Quando eu cheguei ao salão comunal na manhã seguinte, a Bell e a Dora já estavam lá. O que era estranho já que eu não me lembrava de ter visto nenhuma das duas noites passada.

—E ai como foi à noite? —A Bell perguntou para mim.

—Eu é que perguntou. —Eu disse acompanhando as duas para o refeitório.

—Não adianta disfarçar Sarah. Nós sabemos que o Thiago não dormiu no quarto dele essa noite. —A Dora disse maliciosamente.

—E como vocês sabem? —Eu perguntei imaginando aonde o Thiago havia passado a noite e imediatamente a Sofia veio em minha cabeça.

—Porque nós dormimos lá para deixar vocês mais a vontade. —A Bell disse como se fosse obvio.

Meu estomago deu um nó. Obviamente o Thiago tinha se divertido muito durante a noite enquanto eu tentava inutilmente apagá-lo do meu coração.

No sentamos-nos à mesa junto com o Beto e como o Pedro, aparentemente eu estava livre da presença do Thiago, o que era um verdadeiro alivio depois da noite passada. Mas não parecia que isso iria durar muito.

Porque logo o Thiago apareceu com os cabelos molhados e um sorriso encantador que eu tentei ignorar. Ele não se sentou ao meu lado como no passado. Na verdade ele sentou do outro lado da mesa.

—Até quem fim. —O Beto disse como se tivesse acusando-o de algo.

—Só lamento. —Obviamente aquela era um conversar que não era para nós meninas entendermos.

—Eu estava pensando... —A Dora começou mais o Beto a interrompeu.

—Você pensa. —Todos na mesa rimos menos a Dora. —Porque juro que acreditei que você não tinha neurônio já que aceita ficar com o Pedro.

— Eu é que tenho dó da Bell. —O Pedro disse se defendendo.

—Eu quero falar será que é possível. —A Dora interrompeu a discussão que provavelmente viria. —Vamos fazer um piquenique. —A Dora disse toda empolgada. Era domingo e geralmente não havia muita coisa para fazer no domingo. Principalmente quando a escola estava quase vazia.

—Dora esta chovendo e gelado lá fora. —A Bell disse como se aquilo fosse à idéia mais absurda do mundo. E de certa forma era.

Mas aquelas palavras fizeram eu me lembrar de algo que eu havia esquecido na noite passada.

—Ah meu Deus Thiago. —Eu deixei escapar um grito exagerado.

Todos inclusive o Thiago olhou para mim espantado.

—O que? Estourou a bolsa. —O Beto perguntou tentando fazer umas das piadas que ninguém achava graça.

—Isso não teve graça. —O Thiago revidou provavelmente lembrando-se da Amanda.

Eu corei.

—O que foi Sarah? —A Bell perguntou impaciente.

—Eu esqueci a jaqueta do Thiago na sala dos monitores.

—Ah ótimo. —O Thiago disse passando as mãos nos cabelos. —Justo no plantão do Plácido.

—Para tudo. —O Beto disse fazendo um gesto exageradamente com as mãos. —Alguém por aqui pode me explicar o que você estava fazendo com a jaqueta do Thiago na sala dos monitores. —O Beto disse apontando para mim.

—Sofia nos pegou ontem. —O Thiago fez o resumo do resumo.

—Merda, porque isso nunca acontece comigo. —O Beto disse batendo na mesa.

A Bell lançou um olhar sombrio para o Beto.

—Quer dizer. —O Beto percebeu o que disse e tentou concertou. —O Plácido vai ferrar com você.

—Eu tenho que pegar a jaqueta antes que ele vê se não ele vai saber que Sofia não me puniu.

—Pelo contrario. —O Pedro disse maliciosamente.

—É. —O Thiago concordou sorrindo. —E isso vai acabar comigo e com Sofia.

Minhas deduções estavam certas.

—A gente distrai o Plácido e você pega a jaqueta de volta. —O Beto disse como se fosse à coisa mais fácil de se fazer.

—Certo. —O Thiago concordou quando chegamos ao salão comunal.

