Por onde você andou, Miles Foxx? escrita por Lord


Capítulo 2
Kyle é o antigo Miles?


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem :3



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– Leo, sabe que dia é hoje? – Miles perguntou me soltando.

– Quarta?

– Quarta dos meninos. – Miles sorriu como se fosse uma criança, tirando o fato de que ele era uma criança que não sorria. – Como quando a gente era moleque, mas agora tem o Rato e o Kyle também. Você vai não é?

Claro que não. A noite era dos meninos, mas não era como antigamente, como quando erámos só Miles, eu e Tate, o pug de estimação de Miles.

– Quem é kyle?

– Meu meio-irmão, ele não foi pra escola hoje. – Miles explicou. – Tia, você deixa o Leo ir, não deixa?

Olhei para minha mãe, meu olhar quase gritava para ela não deixar eu ir.

– Claro.

– Vou pegar as minhas coisas – eu disse dando um sorriso amarelo.

De certa forma eu fiquei com ciúmes por Miles ter feito a noite dos meninos esse tempo todo sem ser comigo. Quando nós éramos crianças toda quarta eu ia para casa de Miles ou ele ia para a minha, assistíamos alguns filmes e comíamos besteira, no outro dia íamos para a escola com olheiras enormes e não parávamos de bocejar.

Subi e coloquei algumas roupas confortáveis em uma mochila, também coloquei o uniforme e o carregador do celular, coisa que não podia faltar.

– Vamos? – perguntei assim que terminei de descer as escadas. Mesmo querendo não admitir eu estava ansioso, Miles sempre teve um ótimo gosto para filmes, talvez isso tenha se mantido. E seria muito legal se depois de uma conversa as coisas voltassem a ser como eram quando estávamos na terceira série.

– Até amanhã – minha mãe disse dando um beijo na minha testa. – Juízo.

– Juízo é uma coisa que não me falta. – Miles disse confiante.

Segundo Miles sua casa não ficava muito longe, então decidimos ir andando. Em algum momento Miles desenvolveu a capacidade da sedução e sorria galanteador para algumas garotas que passavam na rua. Também havia desenvolvido a incrível capacidade de fingir que nada aconteceu e de falar como uma metralhadora.

– Vou pedir para o Rato comprar pizza. – Miles digitou alguma coisa no celular e abriu um leve sorriso.

– Por que vocês chamam ele de Rato?

– Quando George estava na oitava série, ele teve que ter contato com ratos de laboratório e por algum motivo ele surtou e começou a falar sobre os direitos dos animais – explicou o garoto. – Freya disse que ele chorou de pena dos ratos.

– Você não estava aqui na oitava série?

– Leo, sei que você acha que eu te abandonei, mas você não foi o único – Miles encarou o céu cinzento. – Nunca fico por muito tempo no mesmo lugar. Desde a terceira série eu estou indo de um lado para o outro, fico um tempo na casa do meu pai, depois fico com a minha mãe, já fui para internatos e morei com uma tia do interior.

Senti algo no fundo do peito. Como se eu fosse ainda menos especial para Miles. Eu poderia dizer “Sou Leonard, o amigo que Miles abandonou cruelmente”, porém eu não havia sido o único, então a outra pessoa perguntaria “Qual deles? Miles costuma abandonar mais pessoas do que roupas”.

– Seu pai continua se mudando?

– Sim – ele sorriu, desta vez um sorriso legitimo do Miles Foxx que eu conhecia. – Acho que sou como ele. Porém agora eu estou vivendo com a minha mãe.

– Quando você era menor você odiava sua mãe – comentei.

– Continuo odiando, mas eu briguei feio com o meu pai – ele falou sério. – Tipo, muito feio mesmo, faz quase um ano que eu não falo com ele. Antes de vir para cá eu fiquei na casa da minha tia.

– A gorda?

– Sim, não me interrompa.

– Desculpe.

– Um belo dia eu simplesmente apareci na porta da minha mãe com uma mochila e um olho roxo – Continuou. –Então, Leo, se eu sumir, não se preocupe, eu vou estar na Índia ou na Bélgica.

Como aquele idiota podia pensar assim? Acabei de reencontrá-lo e ele já fala de se mandar novamente. Talvez Miles nunca gostou o suficiente de mim para se importar comigo. É claro que eu não deixaria ele, bem pelo menos quando estávamos na terceira série.

– Esqueceu da Alemanha?

Eu puxei uma memória do fundo da alma. Me lembro muito bem de Miles falando “Algum dia eu vou para a Alemanha, buscar minhas origens. Talvez eu vou escrever um cartaz dizendo que Hitler é um bundão”.

– Já estive lá – o garoto olhou com um brilho nos olhos. – E quer saber de uma coisa?

– Sim.

Miles se aproximou tanto que eu podia sentir sua respiração.

– São todos bundões. Chegamos.

A nova moradia do garoto era uma casa de dois andares pintada em tons pastéis e decorada com algumas plantas. A garagem estava vazia, mas havia espaço para dois carros.

– Minha mãe está de plantão e meu padrasto está viajando, então a casa é nossa – Miles sorriu, como se planejasse algo malicioso. – Freya vai trazer suas origens russas, se é que você me intende.

– Achei que seria a noite dos meninos.

– Leo, não temos mais nove anos – Miles destrancou a porta. – Seremos só eu, você, Liv, Freya, Rato e Kyle, não se preocupe Leo.

Odiável.

– Achei que você tivesse morrido – um garoto, provavelmente Kyle disse assim que passamos pela porta. – Estou decepcionado.

– Também te amo Ky.

Kyle era muito magro, ou usava roupas muito largas. Seus cabelos escuros estavam presos em um coque do tamanho de uma tampa de garrafa. Olheiras escuras rodeavam os olhos verdes e algumas marcas de chupões decoravam apele pálida do pescoço.

– Você deve ser o Leo.

– Sim.

Kyle deu de ombros e voltou a assistir TV.

– Seu pai ligou – disse o garoto sem dar muita atenção.

– E o que você falou? – Miles perguntou sem se importar.

– Que você estava muito ocupado tentando suicídio – Kyle respondeu seu olhar.

– K, eu te amo.

– Todos me amam.

xXx

Os outros amigos de Miles chegaram uns quinze minutos depois. Todos eles tinham a personalidade parecida com a do novo Miles, inclusive eu, porém eu não me importava, até gostava deles, acho que detestava Miles pelo fato de ter conhecido ele antes.

– K, coloque alguma coisa para ouvirmos – Freya disse abrindo uma garrafa de bebida. – Mas nada que faça eu querer me suicidar, por favor. Nada contra o seu estilo indie, mas amigo, por favor.

– Freya, cale a boca antes que eu quebre essa garrafa na sua cabeça – Kyle disse sério colocando alguma música eletrônica. – Vou ver algum filme no meu quarto, adeus vadias.

– Posso ir com você? – Perguntei.

O garoto franziu a testa.

– Não quero beber e não gosto muito de música eletrônica.

– Tudo bem – o garoto começou a subir as escadas.

– Depois você volta – Miles disse. – Por bem ou por mal.

Ignorei o meu antigo amigo e subi as escadas. Entrei na única porta aberta, que aparentemente era o quarto do irmão de Miles.

– O chamado? – Kyle perguntou, por um segundo eu vi Miles quando era pequeno. Era impossível lembrar quantas vezes o garoto já havia me feito aquela pergunta.

– Claro.


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