.

 

Aquela era a primeira vez que Túlio usava a palavra amor. E embora a relação deles tenha sido sólida desde que ele soube que ela se mudaria para a capital mineira, só naquele momento é que ela se sentiu segura para aceitar de uma vez aquele amor e o que dele viesse a acontecer em suas vidas.

 


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