Esperamos pacientemente o Plácido aparecer. O Beto caminhou até ele enquanto o Thiago subia as escadas para a sala dos monitores.

—Plácido querido. —O Beto disse passando os braços pelos ombros do Plácido. —Estava mesmo com saudade de você.

—O Que o Senhor Roberto esta aprontando. —O Plácido disse retirando a mão do Beto.

—Nada. —O Beto disse fingindo inocência.

—Então me de licencia                 que eu tenho mais que fazer. —O Plácido disse tentando passar.

—Pra que tanta pressa. —O Beto disse pulando novamente na frente do Plácido.

—Porque eu sinto que você esta armando alguma coisa. —O Plácido disse desconfiado.

—Eu imagina. —O Beto disse indignado.

—Se eu te pegar Roberto, você estará ferrado. —O Plácido disse ameaçadoramente para o Beto. —Agora saia da minha frente antes que eu te de uma detenção.

O Beto ergue a mãos se afastando.

—Porque você o deixou ir. —A Bell perguntou tão preocupada quando eu.

—Ele esta indo para direção oposto do Thiago. —O Beto disse como se fosse obvio. E era.

—O Thiago esta demorando será que o Plácido pegou ele. —Eu perguntei não agüentando mais de preocupação.

—Relaxa Sarah o Thiago sabe o que faz. —O Beto disse despreocupadamente.

—Ai não falei. —o Beto disse olhando para escada tempo depois. —Conseguiu? —Ele perguntou enquanto o Thiago descia os degraus lentamente.

O Thiago não respondeu apenas ergueu a jaqueta enrolada em uma das mãos.

Seu rosto parecia bem perturbado quando ele se aproximou do nosso grupo.

—O que foi cara? —O Beto perguntou quando o Thiago parou de andar e encarou a todos nós como se não acreditasse no que via. —O Plácido não pode ter pegado você. —O Beto queria entender o que realmente estava acontecendo. —O que aconteceu? —O Beto perguntou enquanto todos nós estudávamos a expressão sombria do Thiago.

—Não acha que é vocês que tem que me falar. —O Thiago disse e seu tom de voz era duro como aços. Nós olhamos entre nós sem saber o que verdadeiramente o Thiago queria dizer.

—Melhor ainda. —O Thiago disse se virando para mim. —Vamos deixar que a Sarah se explique primeiro. —Se eu pudesse arriscar eu diria que o Thiago estava realmente furioso.

—Eu não sei do que você esta falando. —Eu disse tento um mau pressentimento que aquilo não acabaria bem.

—A única pessoa aqui que não sabia o que estava acontecendo era eu. —O Thiago disse deixando sua fúria explodir. —Mas eu vou de dar uma dica. —Ele desenrolou a jaqueta e uma faixa branca caiu no chão.

Meu corpo tremeu inteiro em um solavanco. Eu podia sentir a cor sumindo do meu rosto.

A faixa branca com dizeres “... ” Me levou a velocidade de um pulsar do meu coração pra entender.Ele sabia a verdade.

—Eu... Posso... — minha boca formou cada palavra silenciosamente. Eu não conseguia soltar o ar pra realmente dizer as palavras e fazer ela me explicar.

—Não você não pode. —O Thiago disse entre os dentes o rancor era evidente no seu rosto. —Porque não há a mínima explicação. —ele gritou comigo furioso.

Ele desviou olhos do meu rosto e fitou o chão enquanto ele tentava inutilmente controlar sua respiração acelerada, suas mãos estavam fechadas no punho como se ele tivesse preparando para lutas. Todos assistiam como se um prédio estivesse desmoronando diante de nós.

—Porque você não jogou limpo uma vez na sua vida. —Ele disse acusadoramente para mim a raiva estava cravada em cada palavra que ele dizia. —Eu tinha o direito de saber era a MINHA VIDA.

Eu sabia que precisava dizer alguma coisa, mas eu não conseguia articular a palavra eram como se elas tivessem engasgadas.

—Eu estava tentando fazer o melhor... —Minha voz tremia juntamente com o meu corpo eu nunca havia imaginado na possibilidade de algum o dia o Thiago saber a verdade, então eu não sabia o que dizer.

