Pulsos Atados escrita por Anayra Pucket


Capítulo 26
Capítulo 25 – Decisão - Mariana




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Aquilo calou ela, quebrando de alguma forma a conexão mental que nos matinha ligadas com a outra.

Após tudo o que ocorreu, não tenho motivos para teimar que não existia uma sensação pior do que a que me martirizava, porque tinha sim... O estado que me dopava quando minha mãe encontrou-me estirada na cama do meu quarto não era brincadeira.

Eu amava dois anjos, e agora também os odiava por terem me empurrado de encontro a esse destino fatal. Ariel realmente foi egoísta quando pediu pra Deus a salvação da Emilly, aproveitando-se do fato que ela estava irracionalmente apaixonada por ele. Acho que agora dava pra compreender o porque que ele não me olhava direito nos olhos quando eu tentava me aproximar de vestígios do passado. Como ele não podia ter pensado no preço ou nas consequências que aquilo traria?

Bom, já eram 16:30 da tarde na hora que acordei do meu cochilo.

Assim que despertei do sono, já me vieram as lembranças da estranha experiência de teletransporte e o sabor do beijo que eu e um anjo havíamos trocado. Soa tão fictício falando assim não é? Os flashbacks da Profecia, as palavras que Gabriel tinha dito ao longo de toda aquela jornada... E pior: As dúvidas!

Sim, eu ainda tinha muita coisa pra descobrir só que não é necessário relatar que eu necessitava urgentemente de um aspirina e um dramin antes pra dormir bem de noite para retomar as rédeas.

Ah como eu queria poder contar tudo pra alguém... Keyla, ou para Thammy até mesmo minha mãe, mas nenhuma delas acreditariam em minhas palavras, porque convém entre nós: Nem eu acreditava!

– Mariana, você está aí? – Olha só... por falar dela!

Tive uma certa hesitação por temor do que ia acontecer agora.

– Sim, mãe.

Lianna abriu a porta e na soleira me entreolhou cerrando os olhos como se não me reconhecesse.

– O que diabos aconteceu com o seu cabelo? E como conseguiu entrar dentro de casa sem passar pela porta da frente sendo que eu estava na cozinha o tempo todo?

Suspirei inteiramente exausta.

– Calma mãe, relaxa um pouco e respira!

Ela me fuzilou com raiva intensa, tava muito na cara que minhas palavras haviam a irritado mais ainda.

– Me diz como alguém poderia ter calma recebendo uns 400 telefonemas vindos da sua escola e outras pessoas dizendo que a minha filha fugiu do tumulto da escola assim que os pais de Richard, que está desaparecido desde que você sozinha foi se encontrar às privadas com ele, contaram que o mesmo estava sumido. Como eu poderia manter a calma com a polícia me interrogando aqui na porta de casa, causando o maior alvoroço na vizinhança, alegando que minha filha é a suspeita principal do caso e que tinham ordem judicial para apreendê-la na delegacia para ser interrogada. Tive que implorar, IMPLORAR, para que não a acusassem assim tão repentinamente e fui obrigada a deixar que eles revirassem a casa para terem certeza de que eu não estava mentindo sobre não ter a visto desde que foi passar o fim de semana na casa da sua amiguinha. Eu lidei com isso tudo sozinha, preocupada e desesperada para saber do seu paradeiro, com quem você estava, ou o que estava acontecendo! E eu quero uma explicação pra isso agora Mariana! Aonde você estava essa manhã e por que fugiu daquela confusão na escola, fazendo todo mundo suspeitar que tu tinha alguma coisa a ver com o sumiço dele?! O que está acontecendo com você pelo o amor de Deus?! Eu não vou poder te defender ou ajudar se não me contar a verdade...

"A verdade..." – Meu cérebro ironizou - "A verdade pareceria mentira pra você mãe!"

Okay, não podia ficar me retraindo em meio a tudo o que estava acontecendo. Se eu quisesse passar por essa provação da Profecia, teria que aprender a ser forte e controlar minhas emoções. O truque pra escapar do furacão diante do meu rumo era moderar a verdade e distorcê-la um pouco. Isso não a tornaria precisamente uma mentira!

Meu primeiro passo foi expulsar minha culpa e prender os olhos dela nos meus.

– Estava com um amigo, em um terreno que fica próximo as ruas de barro. Sabe as antigas estradas?

Ela cruzou os braços e acenou com a cabeça.

– O que fazia do outro lado da cidade? E quem era esse amigo?

– Se parar pra pensar Poshercity não é grande coisa né mãe? O outro lado da cidade fica tipo a 20 minutos de carro, por ser um lugar pequeno...

– Já chega! - Minha mãe berrou - Não tente me enrolar outra vez Mariana! É melhor que me conte a verdade e não ouse poupar detalhes de mim. E nem invente essas mentiras esfarrapadas que perdeu a memória ou teve amnésia porque eu não sou retardada, eu sou a sua mãe! Você me deve respeito acima de tudo!

