Por onde você andou, Miles Foxx? escrita por Lord


Capítulo 1
O novo.




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Quando você passa pelos portões de uma escola nova não espera conhecer ninguém, no máximo um ou dois rostos que você já viu pela vizinhança alguma vez. De certa forma eu adorava o fato de não conhecer ninguém, poder pintar a tela em branco da minha vida social era divertido.

Assim que coloquei os pés dentro da sala de aula pude ver que todos os quarenta pares de olhos focaram em mim. Não querendo me gabar, mas vez ou outra eu acabo atraindo o olhar de uma ou duas garotas e até mesmo de garotos. Talvez sejam meus olhos de cores diferentes ou então o estilo desleixado e a pele bronzeada, talvez pelo corpo definido.

– Classe, este é Leonard Cage, seu novo colega – o professor, um homem velho e barrigudo com cara de poucos amigos e detestado pelos alunos, disse. – Sente-se.

Avistei um lugar mais ao fundo, conforme eu me aproximava da carteira houve uma movimentação na sala. Assim que puxei a cadeira outra pessoa sentou.

– Não se fazem mais homens como antigamente – disse uma garota loira de olhos incrivelmente verdes. – Obrigada.

– Eu ia me sentar ai – eu disse seco.

– Oh, desculpe, mas eu cheguei primeiro – a garota deu um sorriso amarelo.

Como aquela vadia ousava roubar o meu lugar e ainda dizer que chegou primeiro.

– Fre, deixa o garoto sentar – uma voz soou calma e rouca.

Quando me virei deparei-me com Ele. Com Ele quero dizer o meu melhor amigo da terceira serie que foi embora sem dizer nem adeus, sem ao menos dizer para onde ia e se voltaria. Aparentemente eu tive que ir para o outro lado do país para reencontrar Miles Foxx, a pessoa mais mal-humorada com menos de trinta que eu conhecia.

O rosto não havia mudado muito, continuava com a mesma cara de quem queria estar morto, os olhos cor de âmbar e a pele pálida continuavam os mesmos. O cabelo outrora loiro havia escurecido até chegar a um tom de castanho que lembrava um tronco de árvore, também havia sido cortado de maneira rebelde.

– Miles?

– Olá, Leo – ele disse sério.

Sério isso? Ele havia ficado uns oito ou sete anos sem me ver, dar algum tipo de noticia e simplesmente me cumprimentava com “Olá, Leo”? Querido, isso é errado, muito errado.

– Vocês chegaram atrasados e ainda estão atrapalhando a minha aula. – O professor reclamou.

– Você está atrasado para se aposentar, talvez morrer e nem por isso eu te critico – A garota estourou uma bola de chicletes.

– Freya, não me faça perder a paciência – O velho disse. – Você nem é dessa turma.

– Tudo bem, tudo bem – a garota se levantou e depositou um beijo na bochecha de Miles. – Te vejo depois. Tchau Rato.

– Não me chame de Rato, Fre – um garoto gritou do outro lado da sala.

Sentei-me no lugar onde a loira estava sentada, Miles sumiu para o outro lado da sala e sentou na carteira atrás da de Rato.

A aula de história seguiu tão excitante quanto poderia ser.

Provavelmente muitos alunos não gostavam da aula de história, pois na segunda aula mais meia-dúzia de alunos chegou. Uma garota sorridente sentou-se ao meu lado.

– Você é novo, não é? Sou Liv, se você quiser posso te apresentar algumas pessoas e te mostrar a escola. – disse a garota.

Liv era muito bonita, tinha os cabelos vermelhos que eram cortados à altura do queixo e não devia pesar mais de cinquenta quilos. Seus olhos eram de um tom bonito de castanho. A pele rosada era decorada por um pequeno piercing microdermal abaixo do olho direito.

– Sou Leonard, e adoraria.

xXx

As duas aulas seguintes seguiram tranquilas e chatas. Como não havia sinal, quando deu o horário para o intervalo os alunos simplesmente saíram andando.

Depois de um rápido tour pela escola eu percebi que Liv era praticamente uma metralhadora, me contou tudo sobre a escola e como havia sido sua adaptação quando ela foi transferida.

– Então, quero que você conheça umas pessoas – Liv me levou até um grupo do qual eu já conhecia alguns rostos. – Esses são Miles, Freya e Rato.

– George – Rato disse.

Todos do grupo continuaram conversando, falando sobre uma festa qualquer. Miles zoava Rato que aparentemente teria sido pego no flagra com uma garota do primeiro ano. Freya dava risadas e trocava caricias com Miles, que parecia ser o garanhão da escola. Aquilo estava errado. Freya pareceu perceber que eu estava desconfortável e resolveu tentar puxar um papo.

– Desculpe eu roubar o seu lugar, eu só queria causar com o ex-namorado da minha avó – disse ela.

– Paulo namorou com sua avó? – Rato perguntou erguendo uma sobrancelha. – Que nojo.

Miles ficou sério por alguns instantes, quer dizer, mais sério que o comum. Então veio até mim e meteu a mão dentro da minha blusa. O que era realmente estranho, já que qualquer contato físico fazia o menor sentir náuseas. Mas lá estava ele, abraçado com uma garota enquanto ria, falava besteira e invadia meu espaço pessoal.

– Você ainda tem o colar da baleia – ele disse esboçando um sorriso. – Leo, você é incrível.

Fitei o garoto por algum tempo. A aparência era a de Miles, mas o modo de agir não. Era como se meu amigo tivesse passado por uma lavagem cerebral, estava rindo e tinha mais de um amigo, até parecia ser popular. Não tinha mais o mesmo brilho de quem vê o mundo de outro jeito nos olhos. Era um Miles completamente diferente, fútil e odiável. Um garoto estereotipado de ensino médio.

– Não me chame de Leo – disse sério.

– Leonard, por favor, aquilo foi na terceira série – seu sorriso se desfez.

– Gente, que babado é esse? – Freya perguntou.

– Você me abandonou – eu disse ignorando a loira.

– Eu te amei até os últimos dias que eu fiquei naquela cidade – Miles disse impaciente.

– Vocês namoraram? – Rato perguntou.

– Você poderia ter dito adeus.

– Só ia piorar as coisas.

Como Miles poderia ser tão idiota de pensar assim? Claro que eu ficaria triste, mas eu saberia aonde meu melhor, e único, amigo de infância esteve. Quando se tem nove anos e alguém some do nada é estranhamente dolorido.

– Guarde seu showzinho para depois – ele se aproximou do meu ouvido. – Te vejo em casa, Leo.

xXx

Naquela tarde eu voltei para casa com uma enorme vontade de ter escolhido outra das várias escolas da cidade para estudar. Seria muito mais divertido se eu tivesse encontrado Miles em um mercado ou no shopping e ele não fosse outra pessoa dentro do corpo do meu amigo.

– Como foi seu dia? – Minha mãe perguntou assim que eu entrei em casa.

– Você não acredita que eu encontrei – eu disse.

– Miles – minha mãe sorriu.

– Como você...

– Eu falei que nos veríamos em casa, maninho – Miles entrou na sala me dando um abraço um pouco apertado.

Aquele definitivamente não era o mesmo Miles.


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