—Melhor? —O Thiago repetiu incrédulo. —Para quem? Porque pra mim não pode ser. —Enquanto ele gritava aquelas palavras, a veia no seu pescoço saltava para fora deixando evidente sua fúria. —Deixe eu ver, deve ser para você própria.

—Eu posso explicar. —eu mal conseguia abrir a boca tudo a minha volta parecia girar meu estomago dava cambalhotas.

—Explicar? —A fúria do Thiago aumentava a cada palavras minha. —Explicar.  Como se isso tivesse explicação. Mas é claro. —Ele disse de repente como se tivesse se lembrado de algo importante. —Foi por causa daquele babaca do Theo... —Ele disse entre os dentes tirando conclusão precipitadamente. —Se você queria ficar com ele era só me dizer eu NÃO IA TE FORÇAR A FICAR COMIGO.

—O Theo não tem nada haver com isso. — Eu balancei minha cabeça, lágrimas saltando dos meus olhos com uma emoção devastadora.

—Você tem noção de quantas noites eu passei em agonia porque eu não conseguia me recordar do meu passado. Você tem idéia DISSO. — Um tremor escapou pelos seus ombros largos, mas os olhos dele estavam compenetrados e sem emoção. —Lembranças que vinham em sonho e eu achando que estava enlouquecendo...

—Eu devo ter parecido um idiota mesmo. —Ele disse debochando de si mesmo enquanto desvia o olhar de mim para cada um que estava ali. — Todo mundo sabia, mas mesmo eu. TODO MUNDO E NINGUÉM SE DEU AO TRABALHO DE FALAR NADA... COMO SE EU NÃO TIVESSE DIREITO.

—As coisas não aconteceram bem assim Thiago. —O Beto disse entrando no meio.

—Como você tem coragem de falar comigo. —O Thiago disse se virando para o Beto. —Eu nunca esperava isso de você, cara. —O Thiago disse batendo o dedo indicador no peito do Beto. —de você não... —ele deixou bem evidente o quando estava decepção com o Beto.

—Ele não fez nada eu que pedi. —Eu disse entrando em defesa do Beto, se alguém merecia o desprezo do Thiago esse alguém era eu.

—A Sua amizade com ela deve ser muito importante mesmo. — Os olhos de Thiago voltaram pra mim, as suas sobrancelhas grossa, pretas se juntando num ângulo furioso em cima dos seus olhos fundos. —Todo dia que eu acordava era sua imagem que vinha na minha cabeça como em sonhos, eu lutava desesperadamente para acreditar que tudo realmente era parte de um sonho meu enquanto você me jurava que me odiava. Você é muito falsa mesmo. — A voz dele foi um tapa - eu vacilei com o som quando ela bateu em mim. A mandíbula dele estava se comprimindo e se soltando.

—Não é bem assim... —Eu tentei dizer enquanto lágrimas escorriam abertamente no meu rosto.

Ele olhou para mim por um curto espaço de tempo, os olhos verdes dele estavam brilhando com lágrimas. Um caroço preencheu minha garganta.

Então ele se virou pronto para sair, mas o Pedro o segurou pelos ombros.

—Espera Thiago, você ainda não ouviu a historia toda. —O Pedro disse pela primeira vez aparentemente calmo, mas seu rosto perturbado mostrava sua verdadeira aflição.

—Eu não tenho nada para ouvir. —O Thiago disse retirando as mãos do Pedro furioso. —Fica na sua...

—Nem pensar Thiago. —O Beto disse parando ao seu lado. —Se você realmente quer saber o que você perdeu durante esses meses você vai ter que nos escutar...

—Você não acha que é um pouco tarde para isso. Seu Judas...

—VOCE VAI TER QUE ME OUVIR SIM. —O Beto gritou na cara do Thiago.

—FICA LONGE DE MIM, JUDAS. —O Thiago revidou furioso e no instante seguinte sua mão estava no rosto do Beto em um soco violento.

O Beto cambaleou para trás. Se aparando na parede enquanto gritos de aflição preencheram o ar.

—Nunca mais fala comigo. —O Thiago disse antes de se virar e sumir.