Sua voz ficou pairando no ar, zunindo nos meus ouvidos, retrocedida por ecos. O jeito que ela pronunciou aquelas palavras, não considerou nem um pouco o quanto ela me conhecia por todos esses anos. Minha própria mãe não estava acreditando nas minhas palavras.

O beijo que Gabriel me dera foi como um toque de cura, um antídoto para o veneno que eu estava sufocando para não engolir, mas foi passageiro... Foi como se todo o meu amor pela minha família não significasse nada. Como se meus amigos não fossem nada, como se minha vida até ali estivesse desaparecendo e uma nova estivesse se iniciando.

A mulher que emitia desgosto e frustração à minha frente, a mesma pela qual eu costumava chamar de mãe, tornou-se uma estranha por íntegro.

– Não devo satisfação pra uma velhota como você, bruxa! Vá queimar no inferno e não me encha o saco! - Encarei-a com indiferença e ousadia, transmitindo mais ou menos a mesma energia que ela há segundos atrás.

Sua expressão passou de zangada para boque aberta, o que para minha própria surpresa tornou a minha "revolta repentina" mais fácil do que esperava.

– M-M-Mariana o que você acabou de dizer? - Sua voz falhou, algo que me estressou mais ainda. Pô eu tinha tido um dia pesado e como se não bastasse isso minha mãe ainda queria vir me encher de reclamações e se fazer de coitada? Não, eu realmente tava esgotada de paciência.

– É isso aí que você ouviu, mamãe! Se você pensa que é a única amargurada e carregada de problemas está muito é enganada. Estou cansada das suas atuações de "Ai eu sou uma mãe solteira com as piores filhas do mundo." Ah e falando nisso, manda a Thammy ir a merda por querer bancar a "falsa boazinha" comigo depois de eu a ter esmurrado e dado a lição que merecia desde sempre. - Pausei rapidamente para sugar uma nesga de ar vital para meus pulmões - É incrível como a verdade pode nos mudar não é mesmo mãe? Você sempre só repara nos meus erros e me julga sem parar, mas nunca curvou um pouco a cabeça para reconhecer também o quanto eu me esforçava para te fazer sentir orgulho de mim. Porém, agora as coisas mudaram e finalmente estou descobrindo quem eu sou de verdade, quem eu sou por baixo desse manto de "santisse" pelo qual me encobria. - Como se estivesse no piloto automático levantei da cama e comecei a avançar para cima dela olhando bem a fundo em seus olhos, com mágoa e rancor efervescendo vorazmente - Eu cansei de ser subestimada, retraída e jogada em direções desconhecidas, sempre esperando que a atitude dos outros me guie à diante. Agora mudarei a minha conduta e me vingarei de certos "seres" que me fizeram sofrer até aqui. Cansei que tentem me controlar! Eu estou no controle agora, sou eu quem vou guiar meus passos daqui, e sou capaz de fazer tudo para alcançar esse objetivo. Então é melhor sair de perto... - À essa altura eu já estava a espreitando para fora da porta, rosnando e cuspindo o desabafo que mantive guardado da pior maneira possível - Antes que eu tenha que eliminá-la também!

Bati com brutalidade a porta do quarto, imune de qualquer remorso.

No final das contas, parecia mesmo que Emilly e eu tínhamos o mesmo desejo: Eu precisava exterminar de vez Ariel e Gabriel, mesmo que os amasse com tudo o que era. Era apenas algo imprescindível que eu tinha que fazer para obter a paz de espírito que me foi tomada... Algo primordial, ávido, incompreensível...

O que eu ia fazer agora com a descoberta de que eu podia sim usufruir quando bem quisesse dos poderes de Emilly? Castigaria além desses anjos, o tal Deus que dissera com crueldade que eu exterminaria a humanidade caso não controlasse esses poderes. Quem Ele pensava que era? Por que os seres humanos (até incluindo eu) pagariam um preço tão alto por algo que não rogaram ou imploraram?

Aquelas perguntas me fizeram lembrar do flashback da petição do casal mais sortudo do mundo para Deus e da pergunta que ele (Ariel) tinha feito para “O Altíssimo”, que era semelhante as que eu não era capaz de compreender.

Sei que Emilly era cruel mas aquilo era inadmissível! Não era justo nem para ela mesma... Ou era?

Bom, não ia me desgastar com mais e mais questões fatídicas e recíprocas, dessa vez eu iria agir.

A vida até ali nunca fora tão doce... e tão sangrenta também!


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Notas finais do capítulo

Pois é galera no próximo capítulo vamos voltar a ver a história do ponto de vista da Keyla e as coisas vão começar a esquentar ainda mais entre nossa protagonista Mariana e sua maldição.



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